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segunda-feira, 8 de maio de 2023

“Antiquum ministerium”: um novo ministério para um antigo serviço

Mosaicos do Batistério de "San Giovanni in Fonte", Nápoles

"É possível reconhecer, dentro da grande tradição carismática do Novo Testamento, a presença concreta de batizados que exerceram o ministério de transmitir, de forma mais orgânica, permanente e associada com as várias circunstâncias da vida, o ensinamento dos apóstolos e dos evangelistas. A Igreja quis reconhecer este serviço como expressão concreta do carisma pessoal, que tanto favoreceu o exercício da sua missão evangelizadora." (Carta Apostólica ANTIQUUM MINISTERIUM)

por Stefano Lodigiani

Pela primeira vez na história da Igreja, o ministério laical do catequista foi reconhecido e instituído com a Carta Apostólica Antiquum ministerium de 10 de maio de 2021. Uma novidade com perfume de antiguidade, como fica claro também pelas primeiras palavras em latim da própria Carta, "Antiquum ministerium", que segundo a tradição dão o título a todo o documento. O Papa Francisco recorda que “ministério antigo é o de Catequista na Igreja. Os teólogos pensam, comumente, que se encontram os primeiros exemplos já nos escritos do Novo Testamento.” (AM n.1).

Os estudiosos concordam em afirmar que nos primórdios do cristianismo não se encontravam os termos "catecismo, catequista" como são hoje entendidos, mas sem dúvida foram redigidas apresentações da mensagem cristã e seus conteúdos fundamentais (o credo, os sacramentos, a vida moral), que remetem aos catecismos dos nossos tempos. Quando o caminho catecumenal para os adultos que pretendem tornar-se cristãos e receber os sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia) começa a tomar forma e a estruturar-se, também começa a delinear-se uma forma de catequese que recorda o seu sentido atual.

O caminho catecumenal que se desenvolveu no século II está intrinsecamente ligado aos escritos dos Padres da Igreja, que podem ser considerados “catequistas de autoridade”. Entre os documentos mais conhecidos da época encontramos a Didaquê ou Doutrina dos Doze Apóstolos, de autor desconhecido, cujo texto só foi encontrado em 1800, embora tenha sido amplamente citado nos escritos dos primeiros séculos. Aqui lemos a exposição dos "Dois Caminhos, o Caminho da Morte e o Caminho da Vida", seguida da apresentação dos ritos do Batismo e da Celebração Eucarística, então uma parte sobre a estrutura da Igreja antiga, por fim a conclusão de natureza escatológica.

Outro documento desse período é "O pastor de Hermas" do gênero apocalíptico, composto por cinco Visões, doze Mandamentos e dez Similitudes (ou Parábolas). A São Justino, filósofo e mártir, devemos o Diálogo com Trifão, as Apologias e, sobretudo, a mais antiga descrição do rito eucarístico, na Carta ao Imperador Antonino Pio. Não podemos esquecer depois Santo Irineu de Lyon, cujas obras foram influenciadas por Policarpo de Esmirna, discípulo direto de São João Evangelista.

No século III o catecumenato atingiu o seu máximo desenvolvimento, com um itinerário sistemático articulado ao longo de vários anos, como atestam, entre outros, Tertuliano, Cipriano, Hipólito, Clemente de Alexandria, Orígenes e as "Escolas" catequéticas da época. Com o Edito de Milão de fevereiro de 313, o imperador Constantino, o Grande, garantiu a liberdade de religião e culto.

O século IV constitui aquela que os historiadores definem como "a época de ouro da catequese patrística" e, ao mesmo tempo, o início do declínio do instituto catecumenal. Despontam neste período as 18 catequeses de Cirilo de Jerusalém, as 8 catequeses batismais de São João Crisóstomo, as 16 homilias catequéticas de Teodoro de Mopsuestia, o De Mysteriis e o De Sacramentis de Santo Ambrósio, o De catechizandis rudibus de S. Agostinho, contendo indicações para estruturar o ensino catequético, exemplos práticos de catequese, indicações metodológicas sobre a relação a estabelecer com o aprendiz, traços sobre a fisionomia do catequista. São João Paulo II o definiu "Um pequeno tratado sobre a alegria de catequizar" (Catechesi tradendae, 621).

Os textos deste período da história da Igreja, entre os quais mencionamos apenas alguns, são ainda hoje objeto de estudo e fonte de inspiração para a liturgia e para a catequese, dada a sua riqueza doutrinal. O Rito de Iniciação Cristã de Adultos, publicado em 6 de janeiro de 1972, no número 2 das Premissas, sublinha a referência ao catecumenato dos primeiros séculos e seu valor missionário: "O Rito compreende de fato não só a celebração dos Sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia, mas também todos os ritos do catecumenato que, já experimentado pelo antiquíssimo uso da Igreja e agora adaptado à ação missionária que se desenvolve nas diversas regiões, foi tão solicitado de todas as partes, que o Concílio Vaticano II decretou que deve ser restabelecido, revisto e adaptado às tradições locais” (cf. Ad Gentes 14).

A partir do século VI, o catecumenato declinou progressivamente. Já não há mais uma catequese sistemática como previa o itinerário catecumenal, mas esta é deixada aos párocos e aos pais, enquanto cresce a difusão do batismo das crianças, aliás já presente nas comunidades das origens. Entre os períodos e eventos que podem ser citados, sem alguma pretensão de ser completa, a recordar o século XVI, que com a invenção da imprensa e o crescimento da população alfabetizada também viu nascer o "livro de catecismo", texto que apresenta as verdades fundamentais da fé na forma de perguntas e respostas. O "Catecismo do Concílio de Trento", promulgado oficialmente pelo Concílio realizado naquela cidade de 1545 a 1563, era um manual para a instrução dos leigos pelos sacerdotes, no clima da resposta à Reforma Protestante. Também nesta época aparecem os primeiros textos de aprofundamento destinados aos catequistas (entre os autores está São Roberto Belarmino).

Na segunda metade do século XVIII, difundem-se os catecismos pelas dioceses. O nascimento e a difusão do "movimento catequético" foram consequência do Concílio Vaticano I (1870). Sob o pontificado do Papa Leão XIII (1878-1902) os catequistas começam a se organizar, são promovidos cursos de formação, congressos, revistas e publicações para eles. São Pio X publica a Encíclica Acerbo nimis (1905), sobre a ignorância religiosa e a importância do ensino do catecismo e dos catecismos (Compêndio da Doutrina Cristã em 1902 e Catecismo da Doutrina Cristã em 1912). Na Europa, especialmente na França e na Itália, difunde-se o empenho de um grande número de catequistas leigos. Na primeira metade do século, os Centros Catequéticos promovidos e dirigidos por diversos institutos religiosos se multiplicaram, tornando-se centros de estudo, formação, elaboração de textos e subsídios.

*Agência Fides

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF