Os bispos franceses na plenária em Lourdes (AFP or licensors) |
Nas páginas do L'Osservatore Romano a carta que Francisco
escreve aos prelados reunidos, em Lourdes, na plenária com um programa que
deixa amplo espaço para a questão dos abusos um mês após a publicação do
Relatório da Comissão Independente.
por Charles de Pechpeyrou
"Enquanto vocês passam
pela tempestade causada pela vergonha e pelo drama dos abusos de menores
cometidos na Igreja, eu os encorajo a carregar o fardo com fé e esperança, e eu
o carrego com vocês." Estas são as palavras dirigidas pelo Papa Francisco
aos bispos da França, que desde a última segunda-feira e durante oito dias
reunidos em assembleia plenária em Lourdes. Um encontro que se realiza um mês
após a publicação do relatório sobre abusos elaborado pela comissão especial
independente guiada por Jean-Marc Sauvé, cujos dados causaram um verdadeiro
choque, começando pelo número de pessoas agredidas por clérigos de 1950 a 2020,
ou seja, mais de 216 mil.
Em sua mensagem, dirigida ao
presidente da Conferência Episcopal Francesa (CEF), dom Éric de Moulins-Beaufort,
o Pontífice diz estar "convencido de que juntos, e sob a orientação do
Espírito Santo, eles encontrarão os meios para prestar homenagem às vítimas e
consolá-las, para exortar todos os fiéis à penitência e à conversão do coração,
para tomar todas as medidas necessárias para que a Igreja seja uma casas segura
para todos, para cuidar do povo santo de Deus ferido e profundamente
perturbado, e para retomar a missão com alegria, resolutamente voltada para o
futuro".
"Nas provações e
contradições que vocês são obrigados a viver", continuou o Papa, que
recentemente recebeu alguns bispos franceses em visita ad limina, "estejam
certos do apoio e da comunhão da Sé Apostólica. Não duvidem que o povo francês
está esperando a Boa Nova de Cristo, ele precisa dela mais do que nunca. Por
esta razão, confio com particular ternura à sua paternal solicitude a imensa
maioria de seus sacerdotes que exercem seu ministério com generosidade e
devoção, e cuja bela vocação, infelizmente, está manchada. Eles precisam ser
fortalecidos e apoiados neste momento difícil".
No primeiro dia da assembleia
plenária, a fim de demonstrar a grande importância que pretendem dar à escuta
da palavra das vítimas, os bispos convidaram cinco delas a ocuparem os lugares
normalmente reservados à presidência do episcopado na grande sala do santuário,
para testemunhar sua terrível experiência.
Diante do episcopado, as
vítimas expressaram irritação, tristeza, desilusão, mas também suas
expectativas e esperanças. Palavras "fortes, difíceis, mas necessárias",
admitiu dom Luc Crépy, bispo de Versalhes e presidente do Grupo Permanente de
luta contra a pedofilia na CEF. "As mudanças devem ser implementadas e
isto é assunto de todos", disse o prelado à imprensa. Recordando as
expectativas das vítimas, François Touvet, bispo de Châlons, disse que era
urgente passar das palavras aos atos, não mais "contentar-se a produzir
discursos e textos", mas "agir com força". "Devemos estar à
altura desta expectativa", insistiu o prelado, "e não temos o direito
ou a possibilidade de perder este chamado".
Na sala, onde estavam
presentes as vítimas que participaram da elaboração do relatório sobre os
abusos, muitos bispos leram alguns trechos do relatório. A questão da
indenização das vítimas também foi discutida durante a reunião: "A Igreja
deve reconhecer essas pessoas mesmo quando os fatos já caducaram",
insistiu Crépy. A tarde de hoje e de amanhã também será dedicada à questão dos
abusos, enquanto um momento penitencial está previsto para sábado, no adro da
Basílica de Nossa Senhora do Rosário. As decisões finais serão votadas no
último dia da sessão plenária.
A proteção da Criação é o outro tema principal desta
assembleia de outono, que se realiza exatamente quando os líderes mundiais
estão reunidos, em Glasgow, na Escócia, na Conferência Climática da ONU. Uma
escolha parabenizada pelo Papa Francisco em sua carta. A metade de cada dia
durante três dias será dedicada à leitura da Encíclica "Laudato si' e sua
implementação nas dioceses francesas. O tema escolhido pela Conferência
Episcopal, "Clamor da terra, clamor dos pobres", extraído do
documento papal, foi escolhido pelos bispos para dar a palavra às pessoas que
vivem em condições precárias. Esta iniciativa faz lembrar aquela organizada há
dois anos pela CEF durante sua assembleia plenária de outono, quando duzentos
leigos foram convidados a apresentar suas reflexões sobre a encíclica do Papa
Francisco.
Nenhum comentário:
Postar um comentário