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terça-feira, 24 de novembro de 2020

Dos Tratados sobre João, de Santo Agostinho, bispo

Sacrifício Vivo e Santo

(Tract.35,8-9:CCL36,321-323)            (Séc.V)

 

Chegarás à fonte, verás a luz

Nós, cristãos, em comparação com os infiéis, já somos luz; porque, como diz o Apóstolo: Outrora éreis trevas; agora, luz no Senhor. Andai como filhos da luz (Ef 5,8). E em outro lugar: Passou a noite, o dia se aproximou; rejeitemos, pois, as obras das trevas e revistamos as armas da luz; como em pleno dia caminhemos com dignidade (Rm 13,12-13).

Todavia, em comparação com aquela luz a que chegaremos, ainda é noite até mesmo o dia em que estamos. Ouve o apóstolo Pedro, quando do magnífico esplendor desceu até ele a voz dirigida a Cristo Senhor: Tu és meu Filho muito amado, em que pus minhas complacências. Esta voz, continua, nós a ouvimos vinda do céu, quando estávamos com ele no monte santo (2Pd 1,17-18). Já que, porém, nós não estivemos lá e não ouvimos então esta voz do céu, o mesmo Pedro nos fala: E a palavra profética se tornou mais segura para nós; fazeis bem em dar-lhe atenção como a uma lâmpada em lugar escuro, até que brilhe o dia e a estrela da manhã desponte em vossos corações (cf. 2Pd 1,19).

Quando, pois, vier nosso Senhor Jesus Cristo e, segundo diz o apóstolo Paulo, iluminar tudo quanto se oculta nas trevas e manifestar os pensamentos do coração, para que receba cada um de Deus seu louvor (1Cor 4,5), então num dia assim não haverá mais necessidade de lâmpadas:não se lerá mais o profeta, não se abrirá o volume do Apóstolo, não buscaremos o testemunho de João, não precisaremos do próprio Evangelho. Portanto, todas as Escrituras serão retiradas do centro onde, na noite deste mundo, elas se acendiam como lâmpadas a fim de não ficarmos nas trevas.

Afastadas todas estas luzes, não tendo mais de brilhar para nós, indigentes, e dispensando o auxílio que por esses homens de Deus nos era dado, vendo conosco aquela verdadeira e clara luz, o que é que veremos? Onde nosso espírito irá alimentar-se? Por que se alegrará com o que vê? Donde virá aquele júbilo que nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem subiu jamais ao coração do homem? (cf. 1Cor 2,9). O que é que veremos?

 Eu vos peço: amai comigo, correi crendo comigo, desejemos a pátria celeste, suspiremos pela pátria do alto, sintamo-nos como peregrinos aqui. Que veremos então? Responda o evangelho: No princípio era o Verbo e o Verbo era com Deus, e o Verbo era Deus (Jo 1,1). No lugar de onde te banhou o orvalho, chegarás à fonte. Aí, de onde o raio de luz, indiretamente e como por rodeios, foi lançado a teu coração tenebroso, verás a luz sem véus; vendo-a, recebendo-a, serás purificado. Caríssimos, diz João, somos filhos de Deus e ainda não se manifestou o que seremos; sabendo que, quando aparecer, seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal qual é (1Jo 3,2).

Percebo que vossos sentimentos sobem comigo para as alturas, mas o corpo corruptível pesa sobre a alma; e a habitação terrena com a multiplicidade dos pensamentos oprime o espírito (Sb 9,15). Também eu irei deixar de lado este livro, saireis também vós, cada um para sua casa. Sentimo-nos bem na luz comum, muito nos alegramos, exultamos de verdade; mas, ao afastar-nos uns dos outros, dele não nos afastemos.


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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF