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terça-feira, 5 de maio de 2020

Concílios Ecumênicos: mecanismo para resolver conflitos doutrinários no Cristianismo


A Igreja

A Igreja primitiva entendeu que os Concílios eram um mecanismo duradouro pelo qual as questões doutrinárias podiam ser resolvidas, com a certeza de que o Espírito Santo continuaria conduzindo os resultados. Este é um dos pontos que Edmundo Campion (ex-anglicano) menciona no ponto 4 da sua obra intitulada “Dez Razões para Ser Católico”:
  • “Para extirpar diversas heresias em várias épocas, seguiram-se quatro Concílios Ecumênicos dos antigos, cuja doutrina estava tão bem estabelecida, que há mil anos dava-se a honra de ser como que uma declaração de Deus (ver epistolas de São Gregório Magno)”.
São Gregório Magno, em sua Profissão de Fé (Livro 1,25), declarou ao patriarca João de Constantinopla:
  • “Confesso que recebo e venero, assim como os quatro livros do Evangelho, também os quatro Concílios”.
Os “quatro Concílios” a que ele se refere neste ponto são: Niceia I, Constantinopla I, Éfeso e Calcedônia. Esses Concílios resolveram disputas doutrinárias [de natureza] cristológica.
Isto leva a 2 posições básicas que alguém pode tomar diante destes Concílios Ecumênicos:
1. Aceitar os Concílios como obra do Espírito Santo;
2. Rejeitar abertamente e sem rodeios os Concílios Ecumênicos.
Cada uma destas posições é problemática para o Protestantismo. Consideremos apenas a primeira posição, restando inválida [desde logo] a segunda:
Protestantes – principalmente os anglicanos – afirmam manter a primeira destas posições, na medida em que aceitaram a autoridade dos quatro primeiros Concílios Ecumênicos. Campion faz duas observações principais na sua resposta:
  • “Se, como professas, reverencias estes quatro Concílios, concederás a maior honra ao Bispo da Sé primeira, que é a de Pedro: reconhecerás no altar o sacrifício incruento do corpo e sangue de Cristo; implorarás aos santos mártires e a todos os santos que intercedam com Cristo por vós; reprimirás os apóstatas de acolher o vício antinatural e o incesto público; farás muitas coisas que estás desfazendo e desejarás desfazer muito do que estás fazendo. Além disso, prometo e comprometo-me a demonstrar, quando houver oportunidade, que os Concílios Ecumênicos de outrora – e especialmente o Concílio de Trento – tiveram a mesma autoridade e credibilidade que o primeiro”.
Então, se forem aceitos os primeiros quatro Concílios Ecumênicos, deve-se aceitar, logicamente, ensinamentos tais como:
  • Primazia romana: o Cânon 3 de Constantinopla diz: “O Bispo de Constantinopla, no entanto, terá a prerrogativa de honra após o Bispo de Roma, porque Constantinopla é a Nova Roma”. Portanto, a primazia romana se reafirma mesmo sobre Constantinopla, apesar deste Concílio ter se dado em Constantinopla e apesar de Constantinopla ser a capital imperial daquela época. E até mesmo a posição de nº 2 de Constantinopla (isto é, acima das antigas Sés de Alexandria e Antioquia) flui da sua conexão com Roma. E aproveitando que estamos neste assunto: a autoridade de Antioquia e Alexandria também encontra-se ligada a Pedro e à sede de Roma, como o Papa São Gregório apontou ao Patriarca de Alexandria (Livro 7,40).
  • Eucaristia como o sacrifício incruento do corpo e do sangue de Cristo: o Cânon 18 do 1º Concílio de Niceia repudia certas práticas locais em que “os diáconos administram a Eucaristia aos presbíteros, quando nem cânon nem costume permite que aqueles que não têm direito a oferecer [o sacrifício] deem o Corpo de Cristo àqueles que podem oferecer”. Embora este cânon seja focado em abusos específicos, o Concílio é claro ao afirmar que a Eucaristia é o corpo de Cristo e que o Sacrifício Eucarístico é oferecido pelos presbíteros (e não pelos diáconos). O Cânon 13 do mesmo Concílio trata da questão de conceder os últimos Ritos (“Viaticum”) aos enfermos.
  • Oração aos Santos: O Cânon 6 de Calcedônia requer que todos os padres e diáconos ordenados sejam nomeados para uma igreja, um mosteiro ou um “mártir” (um “mártir” aqui é uma igreja ou capela erguida sobre o túmulo de um mártir).
  • Reconhecimento do livro deuterocanônico do Sirácida [Eclesiástico] como Escritura Divina: o Primeiro Concílio de Éfeso (3º Concílio Ecumênico), declarou: “Por quanto a Escritura divinamente inspirada diz: ‘Fazei todas as coisas com concílio…'”. O Concílio está citando aqui Eclesiástico 32,19. Como o historiador protestante Philip Schaff diz, isto é significativo, pois mostra que “o livro deuterocanônico do Eclesiástico está sendo citado aqui por um Concílio Ecumênico, como Escritura divinamente inspirada”.
Com efeito, se alguém aceita os primeiros quatro Concílios como autoridade, porque são Concílios Ecumênicos, deve também aceitar os Concílios posteriores pela mesma razão.
Veritatis Splendor

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF