Talita
Rodrigues - publicado em 26/12/25
O fim de ano costuma chegar carregando um brilho que,
para muitos, ilumina; para outros, quase cega. As ruas enfeitadas, as músicas
repetidas, as expectativas de celebração… tudo isso cria a sensação de que
deveríamos estar vivendo alguma espécie de alegria coletiva. Mas, por dentro,
nem sempre é assim.
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CLIQUES
Psicologicamente, essa época funciona como um espelho bem
nítido. Diante dela, somos convidados — às vezes sem querer — a encarar o que
fizemos, o que adiamos, o que não conseguimos sustentar. É como se uma contagem
regressiva acendesse também as nossas próprias urgências internas. Por isso
surgem perguntas que não fazem barulho, mas fazem presença: “O que eu
vivi?”, “O que ficou faltando?”, “Quem sou eu agora?”, “Será que estou onde
gostaria de estar?”.
Essas perguntas não são sinais de fraqueza. São sinais de
humanidade.
O fim de ano também costuma
tocar em lugares sensíveis: a ausência de alguém, uma cadeira vazia à mesa, uma
conversa interrompida, um sonho antigo que ainda não chegou
Há quem se sinta deslocado nas festas, como se estivesse
presente apenas no corpo, mas distante em alma. Há quem sinta que está tudo
rápido demais, ou lento demais. Há quem apenas deseje que esse período
passe.
E tudo isso merece ser
acolhido com delicadeza.
O que fazer?
Quando permitimos que as emoções apareçam sem julgá-las,
elas nos mostram algo importante. A tristeza costuma revelar o que valorizamos.
A saudade lembra que existe amor. A frustração aponta para nossos desejos não
ditos. O vazio, por mais incômodo que seja, muitas vezes é um pedido silencioso
de reconexão — com a própria história, com o próprio ritmo, com a própria
verdade.
Nessa travessia, vale a pena criar pequenos espaços de
pausa. Para respirar, sentir o corpo, deixar a mente descansar das cobranças
externas. Há algo profundamente terapêutico em escutar a si mesmo com o mesmo
cuidado que se escuta alguém querido. Talvez o fim de ano não seja um tempo de
grandes festas, mas pode ser um tempo de pequenas honestidades: escrever uma
carta para o próprio eu, revisitar memórias com mansidão, agradecer o que foi
possível, nomear o que ainda dói, permitir-se planejar passos curtos para o que
vem.
E, dentro de tudo isso, é importante lembrar da esperança —
não aquela esperança romântica, que promete que tudo dará certo de repente, mas
a esperança como virtude: aquela que brota devagar, que pede esforço, que se
alimenta de gestos simples e de uma confiança discreta no futuro. A esperança
que não nega a dor, mas a atravessa; que não garante respostas, mas oferece
caminhos.
O fim de ano pode ser, então, menos sobre contabilizar o que
faltou e mais sobre reconhecer o que se sustentou. Menos sobre metas grandiosas
e mais sobre recomeços humildes. Menos sobre a pressão de estar bem e mais
sobre a coragem de estar inteiro — mesmo que isso signifique estar frágil.
Se há algo que esse tempo nos convida a aprender, talvez
seja isto: não precisamos terminar o ano prontos. Basta terminarmos
verdadeiros. E, nesse espaço de verdade, a esperança encontra sempre uma forma
de acender — às vezes como uma chama pequena, mas firme o suficiente para
iluminar o caminho que começa de novo.
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