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terça-feira, 3 de maio de 2022

A dimensão ética da educação católica

A educação Católica | CNBB Norte 2

Dom Antônio de Assis
Bispo auxiliar de Belém do Pará (PA)

A DIMENSÃO ÉTICA DA EDUCAÇÃO CATÓLICA (Parte 18)

A identidade da educação católica traz consigo um modo próprio de se expressar; uma das suas mais profundas características é a dimensão ética. Na verdade, há uma natural relação entre educação e ética porque o desenvolvimento humano pressupõe respeito à verdade sobre a pessoa e a tudo aquilo que é justo e autêntico nos processos educativos.

A conexão ética também é necessária para garantir a boa qualidade das relações entre educador e educando, assegurar os conteúdos essenciais da formação e a justa metodologia. A dimensão ética da educação católica é essencial pois contribui para a preservação do seu rosto, dinamismo, finalidade, dimensões, amplos e profundos horizontes.

Uma vez que vivemos numa sociedade, muitas vezes, profundamente abalada por crises e escândalos de corrupção, somos convidados a aprofundar a nossa consciência de sermos educadores que tem um perfil específico, bases profundas, virtudes nobres, identidade própria.

Enfim, o elemento ético específico da educação católica, não é outro que o Amor. O amor educa incondicionalmente. Isso se expressa na relação inseparável entre ternura e firmeza, misericórdia e justiça, palavras e atitudes, métodos e finalidade, realidade presente e esperança. Por isso a Igreja sempre menção à figura do educador como Bom Pastor. Muito significativa é a frase de Dom Bosco: “Educação é coisa do coração”. Somente quem ama, está preparado para educar.

O sentido da ética na educação

O papel da ética na educação é aquele, preservá-la de tudo aquilo que contraria o legítimo desenvolvimento humano integral que está alicerçado no respeito incondicional pela dignidade humana.

 A ética tem a função de manter a íntima relação entre educação, verdade e justiça em relação aos recursos humanos que precisam ser desenvolvidos. Sem o espírito ético na gestão da educação, o educador corre o perigo de se tornar um tirano na relação com os seus educandos e as instituições estariam à deriva dos caprichos dos seus gestores. O caráter crítico da ética preserva a educação de ser atividade estratégica a serviço da manipulação do conhecimento.

A ética orienta a exposição dos conteúdos da educação afim de lhe garantir a devida fidelidade em vista do pleno desenvolvimento humano e estimula o justo respeito para com as etapas e exigências metodológicas dos processos educativos. Por exemplo, as exigências típicas da educação infantil são diferentes daquelas do ensino médio e do ensino superior.

A ética rege a educação alertando seus gestores para o respeito às condições básicas que garantem o sadio, íntegro e pleno processo de desenvolvimento do educando. O educador que zela pela dimensão ética do seu serviço deixa-se orientar, antes de tudo, pelas legítimas aspirações humanas que constituem as bases da natureza da educação. São legítimas aspirações humanas a felicidade, o amor, o respeito, a liberdade, a justiça, a paz, o bem-estar etc.

Ética na gestão educacional

Uma das realidades mais chocantes em nossa sociedade brasileira na atualidade é o drama da corrupção na área da educação. Esse mal, lamentavelmente, está em todos os níveis da gestão educacional; trata-se do desvio de recursos financeiros, da negligência da execução de políticas educacionais, do sucateamento do patrimônio escolar, violência na relação professor x aluno e vice-versa), aliciamento ideológico, abuso de autoridade, assédio moral e sexual, desvio de funções, negligência de conteúdos etc.

A ética na gestão educacional envolve a todos os sujeitos na diversidade de níveis de saberes, funções e atividades no zelo para com a promoção da educação. Em nível institucional a escola está ao centro com outras instituições educacionais.

Todo educador vinculado a uma instituição educacional, seja escola, fundação, instituto, universidade, é chamado a reavivar continuamente a consciência das suas responsabilidades morais e éticas para ser justo, honesto e transparente na gestão da educação, naquilo que lhe compete. As exigências morais são muitas, como por exemplo:  a obediência aos parâmetros institucionais que podem ser o projeto político pedagógico, o plano de desenvolvimento institucional com seus compromissos específicos; a fidelidade aos princípios e valores institucionais; o senso de respeito, comunhão e sinergia com as autoridades internas e colegas ( isso significa não isolar-se, não viver murmurando, ser capaz de somar caminhar com, falar a mesma linguagem…);  a consciência e atitudes que evidenciem o senso de corresponsabilidade; o cultivo de uma mentalidade interdisciplinar, aberta e diologante; a fidelidade para com o cronograma de exposição dos conteúdos programáticos; o sentido de pertença institucional que leva o educador a evitar tudo aquilo que possa prejudicar a instituição; a sensibilidade preventiva, a contribuição com atitudes de Responsabilidade Social da instituição etc. Por isso, a gestão de uma instituição educacional católica é sempre uma tarefa exigente. A fidelidade ao perfil da educação católica tem um alto preço que lhe pede a atitude de contínua renovação do seu ânimo e dos bons ideais.

Ética na relação educador e educando

Na relação educador educando está uma das mais exigentes e delicadas cargas de atitudes éticas para os educadores de modo geral, em suas mais variadas responsabilidades, seja na gestão, na secretaria, na disciplina, na sala de aula ou em outra função. Vejamos algumas dessas exigências éticas.

Respeito incondicional pelo ser humano: o estudante é, antes de tudo, uma pessoa merecedora de todo respeito; só educa quem é capaz de acolher, escutar, respeitar, servir o ser humano; esse princípio é de fundamental importância para o educador, seja professor, técnico ou gestor; educar é um serviço delicado que requer empatia, simpatia, confiança, paciência, consciência da necessidade de processo, acompanhamento. Essas atitudes são concretas e exigentes porque o educando não é um recipiente passivo que só recebe, mas é um sujeito inteligente, livre e responsável, capaz de interagir com o seu educador, mas em processo de amadurecimento e que precisa ser motivado.

A maturidade socioafetiva: a qualidade da relação entre um educador e um educando, depende muitas vezes da maturidade afetiva e do equilíbrio emocional e sexual do educador. Um educador desequilibrado nas dimensões socioafetiva e sexual, tende a incorrer em grave perigo de instaurar uma relação de violência com os seus educandos. Infelizmente, não são poucos os educadores condenados por aliciamento afetivo, abuso sexual, gratificações injustas, vingança, autoritarismo, injustiça nas avaliações, injúria, difamação, agressividade etc.

Discernimento e prudência: o bom educador é chamado a cultivar uma atitude de contínuo discernimento e prudência no relacionamento com seus educandos. As virtudes do discernimento e da prudência fortalecem o educador para que seja capaz de evitar a tomada de atitudes extremistas e agressivas no calor da pressão das circunstâncias de risco e posturas ambíguas. Essas duas virtudes orientam suas palavras, gestos, atitudes, decisões.

Ternura e firmeza:  o educador é chamado, em todas as ocasiões, a conservar o  equilíbrio entre razão e coração. A conjugação entre ternura e firmeza, se refere à íntima relação entre amor e verdade que sempre devem caminhar juntos (cfr. Sl 85,11); a verdade preservada, liberta e promove o sujeito. Quando um educador movido pela ternura e bondade, negligencia a verdade e oculta exigências necessárias para o educando, está sendo omisso no exercício da sua profissão. Por outro lado, a firmeza não deve ser confundida com grosseria.

Confidencialidade: o educador que zela pela relação com seus educandos atrai a confiança deles e passa a ser depositário dos mais profundos e íntimos conteúdos de confidências. Dessa forma, os educadores, muitas vezes, são chamados a se exercitarem na responsabilidade da educação paterna, fazendo todo o possível para não perder a confiança dos educandos por causa das confidências. A confiança traída é dolorosa e gera um profundo impacto negativo na pessoa traída. Quando um estudante perde a confiança no seu educador este já não terá mais sobre ele nenhum influxo positivo. A questão do sigilo e da confidencialidade são delicadas. Essa é uma questão a ser levada a sério quanto ao serviço de secretaria, disciplina, de conselho de classe, de orientação educacional, psicológica etc.

O reconhecimento dos limites da própria competência: esta é outra questão muito importante para um educador, bem como para outros profissionais. A educação envolve muitos saberes, ciências, competências, habilidades. Muitas vezes, é no ambiente escolar que são revelados graves problemas pessoais e familiares. Nem sempre o educador que acolhe uma confidência está habilitado profissionalmente para ajudar o estudante. É a hora do honesto reconhecimento de competências, da interdisciplinaridade, da motivação para o necessário e justo encaminhamento do caso para outro profissional. Essa passagem deve ser motivada, serena, prudente e segura.

PARA REFLEXÃO PESSOAL:

Você acha importante a reflexão sobre a ética na educação?

Qual aspecto da ética na educação você acha mais exigente?

Na sua opinião quais podem ser as consequências da falta de ética na educação?

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF