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sábado, 10 de julho de 2021

Líderes nativos do Canadá pedem fim de ataques a igrejas

Igreja incendiada no Canadá / Crédito: Polícia Provincial de Ontário

REDAÇÃO CENTRAL, 09 jul. 21 / 02:11 pm (ACI).- Líderes indígenas do Canadá pediram o fim de atos de vandalismo contra igrejas cristãs depois que cinco igrejas católicas foram completamente queimadas e outros templos, católicos e protestantes, sofreram vandalismo desde o dia 21 de junho por causa da descoberta de túmulos anônimos de crianças nas sedes de antigas escolas residenciais para as crianças das Primeiras Nações e outras tribos abertas pelo governo canadense e administradas por igrejas.

A maioria dos incêndios foi em territórios indígenas. Os mais recentes ocorreram esta semana nas províncias de Alberta e Ontário.

igreja protestante House of Prayer Alliance, frequentada pela comunidade vietnamita na cidade de Calgary, foi queimada. A igreja batista de Johnsfield, no território das Seis Nações em Ontário, também foi queimada na madrugada de segunda-feira, 5 de julho. Os incêndios foram controlados, sem danos significativos às igrejas. A polícia acredita que ambos os incêndios foram provocados intencionalmente. A agência Global News informou que a igreja católica Nossa Senhora da Paz, no noroeste de Alberta, foi atacada com coquetéis molotov no sábado, 3 de julho. O fogo foi apagado. A polícia também suspeita que outro incêndio foi provocado na igreja Trinity United em Spruceland, na Colúmbia Britânica, durante o fim de semana.

Cheryle Delores Gunargi O'Sullivan, disse em entrevista coletiva na segunda-feira que o suposto incêndio criminoso está “nos transformando em vilões, quando na realidade somos as vítimas”. “Não vai nos ajudar a construir relações ou reconstruir relações com a religião, com o governo ou mesmo com a Polícia Montada do Canadá. É contraproducente. É preciso que isso pare, para que possamos nos concentrar nas crianças que ainda não foram encontradas”, disse ela.

Jenn Allan-Riley, descendente de antigos alunos das escolas residenciais e ministra pentecostal, disse em uma entrevista coletiva que os atos destrutivos “não são uma forma de solidarizar-se com a gente, com os povos indígenas”. “Esta não é a nossa forma nativa. Nós não odiamos as pessoas. Nós não espalhamos o ódio. Nós amamos as pessoas. Não destruímos as (casas de culto) de outras pessoas”, afirmou.

O sistema de escolas residenciais foi estabelecido pelo governo federal canadense na década de 1870 para afastar as crianças indígenas de suas comunidades e  facilitar sua aculturação. As escolas foram dirigidas por católicos ou membros de outras igrejas cristãs. A Igreja Católica, através das ordens religiosas, chegou a dirigir mais de dois terços das escolas. A última escola residencial administrada pelo governo federal fechou em 1996.

Em 22 de maio, os túmulos de 215 crianças indígenas foram descobertos no local da antiga Escola Residencial Indígena Kamloops, na Colúmbia Britânica. Em 24 de junho, os líderes das Primeiras Nações Cowessess anunciaram a descoberta de 751 túmulos na antiga Escola Residencial Indígena Marieval, em Saskatchewan.

Em 30 de junho, líderes das Primeiras Nações do Baixo Kootenay anunciaram a descoberta de mais 182 túmulos nos terrenos da antiga escola residencial de São Eugênio, perto de Cranbrook, na Colúmbia Britânica.

Allan-Riley afirmou que muitas pessoas das Primeiras Nações e ex-alunos de escolas residenciais ainda são católicos praticantes e agora perderam seus lugares de culto após os atentados.

“A queima e desfiguração de igrejas traz mais conflitos, depressão e ansiedade para aqueles que já estão em luto e doloridos. Também traz para suas vidas sentimentos traumáticos de violência e ameaças anteriores. Isso também está aumentando a divisão entre os povos indígenas do Canadá”, disse Allan-Riley.

Nem Allan-Riley nem O'Sullivan acreditam que os incêndios foram provocados por povos indígenas.

Ambos fizeram declarações após o líder indígena, Arthur Noskey, condenar qualquer tipo de violência contra as igrejas, em um emotivo vídeo publicado em 1º de julho. Noskey explicou que, embora as ações do governo canadense contra as crianças das Primeiras Nações no sistema escolar residencial equivaliam a um genocídio, a destruição não é a resposta.

Ele disse que “estamos pedindo a eles, aos Nehiyaw e aos Dene, às comunidades, nas suas comunidades onde têm essas igrejas, que se abstenham de ações justiceiras contra os edifícios da igreja”.

Noskey afirmou que entendia a raiva em relação à Igreja. “Existem 11 escolas, e eu sei que existem escolas adjacentes à suas reservas. Você sabe, eu até me sinto assim muitas vezes. Queremos fazer algo, agora mesmo, de imediato, mas não com um coração cheio de ira ou agitação”, disse Noskey.

Outros anciãos das tribos também consideraram que a queima das igrejas são atos de desrespeito aos seus antepassados, que construíram as igrejas agora destruídas.

Carrie Allison, idosa de 90 anos da tribo Upper Similkameen e ex-aluna da escola Kamloops, disse que estava “muito desapontada” com a recente destruição da igreja de Sant´Ana em Hedley, na Colúmbia Britânica.

Em entrevista à Coast Mountain News, Allison explicou que a igreja foi construída por membros da tribo há mais de um século. “Houve muitos momentos felizes e alegres nos casamentos de todo o mundo naquela igreja, e para o casal que ia se casar lá na próxima semana. Estou arrasada”, disse.

A pessoa que ateou o fogo “não deve ter sentimentos nem respeito pelos anciãos ou pelos seus antepassados”, acrescentou.

A tribo Upper Similkameen emitiu um comunicado em 28 de junho afirmando que “eles não podem acreditar no total desprezo pelos nossos ancestrais e idosos”, em referência aos recentes incêndios que destruíram as igrejas de Nossa Senhora de Lurdes, em Chopaka, e a de Sant´Ana no território das tribos Upper and Lower Similkameen.

Segundo o comunicado, a tribo estaria “cooperando plenamente e ajudando com as investigações”. “Entendemos a raiva relativa às escolas residenciais em todo o nosso país, mas pedimos a todos que procurem apoio e se ajudem mutuamente para expressar sua raiva e suas emoções de uma forma diferente. Colocar nossas terras, vida selvagem e membros em risco não é o caminho”, afirmaram.

O bispo de Nelson, Dom Gregory Bittman, celebrou uma missa no território indígena do Lower Similkameen no domingo, 4 de julho. “Apesar das perdas que sofreram, apesar das forças que procuram nos dividir, nos reunimos como um só povo, unidos na fé. Peço orações contínuas por todos os irmãos e irmãs indígenas, especialmente por aqueles que perderam suas igrejas missionárias, inclusive a mais recente em Hedley e Chopaka”, disse em comunicado.

O primeiro-ministro Justin Trudeau é católico e se pronunciou sobre os incêndios provocados na igreja em 2 de julho. Ele disse que não acreditava que as ações sejam úteis para uma comunidade ferida. “A queima de igrejas está realmente privando as pessoas que precisam de luto, cura e lugares onde podem chorar, refletir e buscar apoio”, disse ele.

A Conferência Canadense de Bispos Católicos (CCCB) informou, na semana passada, que o papa Francisco receberá bispos canadenses, antigos alunos das escolas residenciais e líderes indígenas em audiências privadas no Vaticano entre os dias 17 e 20 de dezembro de 2021.

Na oração do Ângelus do domingo 6 de junho Francisco uniu-se “aos bispos canadenses e a toda a Igreja Católica do Canadá para expressar minha proximidade ao povo canadense, que ficou traumatizado com esta chocante notícia” dos túmulos anônimos. Além disso, afirmou que o descobrimento, que definiu como “espantoso” e “triste”, “aumenta a nossa consciência da dor e do sofrimento do passado”. “Que as autoridades políticas e religiosas do Canadá continuem colaborando com determinação para aclarar este triste acontecimento e comprometer-se humildemente em um caminho de reconciliação e cura”, acrescentou. 

Fonte: ACI Digital

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF