Ao celebrar a Santa Missa na Noite Santa do Natal, o Papa
recordou que Deus não se revela na grandeza dos céus, mas na humildade de um
Menino colocado na manjedoura. "Para encontrar o Salvador, não é preciso
olhar para cima, mas contemplar o que está embaixo, a luz divina que irradia
deste Menino ajuda-nos a ver o homem em cada vida nascente", afirmou.
Thulio Fonseca - Vatican News
O Papa Leão XIV presidiu a sua primeira Missa do Galo como
Sucessor de Pedro, na Basílica de São Pedro, nesta quarta-feira, 24 de
dezembro. “Queremos celebrar juntos a festa do Natal. Jesus Cristo, que nasceu
por nós, nos traz a paz e o amor de Deus. Boas festas a todos vocês”, foram as
palavras do Papa antes da celebração, ao saudar os fiéis que acompanharam a
cerimônia pelos telões instalados na Praça de São Pedro, inclusive debaixo de
chuva.
A Santa Missa, que contou com a presença de 6 mil fiéis, foi
precedida pela tradicional Kalenda, o antigo anúncio solene do nascimento do
Senhor. Em seguida, o Pontífice desvelou a imagem do Menino Jesus, momento em
que os sinos da Basílica tocaram e as luzes se acenderam, marcando
liturgicamente o início do Natal.
A estrela que ilumina a noite da humanidade
Em sua homilia, Leão XIV recordou a longa busca da
humanidade por sentido e verdade, muitas vezes projetada no céu e nas estrelas,
mas incapaz de oferecer respostas duradouras. Durante séculos, afirmou, os
povos tentaram decifrar o próprio destino olhando para o alto, permanecendo,
porém, na escuridão, até que, nesta noite santa, uma luz verdadeiramente nova
se acende na história. O Papa então explicou que o Natal não celebra uma ideia,
mas uma presença viva que entra na história:
“É o Natal de Jesus, o Emanuel. No Filho feito homem,
Deus não nos dá algo, mas a si mesmo. [...] Para encontrar o Salvador, não é
preciso olhar para cima, mas contemplar o que está embaixo: a onipotência de
Deus resplandece na impotência de um recém-nascido. [...] É divina a
necessidade de cuidado e calor, que o Filho do Pai partilha na história com
todos os seus irmãos. A luz divina que irradia deste Menino ajuda-nos a ver o
homem em cada vida nascente.”
Onde não há espaço para o homem, não há espaço para Deus
Retomando palavras de Bento XVI, o Papa Leão advertiu sobre
uma das grandes feridas do nosso tempo: a exclusão do homem, sobretudo dos mais
frágeis. Quando a dignidade humana é obscurecida, afirmou, desaparece também a
capacidade de acolher, “então não há espaço sequer para os outros, para as
crianças, para os pobres, para os estrangeiros”. E, com clareza pastoral, o
Pontífice recordou que a acolhida de Deus passa necessariamente pela acolhida
do próximo:
"Na terra não há espaço para Deus se não houver
espaço para o homem: não acolher um significa não acolher o outro. Em vez
disso, onde há lugar para o homem, há lugar para Deus: então um estábulo pode
tornar-se mais sagrado do que um templo, e o ventre da Virgem Maria é a arca da
nova aliança."
A humildade de Deus cura a soberba do homem
O Santo Padre convidou os fiéis a admirar a sabedoria do
Natal, recordando que Deus responde às expectativas humanas não com poder, mas
com humildade e proximidade: “Perante as expectativas dos povos, Ele envia um
bebê, para que seja palavra de esperança; perante a dor dos miseráveis, Ele
envia um indefeso, para que seja força para se levantarem.” Num mundo marcado
por injustiças, Leão XIV foi direto ao afirmar:
“Enquanto uma economia distorcida leva a tratar os homens
como mercadoria, Deus torna-se semelhante a nós, revelando a infinita dignidade
de cada pessoa. Enquanto o homem quer tornar-se Deus para dominar o próximo,
Deus quer tornar-se homem para nos libertar de toda a escravidão. Será este
amor suficiente para mudar a nossa história?”
Segundo o Papa, a resposta se revela no instante em que,
como os pastores, despertamos da noite da morte para a luz da vida nascente,
contemplando o Menino Jesus ao lado de Maria, José e de uma multidão do
exército celeste. Estes, de forma desarmada e desarmante, proclamam a glória de
Deus, cuja manifestação na terra é a paz, pois “no coração de Cristo palpita o
vínculo que une no amor céu e terra, Criador e criaturas”.
Natal: festa da fé, da caridade e da esperança
Ao recordar que se aproxima o término do Jubileu e evocando
as palavras do Papa Francisco no último Natal, Leão XIV sublinhou que este é um
tempo de gratidão pelo dom recebido e, ao mesmo tempo, de missão. Por fim, o
Santo Padre sintetizou o significado profundo do Natal para a vida da Igreja:
“Proclamemos, então, a alegria do Natal, que é festa da
fé, da caridade e da esperança. É festa da fé, porque Deus se faz homem,
nascendo de uma Virgem. É festa da caridade, porque o dom do Filho redentor se
realiza na dedicação fraterna. É festa da esperança, porque o Menino Jesus a
acende em nós, tornando-nos mensageiros da paz. Com estas virtudes no coração,
sem temer a noite, podemos ir ao encontro do amanhecer do novo dia.”
Ao final da celebração, Leão XIV levou em procissão a imagem
do Menino Jesus até o presépio da Basílica de São Pedro, acompanhado por
crianças que ofereceram flores ao Salvador.



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