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segunda-feira, 1 de agosto de 2022

"O Oratório": das estradas de Lagos, em um filme, o grito dos pobres e da terra

O pôster do filme "O Oratório" | Vatican News

Estreado em alguns cinemas da Europa, o longa-metragem produzido e dirigido pelo diretor de cinema nigeriano Obi Emelonye conta a história de um grupo de garotos de Lagos cuja sobrevivência, não raramente, está ligada ao crime. Por trás de um cenário sombrio, marcado pela degradação e pobreza, está a luz de Laudato si' na reinterpretação moderna da figura de São João Bosco e no desejo dos jovens de contribuir para a causa do meio ambiente.

Aurora Simionato e Marta Miotto - Veneza*

"Vocês entrarão muito em sintonia com este filme, porque estamos promovendo a causa do Papa Francisco."  Assim, o padre Cyril Odia, um salesiano originário da Nigéria, atualmente diretor do "Centro Santa Catarina" em Maynooth, Irlanda, e produtor executivo do longa-metragem ''A Oratório, História Africana de São João Bosco'', imediatamente quis enfatizar a sintonia que existe entre esta história e a Encíclica Laudato si'. Trata-se de uma reinterpretação moderna da figura de Dom Bosco e do carisma salesiano imerso numa rede de relações e paisagens africanas. Uma visão da situação de pobreza e degradação presente hoje em Lagos, cidade mais populosa da Nigéria, onde o cuidado com a Casa comum e a legalidade se revelam como traços de salvação humana e cristã.

Jovens em formação no Centro de Proteção da Criança Dom Bosco | Vatican News

Nigéria: uma terra de mil rostos

Localizada na parte centro-oeste da África, dividida em 36 estados, a Nigéria, um dos dez mais populosos países do mundo, é uma nação de mil rostos: estima-se uma população de 211 milhões de habitantes, divididos em cerca de 250 grupos étnicos e caracterizado pela presença de mais de 500 línguas locais. Esta nação, embora não territorialmente a maior, ganhou uma posição proeminente na África Ocidental, por sua  vivacidade cultural. É também um dos poucos países africanos que hospeda grandes agências de produção de filmes, como The Nollywood Factory, produtora de "O Oratório". A Nigéria, como é conhecida, também é afetada por um desequilíbrio econômico significativo: de acordo com o que foi declarado pelo Nigerian Nation Bureau of Statistics em 2020, 40% da população vive abaixo da linha da pobreza, dado este, que poderia crescer como resultado das dificuldades induzidas pela pandemia. O apelo que o dom Ignatius Kaigama, arcebispo de Abuja, lançou da paróquia de São Mateus em março de 2021 ainda ressoa fortemente:  "Dar de comer aos famintos é um imperativo ético e uma forma poderosa de oração" e a Igreja está na vanguarda para ouvir esse grito.  Num país que já sofre de lutas internas, ataques terroristas e sequestros que constantemente minam a convivência civil e o delicado equilíbrio da política interna, há a emergência ambiental, marcada nos últimos 50 anos por uma corrida louca para extrair petróleo, totalmente independente do respeito pelos ecossistemas e o meio ambiente. De terra incontaminada e exuberante, a Nigéria está se transformando num cenário muito preocupante do ponto de vista ambiental: as florestas foram desfiguradas pelas obras após a passagem dos oleodutos, o ar poluído pela técnica de queima de gás e as águas contaminadas a ponto de comprometer todo o setor alimentar.  Nesse contexto, se insere o trabalho dos salesianos na Nigéria, comprometidos na esteira traçada pela Laudato si' no âmbito da ecologia integral que exige tanto a proteção da dignidade humana quanto a do meio ambiente que a hospeda.

Centro Juvenil Salesiano de Iju produz máscaras - Fonte ANS | Vatican News

A missão salesiana em Lagos

A sociedade nigeriana, no entanto, parece muito dinâmica e determinada a participar da mudança. Por outro lado, a idade média da população é bastante baixa, mas a maioria dos jovens parece não ter um grande futuro, embora muitos desejam oferecer suas energias e talentos para o cuidado da Casa comum. Lagos, embora não seja a capital, além de ser a maior e mais populosa cidade, também é o centro comercial e econômico do Estado. Por isso, como explicou o padre Augustine Okeke, diretor da obra salesiana, muitos jovens saem de suas casas, atraídos pela possibilidade de trabalho, dinheiro e bem-estar, mas quando chegam aqui "percebem que estão sozinhos e não têm nada, e acabam morando na rua". É justamente na dificuldade que os jovens encontram a presença dos salesianos, graças aos quais encontram ajuda, apoio moral e psicológico. Posteriormente, por meio da ajuda de órgãos públicos, o apoio se desloca para o Centro Salesiano de Proteção de Menores (DBCPC), no qual os religiosos são ajudados por operadores profissionais, no trabalho de formação e prevenção. Os salesianos também estão engajados no diálogo inter-religioso na Nigéria com o objetivo de construir, especialmente através do trabalho das novas gerações, para uma sociedade mais inclusiva e baseada no diálogo.

Pe. Cyril Odia, salesiano | Vatican News

O enredo

"O Oratório" é um filme que conta a história de Pe. Michael Simmons, interpretado pelo ator Rich Lowe Ikenna. Padre Michael é um padre salesiano de origem estadunidense que é enviado para a paróquia de elite de Ikoyi, em Lagos, frequentada por grupos de fiéis ricos que não olham favoravelmente para seu pároco que tem o desejo de cuidar dos meninos de rua.  Pe. Michael está particularmente interessado nas condições das crianças de uma favela chamada Makoko, presa em um sistema criminoso que não lhes permite resgatar sua existência e ele faz de tudo para salvar o máximo possível, fundando um oratório, completamente inspirado na obra de Dom Bosco. Deve-se notar, para entender melhor o contexto em que grande parte do filme foi ambientado, que em 2012, alguns funcionários do governo nigeriano tentaram eliminar o assentamento de Makoko, considerado "embaraçoso para a imagem da cidade", implementando um despejo geral e incendiando a favela, ações que desencadearam um efeito dominó de inconveniência com fortes repercussões em toda a comunidade da cidade.  "A escolha deste local - disse pe. Odia, produtor executivo e consultor do filme - foi funcional para destacar as condições ambientais críticas, devido à poluição e à pobreza, que pioram ainda mais a situação daqueles que vivem a precariedade nesse ambiente".  O filme foi feito pela The Nollywood Factory, uma empresa de cinema nigeriana, em colaboração com os salesianos de Dom Bosco. Foi dirigido pelo premiado cineasta Obi Emelonye, originário da Nigéria que agora vive no Reino Unido. O elenco contou com atores profissionais e dezenas de crianças da favela Mokoko agirem juntos: uma ideia de pe. Odia, segundo a qual as oportunidades e experiências positivas oferecidas aos jovens podem fortalecer a autoestima e orientar transformações positivas. A estreia mundial do filme ocorreu em setembro de 2021, em Dublin, despertando interesse pela iniciativa singular e com crítica encorajadora. Na Itália, o longa-metragem foi apresentado em estreia nacional em outubro de 2021 dentro do teatro Valdocco, local de onde a obra de Dom Bosco teve origem e se espalhou pelo mundo, e no mês seguinte foi exibido pela primeira vez nos cinemas de Lagos e Abuja, capital da Nigéria.

Coletiva de imprensa do filme "O Oratório" em Abuja | Vatican News

Laudato si' entre os fotogramas

Gbenga Adebija, presidente do comitê que organizou a estreia do filme em Lagos, disse ao jornal nigeriano Vanguard News como "O Oratório" não é apenas um filme, mas representa um aspecto concreto das muitas dimensões de intervenção que os salesianos implementam na Nigéria e ressaltou o quanto o longa-metragem recorda responsabilidades individuais e coletivas em relação aos meninos de rua e ao trabalho de inclusão que ajuda a prevenir comportamentos violentos e ilegais. Há muitos entrelaçamentos entre os valores da Laudato si' e o longa-metragem: do contraste com a cultura do desperdício ao cuidado da Casa comum, numa perspectiva de ecologia integral que coloca o homem, sua dignidade e seu bem-estar pessoal e coletivo no centro, estimulando-o a redefinir o futuro graças ao aprimoramento dos recursos do território. Em "O Oratório" destaca-se também a necessidade de proteger o trabalho e torná-lo acessível a todos, especialmente aos mais frágeis, renunciando a uma perspectiva que privilegia apenas mero lucro. "Com este filme - explicou o padre Cyril Odia - também estamos promovendo a causa do Papa Francisco, não apenas tentando tirar os meninos das ruas, mas também destacando que se não respondermos à urgência do que está acontecendo agora no mundo, como é bem enfatizado no longa-metragem, estamos apenas nos preparando para o desastre". A resposta positiva dos críticos de cinema e do público, apesar de todos os limites de presença nos cinemas, impostos pela pandemia, estimulou a produção do filme para iniciar uma campanha de financiamento colaborativo para poder distribuí-lo em maior escala. No momento, a projeção é possível estabelecendo acordos precisos com o produtor executivo, Cyril Odia, que pode ser contatado graças através do site www.salesiansireland.ie, (comunidade "Centro Santa Caterina" no contexto da Universidade  Maynooth) ou do e-mail cyrilodia@salesiansireland.ie

*Cube Radio - Istituto Universitario Salesiano Venezia e Verona

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF