Translate

sexta-feira, 14 de novembro de 2025

HISTÓRIAS DE ESPERANÇA - Do Brasil à Capela Sistina: uma voz que carrega a força do testemunho da adoção

Alessio D'Aniello com o Papa Leão XIV (Vatican Media)

No Ano Santo da Esperança, a história de Alessio D’Aniello, nascido no Brasil e hoje cantor no coral Pontifício da Capela Sistina, ilumina o projeto Hands for Adoptions, inaugurado em Roma para apoiar famílias e filhos adotivos na busca pelas próprias origens.

Thulio Fonseca – Vatican News

Há histórias que nascem pequenas e silenciosas, mas que, com o passar do tempo, se transformam em pontes sólidas entre culturas, gerações e corações. Histórias assim são sementes de esperança. É nesse horizonte que se insere o Espaço de Escuta e Palavra “Hands for Adoptions”, recém-inaugurado no Instituto Casa Helena, em Roma, em colaboração com o CAF Internacional.

O novo ambiente oferece acolhida a famílias adotivas, jovens e adultos que buscam suas origens, abrindo um caminho de escuta, orientação e serenidade. Ali, cada pessoa é recebida não apenas em suas necessidades práticas, mas na integralidade de sua história, com suas fragilidades, perguntas e possibilidades de renascimento.

De Araxá ao serviço na Capela Sistina

Entre as histórias que dão vida ao projeto, destaca-se a de Alessio D’Aniello, cantor da Capela Musical Pontifícia Sistina há mais de doze anos. Nascido em Araxá, no Brasil, e adotado ainda bebê por uma família da província de Nápoles através das Irmãs Discípulas de Jesus Eucarístico, Alessio cresceu respirando valores que moldaram sua identidade: família, fé, respeito, disciplina e sensibilidade humana.

Foi na Itália que sua vocação musical floresceu. Formado pelo Conservatório “San Pietro a Majella”, em Nápoles, e após diversas experiências artísticas, o cantor encontrou sua missão maior na liturgia. “Cantar para mim é servir com amor. É doar aquilo que recebi”, afirma. Sua voz, que acompanha as celebrações do Santo Padre, tornou-se para ele não apenas expressão artística, mas oração e gratidão.

Alessio D’Aniello com o Papa Francisco | Vatican Media

A busca pelas origens e o encontro que cura

Apesar do amor recebido em casa, a adolescência de Alessio trouxe perguntas que marcam a vida de muitos filhos adotivos: quem sou? De onde vim? Qual é o rosto do meu primeiro capítulo? Essas questões, inicialmente silenciosas, tornaram-se mais profundas com o tempo, até que, já adulto, ele decidiu retornar ao Brasil para buscar sua mãe biológica. O reencontro tornou-se um marco decisivo. “Ela curou a dor de ter me deixado partir; eu preenchi o vazio de não conhecer meu início”, recorda. Para ele, buscar as origens não é um ato de ruptura, mas um gesto de reconciliação com a própria história:

“Não significa amar menos os pais que me criaram. É acolher toda a verdade que me pertence.”

Três histórias que se encontram e dão origem a um projeto

O Hands for Adoptions nasceu da união de três trajetórias adotivas: a de Paolo La Francesca, policial do Estado, nascido no Brasil e criado na Sicília, que reencontrou a mãe após longa procura; a de Livio Donato, romeno e ex-jogador profissional, adotado por uma família italiana; e a de Alessio D’Aniello, cuja caminhada espiritual e humana o conduziu a olhar para suas raízes com profundidade:

“Na adolescência, meus pais sempre me contaram sobre a viagem que fizeram ao Brasil; sempre soube que tinha sido adotado, mas, à medida que crescia, precisei enfrentar perguntas, feridas, silêncios e o desejo, cada vez maior, de buscar minhas origens. Ao chegar à maioridade, esse desejo transformou-se em uma motivação mais profunda: agradecer à mulher que me trouxe ao mundo e que, com sua escolha, me deu a possibilidade de uma vida melhor. A mão de Deus, depois de alguns anos e por meio de sinais inequívocos, conduziu-me ao Brasil, aos seus braços. Naquele encontro, e nos seguintes, pude conhecer sua história: uma história triste, mas corajosa; a adoção era a única forma que ela tinha para me oferecer um futuro. Deixar-me partir foi, para ela, o maior ato de amor. A fé foi sua âncora de salvação durante os sofrimentos, a força que lhe permitiu seguir adiante. O encontro com minha mãe biológica certamente fechou um ciclo importante em minha vida; hoje consigo enfrentar os desafios com uma perspectiva diferente. O reencontro com ela curou duas feridas: a dela, por ter me deixado partir, e a minha, ao preencher um grande vazio.”

A partir de suas experiências pessoais, os três fundadores entenderam que muitas famílias passam por desafios intensos após o processo jurídico da adoção: dúvidas, silêncios, conflitos, buscas identitárias. Perceberam que também os jovens e adultos adotados necessitam de acompanhamento para enfrentar questões que nem sempre encontram espaço na rotina familiar. Assim nasceu um projeto que deseja caminhar junto com aqueles que vivem a beleza e, por vezes, a delicadeza do universo adotivo.

Membros do projeto Hands for Adoptions e da Casa Helena, em Roma | Vatican Media

Uma rede de apoio intercultural e solidária

O espaço conta com uma rede que une competência técnica e sensibilidade humana. O CAF Internacional, dirigido pelos brasileiros Fabiana Santos e Antonio Libanio, tornou-se referência para migrantes em Roma, oferecendo orientação burocrática e apoio humano para estrangeiros em fase de integração. Já o Instituto Casa Helena, dirigido pela psicóloga Lilia Azevedo, especializada em abordagens interculturais e plurilíngues, oferece acolhimento psicológico e educativo a famílias e filhos em diferentes fases da adoção. Essa colaboração cria um ambiente seguro, onde cada história pode ser acolhida sem pressa, e onde a palavra, tantas vezes ausente, encontra novamente o seu espaço.

Logo do projeto Hands for Adoptions | Vatican Media

Uma casa afetiva para quem busca sua verdade

Hands for Adoptions se diferencia por colocar no centro não apenas a adoção como ato jurídico, mas como caminho humano, relacional e espiritual. O espaço busca ser “uma casa afetiva”, onde famílias e filhos adotivos possam partilhar suas vivências sem temor, encontrando escuta, apoio e orientação. A proposta é criar pontes entre culturas e gerações, trabalhar a reconstrução das histórias pessoais e ajudar cada pessoa a trilhar seu próprio percurso com serenidade. Para Alessio, esse processo é fundamental:

“Dar um rosto ao início da própria história não é uma afronta aos pais adotivos. É um ato de amor consigo mesmo e com quem nos deu a vida.”

Alessio D’Aniello durante uma celebração Pontifícia na Praça São Pedro | Vatican Media

Convite à esperança 

Neste Ano Santo da Esperança, o projeto deseja ser um sinal concreto de acolhimento e acompanhamento. Para famílias que aguardam a adoção, Alessio deixa uma palavra de encorajamento: “Não se deixem desanimar pelas longas esperas. Há muitas crianças que sonham com uma família.” Para quem já vive a realidade adotiva, ele recorda que a verdade é um gesto de amor que fortalece o vínculo e ajuda o filho a crescer de modo mais sereno e seguro. E aos jovens e adultos adotados, deixa um convite à coragem: “Buscar as origens é direito e também caminho de libertação interior.”

A vida de Alessio D’Aniello se transformou em testemunho de fé e esperança. Hoje, sua voz ressoa nas celebrações do Santo Padre; e, ao mesmo tempo, ecoa na experiência de tantas famílias e jovens que procuram compreender sua própria história. Uma voz que une Brasil, Itália e Vaticano. Uma voz que se faz ponte de esperança.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF