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quarta-feira, 11 de agosto de 2021

A INFLUÊNCIA DE EVA E DE MARIA NA MULHER NA DOUTRINA PATRÍSTICA

CNBB

Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)

            A Igreja celebrará a Assunção da Virgem Maria. Nossa Senhora foi concebida sem o pecado original, de modo que após a sua morte ela foi elevada aos céus, por graça de Deus. Ela disse sim ao plano de salvação de modo que o Senhor Jesus Cristo pode entrar na realidade humana, em vista da redenção de todos. Eva, juntamente com Adão, disseram não ao Senhor, de modo que a desobediência, o pecado e a morte entraram no mundo.

As duas figuras bíblicas de Eva e de Maria, sem dúvida, influenciaram os Padres da Igreja nos primeiros séculos em relação à mulher na sua pessoa e na sua missão. É bom que se tenha em consideração que é impossível negar o contexto cultural, histórico que se formou tal visão. A visão de Eva era mais de inferioridade, pelo pecado, mas em Maria era de uma visão superior, de vida eterna, vida de graça porque Maria viveu sem o pecado original, gerando na carne o Filho de Deus, por obra do Espírito Santo (cfr. Mt 1,20)[1]. A seguir nós veremos como essas idéias influenciaram a vida dos padres na sua doutrina a respeito da mulher nos primeiros séculos do cristianismo.

            Desobediência e alegria.

            São Justino de Roma, padre do século II disse que as duas mulheres foram diferentes em relação à atitude de vida com o Senhor. Eva, quando era virgem e incorrupta, tendo recebido a palavra da serpente, deu à luz à desobediência e a morte. Maria concebeu fé e alegria[2], porque dela nasceu por obra do Espírito Santo, o Filho de Deus (cfr. Mt 1,20).

A diferença entre as duas mulheres.

            Santo Ireneu, bispo de Lião, séculos II e III afirmou a diferença entre as duas mulheres em relação ao Senhor e à sua Palavra. Enquanto Maria, a Virgem obediente, disse que ela era a serva do Senhor, faça-se nela segunda a sua palavra (cfr. Lc 1,38), em contraste, Eva desobedeceu quando ainda era virgem. Se Eva pela sua desobediência se tornou para si e para todo o gênero humano, causa de morte, Maria, pela sua obediência se tornou para si e para todo o gênero humano, causa da salvação[3].

            Santo Ireneu colocou as atitudes das duas mulheres em relação às ordens do Senhor. Enquanto Eva foi seduzida pela fala de um anjo e afastou-se de Deus, fazendo a transgressão de sua palavra, Maria recebeu a boa-nova pela boca de um anjo e trouxe Deus em seu seio, sendo obediente à sua palavra. Se uma deixou-se seduzir de modo a desobedecer a Deus, a outra obedeceu a Deus, para que, da virgem Eva, a Virgem Maria se tornasse advogada[4].

            A mulher, Eva, companheira de Adão.

            Santo Irineu também colocou o ponto na criação da mulher em que Deus decidiu dar-lhe uma auxiliar para o homem, porque não era bom que ele ficasse sozinho para que o pudesse corresponder (cfr. Gn 2,18). O fato era que entre todos os viventes, não foi encontrado um ajudante igual, similar a Adão. Deus, fez descer sobre Adão um êxtase no qual adormeceu um sono que não existia no paraíso. Deus tomou uma costela de Adão, preencheu-a de carne o vazio criado e, com a costela extraída, fez a mulher, no qual conduziu a Adão, de modo que pode exclamar que a mulher era osso dos seus ossos e carne de sua carne, chamada mulher, porque como a Escritura diz, foi tirada do homem (cfr. Gn 2,23)[5].

            As mulheres glorificam a Deus.

            São João Crisóstomo afirmou que as mulheres glorificam a Deus no corpo, na alma com as coisas que fazem no lar e na comunidade. Na verdade não existe de fato uma mulher que não queira ser amada, de modo que o homem ame a sua mulher. Deus a criou bonita, para que seja admirada, e não para que seja ofendida pelo homem, não porque a pessoa deveria retribuir com tais dons, mas com atitudes de continência, e de bem. Deus a fez bonita para aumentar nos homens os tesouros da honestidade de modo que a mulher deva ser respeitada, amada, na família e nos ambientes diversos[6].

            A conduta virtuosa da mulher atrai o marido à piedade.

            São João Crisóstomo ainda disse que o amor da mulher cristã pela casa e pelo marido afasta toda a discórdia. Se o marido for pagão, em breve ele vai deixar-se ser convencido; se é cristão, vai se tornar melhor. São João diz que a mulher que ama a casa é sábia, faz economia. A mulher que é virtuosa, a pregação apostólica adquire glória, graças a ela e às suas boas obras. Ela conquista os homens maus e não crentes, pela vida de suas virtudes, atraindo-os à piedade com o próprio comportamento[7].

            São João viu a importância da mulher no campo doméstico, civil e espiritual. A mulher carrega sobre si uma parte da organização civil, o cuidado doméstico. Sem ela, a vida política não poderia subsistir, porque se no governo da casa ela põe ordem, o será também na parte política. E o mesmo fato é dado na vida espiritual, muitas delas ajudam na organização das comunidades, enquanto outras foram martirizadas[8].

            A criação da mulher.

            São João Damasceno, monge e sacerdote, séculos VII e VIII, afirmou que a criação da mulher por Deus como imagem e semelhança de Deus (cfr. Gn 1,26) possibilitou a conservação do gênero humano. Ela é colaboradora ao lado do homem da obra da criação. Deus criou a mulher, semelhante ao homem. Desta forma, pela presença da mulher, se conserva através à geração, o gênero humano. No início deve-se falar de criação, não de geração, porque a criação é aquela antes da formação do ser humano que veio através da intervenção direta e pessoal de Deus. A geração constitui aquela sucessão por meio do qual, após a sentença de morte, somos gerados um ao outro[9].

            Eva penitente.

            Tertuliano, padre do século II e III disse que toda a mulher carrega em si a Eva penitente no sentido de uma vida melhor por causa do pecado, que conjuntamente com o homem, desobedeceram a Deus. Eles levaram o gênero humano ao pecado, mas Jesus Cristo redimiu a humanidade, morreu pelos pecados de todas as pessoas e deu-nos vida nova neste mundo e um dia na eternidade[10].

            A mulher cristã.

            São Gregório de Nazianzo, bispo de Constantinopla, século IV, tinha presente a mulher cristã, pessoa de fé no Senhor Jesus Cristo. Ela aconselha o marido para uma vida em comunhão, porque a sabedoria da mulher está em vista da vida matrimonial. O vinculo conjugal tornou os dois, mulher e homem, tudo em comum na vida. Os dois vivem o amor de Deus na família e na comunidade[11].

            A missão de Eva e de Maria colocou muito bem a doutrina dos padres da Igreja. A figura da mulher foi bastante desenvolvida nos primeiros tempos, como pessoa humana, e como missão de vida neste mundo e um dia na eternidade. A mulher colabora no plano de vida junto ao Deus criador, por gerar as pessoas e por viver o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. Ao lado do homem, a mulher procura realizar a vontade de Deus, pela vida e pelo amor. Assim são importantes políticas públicas, que salvaguardam a vida das mulheres, havendo menos violência contra as mesmas, mortes de mulheres, feminicídios, e todas sejam respeitadas e amadas como seres humanos ao lado dos homens, na família, na comunidade e na sociedade.

[1] Cfr. Maria Grazia Mara, Donna. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, A-E, diretto da Angelo Di Berardino.Marietti, Genova-Milano, 2006, pg. 1504-1505.

[2] Cfr. Justino de Roma, Diálogo com Trifão, 100,5. Paulus, SP, 1995, pg. 265.

[3] Cfr. Ireneu de Lião, III, 22,4. Paulus, SP, 1995, pgs. 351-352.

[4] Cfr. Idem, V,19,1, pg. 569.

[5] Cfr. Irineu de Lyon, Demonstração da pregação apostólica, 13. Paulus, SP, 2014, pg. 80.

[6] Cfr. Giovanni Crisostomo, Omelie sulla prima lettera a Timoteo, 4,3. In: La teologia dei padri, v. 1. Città Nuova Editrice, Roma, 1981, pg. 270-271. .

[7] Cfr. Giovanni Crisostomo, Omelie sulla lettera a Tito, 4,2. In: Idem, v. 3, pgs. 352-353.

[8] Cfr. Giovanni Crisostomo, Omelie sulla seconda lettera a Timoteo, 10,3. In: Idem, pg. 350.

[9] Cfr. Giovanni Damasceno, Esposizione della fede ortodossa, 2,30. In: Idem, pg. 186.

[10] Cfr. Tertulliano, L´abbigliamento delle donne, 1,1, v. 3. In: Idem, pg. 357.

[11] Cfr. Gregorio di Nazianzo, Letterametrica ad Olimpia. In: Idem, pg. 354.

Fonte: CNBB

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF