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segunda-feira, 10 de maio de 2021

ESTUDOS BÍBLICOS: SOLA SCRIPTURA (Parte 6/7)

Ecclesia

SOLA SCRIPTURA

Na vaidade de suas mentes

Uma análise ortodoxa deste ensinamento ortodoxo

Por John Whiteford

Tradução de Rafael Resende Daher

APROXIMAÇÃO # 3: DEIXE AS PASSAGENS CLARAS INTERPRETAR AS OBSCURAS.

Esta deve ter sido a solução perfeita encontrada para o problema de como interpretar a Bíblia — deixe que as passagens de fácil entendimento "interpretar" as obscuras. A lógica disto é simples, quando uma passagem obscura revela uma verdade obscura, esta passagem é seguramente declarada de maneira clara em outra passagem da Bíblia. Use simplesmente estas "passagens claras" como chave, para destrancar o significado da "passagem obscura." Assim os estudantes luteranos de Tubingen discutiram em sua primeira carta com o Patriarca Jeremias II:

"Então, não há melhor maneira de interpretar a Bíblia do que utilizando a própria Bíblia para interpretá-la, ou seja, por ela mesma. Pois a Bíblia foi inspirada pelo mesmo Espírito, que entende seu próprio testamento e que pode declarar seu significado da melhor maneira."

A promessa que este método trouxe foi insuficiente para resolver o caos e as divisões entre os protestantes. O ponto de aproximação se desintegra em determinados trechos que estão "claros" e em outros que estão "obscuros." Os batistas acreditam que é impossível um Cristão perder sua salvação, pois a pessoa é "salva," e demonstram diversas passagens para provar a doutrina da "Salvação Eterna" — por exemplo: "Pois os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis" (Romanos 11:29) e "As minhas ovelhas ouvem a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; elas jamais hão de perecer, e ninguém as roubará de minha mão" (João 10:27-28). Mas quando os batistas encontram versos que demonstram que a salvação pode ser perdida, como "no dia em que o justo vier a pecar, a sua justiça não o salvará" (Ezequiel 33:12), eles usam as passagens que estão "claras" para explicar estas que estão "obscuras." Os Metodistas acreditam que a salvação pode ser perdida se a pessoa se voltar contra Deus, e não encontram nenhuma obscuridade nestas passagens, pelo contrário, utilizam estes textos para provar aos Batistas que estas passagens estão "claras." E assim Metodistas e Batistas lançam seus versos da Bíblia de um lado para o outro, cada um não entendendo como o outro não consegue "ver" o que é tão "claro."

APROXIMAÇÃO # 4. EXEGESE CRÍTICA-HISTÓRICA

Afogados em um mar de opinião subjetiva e divisão, os protestantes começaram a agarrar em qualquer método intelectual com uma pequena parte de objetividade. Como o tempo passou e as divisões aumentaram, a ciência e a razão tornaram-se o padrão pelo qual os teólogos protestantes esperam provar a consistência de suas convicções bíblicas. Esta tentativa "científica" vem dominando as escolas Protestantes, e também começaram a predominar nas escolas Católicas Romanas, normalmente chamada de "Exegese Crítico-Histórica." Com a chegada da chamada era do "Iluminismo," a ciência é tida como capaz de resolver todos os problemas do mundo. As Universidades Protestantes começaram a aplicar metodologias filosóficas e científicas em sua teologia e até na Bíblia. Desde o Iluminismo, os estudantes protestantes analisam a Bíblia pelos seguintes aspectos: históricos, manuscritos, idiomas bíblicos etc. Como se a Bíblia Sagrada fosse uma escavação arqueológica, estes estudantes buscam encontrar fragmentos para demonstrar com a ciência o que a Bíblia tem a oferecer. Para ser franco, devo declarar que muito conhecimento útil foi produzido por esta escola. Mas, infelizmente, sua metodologia é errada, fundamentalmente grave, mas é retratada como portadora de uma aura de objetividade científica que vêm surgindo neste período.

Como todas as outras aproximações utilizadas pelos protestantes, este método busca entender a Bíblia ignorando a Tradição da Igreja. Embora não exista nenhum método protestante singular de exegese, todos possuem a mesma meta em "deixar a Bíblia falar por si só." Claro que ninguém que se diz Cristão pode ser contra o que a Bíblia "diz" se ela realmente "fala por si só" através destes métodos. O problema é a língua que os protestantes utilizam como filtro para chegar às suas suposições. Enquanto se dizem objetivos, eles interpretam a Bíblia de acordo com suas próprias tradições e dogmas (sejam eles fundamentalistas ou racionalistas liberais). O que muitos estudantes protestantes fizeram (posso relembrar a linha de Albert Schweitzer) é buscar na história o significado da Bíblia. Escreveram diversos volumes sobre o assunto, mas infelizmente, só chegaram às suas próprias conclusões.

Os estudantes protestantes ("liberais" e "conservadores") erraram em sua metodologia empírica do estudo Bíblico. Eu utilizo o termo "empirismo" para descrever estes esforços. Faço uso deste termo amplo para demonstrar a visão do mundo racionalista que possui a mente Ocidental, que está se esparramando pelo mundo. Sistemas de pensamento Positivistas (do qual o Empirismo faz parte) buscar firmar seus egos em alguma base de conhecimento "certa." [11]

O Empirismo, no sentido exato, é a convicção de que todo conhecimento é baseado na experiência, e que as coisas só podem ser estabelecidas e conhecidas por meio da certeza da observação científica. De mãos dadas com os métodos da observação experimental, veio o princípio da dúvida metodológica, e o principal exemplo é a filosofia de René Descartes, que começou sua discussão filosófica demonstrando que no universo tudo pode ser colocado em dúvida, inclusive a própria existência da pessoa, e nisso ele firma toda a verdade ("penso, logo existo"), construindo este sistema de filosofia. No princípio, os Reformadores estavam contentes com a suposição de que a Bíblia é a base de toda a teologia, e que a filosofia poderia ser colocada de lado. Mas como o espírito humanista do Iluminismo prevaleceu, os estudantes protestantes passaram a utilizar os métodos racionalistas em seus estudos da Bíblia, para descobrir o que pode ser conhecido "com certeza." Os estudantes protestantes liberais já concluíram estes estudos, já "descascaram a cebola," e agora utilizam suas próprias opiniões e sentimentos como base para a fé.

Os Protestantes conservadores foram bem menos persistentes em suas tentativas racionalistas. Assim, eles preservaram uma maior reverência à Bíblia e uma maior convicção em sua inspiração. Não obstante, esta aproximação (e até mesmo entre Fundamentalistas mais obstinados) é arraigada no mesmo espírito racionalista dos Liberais. O principal exemplo é encontrado entre os chamados "Fundamentalistas da Dispensação," que acreditam na teoria de que Deus negociou com o homem durante várias fases da história, de acordo com "dispensações diferentes," como a dispensação de Adão, a dispensação de Noé, a dispensação de Davi e assim por diante. Pode-se ver um pouco de verdade nesta teoria, mas além da dispensação do Velho Testamento, estes protestantes ensinam que vivemos atualmente uma "dispensação diferente" da dos cristãos do primeiro século. Embora existissem milagres no "período do Novo Testamento," hoje eles não existem mais. Isto é muito curioso, pois (além de não ter qualquer base Bíblica) esta teoria permite que os Fundamentalistas utilizem o mesmo empirismo da vida moderna na Bíblia. Assim, a discussão em torno desta tentativa parece à primeira vista ser apenas de interesse acadêmico, longe de ligar com a realidade do protestante comum, pois os "leigos protestantes conservadores" não foram afetados por este tipo de racionalismo.

A grande falácia desta teoria é a chamada "aproximação" científica da Bíblia, com a utilização de falsos estudos empíricos da história, da Bíblia e da teologia. Métodos empíricos trabalham bem quando utilizados corretamente nas ciências naturais, mas quando utilizados em áreas que não podem trabalhar, como em alguns momentos da história (que não podem ser repetidos para uma nova experiência), estes métodos não conseguem produzir resultados consistentes ou precisos [12].

Os cientistas precisam inventar um telescópio capaz de penetrar no espírito, e muitos estudantes protestantes afirmam que à luz da ciência deve-se rejeitar a existência dos demônios e do Diabo. Para o empirista, o Diabo deve aparecer vestindo uma roupa vermelha luminosa e segurar um garfo, somente assim sua existência será explicada por estes cientistas. Embora estes empiristas escondam o orgulho em suas franquezas, percebemos que eles estão cegos devido às suas suposições, e não conseguem mais ter nenhuma visão além das suas realidades. Se os métodos do empirismo fossem aplicados constantemente, todo o conhecimento seria posto em dúvida (até o próprio empirismo), mas o empirismo é inconsistente pois "sua mutilação cruel da experiência humana leva a uma severidade científica que prestigia seus próprios defeitos." [13]

As conexões entre as conclusões extremistas dos protestantes liberais e modernos apareceram, e os protestantes mais conservadores e Fundamentalistas ainda não parecem muito claros à maioria — estão claros apenas para os Fundamentalistas conservadores! Embora estes conservadores enxerguem uma oposição quase completa entre o liberalismo protestante, eles usam os mesmos métodos de estudo que os liberais, e é destes métodos que aparecem suas suposições filosóficas. Assim, a diferença entre "liberais" e "conservadores" não é apenas uma diferença de suposições básicas, mas do que os levou às suas conclusões.

Se a exegese protestante fosse verdadeiramente "científica," como ela se apresenta, seus resultados mostrariam mais consistência. Se seus métodos fossem realmente "tecnológicos e imparciais" (como eles dizem), não haveria importância sobre quem os usou, pois eles trabalhariam da "mesma maneira, para todo mundo." Mas o que encontramos quando examinamos o atual estudo bíblico dos protestantes? Segundo seus "experts," a escola protestante de estudos bíblicos está em crise [14]. Na verdade, esta crise é melhor ilustrada pelo mais conhecido estudioso protestante, Gerhald Hasel (em sua pesquisa sobre a história e o atual estado da teologia do Velho Testamento; "Old diz que durante os anos 70 foram produzidas cinco novas teologias protestantes, e nenhuma possuía uma aproximação com a outra e nem métodos comuns [15].

De fato, isto é incrível, considerando o alto-padrão que as escolas protestantes denominam seus estudos bíblicos, já que você pode perceber as ilimitadas conclusões das denominadas "boas escolas" que voltaram à tona. Em outras palavras, você pode encontrar conclusões pessoais sobre diversos assuntos, e até encontrar um P.H.D defendendo-as. Esta área não é uma ciência exata como a matemática ou a química! O que estamos defendendo, é que o que se apresenta como "ciência exata" na realidade é uma pseudociência, que esconde diversas perspectivas teológicas e filosóficas concorrentes. É uma pseudociência pois os cientistas desenvolvem instrumentos capazes de examinar e compreender Deus, pois a teologia científica exata ou este tipo de interpretação bíblica é impossível. Isto não significa que não há nada de útil nesta escola; mas queremos dizer que aspectos legítimos de aprendizagem de história e lingüística são camuflados pela névoa e pela parede da pseudociência, descobrimos então que os métodos de interpretação bíblica dos protestantes são produtos de suas suposições teológicas e filosóficas. [16]

Com uma subjetividade que ultrapassa a dos mais especulativos psicanalistas freudianos, os estudiosos protestantes escolhem os "fatos" e as "evidências" que fundamentam seus métodos de trabalho, para então prosseguir com suas suposições sobre a Bíblia Sagrada. Durante todo o tempo, os estudantes protestantes "liberais" e "conservadores" descreveram-se como cientistas "imparciais." [17] E desde quando as universidades modernas pararam de fornecer P.H.D.´s aos que apenas não adulteram a Verdade, os estudiosos protestantes passaram propor teorias "novas" e "criativas." Esta é a mesma essência de toda heresia: novidade, uma arrogante opinião pessoal e auto-ilusão.

NOTAS DE RODAPÉ

10. Ibid., 115.

11. A palavra "positivismo" vem do francês "positif," que significa "seguro, certo." Este termo foi utilizado primeiramente por Augusto Comte. Este sistema constituí-se na suposição de que o fato e a instituição é a última base do conhecimento — na filosofia de Comte, a experiência ou a percepção constitui a base, sendo assim o precursor do Empirismo Moderno [c.f. Encyclopaedia of Religion and Ethics, 1914 ed., s.v. "Positivism," by S.H. Swinny; and Wolfhart Pannenburg, Theology and Philosophy of Science, trans. Francis McDonagh (Philadelphia: Westminster Press, 1976), p. 29].

12. Por exemplo, um método para determinar a realidade dos eventos passados, os estudiosos empiristas utilizam o princípio da analogia. Desde que o conhecimento está baseado na experiência, o modo da pessoa entender está relacionado ao que é familiar. Sob o disfarce da análise histórica, eles julgam que um evento do suposto do passado (por exemplo, a ressurreição de Jesus) deve ser baseado em o que nós sabemos pela nossa experiência. E desde que estes historiadores passaram a observam tais coisas, os eventos milagrosos da Bíblia passaram a ser descritos como mitos ou lendas. Assim, para um Empirista, um "milagre" requer a violação da lei natural, então não existe milagre (por definição), pois as leis naturais são determinadas pela observação do que experimentamos, para o Empirista confrontado com a moderna analogia do milagre, o milagre não é mais um milagre, por constituir uma violação à lei natural. Portanto, os empiristas não produzem resultados que falsificam a realidade transcendente, ou os milagres, mas suas suposições negam desde o início a existência de tais coisas. [c.f. G. E. Michalson, Jr., "Pannenburg on the Resurrection and Historical Method," Scottish Journal of Theology 33 (April 1980): 345-359.]

13. Rev. Robert T. Osborn, "Faith as Personal Knowledge," Scottish Journal of Theology 28 (February 1975): 101-126.

14. Gerhard Hasel, Old Testament Theology: Basic Issues in the Current Debate (Grand Rapids: Eerdman’s Publishing Company, 1982), p. 9.

15. Ibid., p. 7.

16. I have discussed Liberal Protestantism only to demonstrate the fallacies of "Historical" exegesis.

17. Para uma crítica maior sobre o Método Crítico Histórico, veja Thomas Oden, Agenda for Theology: After Modernity What? (Grand Rapids: Zondervan, 1990) pp 103-147.

FONTE:

Folheto Missionário número P106
Copyright © 2005 Holy Trinity Orthodox Mission
466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011
Redator: Bispo Alexandre Mileant
(sola_scriptura_john_whiteford_p.doc, 04-29-2005) 

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF