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segunda-feira, 17 de maio de 2021

Papa: Nada substitui o ver pessoalmente

 

Arquidiocese de Brasília

O Santo Padre dá como título à sua mensagem aos media: “Comunicar encontrando as pessoas onde estão e como são”. É o encontro aquilo que mais marca o desafio lançado pelo Papa aos jornalistas. Serem capazes de assumir a frase do Evangelho de João: “Vem e verás”, tal como “a fé cristã se comunicou a partir dos primeiros encontros nas margens do rio Jordão e do lago da Galileia” – escreve o Papa.

Ir ao encontro com a coragem dos jornalistas

Para o Papa Francisco existe uma “crise editorial” que “corre o risco de levar a uma informação construída nas redações, diante do computador, nos terminais das agências, nas redes sociais, sem nunca sair à rua”. Desta forma, é importante os jornalistas estarem abertos ao encontro procurando verificar “com os próprios olhos”. “Se não nos abrimos ao encontro, permanecemos espectadores externos” – escreve o Papa na sua Mensagem.

“O próprio jornalismo, como exposição da realidade, requer a capacidade de ir aonde mais ninguém vai: mover-se com desejo de ver” – lembra Francisco enaltecendo a coragem de muitos jornalistas que se esforçam por narrar a realidade, mesmo que tenham que correr riscos:

“Temos que agradecer a coragem e determinação de tantos profissionais (jornalistas, operadores de câmara, editores, cineastas que trabalham muitas vezes sob grandes riscos), se hoje conhecemos, por exemplo, a difícil condição das minorias perseguidas em várias partes do mundo, se muitos abusos e injustiças contra os pobres e contra a criação foram denunciados, se muitas guerras esquecidas foram noticiadas” – frisa Francisco.

Para o Papa “seria uma perda não só para a informação, mas também para toda a sociedade e para a democracia, se faltassem estas vozes: um empobrecimento para a nossa humanidade” – salienta.

Atenção mediática aos mais pobres

O Santo Padre na sua Mensagem refere-se, em particular, ao tempo de pandemia que estamos a viver, sublinhando que “há o risco de narrar a pandemia ou qualquer outra crise só com os olhos do mundo mais rico”. Ou seja, o risco de que a atenção mediática possa ser regida pelos interesses dos mais ricos e poderosos. E o Papa exemplifica:

“Por exemplo, na questão das vacinas e dos cuidados médicos em geral, pensemos no risco de exclusão que correm as pessoas mais indigentes. Quem nos contará a expetativa de cura nas aldeias mais pobres da Ásia, América Latina e África? Deste modo as diferenças sociais e económicas a nível planetário correm o risco de marcar a ordem da distribuição das vacinas anti-Covid, com os pobres sempre em último lugar; e o direito à saúde para todos, afirmado em linha de princípio, acaba esvaziado da sua valência real” – diz o Papa não esquecendo quem sofre “no mundo dos mais afortunados”, sobretudo “o drama social das famílias decaídas rapidamente na pobreza” e que “fazem a fila à porta dos centros da Cáritas”.

Na web oportunidades e perigos

O Papa refere que a web “pode multiplicar a capacidade de relato e partilha” apontando que com a internet há “muitos mais olhos abertos sobre o mundo”.

“A tecnologia digital dá-nos a possibilidade duma informação em primeira mão e rápida, por vezes muito útil; pensemos nas emergências em que as primeiras notícias e mesmo as primeiras informações de serviço às populações viajam precisamente na web. É um instrumento formidável, que nos responsabiliza a todos” – assinala Francisco.

O Santo Padre lembra que “potencialmente, todos podemos tornar-nos testemunhas de acontecimentos que de contrário seriam negligenciados pelos meios de comunicação tradicionais”. Ressalta que “graças à rede, temos a possibilidade de contar o que vemos, o que acontece diante dos nossos olhos, de partilhar testemunhos”.

Mas, existem também perigos e riscos como o de uma “comunicação social não verificável”. As imagens podem ser manipuláveis sendo necessária “uma maior capacidade de discernimento” e “um sentido de responsabilidade mais maduro, seja quando se difundem seja quando se recebem conteúdos”.

“Todos somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos, pelo controlo que podemos conjuntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as. Todos estamos chamados a ser testemunhas da verdade” – escreve Francisco.

Nada substitui o ver pessoalmente

Na sua Mensagem dedicada aos media, o Papa salienta que “algumas coisas só se podem aprender, experimentando-as”. “O intenso fascínio de Jesus sobre quem O encontrava dependia da verdade da sua pregação, mas a eficácia daquilo que dizia era inseparável do seu olhar, das suas atitudes e até dos seus silêncios. Os discípulos não só ouviam as suas palavras, mas viam-No falar” – escreve o Papa.

O Santo Padre denuncia a “quantidade de eloquência vazia que abunda no nosso tempo” e lança o desafio de que os comunicadores cristãos usem o método utilizado na difusão da “boa nova do Evangelho” através de “encontros pessoa a pessoa, coração a coração: homens e mulheres que aceitaram o mesmo convite – «vem e verás”.

“Todos os instrumentos são importantes, e aquele grande comunicador que se chamava Paulo de Tarso ter-se-ia certamente servido do e-mail e das mensagens eletrónicas; mas foram a sua fé, esperança e caridade que impressionaram os contemporâneos que o ouviram pregar e tiveram a sorte de passar algum tempo com ele, de o ver durante uma assembleia ou numa conversa pessoal” – escreve o Papa lembrando S. Paulo.

O Papa Francisco conclui a sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais neste ano de 2021 com uma oração:

Senhor, ensinai-nos a sair de nós mesmos, e partir à procura da verdade.

Ensinai-nos a ir e ver, ensinai-nos a ouvir, a não cultivar preconceitos, a não tirar conclusões precipitadas.

Ensinai-nos a ir aonde não vai ninguém, a reservar tempo para compreender, a prestar atenção ao essencial, a não nos distrairmos com o supérfluo, a distinguir entre a aparência enganadora e a verdade.

Concedei-nos a graça de reconhecer as vossas moradas no mundo e a honestidade de contar o que vimos.

O Dia Mundial das Comunicações Sociais foi estabelecido pelo Concílio Vaticano II através do decreto “Inter Mirifica” em 1963 e assinala-se no domingo antes do Pentecostes. Este ano será a 16 de maio.

Laudetur Iesus Christus

ARQUIDIOCESE DE BRASÍLIA

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF