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sexta-feira, 24 de outubro de 2025

“Não temas, pequeno rebanho”. Evangelizar em uma época de mudanças (1) (Parte 1/3)

Combate, proximidade e missão (Opus Dei)

“Não temas, pequeno rebanho”. Evangelizar em uma época de mudanças (1)

É hora de mudar o olhar, de passar da nostalgia à audácia, de uma fé em posição defensiva a uma fé que propõe com confiança uma visão do mundo e da vida.

23/10/2025

Um grupo de exploradores, com anos de experiência no deserto, penetra em territórios nunca vistos. Avançam entre colinas e vales exuberantes; encontram cachos de uvas que uma pessoa sozinha não consegue carregar, e figos que fariam empalidecer quaisquer outros no mercado oriental (cfr. Num 13, 17-24). O entusiasmo, quase a euforia, toma conta deles, vendo por fim essa terra tão esperada: a esperança se torna concreta, tangível. Tocam com a mão um mundo que parece oferecer-lhes tudo o que esperaram durante anos. A essa promessa, porém, mistura-se a ansiedade: será preciso conquistar esta terra. E paira no ar um não sei quê de hostilidade.

Exploradores num mundo de gigantes

Ao longe, divisam-se cidades fortificadas. Mais de perto, os exploradores descobrem habitantes altos como carvalhos, autênticos gigantes! Alguns esquecem a força de Deus, e semeiam a cizânia do pessimismo. De repente o povo começa a sentir falta do maná do deserto.... Seu entusiasmo desvanece como o orvalho ao primeiro raio de sol. O ambiente fica tenso, entre os que querem deixar tudo e voltar ao Egito e os que ainda têm um brilho no olhar e o espírito conquistador: alguns loucos, para dizer a verdade. A terra é mesmo formosa, mas o empreendimento parece titânico, em todos os sentidos. Cresce a consciência de não estarem à altura; a segurança que pensavam ter cambaleia (cfr. Num. 13, 27 - 14, 4). O coração fica dividido entre a confiança e a tentação de fugir, entre o desejo de aventurar-se e o medo de serem aniquilados. A alternativa é nítida: ou entrar em contato ou entrincheirar-se no deserto para sempre.

O povo permanecerá preso por esta escolha durante decênios. No fundo, o que os bloqueia é a pouca confiança em Deus. Ressoa ainda em seus ouvidos aquela parte do relato dos exploradores: “vimos até mesmo gigantes, filhos de Enac, da raça dos gigantes; parecíamos gafanhotos comparados com eles” (Num 13, 33). Paralisados pelo medo de novo desafio, quase todos acabarão envelhecendo. Só a uns poucos “loucos” – Caleb, da tribo de Judá, e Josué da tribo de Efraim – será concedido sobreviver com o passar do tempo. Não se trata dos maiores nem dos mais audazes, mas sabem que a vitória não depende de suas forças nem da resistência de suas armas, e sim do Deus vivo que caminha no meio deles.

Quarenta anos mais tarde, depois de um longo período de purificação dessa esperança vacilante, o povo se encontra de novo às portas da terra prometida. Ainda estão com eles Caleb e Josué, o líder que havia confiado em Deus e que guiará esse povo renovado para além do Jordão. São impelidos pelas palavras que o Senhor pronunciou pela boca de Moisés: “Escolhe a vida” (Dt. 30, 19). Deus lhes dizia e está dizendo a cada um de nós: “Olha, eu criei você para viver, para ser feliz... Você vai me escolher, vai escolher a Vida? Foi isso que os ‘pequeninos’ descobriram e escolheram: eles sabem que Deus é a fonte e o destino do desejo infinito de viver que carregam dentro de si. E eles não querem mais nada. Entenderam que triunfar na vida, alcançar a vida, é deixar que o amor de Deus os inunde e depois compartilhar este amor generosamente”[1].

Há, no entanto, um aspecto fundamental que os judeus à volta de Josué ainda não podem compreender. Falta-lhes a chave para interpretar corretamente esta entrada na terra prometida. Imersos em sua própria história de exílio e de libertação, não conseguem captar seu significado mais profundo. Ainda não compreendem seu papel dentro da grande história da salvação. No momento, estão orientados para a conquista, para o enfrentamento: sonham com uma vitória esmagadora, uma vitória que cantarão em todo o livro de Josué. Trata-se de enfrentar-se e de ganhar, de opor a própria força – embora comparativamente seja bem reduzida – e a própria cultura – que, na verdade, é ainda muito escassa – contra a das nações que têm pela frente. Trata-se de realizar uma conquista militar e cultural, empunhando as armas disponíveis.

Na verdade, o povo que entra com Josué na terra prometida só conseguirá, com muita dificuldade, abrir passagem entre aquelas nações. Embora se aferre a suas raízes, aprenderá a tecer relacionamentos com os outros povos. E pouco a pouco começará a compreender que o seu papel entre eles não é de domínio. A chave para interpretar isso é o Senhor que a vai dando por meio dos profetas: “Vou fazer de ti a luz das nações, para propagar minha salvação até os confins do mundo”. (Is 49, 6). Foram chamados a iluminar! E por isso, pouco importava seu número, pouco importava sua distinção ou a bagagem cultural de que dispunham. Não constituiria problema enfrentar terras desconhecidas ou povos de gigantes. A luz que levariam seria a de Deus que desejou habitar entre eles como “Príncipe da paz” (Is 9,5). Iluminariam as nações com a paz que o mundo não pode dar (cfr. Lc 10, 5-6; Jo 14, 27), “a paz de Cristo ressuscitado, uma paz desarmada e desarmante, humilde e perseverante”[2].


[1] “Combate, proximidade, missão (1): Escolhe a vida”.

[2] Primeira saudação do Santo Padre Leão XIV, 8/05/2025.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/nao-temas-pequeno-rebanho-evangelizar-em-uma-epoca-de-mudancas-1/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF