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domingo, 16 de novembro de 2025

"Quanto mais a hora é escura, mais a fé brilha": o Angelus de Leão XIV

Angelus, 16/11/2025 - Papa Leão XIV (Vatican Media)

Com os fiéis reunidos na Praça São Pedro, o Papa comentou o Evangelho dominical e denunciou a perseguição aos cristãos, que "não acontece apenas com armas e maus-tratos, mas também com as palavras, ou seja, através da mentira e da manipulação ideológica". Quando oprimidos, afirmou, "somos chamados a dar testemunho da verdade que salva o mundo".

https://youtu.be/zRkDH24UerA

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

Após celebrar a Missa por ocasião do Jubileu dos Pobres, o Papa Leão rezou o Angelus com os fiéis reunidos na Praça São Pedro. Em sua alocução, comentou o Evangelho deste 33º Domingo do Tempo Comum (Lc 21, 5-19), que nos  faz refletir sobre as tribulações da história e o fim das coisas. Antes de mais nada, Jesus convida a não nos deixarmos vencer pelo medo com estas palavras: "Quando ouvirdes falar de guerras e revoltas, não vos alarmeis".

"O seu apelo é muito atual", comentou o Pontífice. Infelizmente, recebemos diariamente notícias de conflitos, calamidades e perseguições que atormentam milhões de homens e mulheres. Tanto diante dessas aflições quanto diante da indiferença que quer ignorá-las, as palavras de Jesus anunciam que a agressão do mal não pode destruir a esperança daqueles que confiam Nele. 

“Quanto mais a hora é escura como a noite, mais a fé brilha como o sol.”

A perseguição aos cristãos também é ideológica

Cristo afirma duas vezes que "por causa do seu nome" muitos sofrerão violência e traição, mas precisamente nesse momento terão a ocasião de dar testemunho. Com efeito, acrescentou o Papa, a perseguição aos cristãos não acontece apenas com armas e maus-tratos, mas também com as palavras, através da mentira e da manipulação ideológica. Oprimidos por esses males físicos e morais, "somos chamados a dar testemunho da verdade que salva o mundo, da justiça que liberta os povos da opressão, da esperança que indica a todos o caminho da paz".

As palavras de Jesus atestam que os desastres e as dores da história têm um fim, que devemos ter força para resistir a todas as ofensas, enquanto a alegria daqueles que reconhecem Nele o Salvador está destinada a durar para sempre. 

Leão XIV concluiu que são principalmente os mártires que nos lembram que a graça de Deus é capaz de transfigurar até mesmo a violência em sinal de redenção. "Por isso, unindo-nos aos nossos irmãos e irmãs que sofrem pelo nome de Jesus, procuremos com confiança a intercessão de Maria, auxílio dos cristãos. Em todas as provações e dificuldades, que a Virgem Santa nos console e sustente", foi a oração final do Papa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 15 de novembro de 2025

COP30: Representantes da Igreja Católica mostram unidade em torno do cuidado com a Casa Comum

Fotos: Letícia Florêncio – Movimento Laudato Si’

COP30: Representantes da Igreja Católica de quatro continentes mostram unidade em torno do cuidado com a Casa Comum

12/11/2025

A Igreja promoveu na tarde do dia 12 de novembro, o “Simpósio Internacional – Igreja Católica na COP30” com o objetivo de refletir e dialogar sobre os caminhos da ecologia integral, a justiça climática e a conversão ecológica. O evento foi  realizado durante a Conferência das Partes sobre as Mudanças Climáticas sediada na Amazônia Brasileira, a COP30. O assessor de comunicação da CNBB, padre Arnaldo Rodrigues, coordenou as falas.

O objetivo da Articulação Brasileira para a COP30, ao realizar o Simpósio, foi apresentar as perspectivas da Igreja Católica e de seus interlocutores destacando seu compromisso com a justiça climática e a ecologia integral.

Um vídeo, no início do Seminário, recuperou o processo de preparação da Igreja Católica para a sua participação na COP30, entre elas as pré0-cops realizadas em todas as cinco macrorregiões brasileiras e a o documento entregue ao Papa Leão XIV com as propostas da Igreja do Sul Global (Ásia, América Latina e Oceania) para o clima.

Fotos: Letícia Florêncio – Movimento Laudato Si’

“Crise climática é também uma crise espiritual e moral. Cuidar da criação é parte indissociável do seguimento a Jesus Cristo. No coração do mundo, permanece o Senhor da vida”, reforça um trecho do vídeo.

Bênção de Nossa Senhora de Nazaré

Dom Júlio Akamini | Vatican News

O seminário iniciou com a bênção de Nossa Senhora de Nazaré, introduzida pelo arcebispo de Belém (PA), dom Júlio Akamini. Que também foi o primeiro a saudar os participantes como anfitrião do encontro na mesa de abertura do evento.

Dom Júlio acolheu os participantes no bioma amazônico e na arquidiocese de Belém, casa do Círio de Nazaré. “Nós os acolhemos com muita alegria”, disse.

O Núncio Apostólico no Brasil, dom Giambatistta Diquattro, faz sua acolhida lembrando do “saudoso do Papa Francisco e seu providencial magistério”. Francisco nos lembrou insistentemente que a mudança climática não pode ser entendida apenas como uma questão técnica ou econômica, mas como uma abordagem ecológica e social que deve integrar a justiça para ouvir tanto o clamor da terra como o clamor dos pobres.

“Toda injustiça contra a terra é também uma injustiça cometida contra o ser humano. Toda ferida infringida à terá torna-se uma ferida do coração humano”, afirmou.

Dom Giambatistta reforçou o apelo da Exortação Apostólica Laudate Deum que faz um severo aviso: “o mundo em que vivemos está se desmoronando e talvez esteja em se aproximando de um ponto de ruptura”.

Humanidade reconciliada com Deus

 

Fotos: Letícia Florêncio – Movimento Laudato Si’

“A conversão ecológica, segundo nos ensinou o Papa,  não consiste em simplesmente mudar os comportamentos externos, mas renovar o olhar interior e reencontrar em Deus, princípio e sentido da existência. O ser humano não é chamado a explorar a terra, mas para  preservá-la como um administrador sábio dos dons recebidos”, afirmou.

Em referência à Querida Amazônia, o núncio expressou a síntese da Doutrina Social da Igreja: “A justiça em relação à terra e ao ser humano é uma única obra de amor. Quando a Igreja vive essa vocação de cuidado do terra, dos pobres e das gerações futuras torna-se sinal de uma humanidade reconciliada com Deus e com a criação”, reforçou

O arcebispo de Porto Alegre (RS), presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (Celam), dom Jaime Spengler, afirmou que as soluções para a crise ambiental não pode ser reduzida à ajustes técnicos e financeiros. “Se faz necessário integrar as cosmovisões e práticas dos povos indígenas e ribeirinhos”, disse.

“Habitamos o planeta e precisamos de uma conversão sobre o nosso modo de relação com a terra com cuidado e promoção do meio ambiente e da vida. Precisamos colocar o cuidado da vida no centro de nossas decisões. Não podemos fazer média com a cultura da morte, somos chamados a ser sementes de Esperança num mundo novo baseados na ética e fé”, disse.

Transição energética e cuidado dos pobres

O presidente das conferências episcopais da Ásia, o arcebispo de Goa e Damão, cardeal Felipi Neri, falou do documento apresentado ao Papa Leão XIV: “Documento que estabelece um marco ético e espiritual para a crise climática. As conferências episcopais da Ásia denunciam esse modelo de extrativismo do Norte Global, o capitalismo verde e a lógica de mercado de carbono que deixa a todos vulneráveis”, afirmou.

O bispo chamou a atenção para o fato de a Ásia ser uma das regiões mais afetadas pelos efeitos das mudanças climáticas, como as inundações que afetaram países como Bangladesh provocando migrações em massa. “A Ásia é uma das maiores emissoras de carbono e precisa de um processo de transição energética que leve em conta as comunidades locais e os pobres”, afirmou.

O ser humano no centro de uma nova economia

O presidente do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (Secam), o cardeal Fridolin Ambongo, de Quinxassa, da República Democrática do Congo, falou sobre o processo de empobrecimento, exploração, roubo e saque pelo qual passou o continente Africano.

As nações mais ricas que precisam de minerais e petróleos, segundo ele, agem com urubus nas riquezas da África. “Por causa dos minerais, tem mais de 50 conflitos em nosso continente”, disse. 

Segundo ele, o  processo de espoliação do continente vem resultando em desertificação no continente e também em inundações. O cardeal também falou do documento entregue ao Papa que afirma que o ser humano deve ser o centro de uma nova economia. O documento, com dez propostas para um novo desenvolvimento baseado na Ecologia Integral, foi entregue ao Papa Leão XIV está sendo apresentado na COP30.

Ilhas submergidas no Pacífico

O representante das conferências episcopais da região do pacífico, Ryan Rimenes, presidente da Conferência Episcopal do Pacífico, reforçou que várias catástrofes estão afetando as populações da Oceania.

“As ilhas, em nossa região, correm o risco de serem submergidas ainda em nosso tempo. Ele disse que a mineração no fundo do mar também está adicionando outra camada de destruição. Nossas comunidades já sentem os impactos das mudanças climáticas. Tufões e aquecimento do mar são duas ameaças reais também”, afirmou.

O cardeal disse que a Igreja na região na região do Pacífico trabalha para encontrar soluções concretas para os problemas tendo a encíclica Laudato Si’ como referência. Ele fez referência ao documento elaborado pelas conferências do Sul Global. “Nós bispos da região do pacífico nos comprometemos a cuidar da nossa de nossa Casa Comum e das Ilhas que são o nosso lar”, disse.

Igreja na Europa e a conversão ecológica

O  cardeal sérvio Ladislav Nemet, vice-presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE), afirmou que estão trabalhando para a transformação e conversão ecológica na Europa, continente onde se situam 39 conferências episcopais. “Estamos com uma guerra na Europa (Rússia-Ucrânia) que vem provocando aumento do custo de energia na Europa. Temos muitos problemas também e é necessário encontrar soluções junto ao Sul Global”, disse.

Diálogos pela Ecologia Integral

Fotos: Letícia Florêncio – Movimento Laudato Si’

Na sequência à mesa de abertura, foi realizado o painel “Diálogos pela Ecologia Integral”, mediado pelo presidente da Comissão Especial para a Mineração e a Ecologia Integral, dom Vicente de Paula Ferreira.

Participaram da mesa, a bispa da Igreja Anglicana do Brasil, Marinez Rosa dos Santos Bassotto, que abordou o tema da “Ecoespiritualidade e missão profética da Igreja na Amazônia”, o arcebispo de Manaus (AM), o cardeal Leonardo Steiner, que aprofundou o tema “Caminhos da Ecologia Integral para a Conversão Ecológica”, o representante da APIB, Kleber Karipuna, que falou sobre “a presença dos povos originários da Amazônia brasileira com suas lutas e perspectivas” , a professora e ecóloga, Ima Vieira, apresentou o diagnóstico científico (evidências e soluções práticas) sobre as mudanças climáticas.

Veja a íntegra das falas no Simpósio Internacional - Igreja Católica na COP30

https://youtu.be/xUPIBADrQgg

Exposições temáticas e caminhada do Mártires

Além disso, durante todo o período da manhã, o Colégio Santa Catarina de Sena foi aberto à comunidade com exposições temáticas, sendo um espaço dedicado à partilha dos frutos do caminho percorrido pela Articulação Igreja Rumo à COP 30 e pelas iniciativas locais da arquidiocese de Belém.

Após o simpósio, às 19h, foi realizada a Caminhada pelos Mártires da Casa Comum, com concentração na Praça Santuário de Nazaré. O percurso se encerrou na Basílica de Nossa Senhora de Nazaré, com a celebração eucarística presidida pelo arcebispo de Porto Alegre (RS) e presidente da CNBB, cardeal Jaime Spengler.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

IGREJA: Um Decálogo para a Paz

João Paulo II | 30Giorni.

IGREJA

Arquivo 30Dias nº 02 - 2002

Um Decálogo para a Paz

Um mês após o Dia Mundial da Paz em Assis, João Paulo II publicou uma carta aos chefes de Estado e de governo, divulgando o compromisso de dez pontos assumido por todos os participantes do Dia de Oração em 24 de janeiro.

por João Paulo II

A Suas Excelências,
os Chefes de Estado ou de Governo.

Há um mês, realizou-se em Assis o Dia de Oração pela Paz Mundial. Hoje, meus pensamentos voltam-se espontaneamente para os líderes da vida social e política dos países ali representados pelos líderes religiosos de numerosas nações.

As intervenções inspiradas desses homens e mulheres, representantes das diversas confissões religiosas, bem como seu sincero desejo de trabalhar pela harmonia, pela busca comum do verdadeiro progresso e pela paz em toda a família humana, encontraram sua expressão elevada, porém concreta, em um "Decálogo" proclamado ao final deste dia excepcional.

Tenho a honra de apresentar o texto deste compromisso comum a Vossa Excelência, convicto de que estas dez propostas inspirarão a ação política e social de seu governo.

Pude constatar que os participantes do encontro de Assis estavam, mais do que nunca, movidos por uma convicção comum: a humanidade deve escolher entre o amor e o ódio. E todos, sentindo-se membros da mesma família humana, puderam traduzir essa aspiração por meio deste Decálogo, convictos de que, se o ódio destrói, o amor, ao contrário, constrói.

Espero que o espírito e o compromisso de Assis levem todas as pessoas de boa vontade a buscar a verdade, a justiça, a liberdade e o amor, para que todo ser humano possa desfrutar de seus direitos inalienáveis ​​e todo povo possa desfrutar da paz. Por sua vez, a Igreja Católica, que deposita sua confiança e esperança no "Deus de amor e paz" (2 Cor 13,11), continuará a trabalhar para que o diálogo honesto, o perdão mútuo e a harmonia mútua marquem o caminho da humanidade neste terceiro milênio.

Grato a Vossa Excelência pelo interesse em minha mensagem, aproveito esta oportunidade para assegurar-lhe minha mais alta consideração.

Do Vaticano, 24 de fevereiro de 2002.

JOÃO PAULO II

1 Prometemos proclamar nossa firme convicção de que a violência e o terrorismo se opõem ao verdadeiro espírito religioso e, condenando qualquer recurso à violência e à guerra em nome de Deus ou da religião, prometemos fazer todo o possível para erradicar as causas do terrorismo.

2. Comprometemo-nos a educar as pessoas no respeito e na estima mútuos, para que a coexistência pacífica e a solidariedade possam ser alcançadas entre membros de diferentes grupos étnicos, culturas e religiões.

3. Comprometemo-nos a promover a cultura do diálogo, para que a compreensão e a confiança mútuas se desenvolvam entre indivíduos e povos, pois essas são as condições para uma paz autêntica.

4. Comprometemo-nos a defender o direito de cada pessoa humana a uma vida digna, de acordo com a sua identidade cultural, e a constituir livremente a sua própria família.

5. Comprometemo-nos a dialogar com sinceridade e paciência, não considerando o que nos separa como um muro intransponível, mas, pelo contrário, reconhecendo que o confronto com a diversidade do outro pode tornar-se uma oportunidade para uma maior compreensão mútua.
6. Comprometemo-nos a perdoar-nos mutuamente os erros e preconceitos do passado e do presente, e a apoiarmo-nos uns aos outros no esforço comum para superar o egoísmo e o abuso, o ódio e a violência, e a aprender com o passado que a paz sem justiça não é a verdadeira paz.

7. Comprometemo-nos a estar ao lado daqueles que sofrem com a pobreza e o abandono, a dar voz aos que não a têm e a trabalhar concretamente para superar tais situações, convictos de que ninguém pode ser feliz sozinho.

8. Comprometemo-nos a fazer nosso o clamor daqueles que se recusam a resignar-se à violência e ao mal, e desejamos contribuir com todas as nossas forças para dar à humanidade, no nosso tempo, uma esperança real de justiça e paz.

9. Comprometemo-nos a incentivar qualquer iniciativa que promova a amizade entre os povos, convictos de que, sem uma sólida compreensão entre eles, o progresso tecnológico expõe o mundo a riscos crescentes de destruição e morte.

10. Comprometemo-nos a solicitar aos líderes nacionais que envidem todos os esforços possíveis para construir e consolidar, a nível nacional e internacional, um mundo de solidariedade e paz fundado na justiça.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Papa Leão ao mundo do cinema: a beleza não é apenas evasão, mas acima de tudo invocação

Encontro com o mundo do cinema, 15/11/2025 - Papa Leão XIV (Vatican Media)

“A beleza não é apenas evasão, mas acima de tudo invocação. O cinema, quando é autêntico, não apenas consola: interpela. Chama pelo nome as perguntas que habitam em nós e, às vezes, até as lágrimas que não sabíamos que precisávamos expressar”. Palavras do Papa Leão XIV aos representantes do mundo do cinema na manhã deste sábado (15) no Vaticano.

Jane Nogara  - Cidade do Vaticano

Em audiência dedicada ao mundo do cinema, o Papa Leão XIV recebeu no Palácio Apostólico, um grupo de representantes da arte cinematográfica neste sábado, 15 de novembro. Apesar dos seus 130 anos, disse o Papa em seu discurso, “o cinema é uma arte jovem, sonhadora e um pouco inquieta”, que inicialmente parecia um jogo de luzes e sombras, para divertir e impressionar. “Mas logo esses efeitos visuais souberam manifestar realidades muito mais profundas, até se tornarem expressão da vontade de contemplar e compreender a vida, de contar sua grandeza e fragilidade, de interpretar sua nostalgia do infinito”, completou Leão.

Colocar a esperança em movimento

Uma das contribuições mais valiosas do cinema”, continuou o Pontífice, “é precisamente ajudar o espectador a voltar a si mesmo, a olhar com novos olhos para a complexidade da sua própria experiência, a rever o mundo como se fosse a primeira vez e a redescobrir, nesse exercício, uma parte daquela esperança sem a qual a nossa existência não é plena”. Me conforta, disse ainda, “pensar que o cinema não é apenas imagens em movimento: é colocar a esperança em movimento!”.

Até a dor pode encontrar um sentido

Entrar em uma sala de cinema, continuou, é como atravessar um limiar. “Na escuridão e no silêncio”, disse o Papa, “os olhos voltam a ficar atentos, o coração se abre, a mente se abre para o que ainda não havia imaginado”. Confirmando que embora o fluxo de informações que hoje recebemos seja constante com telas sempre acesas, o cinema é muito mais do que uma simples tela: “É um cruzamento de desejos, memórias e questionamentos. É uma busca sensível onde a luz perfura a escuridão e a palavra encontra o silêncio. Na trama que se desenrola, o olhar se educa, a imaginação se expande e até mesmo a dor pode encontrar um sentido”.

Nem tudo precisa ser imediato ou previsível

Continuando sobre o tema das salas de cinema e a preocupante erosão que as está afastando das cidades e bairros, Leão XIV convidou os presentes a uma reflexão: “A lógica do algoritmo tende a repetir o que ‘funciona’, mas a arte abre caminho para o que é possível. Nem tudo precisa ser imediato ou previsível: defendam a lentidão quando necessário, o silêncio quando fala, a diferença quando provoca. A beleza não é apenas evasão, mas acima de tudo invocação. O cinema, quando é autêntico, não apenas consola: interpela. Chama pelo nome as perguntas que habitam em nós e, às vezes, até as lágrimas que não sabíamos que precisávamos expressar”.

O encontro de Leão XIV com representantes do Mundo do Cinema:

https://youtu.be/NvJNjvf4A1w

Reconhecer a esperança nas tragédias

No ano do Jubileu, disse o Papa aos presentes. “vocês estão a caminho como peregrinos da imaginação, buscadores de sentido, narradores de esperança, mensageiros da humanidade”. Reconhecendo ainda que “é uma peregrinação no mistério da experiência humana que vocês atravessam com um olhar penetrante, capaz de reconhecer a beleza mesmo nas pregas da dor, a esperança nas tragédias da violência e das guerras”.

Igreja e o cinema

Recordando o diálogo nunca interrompido da Igreja com o mundo do cinema, Leão disse: “A Igreja olha com estima para vocês que trabalham com a luz e com o tempo, com o rosto e com a paisagem, com a palavra e com o silêncio”. Acrescentando em seguida, “desejo renovar essa amizade, porque o cinema é um laboratório de esperança, um lugar onde o homem pode voltar a olhar para si mesmo e para o seu destino”.

Testemunhas de esperança, beleza e verdade

Reiterando a importância do mundo do cinema na sociedade de hoje o Papa Leão disse: “Nossa época precisa de testemunhas de esperança, beleza e verdade: vocês, com seu trabalho artístico, podem ser essas testemunhas. Recuperar a autenticidade da imagem para salvaguardar e promover a dignidade humana está ao alcance do bom cinema e de quem o faz e o protagoniza. Não tenham medo do confronto com as feridas do mundo”. Concluindo seu pensamento acrescentou: “Dar voz aos sentimentos complexos, contraditórios e, por vezes, obscuros que habitam o coração do ser humano é um ato de amor. A arte não deve fugir do mistério da fragilidade: deve ouvi-lo, deve saber parar diante dele. O cinema, sem ser didático, tem em si, nas suas formas autenticamente artísticas, a possibilidade de educar o olhar”.

Que o cinema nunca perca a capacidade de surpreender

Ao concluir o encontro o Papa Leão recordou a dedicação silenciosa de centenas de outros profissionais do cinema, sem os quais uma obra seria impossível, afirmando, “cada voz, cada gesto, cada competência contribui para uma obra que só pode existir como um todo”. Concluindo: “Que o cinema continue sempre sendo um lugar de encontro, um lar para quem busca sentido, uma linguagem de paz. Que nunca perca a capacidade de surpreender, continuando a nos mostrar, mesmo que seja apenas um fragmento, do mistério de Deus”.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Por mim e por todos os meus companheiros, até o céu…

Dmitry Naumov | Shutterstock

Mar Dorrio - publicado em 13/11/25

O jogo de esconde-esconde pode ser mais do que apenas uma brincadeira entre amigos; ele nos lembra do nosso objetivo de alcançar o céu na companhia daqueles que amamos.

Houve uma geração que sabia que o dia não terminava até que uma partida de esconde-esconde fosse jogada. O sol se punha, os pais anunciavam que era a última partida, e ainda assim alguém gritava "a contagem regressiva começa!" enquanto todos os outros corriam para encontrar seu esconderijo perfeito.

Naquele jogo, havia um papel que ninguém queria, mas que todos acabavam desempenhando: contar e depois encontrar os outros. Aquele que dizia: "Prontos ou não, lá vou eu."

E para fazer direito, você tinha que anunciar, em voz alta, o nome da pessoa que tinha avistado e o local exato onde ela tinha sido pega. Não bastava apenas vê-la: você tinha que correr até a parede ou árvore combinada e gritar a descoberta. Era assim que você ganhava pontos, era assim que você mostrava que tinha um bom olho.

A palavra mágica

Mas a brincadeira de esconde-esconde tinha uma cláusula secreta, uma reviravolta inesperada que mudava tudo. O último jogador, aquele que durasse mais tempo sem ser encontrado, podia salvar todos os outros se conseguisse tocar na parede e gritar: “Por mim e por todos os meus amigos!”. Com essa frase mágica, ele libertava todos os outros que haviam sido pegos.

O que exigira esforço, estratégia e preparação foi desfeito em um segundo. O buscador ficou com uma expressão amarga no rosto; os outros, rindo, recomeçaram tudo de novo.

A comunhão dos santos

Quando crianças, víamos isso como uma brincadeira. Como adultos, descobrimos que esse jogo tinha mais teologia do que imaginávamos. Porque aquele "por mim e por todos os meus companheiros" é, em sua essência, a melhor imagem do que significa a Comunhão dos Santos.

Toda vez que vamos para Missa, quer rezemos o terço ou ofereçamos um pequeno sacrifício, podemos repetir essas mesmas palavras com significado eterno: por mim e por todos os meus companheiros.

A fé nos ensina que nossas ações não terminam em nós; que o que fazemos, o que sofremos ou o que oferecemos pode ajudar os outros. Não apenas aqueles que vemos todos os dias, mas também aqueles que já partiram.

Aqueles que morreram já passaram pelo seu teste; agora são almas no purgatório. Não podem acrescentar mais nada à sua história, mas nós podemos escrevê-la por eles. Podemos acelerar o seu encontro com o Amor, ajudá-los a alcançar a nota necessária para ascenderem ao céu.

É a mais profunda solidariedade que existe: a dos vivos que rezam pelos mortos, a dos santos que intercedem pelos vivos, a daqueles que ainda jogam este jogo sabendo que, no fim, ninguém vence sozinho.

Ofertas significativas

Às vezes, parece um mistério difícil de explicar às crianças, mas basta lembrá-las daquela brincadeira de esconde-esconde. Ajude-as a entender que a Igreja é exatamente isso: uma grande rede invisível onde alguns podem salvar outros. Que existem pequenas ações — uma missa celebrada, uma oração antes de dormir, uma renúncia feita com amor — que libertam outras pessoas.

E se, quando crianças, agradecíamos ao amigo que nos salvou com um "toca aqui", tenha certeza de que aqueles que receberem seu "por mim e por todos os meus amigos" hoje também lhe retribuirão com um "toca aqui", mesmo que seja do céu. Lá, aqueles salvos por seus atos de fé serão seus maiores aliados.

A brincadeira de esconde-esconde sempre terminava em risos, com a promessa de brincar de novo amanhã. Assim deveria terminar todo dia também: sabendo que alguém, talvez sem saber, está correndo em direção à parede para proferir aquelas palavras que nos libertam.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/11/13/por-mim-e-por-todos-os-meus-companheiros-ate-o-ceu/
 

Escatologia

Escatologia (Crédito: Fique Firme)

ESCATOLOGIA

13/11/2025

Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RN)

No final do Ano Litúrgico, a liturgia oferece textos bíblicos com ensinamentos apocalípticos e escatológicos (Malaquias 3,19-20, Salmo 97, 2 Tessalonicenses 3,7-12 e Lucas 21,5-19). Falar de escatologia sempre é um risco, porque todo discurso, com frequência, é identificado e compreendido com catástrofes que anunciam o fim do mundo, a recompensa dos justos e punição eterna dos maus. Na verdade, os textos bíblicos, principalmente o Evangelho, têm uma perspectiva bem diferente. Se trata de assumir a responsabilidade de viver e de agir bem no tempo presente. Pois, o tempo presente é o crucial e a hora é agora, não amanhã. 

A palavra apocalipse, na Escritura, não significa “desastre”, mas “revelação” de uma coisa desconhecida: “Revelação de Jesus Cristo” (Ap 1,1). “Essas palavras de Jesus revelam não algo de estranho e oculto, mas o sentido profundo da nossa realidade presente: elas tiram o véu que nossos medos e nossos erros nos colocaram diante dos olhos, e nos permitem ver aquela verdade que é a Palavra definitiva de Deus sobre o mundo (escatológico = que diz a palavra última e definitiva)” (Silvano Fausti – Uma comunidade lê o Evangelho de Lucas). 

O ensinamento escatológico de Jesus no Evangelho é desencadeado pelo anúncio da destruição do esplêndido Templo de Jerusalém, construído por Herodes durante 10 anos, iniciado no ano 20 a.C., mas as decorações se estenderam até o ano 64 d.C. e, sua destruição aconteceu no ano 70 d.C. Depois, Jesus fala de guerras entre povos, terremotos, fome, pestes, perseguições e outros tantos sofrimentos. O foco da pregação de Jesus não está em prever estes acontecimentos, pois todos nós os podemos constatar e ver diariamente na história da humanidade, passada e presente. 

A questão que Jesus coloca aos cristãos e para todas pessoas de boa vontade é como viver em tempos de crise e de destruição? Como comportar-se quando as forças vitais parecem desaparecer num contexto onde, por toda parte, despontam destruição e decadência. Onde se apoiar quando as estruturas, exemplificado no Templo, são destruídas? As perguntas colocadas a Jesus indicam a dificuldade de as pessoas entender o que estava ensinando. Certamente, nós perguntaríamos do mesmo modo. “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer?” Jesus aponta dois caminhos para nós vivermos bem o tempo presente. 

Diante da pergunta do “quando” e de “quais sinais”, Jesus aponta o primeiro caminho: “cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome dizendo: “Sou eu”! e ainda: O tempo está próximo”. Os textos bíblicos citam falsos profetas induzindo o povo ao erro e verdadeiros profetas apontando para o caminho certo. Na ânsia de salvar a própria pele, ensinamentos mirabolantes entusiasmam. Falsos profetas usam o nome de Deus, têm aparência de fidelidade, mas na verdade oferecem caminhos que distanciam de Deus. O enganador atrai a atenção sobre si mesmo, quer fazer dos ouvintes seus seguidores e não está interessado no bem dos outros. 

O segundo caminho indicado por Jesus “é permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” Tribulações, tragédias, problemas e perseguições fazem parte da condição humana. Quando as dificuldades aparecem é muito forte a tentação de abandonar ou se acomodar no caminho da vida cristã. A solução de abandonar o caminho é falsa. Somente quem persevera consegue alcançar a meta. Por isso, faz-se necessário uma dupla fidelidade: a Deus que é a origem e a meta do peregrinar no mundo e ao próximo com quem se caminha.  

Portanto, todos os ensinamentos escatológicos e apocalíticos não têm por objetivo mostrar que o mundo está chegando ao seu final, mas em direção ao objetivo.  O importante é a relação que a meta final tem com o nosso caminho atual. “Quando” e quais “sinais” sobre o fim do mundo? Jesus “se recusou e se recusará sempre a responder. Veio nos ensinar que o mundo tem no Pai o seu início e o seu fim, e nos chama a viver o presente nessa ótica, a única que dá sentido à vida” (Silvano Fausti). 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Papa Leão XIV: não podemos mais tolerar injustiças estruturais

Papa Leão XIV (Vatican Media)

Texto inédito do Pontífice em seu novo livro publicado pela Livraria Editora Vaticana intitulado “A força do Evangelho. A fé cristã em 10 palavras”, uma antologia de intervenções e discursos de Leão XIV organizados em torno de palavras-chave do cristianismo. “O desejo de comunhão, o reconhecer-nos como irmãos, é o antídoto para todo extremismo”, escreve o Papa na obra com lançamento marcado para 20 de novembro em várias cidades italianas.

Vatican News

“Não podemos mais tolerar injustiças estruturais pelas quais quem tem mais, tem sempre mais, e vice-versa, quem tem menos, empobrece cada vez mais”. É o que escreve o Papa Leão XIV na introdução inédita do seu novo livro A força do Evangelho. A fé cristã em 10 palavras, que será publicado em 20 de novembro, em língua italiana, pela Livraria Editora Vaticana (LEV).

Reconhecer-se como irmãos

O livro, editado por Lorenzo Fazzini, responsável editorial da LEV, é uma antologia de intervenções e discursos de Leão XIV organizados em torno de 10 palavras-chave do cristianismo, apresentadas nesta ordem: Cristo, coração, Igreja, missão, comunhão, paz, pobres, fragilidade, justiça, esperança. Na introdução, Leão XIV, olhando para a situação do mundo contemporâneo, afirma: “o ódio e a violência correm o risco, como um plano inclinado, de transbordar até que a miséria se espalhe entre os povos”. Diante disso, o Papa Prevost identifica um remédio possível: “justamente o desejo de comunhão, o reconhecer-nos irmãos, é o antídoto para todo extremismo”.

As apresentações do livro na Itália

O livro A força do Evangelho será tema de alguns encontros públicos nos próximos dias em várias cidades italianas, por iniciativa da LEV e de algumas entidades eclesiais e culturais. Estas são as datas: 21 de novembro em Vicenza e Cremona; 25 de novembro em Trento; 1º de dezembro em Verona; 5 de dezembro em Gênova; 15 de dezembro em Cagliari. Além da apresentação do livro, nessas ocasiões serão exibidos os documentários León de Perú e o recente Leo from Chicago, produzidos pelo Dicastério para a Comunicação, dedicados à temporada missionária de Prevost no Peru e às suas raízes americanas.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O Fado em Santo Tomás de Aquino

A Providência Divina (Canção Nova)

O FADO EM SANTO TOMÁS DE AQUINO

12/11/2025

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

A palavra fado costuma evocar, em nossa cultura, a ideia de destino inevitável, algo já escrito e do qual ninguém poderia escapar. Muitos imaginam que tudo o que acontece — as alegrias e as dores, as vitórias e os fracassos — está previamente determinado, como se a vida fosse movida por forças cegas ou pela simples sorte. Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica (I, q.116), aborda precisamente essa questão, buscando esclarecer o verdadeiro sentido do fado à luz da fé e da razão, e mostrar que a história humana se desenrola sob a Providência divina, sem anular a liberdade do homem. 

Para o Doutor Angélico, o fado não é um poder independente nem uma necessidade absoluta. Ele o define, com Boécio, como “uma disposição inerente às coisas móveis, pela qual a Providência sujeita tudo às suas ordens”. Ou seja, o fado é o modo como a Providência divina atua no mundo criado. Enquanto a Providência é o plano eterno de Deus, a sabedoria com que Ele concebe e orienta todas as coisas ao seu fim último, o fado é a execução desse plano no tempo, realizada por meio das causas segundas: a natureza, os acontecimentos e as decisões humanas. Assim, Deus governa o universo não apenas de forma direta, mas também indiretamente, por meio das criaturas, servindo-se delas como causas segundas, livres e ordenadas, para a realização de seus desígnios. 

Assim, o fado não é o “destino cego” dos pagãos ou dos astrólogos. Para Santo Tomás, a vida humana e as ações do homem não estão submetidas à influência determinante dos astros, nem dependem dos acasos da sorte, mas se encontram ordenadas pela vontade sábia e amorosa de Deus. Tudo o que existe e acontece possui um lugar na ordem da Providência divina, mesmo aquilo que, aos nossos olhos, parece fortuito ou imprevisto. Há acontecimentos que, do ponto de vista humano, parecem obra do acaso; porém, na perspectiva de Deus, integram-se harmoniosamente em seu desígnio de amor, dentro de um plano maior, onde liberdade e Providência se unem sem contradição. 

O fado, entendido de modo cristão, pode ser comparado ao “destino” apenas se este for compreendido como o caminho ordenado por Deus para o bem das suas criaturas, um caminho que envolve tanto a ação das causas naturais quanto a liberdade das causas racionais. Porém, se o “destino” for concebido como uma força cega ou uma necessidade inevitável, que elimina a liberdade e a graça, então ele se opõe totalmente à visão de Santo Tomás. O Aquinate rejeita precisamente essa noção de fatalidade absoluta, que reduziria o ser humano a um mero instrumento passivo diante das forças do cosmos, negando-lhe a dignidade de cooperador livre nos desígnios da Providência divina. 

A liberdade humana, para Santo Tomás, tem um lugar essencial dentro da Providência. Deus é o autor de tudo, mas não elimina a autonomia das criaturas. Ele age nas causas segundas — inclusive na vontade humana — sem violentá-las. Em outras palavras, a Providência divina é tão perfeita que inclui a liberdade do homem dentro do seu plano. O ser humano é realmente livre para escolher o bem ou o mal, e suas decisões fazem parte da história que Deus, em sua sabedoria, já conhece e ordena para o bem maior. 

Por isso, falar em fado, para o cristão, não é negar a liberdade, mas reconhecê-la dentro de uma ordem maior. Tudo o que nos acontece pode ter sentido, porque está sob o olhar de Deus. Não vivemos à mercê do acaso nem presos a uma fatalidade impessoal, mas conduzidos pela Providência que transforma até os erros humanos em oportunidades de graça. O “fado” de Santo Tomás é, afinal, o nome filosófico da confiança, ou seja, viver sabendo que o universo não é um caos, mas uma história guiada pelo amor e pela sabedoria de Deus. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

HISTÓRIAS DE ESPERANÇA - Do Brasil à Capela Sistina: uma voz que carrega a força do testemunho da adoção

Alessio D'Aniello com o Papa Leão XIV (Vatican Media)

No Ano Santo da Esperança, a história de Alessio D’Aniello, nascido no Brasil e hoje cantor no coral Pontifício da Capela Sistina, ilumina o projeto Hands for Adoptions, inaugurado em Roma para apoiar famílias e filhos adotivos na busca pelas próprias origens.

Thulio Fonseca – Vatican News

Há histórias que nascem pequenas e silenciosas, mas que, com o passar do tempo, se transformam em pontes sólidas entre culturas, gerações e corações. Histórias assim são sementes de esperança. É nesse horizonte que se insere o Espaço de Escuta e Palavra “Hands for Adoptions”, recém-inaugurado no Instituto Casa Helena, em Roma, em colaboração com o CAF Internacional.

O novo ambiente oferece acolhida a famílias adotivas, jovens e adultos que buscam suas origens, abrindo um caminho de escuta, orientação e serenidade. Ali, cada pessoa é recebida não apenas em suas necessidades práticas, mas na integralidade de sua história, com suas fragilidades, perguntas e possibilidades de renascimento.

De Araxá ao serviço na Capela Sistina

Entre as histórias que dão vida ao projeto, destaca-se a de Alessio D’Aniello, cantor da Capela Musical Pontifícia Sistina há mais de doze anos. Nascido em Araxá, no Brasil, e adotado ainda bebê por uma família da província de Nápoles através das Irmãs Discípulas de Jesus Eucarístico, Alessio cresceu respirando valores que moldaram sua identidade: família, fé, respeito, disciplina e sensibilidade humana.

Foi na Itália que sua vocação musical floresceu. Formado pelo Conservatório “San Pietro a Majella”, em Nápoles, e após diversas experiências artísticas, o cantor encontrou sua missão maior na liturgia. “Cantar para mim é servir com amor. É doar aquilo que recebi”, afirma. Sua voz, que acompanha as celebrações do Santo Padre, tornou-se para ele não apenas expressão artística, mas oração e gratidão.

Alessio D’Aniello com o Papa Francisco | Vatican Media

A busca pelas origens e o encontro que cura

Apesar do amor recebido em casa, a adolescência de Alessio trouxe perguntas que marcam a vida de muitos filhos adotivos: quem sou? De onde vim? Qual é o rosto do meu primeiro capítulo? Essas questões, inicialmente silenciosas, tornaram-se mais profundas com o tempo, até que, já adulto, ele decidiu retornar ao Brasil para buscar sua mãe biológica. O reencontro tornou-se um marco decisivo. “Ela curou a dor de ter me deixado partir; eu preenchi o vazio de não conhecer meu início”, recorda. Para ele, buscar as origens não é um ato de ruptura, mas um gesto de reconciliação com a própria história:

“Não significa amar menos os pais que me criaram. É acolher toda a verdade que me pertence.”

Três histórias que se encontram e dão origem a um projeto

O Hands for Adoptions nasceu da união de três trajetórias adotivas: a de Paolo La Francesca, policial do Estado, nascido no Brasil e criado na Sicília, que reencontrou a mãe após longa procura; a de Livio Donato, romeno e ex-jogador profissional, adotado por uma família italiana; e a de Alessio D’Aniello, cuja caminhada espiritual e humana o conduziu a olhar para suas raízes com profundidade:

“Na adolescência, meus pais sempre me contaram sobre a viagem que fizeram ao Brasil; sempre soube que tinha sido adotado, mas, à medida que crescia, precisei enfrentar perguntas, feridas, silêncios e o desejo, cada vez maior, de buscar minhas origens. Ao chegar à maioridade, esse desejo transformou-se em uma motivação mais profunda: agradecer à mulher que me trouxe ao mundo e que, com sua escolha, me deu a possibilidade de uma vida melhor. A mão de Deus, depois de alguns anos e por meio de sinais inequívocos, conduziu-me ao Brasil, aos seus braços. Naquele encontro, e nos seguintes, pude conhecer sua história: uma história triste, mas corajosa; a adoção era a única forma que ela tinha para me oferecer um futuro. Deixar-me partir foi, para ela, o maior ato de amor. A fé foi sua âncora de salvação durante os sofrimentos, a força que lhe permitiu seguir adiante. O encontro com minha mãe biológica certamente fechou um ciclo importante em minha vida; hoje consigo enfrentar os desafios com uma perspectiva diferente. O reencontro com ela curou duas feridas: a dela, por ter me deixado partir, e a minha, ao preencher um grande vazio.”

A partir de suas experiências pessoais, os três fundadores entenderam que muitas famílias passam por desafios intensos após o processo jurídico da adoção: dúvidas, silêncios, conflitos, buscas identitárias. Perceberam que também os jovens e adultos adotados necessitam de acompanhamento para enfrentar questões que nem sempre encontram espaço na rotina familiar. Assim nasceu um projeto que deseja caminhar junto com aqueles que vivem a beleza e, por vezes, a delicadeza do universo adotivo.

Membros do projeto Hands for Adoptions e da Casa Helena, em Roma | Vatican Media

Uma rede de apoio intercultural e solidária

O espaço conta com uma rede que une competência técnica e sensibilidade humana. O CAF Internacional, dirigido pelos brasileiros Fabiana Santos e Antonio Libanio, tornou-se referência para migrantes em Roma, oferecendo orientação burocrática e apoio humano para estrangeiros em fase de integração. Já o Instituto Casa Helena, dirigido pela psicóloga Lilia Azevedo, especializada em abordagens interculturais e plurilíngues, oferece acolhimento psicológico e educativo a famílias e filhos em diferentes fases da adoção. Essa colaboração cria um ambiente seguro, onde cada história pode ser acolhida sem pressa, e onde a palavra, tantas vezes ausente, encontra novamente o seu espaço.

Logo do projeto Hands for Adoptions | Vatican Media

Uma casa afetiva para quem busca sua verdade

Hands for Adoptions se diferencia por colocar no centro não apenas a adoção como ato jurídico, mas como caminho humano, relacional e espiritual. O espaço busca ser “uma casa afetiva”, onde famílias e filhos adotivos possam partilhar suas vivências sem temor, encontrando escuta, apoio e orientação. A proposta é criar pontes entre culturas e gerações, trabalhar a reconstrução das histórias pessoais e ajudar cada pessoa a trilhar seu próprio percurso com serenidade. Para Alessio, esse processo é fundamental:

“Dar um rosto ao início da própria história não é uma afronta aos pais adotivos. É um ato de amor consigo mesmo e com quem nos deu a vida.”

Alessio D’Aniello durante uma celebração Pontifícia na Praça São Pedro | Vatican Media

Convite à esperança 

Neste Ano Santo da Esperança, o projeto deseja ser um sinal concreto de acolhimento e acompanhamento. Para famílias que aguardam a adoção, Alessio deixa uma palavra de encorajamento: “Não se deixem desanimar pelas longas esperas. Há muitas crianças que sonham com uma família.” Para quem já vive a realidade adotiva, ele recorda que a verdade é um gesto de amor que fortalece o vínculo e ajuda o filho a crescer de modo mais sereno e seguro. E aos jovens e adultos adotados, deixa um convite à coragem: “Buscar as origens é direito e também caminho de libertação interior.”

A vida de Alessio D’Aniello se transformou em testemunho de fé e esperança. Hoje, sua voz ressoa nas celebrações do Santo Padre; e, ao mesmo tempo, ecoa na experiência de tantas famílias e jovens que procuram compreender sua própria história. Uma voz que une Brasil, Itália e Vaticano. Uma voz que se faz ponte de esperança.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Quando o amor termina, mas Deus continua

fizkes | Shutterstock

Talita Rodrigues - publicado em 11/11/25

Há amores que chegam como primavera — iluminam, florescem, perfumam a alma. Mas há também os que, um dia, chegam ao fim. E o término de um relacionamento, ainda que seja necessário, costuma trazer um vazio difícil de nomear.

mente tenta entender, o coração resiste em aceitar, e o corpo sente — porque o amor não vai embora de repente, ele vai se despedindo aos poucos.

A psicologia nos ensina que o fim de uma relação é também um processo de luto. Mesmo que ninguém tenha partido fisicamente, há uma perda simbólica: de sonhos, de planos, de uma versão de nós que existia junto do outro. Vivemos a negação, a raiva, a tristeza, até começarmos a aceitar o que aconteceu. E nesse caminho, é natural sentir dor, medo e até culpa.

Mas o amor — o verdadeiro — nunca é em vão. Mesmo quando uma relação termina, o amor deixa aprendizados, desperta amadurecimentos e convida à reconstrução interior. Ele nos mostra onde precisamos crescer, o que precisamos curar e o que não devemos mais aceitar.

É nesse ponto que entra a fé.

Porque, quando tudo parece desabar, Deus não se ausenta — Ele recolhe os pedaços.

Quando o amor humano se desfaz, o amor divino se revela. Ele não impede as perdas, mas as transforma. E mesmo que a dor pareça um silêncio sem sentido, Deus trabalha nesse silêncio, preparando o novo — um novo tempo, um novo coração, uma nova compreensão do amor.

Recomeçar é um ato de coragem, mas também de confiança. Confiar que o que terminou não foi castigo, mas cuidado. Que aquilo que parecia perda talvez seja, no tempo certo, proteção.

A psicologia fala de resiliência emocional — a capacidade de se refazer depois das quedas. A fé fala de esperança — a confiança de que o amor verdadeiro não se perde, apenas muda de forma. E quando as duas se encontram, nasce uma força bonita: a de seguir em frente sem amargura, de abrir espaço para o novo sem pressa, de cuidar de si sem perder a doçura.

No fim, o amor nunca é o fim. O amor é sempre um recomeço.

E quando a gente entrega o coração a Deus, Ele o devolve restaurado — mais inteiro, mais sábio e mais pronto para amar de novo.

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Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/11/11/quando-o-amor-termina-mas-deus-continua/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF