ESCATOLOGIA
13/11/2025
Dom Rodolfo Luís Weber
Arcebispo de Passo Fundo (RN)
No final do Ano Litúrgico, a liturgia oferece textos
bíblicos com ensinamentos apocalípticos e escatológicos (Malaquias 3,19-20,
Salmo 97, 2 Tessalonicenses 3,7-12 e Lucas 21,5-19). Falar de escatologia
sempre é um risco, porque todo discurso, com frequência, é identificado e
compreendido com catástrofes que anunciam o fim do mundo, a recompensa dos
justos e punição eterna dos maus. Na verdade, os textos bíblicos,
principalmente o Evangelho, têm uma perspectiva bem diferente. Se trata de
assumir a responsabilidade de viver e de agir bem no tempo presente. Pois, o
tempo presente é o crucial e a hora é agora, não amanhã.
A palavra apocalipse, na Escritura, não significa
“desastre”, mas “revelação” de uma coisa desconhecida: “Revelação de Jesus
Cristo” (Ap 1,1). “Essas palavras de Jesus revelam não algo de estranho e
oculto, mas o sentido profundo da nossa realidade presente: elas tiram o véu
que nossos medos e nossos erros nos colocaram diante dos olhos, e nos permitem
ver aquela verdade que é a Palavra definitiva de Deus sobre o mundo
(escatológico = que diz a palavra última e definitiva)” (Silvano Fausti – Uma
comunidade lê o Evangelho de Lucas).
O ensinamento escatológico de Jesus no Evangelho é
desencadeado pelo anúncio da destruição do esplêndido Templo de Jerusalém,
construído por Herodes durante 10 anos, iniciado no ano 20 a.C., mas as
decorações se estenderam até o ano 64 d.C. e, sua destruição aconteceu no ano
70 d.C. Depois, Jesus fala de guerras entre povos, terremotos, fome, pestes,
perseguições e outros tantos sofrimentos. O foco da pregação de Jesus não está
em prever estes acontecimentos, pois todos nós os podemos constatar e ver diariamente
na história da humanidade, passada e presente.
A questão que Jesus coloca aos cristãos e para todas pessoas
de boa vontade é como viver em tempos de crise e de destruição? Como
comportar-se quando as forças vitais parecem desaparecer num contexto onde, por
toda parte, despontam destruição e decadência. Onde se apoiar quando as
estruturas, exemplificado no Templo, são destruídas? As perguntas colocadas a
Jesus indicam a dificuldade de as pessoas entender o que estava ensinando.
Certamente, nós perguntaríamos do mesmo modo. “Mestre, quando acontecerá isto?
E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer?” Jesus aponta
dois caminhos para nós vivermos bem o tempo presente.
Diante da pergunta do “quando” e de “quais sinais”, Jesus
aponta o primeiro caminho: “cuidado para não serdes enganados, porque muitos
virão em meu nome dizendo: “Sou eu”! e ainda: O tempo está próximo”. Os textos
bíblicos citam falsos profetas induzindo o povo ao erro e verdadeiros profetas
apontando para o caminho certo. Na ânsia de salvar a própria pele, ensinamentos
mirabolantes entusiasmam. Falsos profetas usam o nome de Deus, têm aparência de
fidelidade, mas na verdade oferecem caminhos que distanciam de Deus. O
enganador atrai a atenção sobre si mesmo, quer fazer dos ouvintes seus
seguidores e não está interessado no bem dos outros.
O segundo caminho indicado por Jesus “é permanecendo firmes
que ireis ganhar a vida!” Tribulações, tragédias, problemas e perseguições
fazem parte da condição humana. Quando as dificuldades aparecem é muito forte a
tentação de abandonar ou se acomodar no caminho da vida cristã. A solução de
abandonar o caminho é falsa. Somente quem persevera consegue alcançar a meta.
Por isso, faz-se necessário uma dupla fidelidade: a Deus que é a origem e a
meta do peregrinar no mundo e ao próximo com quem se caminha.
Portanto, todos os ensinamentos escatológicos e apocalíticos
não têm por objetivo mostrar que o mundo está chegando ao seu final, mas em
direção ao objetivo. O importante é a relação que a meta final tem com o
nosso caminho atual. “Quando” e quais “sinais” sobre o fim do mundo? Jesus “se
recusou e se recusará sempre a responder. Veio nos ensinar que o mundo tem no
Pai o seu início e o seu fim, e nos chama a viver o presente nessa ótica, a
única que dá sentido à vida” (Silvano Fausti).

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