Mar
Dorrio - publicado em 13/11/25
O jogo de esconde-esconde pode ser mais do que apenas uma
brincadeira entre amigos; ele nos lembra do nosso objetivo de alcançar o céu na
companhia daqueles que amamos.
Houve uma geração que sabia que o dia não terminava até
que uma partida de esconde-esconde fosse jogada. O sol se punha, os pais
anunciavam que era a última partida, e ainda assim alguém gritava "a
contagem regressiva começa!" enquanto todos os outros corriam para
encontrar seu esconderijo perfeito.
Naquele jogo, havia um papel que ninguém queria, mas que
todos acabavam desempenhando: contar e depois encontrar os outros. Aquele que
dizia: "Prontos ou não, lá vou eu."
E para fazer direito, você tinha que anunciar, em voz
alta, o nome da pessoa que tinha avistado e o local exato onde ela tinha sido
pega. Não bastava apenas vê-la: você tinha que correr até a parede ou árvore
combinada e gritar a descoberta. Era assim que você ganhava pontos, era assim
que você mostrava que tinha um bom olho.
A palavra mágica
Mas a brincadeira de esconde-esconde tinha uma cláusula
secreta, uma reviravolta inesperada que mudava tudo. O último jogador, aquele
que durasse mais tempo sem ser encontrado, podia salvar todos os outros se
conseguisse tocar na parede e gritar: “Por mim e por todos os meus amigos!”.
Com essa frase mágica, ele libertava todos os outros que haviam sido pegos.
O que exigira esforço, estratégia e preparação foi
desfeito em um segundo. O buscador ficou com uma expressão amarga no rosto; os
outros, rindo, recomeçaram tudo de novo.
A comunhão dos santos
Quando crianças, víamos isso como uma brincadeira. Como
adultos, descobrimos que esse jogo tinha mais teologia do que imaginávamos.
Porque aquele "por mim e por todos os meus companheiros" é, em sua
essência, a melhor imagem do que significa a Comunhão dos Santos.
Toda vez que vamos para Missa, quer rezemos o terço ou
ofereçamos um pequeno sacrifício, podemos repetir essas mesmas palavras com
significado eterno: por mim e por todos os meus companheiros.
A fé nos ensina que nossas ações não terminam em nós; que
o que fazemos, o que sofremos ou o que oferecemos pode ajudar os outros. Não
apenas aqueles que vemos todos os dias, mas também aqueles que já partiram.
Aqueles que morreram já passaram pelo seu teste; agora
são almas no purgatório. Não podem acrescentar mais nada à sua história, mas
nós podemos escrevê-la por eles. Podemos acelerar o seu encontro com o Amor,
ajudá-los a alcançar a nota necessária para ascenderem ao céu.
É a mais profunda solidariedade que existe: a dos vivos
que rezam pelos mortos, a dos santos que intercedem pelos vivos, a daqueles que
ainda jogam este jogo sabendo que, no fim, ninguém vence sozinho.
Ofertas significativas
Às vezes, parece um mistério difícil de explicar às
crianças, mas basta lembrá-las daquela brincadeira de esconde-esconde. Ajude-as
a entender que a Igreja é exatamente isso: uma grande rede invisível onde
alguns podem salvar outros. Que existem pequenas ações — uma missa celebrada,
uma oração antes de dormir, uma renúncia feita com amor — que libertam outras
pessoas.
E se, quando crianças, agradecíamos ao amigo que nos
salvou com um "toca aqui", tenha certeza de que aqueles que receberem
seu "por mim e por todos os meus amigos" hoje também lhe retribuirão
com um "toca aqui", mesmo que seja do céu. Lá, aqueles salvos por
seus atos de fé serão seus maiores aliados.
A brincadeira de esconde-esconde sempre terminava em
risos, com a promessa de brincar de novo amanhã. Assim deveria terminar todo
dia também: sabendo que alguém, talvez sem saber, está correndo em direção à
parede para proferir aquelas palavras que nos libertam.
Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/11/13/por-mim-e-por-todos-os-meus-companheiros-ate-o-ceu/

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