POR UMA JORNADA E CULTURA DO TRABALHO, HUMANA, DIGNA E
EQUILIBRADA
20/08/2025
Dom Roberto Francisco Ferreria Paz
Bispo de Campos (RJ)
Uma das questões do plebiscito popular 2025 cuja votação
para a consulta que iniciou 1º de julho com urnas esparsas em todo o país é a
extinção da jornada 6 x 1 sem redução de salário.
Com a finalidade de contribuir ao discernimento de um voto
consciente a respeito desta proposta ofereço alguns critérios de juízo e
reflexão inspirados no Evangelho e na Doutrina Social da Igreja.
O primeiro é a primazia do trabalho sobre o capital,
isto é o que o Papa São João Paulo II na Encíclica Laborem Exercens defendia ao
afirmar a subjetividade da pessoa do trabalhador diante do capital que é
material.
Segundo a dignidade e integridade da pessoa do trabalhador o
que significa a sua saúde integral (corporal, mental e espiritual), nunca pode
ser tratado como coisa ou apenas um insumo. Terceiro a vida do trabalhador é
mais importante que o lucro, que não é afetado quando temos trabalhadores
motivados, animados, e que partilham os ganhos da empresa de acordo com a
teoria humanista Y sobre gestão do trabalho de Mc Douglas Gregor, ou do
toyotismo. Ainda o equilíbrio entre trabalho e descanso, uma vez que para trabalhar
o colaborador da empresa deve recompor suas forças e energias, evitando-se o
trabalho penoso ou estressante.
A quinta Conferência da saúde do trabalhador(a) tem tratado
com muita seriedade o crescimento das doenças mentais, já apontadas pelo
escritor Richard Sennet em seu livro a “corrosão do caráter do trabalhador”
onde denunciava a instabilidade, medo de perder o emprego, ansiedade e pânico
que levam a pessoa a uma profunda crise psicológica e baixa estima.
Uma sociedade é sustentável e sadia quando o trabalho é
digno, gera relacionamentos e vínculos de responsabilidade social entre
trabalhadores e empresários, e desenvolve pessoas criativas, mais produtivas
porque participam dos processos laborais e contribuem assim a formação da
riqueza da Nação.
Por isso iniciar um processo de redução de horas na jornada
de trabalho pode ser interpretado como uma evolução rumo a justiça social, ao
progresso nos relacionamentos trabalho-capital, e ao bem comum, pois como dizia
nosso Salvador Jesus Cristo, o sábado é para o homem, não o homem para o
sábado. Deus seja louvado!
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