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quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Por uma jornada e cultura do trabalho, humana, digna e equilibrada

Jornada de Trabalho (Genyo)

POR UMA JORNADA E CULTURA DO TRABALHO, HUMANA, DIGNA E EQUILIBRADA

20/08/2025

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz 
Bispo de Campos (RJ)

Uma das questões do plebiscito popular 2025 cuja votação para a consulta que iniciou 1º de julho com urnas esparsas em todo o país é a extinção da jornada 6 x 1 sem redução de salário.  

Com a finalidade de contribuir ao discernimento de um voto consciente a respeito desta proposta ofereço alguns critérios de juízo e reflexão inspirados no Evangelho e na Doutrina Social da Igreja. 

 O primeiro é a primazia do trabalho sobre o capital, isto é o que o Papa São João Paulo II na Encíclica Laborem Exercens defendia ao afirmar a subjetividade da pessoa do trabalhador diante do capital que é material.  

Segundo a dignidade e integridade da pessoa do trabalhador o que significa a sua saúde integral (corporal, mental e espiritual), nunca pode ser tratado como coisa ou apenas um insumo. Terceiro a vida do trabalhador é mais importante que o lucro, que não é afetado quando temos trabalhadores motivados, animados, e que partilham os ganhos da empresa de acordo com a teoria humanista Y sobre gestão do trabalho de Mc Douglas Gregor, ou do toyotismo. Ainda o equilíbrio entre trabalho e descanso, uma vez que para trabalhar o colaborador da empresa deve recompor suas forças e energias, evitando-se o trabalho penoso ou estressante.  

A quinta Conferência da saúde do trabalhador(a) tem tratado com muita seriedade o crescimento das doenças mentais, já apontadas pelo escritor Richard Sennet em seu livro a “corrosão do caráter do trabalhador” onde denunciava a instabilidade, medo de perder o emprego, ansiedade e pânico que levam a pessoa a uma profunda crise psicológica e baixa estima.  

Uma sociedade é sustentável e sadia quando o trabalho é digno, gera relacionamentos e vínculos de responsabilidade social entre trabalhadores e empresários, e desenvolve pessoas criativas, mais produtivas porque participam dos processos laborais e contribuem assim a formação da riqueza da Nação.  

Por isso iniciar um processo de redução de horas na jornada de trabalho pode ser interpretado como uma evolução rumo a justiça social, ao progresso nos relacionamentos trabalho-capital, e ao bem comum, pois como dizia nosso Salvador Jesus Cristo, o sábado é para o homem, não o homem para o sábado. Deus seja louvado! 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Do sonho dos fiéis ao Santuário: a verdade sobre o Cristo Redentor (Parte 1/3)

Cristo Redentor - Rio de Janeiro | santuariocristoredentor

História do Cristo Redentor – Uma história de fé que virou símbolo do Brasil.

Vatican News

O Monumento ao Cristo Redentor fica no alto do Morro do Corcovado e tem ao redor a Floresta da Tijuca. Inaugurado em 1931, tornou-se um ícone da fé e um símbolo nacional brasileiro.

A ideia de construir uma grande imagem de Cristo no Rio de Janeiro surgiu no início do século XX, com forte motivação religiosa. Em 1921, como parte das comemorações do centenário da Independência do Brasil, a Igreja Católica lançou uma campanha nacional para arrecadar doações entre os fiéis e viabilizar o projeto. O engenheiro brasileiro Heitor da Silva Costa concebeu a estrutura interna de concreto armado, enquanto o artista franco-polonês Paul Landowski elaborou o projeto estético e esculpiu em Paris os moldes em gesso de partes do monumento (como a cabeça e as mãos). As peças foram trazidas ao Brasil e montadas sobre o Morro do Corcovado, um pico de 710 metros na Floresta da Tijuca. Após cerca de cinco anos de obras, o monumento foi inaugurado em 12 de outubro de 1931, em uma grande celebração que reuniu autoridades e uma multidão de fiéis.

Desde então, o Cristo Redentor tornou-se um dos maiores cartões-postais do país e um símbolo da cidade do Rio. Com 30 m de altura (ou 38 m com pedestal), domina a paisagem carioca e pode ser avistado de diversos pontos da cidade. Para muitos, sua imagem de braços abertos representa acolhimento, proteção e paz, sintetizando os valores de fé, amor e esperança do povo brasileiro. Em reconhecimento a seu impacto cultural e religioso, o Cristo Redentor foi eleito uma das “Novas Sete Maravilhas do Mundo Moderno" em 2007 e integra, desde 2012, a paisagem do Rio de Janeiro, tombada como Patrimônio Mundial pela UNESCO.

É importante destacar que, ao contrário de um mito difundido, o Cristo Redentor não foi um “presente da França” ao Brasil. Embora Paul Landowski tenha contribuído com o design artístico, o Cristo Redentor é criação brasileira — idealizado e financiado pelos brasileiros por meio de doações organizadas pela Igreja Católica.

Outro aspecto marcante da construção é que não houve nenhum acidente grave registrado durante as obras, fato considerado quase um milagre dadas as condições desafiadoras – operários trabalhavam suspensos em altos andaimes, sujeitos a ventos fortes na montanha. Ao longo de quase 100 anos desde sua inauguração, o monumento passou por diversos trabalhos de manutenção e restauro (notadamente em 1980, 1990, 2010 e 2021), mas nunca sofreu danos estruturais significativos ou incidentes que comprometessem sua integridade. Assim, o Cristo Redentor permanece de pé, imponente e seguro, testemunhando gerações e consagrando-se não só como símbolo religioso, mas também como um patrimônio cultural cuidadosamente preservado do Brasil.

O que é um Santuário na prática?

Santuário é o nome dado a um local sagrado de especial significado religioso, para onde vão numerosos peregrinos movidos pela fé e pela devoção popular. Trata-se, geralmente, de igrejas ou espaços de culto associados a algum evento ou objeto de veneração que inspire uma devoção duradoura. No caso do Cristo Redentor, além de monumento turístico, ele é reconhecido oficialmente como o Santuário Arquidiocesano Cristo Redentor, o primeiro santuário a céu aberto do mundo. Isso significa que o topo do Morro do Corcovado não é apenas um mirante ou ponto turístico, mas um lugar de culto ativo, com celebrações religiosas diárias, administração eclesiástica própria e serviços pastorais oferecidos aos fiéis e visitantes.

Nos santuários, a Igreja procura oferecer de forma abundante todos os meios de vivência da fé. Conforme as diretrizes católicas, “nos santuários, os meios de salvação devem ser oferecidos mais abundantemente aos fiéis, proclamando-se zelosamente a Palavra de Deus, intensificando a vida litúrgica – especialmente pela Eucaristia e pela Penitência – e cultivando-se as formas aprovadas de piedade popular”. Em outras palavras, um santuário é um lugar privilegiado onde se unem a Liturgia oficial da Igreja (Missas, Sacramentos, pregações) e as expressões de fé popular (romarias, promessas, orações pessoais), em harmonia e complementaridade. No Santuário Cristo Redentor, turismo e devoção religiosa se encontram e se enriquecem — visitantes de todas as partes do mundo sobem ao Corcovado para admirar a vista e a grandeza do monumento, mas são naturalmente convidados à reflexão e à oração ao se depararem com a imagem do Cristo de braços abertos. Peregrinos também se dirigem regularmente ao Cristo Redentor movidos pela fé, seja para cumprir promessas, agradecer graças alcançadas ou simplesmente vivenciar a espiritualidade do local. Na Capela Nossa Senhora Aparecida, aos pés do monumento, todos os dias são celebradas Missas e Batismos. Cada vez mais as pessoas procuram o Santuário para realizar o Matrimônio.

Também há no Santuário um espaço dedicado à Adoração ao Santíssimo Sacramento. A Capela Laudato Si’, que tem a origem do seu nome na Carta Encíclica Laudato Si’, escrita pelo Papa Francisco, recebe todos os dias grupos de peregrinos para missas e vigílias, cumprindo a missão de integrar a fé, o meio ambiente e a sociedade e mostrando a importância da tríplice relação entre Deus, a natureza e os seres humanos.

Do ponto de vista pastoral, o Santuário Cristo Redentor desempenha várias funções simultâneas. Conforme descrito pela própria Arquidiocese do Rio de Janeiro, o local é “lugar de celebrações cultuais, de evangelização, de caridade, de cultura, de diálogo ecumênico e inter-religioso, de peregrinação e de ecologia”, oferecendo em suas atividades “de forma mais abundante, os meios de salvação aos homens”. Ou seja, além de Missas e sacramentos, promove ações sociais e ecológicas, eventos culturais e diálogo com pessoas de diferentes crenças. Vale lembrar que o Santuário Cristo Redentor, por seu apelo universal, já foi cenário de diversas manifestações culturais e campanhas humanitárias – por exemplo, projeções luminosas temáticas no monumento, eventos esportivos, interreligiosos etc. Essas utilizações culturais do espaço são encorajadas sem descaracterizar sua finalidade principal, que é o culto divino, num equilíbrio saudável entre o patrimônio cultural e a vocação religiosa. O Cristo Redentor é simultaneamente um bem cultural, manifestação da fé e da história do povo brasileiro e toda essa visibilidade é colocada também a serviço do bem comum e da promoção humana, ao lado de sua função primária, voltada para o culto divino. Em suma, um Santuário na prática é um local onde fé, cultura e serviço se entrelaçam: conserva-se a sacralidade e a devoção dos fiéis, enquanto se acolhe toda a riqueza cultural e o fluxo de pessoas que ali acorrem, transformando-o num espaço de encontro e esperança para todos.

O que não é papel do Santuário

É importante esclarecer o que não compete ao Santuário Cristo Redentor, pois muitas vezes há confusão por parte do público sobre as atribuições da Igreja na gestão do “Alto Corcovado”. Diferentemente de uma empresa turística ou órgão governamental, o Santuário não é responsável pela operação comercial do ponto turístico. Ou seja, não vende ingressos de visitação, não gerencia os meios de transporte até o alto do morro (trenzinho do Corcovado ou vans oficiais) e não define os preços cobrados aos visitantes. Todas essas funções logísticas e comerciais estão a cargo de concessionárias e órgãos públicos: o Trem do Corcovado, por exemplo, é operado por uma concessionária privada, enquanto o serviço de vans é coordenado pelo Consórcio Paineiras-Corcovado. Ambas as empresas são concessionárias ligadas diretamente ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Os ingressos cobrados dos turistas remuneram esses operadores e incluem uma taxa de conservação ambiental destinada ao ICMBio), que administra o Parque Nacional da Tijuca. De fato, a Arquidiocese do Rio de Janeiro não cobra entrada no Santuário nem recebe qualquer valor pelo transporte de passageiros ao Cristo Redentor. Desde 2022, após intensos diálogos que duraram anos, a Igreja passou a receber um valor de U$1,00 (cerca de 6 reais), adicionado ao valor do ingresso, como forma de compensação simbólica pela exploração comercial do Santuário por parte do ICMBio. Os bilhetes de transporte, vendidos pelas concessionárias, variam por temporada e podem chegar a cerca de R$130,00.

Outra atribuição que não cabe ao Santuário (enquanto entidade religiosa) é a segurança pública e a infraestrutura geral do parque. Por exemplo, serviços de primeiros socorros, acessibilidade de escadas e elevadores, limpeza da trilha e das áreas comuns são responsabilidades divididas entre o ICMBio e as concessionárias. Após um triste incidente em março de 2025, quando um visitante infartou nas escadarias de acesso, ficou evidente a falta de pontos de atendimento médico no local – e isso foi corrigido mediante um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado com as autoridades, resultando na instalação de ambulância de plantão e melhoria na acessibilidade. Novamente, tais providências decorrem de órgãos públicos; a Mitra Arquiepiscopal (Igreja) colaborou prontamente, mas não é uma prestadora de serviços turísticos ou hospitalares, e sim a guardiã espiritual do lugar. Tanto é que, quando órgãos de defesa do consumidor tentaram tratar as missas e eventos religiosos como “serviço comercial” e impuseram exigências descabidas, a Justiça interveio em favor da Igreja. Em abril de 2025, durante a Semana Santa, uma juíza ressaltou que as cerimônias religiosas realizadas no Cristo Redentor não configuram relação de consumo, proibindo o Procon estadual de interferir nas celebrações e assegurando a liberdade de culto, que é protegida pela Constituição. Em suma, o Santuário não deve ser confundido com um empreendimento turístico: sua finalidade principal não é vender ingressos, transportar visitantes ou gerar lucro, e sim oferecer atendimento religioso, acolhimento espiritual e preservar o monumento em parceria com os gestores públicos.

Como participar (Peregrinações e Sacramentos)

Sendo o Cristo Redentor um Santuário ativo, os fiéis têm diversas formas de participar da vida religiosa no local. Uma das maneiras mais especiais é através das Peregrinações organizadas. Grupos de paróquias, escolas católicas, movimentos pastorais e comunidades podem agendar Peregrinações ao Santuário Cristo Redentor. Nesses casos, o Santuário oferece apoio logístico e espiritual: há possibilidade de reservar horários para Missa do grupo na capela, recepção pelo reitor ou pelos padres colaboradores, e até isenção de tarifa de transporte para grupos previamente cadastrados. Peregrinações devidamente agendadas são isentas de pagamento, e inclusive sacerdotes e religiosos identificados têm acesso gratuito. Isso demonstra a preocupação em facilitar o acesso dos romeiros (peregrinos religiosos) ao Cristo, diferenciando-os do visitante turístico . Para organizar uma Peregrinação, basta entrar em contato com a Secretaria do Santuário – há um canal oficial de agendamento online no site do Santuário Cristo Redentor, além de atendimento telefônico.

https://www.santuariocristoredentor.com.br/solicitacoes-cerimoniais/peregrinacao

WhatsApp: (21) 99551-9220 / Tel: (21) 2038-0516

Vídeo

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Fonte: Santuário do Cristo Redentor

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

SANTUÁRIOS: Aqui está Ambrósio, com seus amigos prediletos

A fachada da Basílica de Santo Ambrósio | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº  01/02 - 2006

Aqui está Ambrósio, com seus amigos prediletos

Essa era uma das quatro Basílicas que ele construiu para a sua Milão. Mas era a “sua” Basílica, onde celebrava a missa e onde quis ser sepultado entre Gervásio e Protásio, os dois mártires cujos despojos encontrou.

de Giuseppe Frangi

“Mesmo não merecendo ser mártir, providenciei-vos estes mártires.” Era 20 de junho do ano de 386, um sábado. E Ambrósio, bispo de Milão, do púlpito da Basílica que familiarmente chamavam ‘ambrosiana’ (“quam appellant ambrosianam”, escreve numa carta à irmã, Marcelina) e que oficialmente era a Basílica Martyrum, anunciava a consagração daquele altar. De fato, sob a mesa acabavam de ser depositadas as relíquias dos santos Gervásio e Protásio, encontradas três dias antes, a poucas centenas de metros dali.

O episódio não tem nada de lendário. Ambrósio, bispo de Milão a partir de 374, mandou logo construir grandes Basílicas nas vias de acesso da cidade, para adaptar a Milão que adotava ao modelo de sua cidade de origem, Roma. A Basílica Apostolorum ficava no caminho para Roma; a Basílica Virginum (a última da série, hoje São Simpliciano) na estrada que levava a Como; a Basílica Salvatoris, ou de São Dionísio, junto à porta oriental (hoje não existe mais); e, por fim, a Basílica Martyrum, ao lado da Porta Vercellina. Cada uma delas despontava sobre uma área de cemitério, onde já estavam sepultadas gerações de cristãos. Por exemplo, a poucos passos da Basílica Ambrosiana ficava o sacelo que conservava os restos de São Vítor, onde o próprio Ambrósio, em 378, depositou o corpo de seu tão amado irmão, Sátiro. Esse sacelo existe até hoje, ainda que atualmente faça parte da própria estrutura da Basílica.

Pouco mais adiante, onde hoje aparece o quartel da Polícia, de frente para a praça, ficava a igreja que guardava os corpos veneradíssimos dos santos Nabor e Félix. Escavando bem na frente dela, Ambrósio encontrou os restos de Gervásio e Protásio. O episódio foi contado por ele nos mínimos detalhes na Epístola XXII à irmã Marcelina, que naqueles meses estava afastada de Milão. “Eu tinha acabado de fazer a dedicação de uma Basílica [a Basílica Martyrum, ndr.] quando muitos começaram a dizer: ‘O que farás para poder dedicar a Basílica da Porta Romana?’ [a Basílica Apostolorum, ndr.]. E eu respondi: ‘Certamente o farei, se encontrar relíquias de mártires’ [...]. O Senhor me concedeu essa graça. Ainda que o clero demonstrasse certo temor, mandei tirar as pedras do terreno que se estende diante da capela dos Santos Nabor e Félix. Naquele lugar, encontrei vestígios inequívocos [...]. Começaram a surgir do terreno os santos mártires de modo tal que, enquanto ainda estávamos em silêncio, foi possível trazer a urna para a superfície e depositá-la no chão. Dentro, encontramos dois homens de enorme estatura [...]; os ossos estavam intactos [...]. Nós os perfumamos completamente com aromas”.

Ambrósio é preciso nos detalhes: apenas um mês antes, em 9 de maio daquele 386, ele realmente depusera sob o altar maior da Basílica da Porta Romana as relíquias dos três apóstolos, André, João e Tomé. Hoje, essa mesma Basílica, que ainda existe, é mais conhecida como São Nazário, do nome do mártir que o mesmo Ambrósio fez sepultar ali em 395.

“Piae latebant ostiae”, escreve ainda Ambrósio no hino dedicado ao encontro de Gervásio e Protásio. Mas “latere sanguis non potest qui clamat ad Deum patrem”. E o uso desse substantivo “ostiae” explica a assimilação entre os restos daqueles corpos e o lugar - o altar - onde se realiza o sacrifício de Cristo. “Ele, que morreu por todos, está sobre o altar; estes, que foram resgatados pela sua paixão, estarão sob o altar”, escreve ainda à irmã Marcelina.

A pressa de Ambrósio

Provavelmente, naquele momento, a obra de construção da igreja não estivesse completamente concluída. Ambrósio era um homem decidido, que nunca adiava as coisas. Talvez fosse o homem mais respeitado, naquele período de história, em todo o Império Romano. Teve relações tumultuosas com mais de um imperador, quase sempre vencendo as disputas. Mas, justamente por isso, como documenta Richard Krautheimer em seu extraordinário livro Três capitais cristãs, Ambrósio não podia contar com os recursos das caixas-fortes imperiais. Suas Basílicas, assim, do ponto de vista da construção parecem espartanas: os fundamentos são feitos de pedras de rio, com bases de argamassa altas e emendas em forma de espinha de peixe. Krautheimer conclui: “No meu modo de ver, a técnica de baixa qualidade das igrejas ambrosianas foi determinada por um apoio financeiro menos generoso e por uma maior pressa na edificação. Ambrósio tinha muita urgência, e os meios à sua disposição, mesmo sendo amplos, não eram ilimitados”.

Exatamente o contrário acontecia na construção da outra grande Basílica milanesa, depois dedicada a São Lourenço, que naqueles mesmos anos, por influência da imperatriz-mãe, Justina, estava sendo construída perto do palácio imperial, com a ideia de que fosse destinada aos arianos. Também nesse caso Ambrósio enfrentou o Império e, no final, conseguiu o que queria, com todo o povo do seu lado. Em 2 de abril de 386, quando soube que as guardas imperiais haviam relaxado o assédio à Basílica Porciana (como se chamava então São Lourenço), o bispo pôde escrever à irmã: “Como foi grande então a alegria de toda a gente, como o povo todo aplaudiu, como estava agradecido!”. Dois meses depois, esse mesmo povo acompa­nharia com comoção o encontro dos despojos de Gervásio e Protásio, como já contamos. Para Ambrósio, era a vitória sobre as pretensões do Império e dos arianos.

Santo Ambrósio, mosaico, sacelo de São Vítor no Céu feito de ouro | 30Giorni

Os amigos mártires

Não resta muito da Basílica de Ambrósio, que tinha 53 metros de comprimento, 26 de largura e uma orientação ligeiramente deslocada com relação à atual. O bispo foi sepultado lá por Simpliciano, seu sucessor, em 397 (ele sempre dizia que um sacerdote deve ser sepultado onde celebrou a missa em vida). Poucos meses depois, seria seguido pela adorada irmã, Marcelina, dez anos mais velha do que ele, à qual Ambrósio havia escrito os textos dedicados à virgindade. Uma lápide na cripta lembra o lugar no qual ela foi encontrada, no final de 1700, “ad pedem Ambrosii ad latus Satyri fratris”. Hoje repousa na terceira capela da nave da direita, dentro de uma fria urna neoclássica. Na capela que a precede, entre duas grandes telas de Tiépolo, está o irmão, Sátiro. Ambrósio, por sua vez, ficou onde queria estar. Por séculos, seu corpo foi guardado num grande sarcófago de pórfiro vermelho, encostado a dois túmulos vazios, que ainda se vê na cripta. Em 8 de agosto de 1871, o sarcófago foi aberto: continha os despojos dos três santos, lado a lado. No meio, Ambrósio; dos lados, Gervásio e Protásio. Na mesma formação, os corpos são conservados hoje na urna de vidro que fica bem debaixo do altar: Gervásio e Protásio estão vestidos com uma dalmática vermelha e têm nas mãos a palma do martírio; Ambrósio, por sua vez, veste um solene hábito pontifical branco.

Seu retrato

Nós também o vemos vestido de branco no extraordinário mosaico, pouco posterior a sua morte, que fica no sacelo de São Vítor. Lá também é representado entre os dois mártires “amigos”, enquanto, do outro lado, estão defronte a ele outras presenças familiares: Nabor, Félix e Materno. O retrato realizado pelo mosaicista anônimo é muito verossímil e realista: Ambrósio tem uma barba curta emoldurando um rosto magro, um início de calvície na região das têmporas, duas ore­lhas notáveis e, sobretudo, um o­lhar absorto e ao mesmo tempo arregalado para a realidade. Os pés grandes e a túnica branca, quase como os de um antigo senador romano, o reconstituem como um homem concreto, plantado firmemente na terra.

Nós encontramos Ambrósio em trajes civis nos relevos do tabernáculo que se eleva no coração do presbitério, bem na vertical em relação à urna das relíquias conservadas na cripta. Obra de fim de milênio, no lado voltado para a abside, ela ainda representa o santo plantado firmemente sobre os grandes pés. A despeito da pose hierática, a cena é um concentrado de eventos: dos lados, vemos Gervásio e Protásio, que levam à presença de Ambrósio, num gesto protetor, dois personagens vestidos com escapulário e cogula. O da esquerda é o abade Gaudêncio, que oferece ao santo o modelo em miniatura do tabernáculo. O monge da direita, por sua vez, move as mãos entre o sentimento de espera e o aplauso. No alto, onde o frontão se estreita, curiosamente aparece um menino de auréola: é o Filho em feições humanas. Mas, segundo uma interpretação, poderia ser também o menino que, no meio da multidão, naquele ano de 374, deu o primeiro grito, depois seguido por todos os fiéis: “Ambrósio bispo”.

O altar com o tabernáculo | 30Giorni

O tesouro mais precioso

Sob o tabernáculo está a joia mais brilhante da Basílica, e talvez uma das jóias mais extraordinárias de toda a história cristã. É o altar de ouro encomendado pelo arcebispo Angilberto II na época carolíngia a um mestre que certamente devia ser célebre, visto o espaço que dá a si mesmo nos relevos: Vuolvínio. Na parte posterior, o altar tem uma portinhola que revela a função para a qual foi pensado: realmente, esse altar deveria conter a urna com os corpos dos três santos, vindo, assim, totalmente ao encontro do desejo de Ambrósio. Uma escrita que serve de moldura aos relevos declara claramente a intenção de Angilberto II: “Thesauro tamen haec cuncto potiore metallo ossibus interius pollet donata sacratis”; “Mas tem por dentro um tesouro mais precioso do que todos os metais, pois ganhou de presente os ossos sagrados”. Na realidade, os corpos ficaram conservados até o século passado na grande urna de pórfiro vermelho que ainda se encontrada na cripta, e não se sabe por qual motivo o altar permaneceu vazio.

Os relevos são em lâmina irregular: na frente, os ladrilhos representam a vida de Cristo, dos lados estão as glórias da Igreja milanesa, na parte de trás, em lâminas de prata com ornamentos em mercúrio, é contada minuciosamente a vida de Ambrósio. É um relato agitado, onde não faltam os momentos de virada, como no belíssimo episódio no qual Ambrósio, em fuga de Milão para evitar a investidura como bispo, é praticamente “arpoado” pela mão de Deus e quase corre o risco de cair do cavalo, que se enfureceu. Uma cena que poderia ter como legenda a estupenda síntese da história que o próprio Ambrósio escreveu entre 387 e 390 no De Paenitentia: “Eis que dirão: aí está alguém que não foi alimentado no seio da Igreja [...]; preso pelos tribunais e arrancado às vaidades deste século, da voz do pretor passou ao canto do salmista, e vive agora o sacerdócio, não por virtude sua, mas por graça de Cristo [...]. Conserva, Se­nhor, o teu dom, guarda-o tu, que o deste a quem dele fugia. Pois eu sabia ser indigno de ser chamado bispo. Por graça de Deus, porém, sou o que sou, sou o mais ínfimo entre os bispos, ínfimo em dignidade. Mas, sendo que eu também fiz algum esforço pela tua Igreja, toma conta dos frutos; se, perdido, me chamaste ao episcopado, bispo, não permitas que eu me perca”.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Problemas de dinheiro no casal: como evitar conflitos?

Shutterstock

Edifa - publicado em 17/07/22 - atualizado em 20/08/25

O amor não leva a conta, diz o ditado popular. No entanto, falar muitas vezes de dinheiro no casal pode evitar ter que acertar as contas...

“No século XIX, a sociedade estava obcecada com o saber; no século XX, com o poder; no século XXI, o dinheiro é o que manda”, afirma o padre Geoffroy Marie, prior de Notre-Dame de Cana, em Troussures (França), que há vinte e cinco anos recomenda retiros para casais. A influência da sociedade de consumo sobre os casais nunca foi tão forte: “Quem não fala de dinheiro pode respirar a poluição sem perceber”, diz o padre. A relação com o dinheiro deve ser abordada a partir do namoro, de acordo com o prior, porque “esta questão importante esconde uma dimensão antropológica”, a tal ponto que o padre Guillaume de Menthière, um padre que mora em Paris, teve que acrescentar um módulo sobre este assunto em seus preparativos para o casamento. O dinheiro deve ser gasto, acumulado ou transmitido? Como dar a essa preocupação o seu devido lugar?

Contrato de casamento, conta conjunta ...

Antes mesmo do noivado, a escolha do contrato de casamento revela os anseios de cada um. No regime de bens comunitários, o mais coerente por traduzir economicamente a indissolubilidade do casamento, os bens adquiridos durante a vida conjugal são repartidos igualmente entre os cônjuges. No regime de separação de bens, por outro lado, cada um continua a ter o que ganha. Os noivos deveriam falar sobre o que o contrato escolhido lhes inspira - muitas vezes proposto pelos pais ou unilateralmente - porque um dos cônjuges pode ficar chateado e ler na proposta uma certa desconfiança no casal. “Em caso de problema, ele quer que o dinheiro fique na família”, interpretou uma jovem esposa ao saber que seu noivo caminhava para uma separação de bens. No entanto, o marido tranquilizou-a ao explicar que, tendo criado uma empresa, escolheu esse contrato para protegê-la em caso de falência.

A título de reflexão, os casais contentam-se em responder à pergunta: "Quem paga o quê?" Quando a criança chega, a questão de ficar em casa é realmente falada ou muitas vezes se torna um tabu? Aldo Naouri, especialista em relações intrafamiliares, dedica um lugar importante a esse assunto em seu livro Les Couples et leur argent [Os casais e o seu dinheiro]. Segundo ele, o acesso das mulheres ao mercado de trabalho significou “uma mudança brutal na mentalidade dos nossos entes mais próximos, homens ou mulheres, que ainda não foi totalmente digerida”. A mulher que decide ficar em casa sem receber um salário é um ponto que também é cada vez mais mencionado nos conflitos conjugais vividos por Sabrina de Dinechin, presidenta da Associação de Mediadores Cristãos da Família, na França. A mediadora deve usar todo o seu talento para que os casais entendam que “não só participam das necessidades do casal contribuindo com dinheiro forte e rápido, mas também no dia a dia, principalmente com os cuidados que uma mãe pode ter com seu filho: atenção, tarefas, tempo...”. Uma mãe que não ganha dinheiro deve poder dispor do que seu marido ganha e até mesmo tomar as rédeas da economia comum, cada qual contribuindo com seu grão de areia específico dentro da família.

Quer seja a conta comum ou sejam feitos pagamentos compensatórios, "não há patrimônio financeiro objetivo para um casal", avisa a mediadora de família, Véronique Gervais. É aí que reside todo o problema. O dinheiro nem sempre representa o mesmo para ambos os cônjuges. Em primeiro lugar, o fato dos pais serem pessoas que gastam muito o dinheiro ou poupadores pode ter um impacto na maneira como consideram o dinheiro para os seus filhos. Será então conveniente para os cônjuges “desenraizarem-se das suas cidades de origem para finalmente se reenraizarem juntos”, explica Aldo Naouri.

A vida de casado está repleta de dilemas financeiros

Então, o dinheiro pode ter uma carga simbólica diferente. Um homem muito ocupado pode compensar sua ausência abastecendo sua esposa financeiramente, por exemplo. “O dinheiro é mais do que dinheiro”, analisa a mediadora de família. “Não significa necessariamente agarrar-se a 10 euros, pode responder a um pedido de reparação, a uma necessidade de segurança, a uma forma de se afirmar, de existir aos olhos do outro”. O dinheiro pode representar o sucesso, o poder ou um teste de segurança. Um dos cônjuges pode trabalhar muito porque precisa de uma avaliação, o outro por falta de segurança emocional. Se os casais investigassem a origem de suas divergências financeiras, poderiam se entender melhor.

Tanto mais que toda a vida conjugal está marcada por dilemas financeiros, como aponta Dominique Larricq, monitora da equipe francesa de casais Tandem: "Viajar ou ajudar um parente?", "Comprar ou deixar em herança?". “No momento que cada um tenha claro qual é a sua relação com o dinheiro, eles podem refletir (como um casal) sobre seu uso justo comum”, explica Flore Barbet-Massin, coordenadora do programa Zachée. Este programa de autoformação francês de treze tardes seguindo a doutrina social da Igreja, com aulas e grupos de conversação, propõe principalmente exercícios práticos. Ao identificar seus "bens fúteis e férteis", Flore e Christophe, por exemplo, "perceberam o que estava perturbando em seu caminho". Ao conhecer melhor suas fraquezas mútuas, eles podem se entender melhor e ajudar um ao outro a não cair em suas excentricidades. Flore é mais resistente à "terapia por meio das compras", como ela chama com humor; Christophe se obriga a seguir melhor as contas para tranquilizá-la. Juntos, eles aprendem a "saber onde enfatizar" entre gastar e acumular....

As decisões econômicas do casal demonstrarão uma adesão ao espírito do mundo, ou, ao contrário, seu distanciamento. É aí que o dinheiro pode tornar suas prioridades concretas. “Desistir da aposentadoria ou pagar os estudos dos filhos?”, as duas partes podem divergir. Diante de impasses, o padre Geoffroy-Marie refere-se a uma questão mais fundamental: "O uso do meu dinheiro permitirá que eu seja quem eu sou, em relação a mim mesmo, meu cônjuge ou nosso relacionamento como casal?" Quer administre a abundância ou a falta, o casal cristão deve se perguntar sobre sua relação com o dinheiro à luz do Evangelho. O perigo? “A idolatria”, de acordo com o padre Geoffroy-Marie, ou quando a relação com o dinheiro pesa sobre o casal até o ponto de influenciar na percepção do próprio sentido de sua vida.

Fazer um balanço uma vez por ano

Um casal não é definido por sua riqueza ou pobreza material, mas por quem ele realmente é. Tornar-se proprietário ajudará você a crescer? Você tem que aceitar aquele trabalho que é mais bem pago, mas requer mais tempo? Querer acumular a qualquer preço, mesmo que seja para transmiti-lo, corre o risco de fazer do dinheiro uma divindade. E, portanto, ficar separado de Deus.

“Como encontrar um trabalho justo de ter que permitir o crescimento do ser?”, pergunta o padre Geoffroy-Marie, que destacou que “uma pessoa ancorada no ser tem uma relação mais fácil com o dinheiro, mais desapegada”. O padre "exorta os noivos" a falar sobre o assunto e repete com insistência nos seus retiros de Troussures que é necessário fazer um balanço como casal uma vez por ano. Na verdade, “por trás da relação com o dinheiro, há uma relação com a vida e quem não fala disso coloca um lugar importante na vida de casal entre parênteses”, diz o padre Geoffroy-Marie.

O padre Geoffroy-Marie pede então aos esposos que se perguntem como podem levar em conta o perigo do dinheiro, denunciado na Bíblia. “Por que Jesus critica tanto os ricos? Não por causa de suas contas bancárias, mas porque essas riquezas podem facilmente se transformar em alienação”. A riqueza é neutra se não afeta nem o ser nem a felicidade do casal e se não inspira uma lógica de posse. Sentir-se culpado por possuir é estéril, mas o dinheiro pode ajudar a construir relacionamentos com outras pessoas, dando e compartilhando. Ser marido e mulher também não ajudam um ao outro a tomar boas decisões?

Fonte: https://pt.aleteia.org/cp1/2022/07/17/problemas-de-dinheiro-no-casal-como-evitar-conflitos/

1º Festival de Cinema Católico do Brasil acontece de agosto a novembro em cidades de São Paulo

Juan Diego encontra a Virgem de Guadalupe | Divulgação

Por Nathália Queiroz*

19 de ago. de 2025

1º Festival de Cinema Católico do Brasil acontece de agosto a novembro em várias cidades do Estado de São Paulo. Anunciando o objetivo de difundir a fé por meio da arte cinematográfica, o evento é organizado pela Kolbe Arte, distribuidora nacional de filmes católicos, em parceria com a Associação Paulista dos Amigos da Arte (APAA), a Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo e o Governo do Estado de São Paulo.

“Sempre acreditei que a arte tem a missão de elevar o coração humano”, diz a CEO da Kolbe Arte, Ângela Morais, no material de divulgação. “O cinema católico carrega histórias que emocionam, curam e fortalecem a fé. Este festival é um convite para todos viverem momentos de beleza e reencontro com Deus”.

A programação inclui filmes com temas religiosos, histórias de santos e testemunhos de fé, como “Coração de Pai”, sobre são José; “Guadalupe – Mãe da Humanidade”, sobre Nossa Senhora de Guadalupe; “O Céu Não Pode Esperar”, sobre o beato Carlo Acutis, que será canonizado no próximo 7 de setembro; “Maximiliano Kolbe e Eu”, sobre são Maximiliano Kolbe; e “Vivo – Quem está aí?”, sobre o poder da eucaristia.

Além das exibições, o festival terá atividades formativas nos dias 17 e 18 de novembro na Universidade Ítalo Brasileiro (Uni Ítalo), com o Workshop Vivência de Set com Alexandre Machafer, ator e diretor do filme Jorge da Capadócia, e no dia 18 de novembro, exibições de filmes e a exibição da Exposição Internacional dos Milagres Eucarísticos no mundo criada pelo beato Carlo Acutis, com painéis sobre os principais milagres reconhecidos pela Igreja, organizados originalmente pelo beato italiano.

Programação do Festival de Cinema Católico

  • Pirapora do Bom Jesus – 30 e 31 de agosto
    Local: Casa da Cultura – Praça dos Poderes Municipais, 57 – Centro – Pirapora do Bom Jesus/SP – CEP 06550-000
  • Jundiaí – 27 e 28 de setembro
    Local: Paróquia São Camilo de Léllis – Rua Espírito Santo, 200 – Jardim Tarumã, Jundiaí/SP – CEP 13216-470
  • São Paulo (Belenzinho) – 25 e 26 de outubro
    Local: Comunidade Nossa Senhora Aparecida – Rua Nelson Cruz, 19 – Belenzinho, São Paulo/SP – CEP 03015-050
  • São Paulo (Capital) – 17, 18 e 19 de novembro
    Local: Teatro Ítalo Brasileiro – Avenida João Dias, 2046 – Santo Amaro, São Paulo/SP – CEP 04724-003
  • São Bernardo do Campo – 22 e 23 de novembro
    Local: Paróquia Santa Maria – Rua Albino Demarchi, 1.233 – Jardim Andrea Demarchi, São Bernardo do Campo/SP – CEP 09820-420

*Escrevo para a ACI Digital há oito anos e desde 2023 sou correspondente do Brasil para o telejornal EWTN Notícias. Sou certificada em espanhol pelo Instituto Cervantes. Tenho experiência em redação de conteúdo religioso para mídias católicas em português e espanhol e em tradução de sites religiosos. Sou casada, tenho três filhos e sou catequista há mais de 15 anos. Escrevo de Petrópolis (RJ).

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/64163/1o-festival-de-cinema-catolico-do-brasil-acontece-de-agosto-a-novembro-em-cidades-de-sao-paulo

Leão XIV na Audiência Geral: perdoar não é negar o mal, mas vencer com o amor

Audiência Geral, 20/08/2025 - Papa Leão XIV (Vatican Media)

Na catequese da Audiência Geral desta quarta-feira (20/08), o Papa aprofundou "a arte do perdão" com o mestre, através do "momento em que Jesus, durante a Última Ceia, oferece um pedaço de pão àquele que está prestes a traí-lo". Através de um gesto simples, Cristo ensina que "amar significa deixar o outro livre - até para trair", não é negar o mal, mas vencê-lo com o amor: "mesmo que a outra pessoa não o aceite, mesmo que pareça em vão, o perdão liberta quem o dá".

https://youtu.be/nk6MGnOAMAQ

Andressa Collet - Vatican News

Já de volta ao Vaticano, depois do segundo e último período de descanso em Castel Gandolfo de onde retornou na noite desta terça-feira (19/08), o Papa Leão XIV foi acolhido pelos fiéis na mesma configuração da semana passada: através de telões na Praça Petriano, na Basílica e na Praça São Pedro; e diretamente na Sala Paulo VI com mais de 6 mil peregrinos. A catequese, focada nesta quarta-feira (20/08) "num dos gestos mais impactantes e luminosos do Evangelho", foi a premissa para o Pontífice aprofundar "a arte do perdão" com o mestre, através do "momento em que Jesus, durante a Última Ceia, oferece um pedaço de pão àquele que está prestes a traí-lo". "Não é apenas um gesto de partilha", enalteceu o Papa, mas demonstra o modo de agir de Deus, com o Senhor amando até ao último momento:

"Amar até o fim: esta é a chave para compreender o coração de Cristo. Um amor que não se detém perante a rejeição, a desilusão ou mesmo a ingratidão."

Leão XIV ao encontrar os fiéis na Basílica de São Pedro   (@Vatican Media)

O poder do perdão

Jesus, assim, continuou Leão XIV, "estende o seu amor ao máximo", mesmo diante da rejeição, da ingratidão e de ter de suportar a traição de Judas. E, em vez de se retrair e acusar, "continua a amar: lava os pés, molha o pão e lhe oferece". Com o seu perdão, o Senhor não fere a nossa liberdade, mas revela todo o seu poder, salvando das trevas do mal e entregando novamente à luz do bem:

“Compreendeu que a liberdade dos outros, mesmo quando perdidos no mal, pode ainda ser alcançada pela luz de um gesto bondoso. Porque sabe que o verdadeiro perdão não espera pelo arrependimento, mas oferece-se primeiro, como um dom gratuito, antes mesmo de ser aceito.”

"É aqui que o perdão se revela em todo o seu poder", afirmou o Pontífice, através do mistério que "Jesus realiza por nós": "não é fraqueza. É a capacidade de deixar o outro livre, amando-o até ao fim". Perdoar não significa negar o mal, mas vencê-lo com o amor:

"O Evangelho nos mostra que há sempre uma forma de continuar a amar, mesmo quando tudo parece irreparavelmente comprometido. Perdoar não significa negar o mal, mas impedir que este gere mais mal. Não se trata de dizer que nada aconteceu, mas de fazer tudo o que é possível para garantir que o ressentimento não dite o futuro."

O momento do encontro do Papa com os peregrinos dentro da Sala Paulo VI   (@Vatican Media)

A graça de saber perdoar

Quando Judas sai do quarto, “era noite”, recordou o Papa, "mas uma luz já começou a brilhar. E ela resplandece porque Cristo permanece fiel até o fim, e assim o seu amor é mais forte do que o ódio":

"Queridos irmãos e irmãs, também nós vivemos noites dolorosas e cansativas. Noites da alma, noites de desilusão, noites em que alguém nos magoou ou nos traiu. Nestes momentos, a tentação é fechar-nos, proteger-nos, ripostar. Mas o Senhor nos mostra a esperança de que há sempre outro caminho. Ele nos ensina que podemos oferecer um bocado mesmo a quem nos vira as costas. Que podemos responder com o silêncio da confiança. E que podemos seguir em frente com dignidade, sem renunciar ao amor. Peçamos hoje a graça de saber perdoar, mesmo quando nos sentimos incompreendidos, mesmo quando nos sentimos abandonados. Pois é precisamente nestas alturas que o amor pode atingir o seu auge."

A paz de quem perdoa

O mestre Jesus, finalizou então Leão XIV, ensina com o simples e luminoso gesto de oferecer o pão durante a Última Ceia, que "amar significa deixar o outro livre até para trair". A "luz do perdão", mesmo diante de uma traição, torna-se "uma oportunidade de salvação", renovando a capacidade de amar inclusive a quem perdoa:

“Mesmo que a outra pessoa não o aceite, mesmo que pareça em vão, o perdão liberta quem o dá: dissolve o ressentimento, restabelece a paz e devolve-nos a nós próprios.”

Os peregrinos que seguiram a Audiência Geral de dentro da Basílica de São Pedro   (@Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 19 de agosto de 2025

O mistério de Deus Uno e Trino em Santo Agostinho

Santíssima Trindade (Vatican News)

Deus é chamado com nomes múltiplos como grande, bom, bem-aventurado, veraz e outros nomes. A sua grandeza é a sua sabedoria, não pelo volume, mas sim pelo poder.

Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA.

Nós acreditamos em Deus Uno e Trino que se manifestou seja pela Sagrada Escritura, o Antigo Testamento, seja por Jesus Cristo, pelo Novo Testamento. É claro que pela noção do Antigo Testamento nós temos mais uma doutrina de um Deus único, percebido no monoteísmo dos Profetas, sobretudo com Elias, Jeremias falaram bem ousadamente estes pontos. Já no Novo Testamento com Jesus Cristo nós temos a revelação de Deus Uno e Trino, porque Jesus é a imagem do Pai, e o Espírito Santo desceu nele por ocasião da saída das águas do rio Jordão no batismo(cfr. Mt 3,16). Santo Agostinho de Hipona foi um bispo dos séculos IV e V que desenvolveu toda uma doutrina em relação ao mistério de Deus Uno e Trino. Veremos a seguir alguns pontos fundamentais de seu pensamento.

A substância de Deus

O bispo de Hipona afirmou que a substância de Deus é simples, imutável. Para chegar à esta conclusão ele afirmou que a criatura humana é sempre múltipla, nunca simples. O corpo humano, por exemplo, tem várias partes, umas maiores e outras menores. O céu e a terra constam de partes inumeráveis. A natureza de Deus é imutável já a criatura é mutável[1]. A fé cristã conduz à concepção do Deus único.

Os nomes divinos

Deus é chamado com nomes múltiplos como grande, bom, bem-aventurado, veraz e outros nomes. A sua grandeza é a sua sabedoria, não pelo volume, mas sim pelo poder. A sua bondade é sua sabedoria e grandeza, como também a sua veracidade. Tudo isso se refere aos seus atributos. Nele não são realidades diferentes o ser feliz, o ser grande ou veraz ou bom, porque há uma única realidade, a sua natureza, o ser de Deus[2].

Deus é Trino

Deus é Trindade: isto é o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus, não se tratando de três deuses, mas um único Deus em três Pessoas. As Pessoas não são concebidas de uma forma separada, mas juntas, de modo que não é Tríplice. As Pessoas divinas são inseparáveis, porque o Pai está com o Filho e o Filho está com o Pai e o Espírito Santo é o amor do Pai e do Filho. As Pessoas estão juntas, de modo que nunca nenhuma está só[3]. Quando se chama o Pai, é só o Pai assim como as outras duas Pessoas divinas, também pelo fato de que as outras duas Pessoas não são o Pai[4].

A natureza de Deus Uno

Santo Agostinho afirmou que as Pessoas divinas não podem ser vistas de uma forma separada, mas unidas formando a natureza divina, não como quarto elemento na dimensão divina, mas é um Deus em três Pessoas. Se na realidade das coisas, o ser maior é igual a ficar melhor, porque pode haver as mudanças das coisas, em Deus, não é assim, porque a sua natureza é imutável, inacessível. O nosso ser torna-se maior quando se une ao Senhor.

Em Deus, única natureza o Filho se une ao Pai que lhe é igual e o Espírito Santo também igual ao Pai e ao Filho, de modo que não se torna maior do que cada uma das Pessoas, pois nisso está perfeição, de modo que perfeito é o Pai, perfeito é o Filho, perfeito é o Espírito Santo. Desta forma digamos perfeito é Deus Pai, Filho, e Espírito Santo, sendo Deus Trindade, não tríplice, três pessoas separadas, ou sendo três deuses, mas um único Deus em Três Pessoas[5].

A demonstração de um só Deus em três Pessoas

A nossa fé afirma que Deus é dado no Pai e no Filho e no Espírito Santo. O Deus único e verdadeiro, diz Santo Agostinho não é somente o Pai, mas é o Pai, o Filho e o Espírito Santo[6]. Se alguma das pessoas humanas perguntar se o Pai é Deus, o fiel responderá que sim, mas não somente Ele, mas que o único Deus é o Pai, o Filho e o Espírito Santo. As três pessoas juntas são o Deus único e verdadeiro[7].

A fé em Deus Uno e Trino

Santo Agostinho disse deixando de lado a compreensão racional do mistério dos mistérios, manifesta a fé, a esperança e a caridade na mais perfeita igualdade do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Na Trindade, tudo é dado na origem mais sublime de todas as coisas e graças, assim como a beleza, a alegria e o amor infinitos. Nós manifestamos a fé em cada das Pessoas divinas, está em cada uma das outras, e todas em cada uma, e cada uma em todas estão em todas, e todas são um. Assim acreditamos que Deus é Uno e é também Trino[8].

Nós somos chamados a viver e a testemunhar para os outros e para o mundo o mistério de Deus Uno e Trino, assim como fez Santo Agostinho. Ele criou as coisas e os seres humanos de uma forma tão bem que bendizemos o seu nome. Ele mora em nossos corações. Lutemos pela paz para que o mundo seja um local de justiça, de amor entre as pessoas e entre os povos. Nós somos chamados a amar a Deus, ao próximo como a si mesmo. Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, Deus Uno e Trino agora e por toda a eternidade.

[1][1] Cfr. A Trindade, VI,6,8. In: Santo Agostinho. São Paulo: Paulus, 1994, pgs. 224-225.

[2] Cfr. Idem, pg. 225.

[3] Cfr. Ibidem, 6,9a, pgs. 225-226.

[4] Cfr. Ibidem, pg. 226.

[5] Cfr. Ibidem, pgs. 226-227.

[6] Cfr. Ibidem, pg. 227.

[7] Cfr. Ibidem, pg. 227.

[8] Cfr. Ibidem, 229-231. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Impactos

Impactos Ambientais da Mineração (Green View)

IMPACTOS

18/08/2025

Dom Geraldo dos Reis Maia
Bispo de Araçuaí (MG)

Os impactos das atividades minerárias, especialmente no Vale do Jequitinhonha, estão sendo tratados com muita atenção por várias entidades que se preocupam com o meio ambiente. A extração mineral, de modo particular a corrida pelo lítio, vem impactando a ecologia integral: comunidades quilombolas, indígenas, outros tipos de comunidades tradicionais e os biomas em geral, com as belezas e os encantos de sua fauna e flora. O desenvolvimento do Vale é importante, mas não podemos tolerar que este lindo Vale se torne zona de sacrifício nem para o nosso povo tão querido, nem para a Casa Comum. 

A Diocese de Araçuaí acompanha, com preocupação, o desdobramento desses impactos. Para melhor realizar a sua missão em favor da vida, temos realizado uma série de atividades e pronunciamentos, certos de que é preciso buscar “em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça” (Mt 6,33). É essa justiça do Reino que nos impele no agir pastoral-missionário, impulsionados pela palavra do papa Leão XIV: “Num mundo onde os mais frágeis são os primeiros a sofrer os efeitos devastadores das mudanças climáticas, do desmatamento e da poluição, cuidar da criação torna-se uma questão de fé e de humanidade” (Mensagem para o 10° Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação de 2025, que será celebrado em 1º de setembro). 

Foi criado, na Diocese de Araçuaí, o Núcleo Eclesial de Ecologia Integral, para atuar nesta importante e desafiante área de nossa ação pastoral-missionária. Uma primeira ação deste Núcleo foi realizar uma Roda de Conversa sobre os impactos da mineração no Vale do Jequitinhonha. Esse encontro aconteceu na manhã do dia 23 de julho, no Centro Diocesano. A presença de várias representações de pastorais sociais, entidades parceiras e movimentos sociais confirmaram o desejo de um trabalho orgânico em favor da Casa Comum, denunciando os impactos sofridos pelas comunidades e pelo mundo criado. 

Um gesto concreto dessa importante Roda de Conversa foi a aprovação do “Manifesto de lutadores e lutadoras do Vale do Jequitinhonha em defesa da Ecologia Integral e contra o ‘PL da Devastação’”. Neste Manifesto, foi dado conhecimento sobre a gravidade do chamado “autolicenciamento ambiental”, que ficou conhecido como o “PL da devastação”, através do qual “algumas licenças ambientais poderão ser lavradas mediante simples declaração do empreendedor, desacompanhada de estudos prévios de impacto e de monitoramento posterior. Assim, projetos que atentam contra a natureza e direitos das comunidades escaparão ao controle do Poder Público”. 

O Manifesto apresenta que “outra medida preocupante nesse cenário é a drástica redução de consulta prévia a comunidades tradicionais, quando potencialmente atingidas por empreendimentos que tendem a alterar seus hábitos e modos de vida. Recorda-se que essas consultas são obrigatórias pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da qual o Brasil é signatário. Entende-se, pois, que o PL 2.159/2021 já nasce violando normas fundamentais para o país”. 

Na Roda de Conversa, abordamos preocupações próprias da região do Vale do Jequitinhonha. “O ‘PL da Devastação’ é especialmente preocupante a nós, residentes do Médio Jequitinhonha, que vivenciamos uma grande movimentação de mineradoras. Apesar de promessas insistentes de desenvolvimento, nossa região percebe que o crescimento econômico, bastante inferior ao prometido, ainda vem divorciado da ecologia integral e da proteção dos mais vulneráveis, além de registro de graves consequências da crise climática com altas temperaturas e agravamento da crise hídrica”. 

Nesta conjuntura do Vale do Jequitinhonha, especialmente nos municípios de Araçuaí e Itinga, “denunciamos veementemente o aumento de custo de vida, a especulação imobiliária urbana e rural, as detonações, operação 24 horas no entorno das cavas de lítio, que vêm causando sérios impactos sobre comunidades lá instaladas há séculos. Ora, é impossível conviver com a poeira, rachaduras nas paredes dos imóveis vizinhos, circulação irrestrita de veículos pesados, danos a cisternas, poluição sonora e visual, além de secamento de nascentes e assoreamento de rios”. 

Foi recordado um triste acontecimento desse primeiro semestre na nossa região. “Mesmo diante dessa grave crise ambiental e climática, o Poder Público mostra-se pouco criterioso na liberação de tais empreendimentos. Somado a isso, os municípios de Araçuaí e Caraí foram recentemente surpreendidos com a drástica redução da APA – Chapada do Lagoão –, em que pesem os muitos alertas quanto ao provável avanço do setor minerário sobre aquela região”. 

Diante de tudo isso, o “Manifesto de lutadores e lutadoras do Vale do Jequitinhonha em defesa da Ecologia Integral e contra o ‘PL da Devastação’”, assinado por 29 entidades, conclui da seguinte forma: “Vemos, com clareza, que o PL da Devastação e todo o desmonte da política ambiental no Poder Legislativo brasileiro fragilizam a proteção da natureza. Não podemos admitir esse retrocesso! Por todos esses motivos, conclamamos a sociedade para lutar contra essa injustiça e reivindicar que o Presidente da República vete o Projeto de Lei 2.159/2021”. 

Hoje, o Vale do Jequitinhonha se tornou uma zona de interesse por parte de várias vertentes. Primeiramente, os povos que sempre residiram nesses territórios: indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais, sempre resistentes, mas muito vulneráveis. De outro lado, os proprietários de terras, que receberam heranças ou as adquiriram por si mesmos. Em contrapartida, chegam empresários, especialmente da atividade minerária. O que é uma zona de interesses vai se tornando uma zona de conflitos. Esperamos que não se torne uma zona de sacrifícios… Os interesses são perceptíveis. Os conflitos já começam a surgir. Os sacrifícios já são notados. Deus tenha misericórdia do povo deste lindo Vale do Jequitinhonha e da nossa exuberante Casa Comum. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Leão XIV: que Jesus seja anunciado com clareza e caridade na Amazônia

Primeiro dia do encontro dos bispos da Pan-Amazônia (CELAM | Vatican News)

"É necessário que Jesus Cristo, em quem se recapitulam todas as coisas, seja anunciado com clareza e imensa caridade entre os habitantes da Amazônia", escreveu o Papa ao Encontro de Bispos da Pan-Amazônia que está sendo realizado em Bogotá, na Colômbia, até a próxima quarta-feira (20/08). Além da dimensão do anúncio do Evangelho, Leão XIV também analisou a missão da Igreja na região através do cuidado da casa comum, um "direito e dever" que "Deus Pai nos confiou como administradores solícitos".

Andressa Collet - Vatican News

O Papa Leão XIV também se fez presente nas atividades do Encontro de Bispos da Pan-Amazônia através de um telegrama. A mensagem, assinada pelo secretário de Estado, o cardeal Pietro Parolin, foi enviada nesta segunda-feira (18/08), segundo dia do evento que termina na próxima quarta-feira, 20 de agosto, em Bogotá, na Colômbia, convocado pela Conferência Eclesial da Amazônia (Ceama).

Mais de 90 bispos de 76 jurisdições eclesiásticas nos 9 países amazônicos estão reunidos em espírito sinodal para discernir sobre os desafios pastorais e missionários da região, onde moram mais de 33 milhões de pessoas, entre elas, indígenas, ribeirinhos, camponeses e afrodescendentes. Esse é o primeiro grande encontro episcopal após o Sínodo para a Amazônia de 2019, o Documento Final e a Exortação Apostólica Querida Amazonia do Papa Francisco, um movimento em prol de novos caminhos de evangelização e cuidados do meio ambiente e dos pobres que deu força para a própria criação da Ceama, aprovada pelo Pontífice argentino em 2021.

O telegrama de Leão XIV foi inclusive dirigido ao cardeal Pedro Ricardo Barreto Jimeno, presidente da Conferência Eclesial da Amazônia, uma organização que reúne além do episcopado, também leigos, agentes pastorais, mulheres e indígenas. É a primeira conferência de caráter "eclesial" na história recente da Igreja, tanto que o Papa reconhece e agradece os bispos pelo "esforço realizado para promover o maior bem da Igreja em favor dos fiéis do amado território amazônico e, tendo em conta o que se aprendeu no Sínodo sobre a escuta e participação de todas as vocações na Igreja, exorta-os a procurar, com base na unidade e na colegialidade própria de um 'organismo episcopal', como ajudar de forma concreta e eficaz os bispos diocesanos e os vigários apostólicos a levar a cabo a sua missão".

Missa durante o primeiro dia do encontro dos bispos da Pan-Amazônia (CELAM | Vatican News)

Anunciar Jesus com clareza e caridade

A esse respeito, continua o telegrama, Leão XIV convida todos os participantes do encontro que estão em Bogotá a refletir sobre "três dimensões que estão interconectadas na ação pastoral dessa região: a missão da Igreja de anunciar o Evangelho a todos os homens, o tratamento justo aos povos que ali habitam e o cuidado da casa comum". E o Pontífice aprofundou o argumento:

“É necessário que Jesus Cristo, em quem se recapitulam todas as coisas, seja anunciado com clareza e imensa caridade entre os habitantes da Amazônia, de tal forma que temos de nos esforçar por lhes dar o pão fresco e límpido da Boa Nova e o alimento celeste da Eucaristia, único meio para ser verdadeiramente o povo de Deus e o corpo de Cristo. Nesta missão, move-nos a certeza, confirmada pela história da Igreja, de que ali onde se prega o nome de Cristo a injustiça retrocede proporcionalmente, pois, como assegura o Apóstolo Paulo, toda a exploração do homem pelo homem desaparece se somos capazes de nos recebermos uns aos outros como irmãos.”

A mensagem do Papa, assinada pelo cardeal Parolin, é finalizada com a bênção apostólica e uma referência a Santo Inácio de Loyola ao interpretar o caminho para a salvação, através do cuidado com a criação divina:

"No âmbito desta doutrina perene, não menos evidente é o direito e o dever de cuidar da 'casa' que Deus Pai nos confiou como administradores solícitos, de modo que ninguém destrua irresponsavelmente os bens naturais que falam da bondade e beleza do Criador, nem, muito menos, se submeta a eles como escravo ou adorador da natureza, pois as coisas nos foram dadas para alcançarmos o nosso objetivo de louvar a Deus e, assim, obter a salvação de nossas almas."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

HISTÓRIA: Esses gritos são mais altos que bombas

Acima, os dois gêmeos Zevini, em frente ao seu "local de nascimento"; no quarto do Papa em Castel Gandolfo | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 07/08 - 2004

Esses gritos são mais altos que bombas

Nos primeiros meses de 1944, a população dos Castelli Romani estava exausta pela guerra. Pio XII abriu a Vila Papal para doze mil pessoas. Trinta e seis crianças nasceram nos aposentos do papa durante esse período. Conhecemos dois deles, os gêmeos Eugenio Pio e Pio Eugenio Zevini.

por Lucio Brunelli

Pio Eugenio e Eugenio Pio se parecem naturalmente. Os mesmos ombros, o mesmo aperto de mão que torna difícil dizer "prazer em conhecê-lo" quando apertam a sua. E o mesmo cartão de membro do partido. "Sempre fomos membros do Partido Comunista, como nosso pai nos ensinou ", confidenciam eles na gíria perfeita de Castelli Romani. Pio Eugenio e Eugenio Pio são dois gêmeos muito especiais. Os únicos gêmeos do mundo nascidos no palácio de um papa. Eles nasceram em 1º de março de 1944, na Vila Pontifícia de Castel Gandolfo. Especificamente, no quarto de Pio XII, que havia sido transformado em berçário para a ocasião. Seus pais, os Zevinis, foram acolhidos, juntamente com milhares de outros deslocados procurados pela SS nazista, na suntuosa residência de verão dos papas. Eles tinham simpatias comunistas, mas não hesitaram na hora de escolher os nomes para seus dois recém-nascidos: Pio Eugenio e Eugenio Pio, um ato de gratidão ao Papa Eugenio Pacelli, que os salvou dos horrores da guerra. Uma oferenda votiva gravada em seus documentos de identidade. E em suas memórias. "É uma honra para nós carregar o nome daquele Papa", dizem hoje os dois gêmeos de sessenta anos, caminhando em frente ao prédio que os abrigou assim que nasceram. "Pio XII realizou um gesto nobre, não podemos esquecê-lo." 

Foi assim que as coisas aconteceram

Em 22 de janeiro de 1944, os Aliados desembarcaram em Anzio, na costa sul do Lácio. Pio e Eugênio ainda não haviam nascido, mas já haviam sido concebidos. Sua mãe, moradora de Castel Gandolfo, estava grávida de sete meses. Como todos os moradores locais, ela viveu dias de medo e angústia.

De fato, passado o efeito surpresa, as tropas nazistas se reorganizaram, bloqueando a estrada dos Aliados para Roma e sempre prontas para descarregar sua raiva sobre a população civil diante do curso desastroso da guerra. Os bombardeios americanos tornaram-se extremamente violentos, cada vez mais próximos. Presos entre dois fogos, as pessoas fugiram de suas casas com os poucos pertences que conseguiam carregar. Muitos começaram a se aglomerar, buscando um refúgio mais seguro, em frente aos portões da Vila Pontifícia em Castel Gandolfo. Foi um jovem monsenhor da Secretaria de Estado do Vaticano, Giovanni Battista Montini (o futuro Paulo VI), quem informou Pio XII, que na época era quase um prisioneiro no Palácio Apostólico de Roma. A decisão foi tomada sem hesitação. Naquele mesmo dia, 22 de janeiro, sessenta anos atrás, as portas da residência de Castel Gandolfo se abriram para uma multidão de aproximadamente 12.000 deslocados. Ninguém foi questionado sobre sua certidão de batismo ou suas convicções políticas. As poucas imagens em preto e branco preservadas em arquivos cinematográficos mostram uma longa e silenciosa fila de pessoas — carregadas de colchões e alguns outros itens pessoais — entrando no palácio do Papa pelo portão com vista para a praça principal da cidade.

Como enclave do Vaticano, a residência de Pio XII goza de direitos extraterritoriais. Um status diplomático especial garante a inviolabilidade de suas fronteiras a qualquer exército ou milícia estrangeira.

Eugenio Pacelli é frequentemente lembrado por suas origens aristocráticas, sua imagem hierática e sua atitude desapegada em relação ao povo. Mas quantos clérigos hoje abririam suas portas a uma massa tão incontrolável de pessoas, independentemente dos custos econômicos e riscos políticos? Os 12.000 refugiados permaneceram no palácio de verão do Papa por quatro meses inteiros, até o fim dos combates com a libertação de Roma em 4 de junho de 1944. Eles recebiam uma refeição quente todos os dias. Entre eles estavam numerosos judeus e fugitivos políticos. Durante esses quatro meses, bombas atingiram a Vila Papal: as marcas de estilhaços ainda são visíveis hoje nas paredes externas. Mas nenhum dispositivo explodiu lá dentro, e não houve vítimas entre a multidão aterrorizada que se refugiou ali. Lá fora, era um inferno. Mesmo outros edifícios sagrados localizados a algumas centenas de metros de distância não foram poupados da violência da guerra. Em 1º de fevereiro de 1944, um bombardeio aliado destruiu o convento das Clarissas e das Irmãs Basilianas, matando 16 freiras de clausura. Em 10 de fevereiro, outro terrível bombardeio atingiu o Colégio Propaganda Fide, onde outros deslocados de cidades vizinhas estavam abrigados, e foi um massacre: mais de 500 vítimas.

Pio Eugenio e Eugenio Pio, ainda alheios à tragédia, estavam em paz no ventre da Sra. Zevini. Eles não eram os únicos bebês esperando para ver a luz.

Naqueles quatro meses, 36 crianças nasceram na Vila Papal. As mulheres em trabalho de parto receberam o apartamento particular de Pio XII. "Cada vez que um bebê chorava", lembra Marcello Costa, que tinha 18 anos na época e foi prefeito democrata-cristão de Castel Gandolfo por 33 anos após a guerra, "uma oração de agradecimento imediatamente se elevava". Momentos de alegria, momentos de louvor, mais intensos que o estrondo das bombas, que às vezes faziam tremer as janelas do prédio. Quase todos os recém-nascidos se chamavam Pio ou Eugênio. Um ato de gratidão a Pio XII. Só nasceu um par de gêmeos, os Zevinis. Era 1º de março de 1944. Sessenta anos depois, é comovente conversar com os gêmeos na praça de Castel Gandolfo; olhando para a porta por onde seus pais passaram seis décadas atrás, com o coração apertado. "Todos aqui nos chamam de gêmeos do Papa", sorriem. Entramos em um bar na praça principal, e a moça atrás do balcão, assim que os vê, comemora e conta a eles. "Você não sabe, mas eu vi você nascer aí... Eu tinha doze anos, minha família e eu também tínhamos sido acolhidos na Vila Papal... Entrei furtivamente no quarto e vi você nascer... alguns choravam, outros riam, que bagunça..."

Pio Eugenio e Eugenio Pio são dois homens grandes, sempre trabalharam duro para sobreviver, não são pessoas que choram facilmente. E também não são personalidades de talk show. TV. Mas dá para perceber que eles são um pouco emotivos. Parece um conto de fadas, o deles. Mas é história. A história de dois gêmeos comunistas que carregam no nome e na alma a marca da caridade de um Papa.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF