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segunda-feira, 26 de maio de 2025

HISTÓRIA: 1789-1799. Dez anos que mudaram a relação entre o papado e o poder

A capa do livro de Gérard Pelletier | 30Giorni

Arquivo 30Dias,  número 05 - 2004

Apresentação no Centro Cultural São Luís dos Franceses

1789-1799. Dez anos que mudaram a relação entre o papado e o poder

de Pierluca Azzaro

Em 21 de abril deste ano, o livro Rome et la Révolution française. La théologie et la politique du Saint-Siège devant la Révolution française (1789-1799), de Gérard Pelletier (École Française de Roma, 2004), foi apresentado no Centro Cultural São Luís dos Franceses, em Roma, na presença do embaixador da França junto à Santa Sé, Pierre Morel. Eminentes representantes da comunidade científica italiana e internacional participaram da apresentação, como Pierre Blet s.j., professor emérito da Universidade Gregoriana e famoso por suas pesquisas sobre Pio XII e a Segunda Guerra Mundial à luz dos Arquivos Vaticanos; Agosti­nho Borromeu, professor ordinário de História da Igreja Moderna e Contemporânea da Universidade La Sapienza de Roma; e Andrea Riccardi, professor ordinário de História do Cristianismo na Universidade de Roma Três.

Como foi que a Santa Sé reagiu à Revolução Francesa? Qual foi a atitude de Pio VI e de seus colaboradores diante dos eventos que se seguiram à Revolução, em primeiro lugar a Constituição Civil do Clero de 1790? Essas as perguntas são o pano de fundo do amplo trabalho de Gérard Pelletier, jovem pároco de Saint-Louis en l’Ile, em Paris. Para responder a elas, o autor não parte “de considerações de natureza psicológica” - como sublinhou Pierre Blet -, mas da consulta minuciosa de ampla documentação histórica, até hoje “totalmente negligenciada ou ao menos só parcialmente utilizada”, como quis lembrar Agostino Borromeo.

A imponente quantidade de fontes históricas em que se baseia a pesquisa de Pelletier abarca não apenas a documentação de natureza mais diretamente político-diplomática - a correspondência da Secretaria de Estado com os vários núncios apostólicos - mas também os documentos conservados nos arquivos das várias congregações romanas, em particular os da antiga Congregação do Santo Ofício, até pouco tempo i­nacessíveis aos historiadores, mas que hoje podem ser consultados no Arquivo Histórico da Congregação para a Doutrina da Fé.

Os eventos da década de 1789 a 1799 suscitaram um debate não apenas político-diplomático, mas também doutrinal-teológico, que o autor reconstrói com grande precisão.

E esse duplo resultado do sig­nificativo trabalho de Pelletier que serve como ponto de partida para a conferência de Andrea Riccardi, que encontra, nesse debate, os grandes temas e as grandes questões que marcariam a história da Igreja nos séculos XIX e XX.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Em dois dias, Paróquia Santa Maria dos Pobres tem 200 crismados

Paróquia Santa Maria dos Pobres, no Paranoá/DF (arqbrasilia)

20/05/2025

Nos dias 17 e 18, a Paróquia Santa Maria dos Pobres, no Paranoá, 200 pessoas receberam o sacramento da Crisma. As celebrações foram presididas por Dom Ronaldo Ribeiro e Dom Protógenes Jose Luft, e concelebrada pelo pároco, padre Miguel Porres Prieto.

“Ser ungido, receber o Espírito Santo, para serem outros cristos aí na Terra. Nós temos a atitude de Cristo, de Filho de Deus que nos fizemos pelo batismo, mas não só nos tornamos pela celebração de um sacramento, mas pela conversão, pela escuta da palavra de Deus, pela mudança de vida que vai nos tornando a cada dia filhos de Deus. E pela imposição das mãos e pela unção do Espírito Santo, vocês são chamados a serem outros Cristos, serão ungidos. E Jesus disse, eu fui ungido para evangelizar, para anunciar a boa nova, proclamar a liberdade aos prisioneiros, a recuperação da vista aos cegos e assim por diante. Tudo o que acontece na vida de quem acolhe o Evangelho, a mudança, a transformação, a conversão, saímos da cegueira, saímos da paralisia e vamos ao encontro do outro”, destacou Dom Ronaldo.

O sacramento
De acordo com o Catecismo da Igreja Católica, a unção com o santo crisma — óleo perfumado consagrado pelo Bispo — significa o dom do Espírito Santo ao novo batizado. Ele torna-se cristão, ou seja, “ungido” pelo Espírito Santo, incorporado em Cristo, que foi ungido sacerdote, profeta e rei.

O Sacramento da Confirmação, ou Crisma, junto com o batismo e a Eucaristia, pertence aos três sacramentos da iniciação cristã da Igreja Católica. Assim como ocorreu no Pentecostes, quando o Paráclito desceu sobre a comunidade dos discípulos reunidos, é o que acontece neste Sacramento. Especialmente assistidos pelo Espírito Santo, os crismados estão mais incentivados a difundir e a defender a fé, tanto por palavras quanto por obras.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

A Doutrina Social da Igreja a partir da Rerum Novarum

Rerum Novarum  (© Archivio Apostolico Vaticano)

"A Rerum Novarum, escrita há mais de 100 anos atrás, não apenas apontou a desigualdade social e as condições precárias dos trabalhadores, mas também expressava uma forte esperança na possibilidade de construir uma ordem social mais justa e solidária, baseada na caridade e na colaboração entre classes. A esperança reside na crença que, com a atuação conjunta de governos, patrões, trabalhadores e da Igreja, é possível superar os problemas e alcançar um bem-estar comum."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Encíclica Rerum Novarum, de Leão XIII, lançou as bases da Doutrina Social da Igreja, cujo compêndio foi publicado por São João Paulo II em 29 de junho de 2004. O Papa Leão XIV, desde o início de seu ministério petrino, vem fazendo inúmeras referências quer ao "Papa da primeira grande encíclica social" - que inspirou a escolha de seu nome -, bem como à referida encíclica e à própria doutrina social.

No discurso ao Corpo Diplomático em 16 de maio, por exemplo, o novo Pontífice recordou que "a busca da paz exige a prática da justiça", reiterando que "na mudança de época que estamos vivendo, a Santa Sé não pode deixar de fazer ouvir a sua voz perante os numerosos desequilíbrios e injustiças que conduzem, entre outras coisas, a condições indignas de trabalho e a sociedades cada vez mais fragmentadas e conflituosas. É necessário também esforçar-se para remediar as desigualdades globais, que veem a opulência e a indigência traçar sulcos profundos entre continentes, países e mesmo no interior de cada sociedade."

Inspirando-se nos pronunciamentos de Leão XIV,  Pe. Gerson Schmidt* nos propõe a reflexão "A Doutrina Social da Igreja a partir da Rerum Novarum":

"A esperança é um tema presente no Concílio Vaticano II, principalmente na Constituição pastoral Gaudium et Spes, que significa em latim "Alegria e Esperança". As alegrias e as esperanças, as dores e sofrimentos do mundo fazem parte das preocupações da Igreja, diz a Constituição Pastoral, nas suas primeiras linhas. É louvável que o Papa Leão XIV continue a caminhada do Concilio Vaticano II e traga à luz do dia essa maravilhosa dádiva dos padres conciliares, naquilo que foi considerado o maior acontecimento cultural e eclesial do século XX. Sim, assumindo-se seguidor de Leão XIII, o Papa Leão XIV sinaliza uma referência simbólica que, sem necessidade de explicitar, remete diretamente para o Concílio Vaticano II e, por conseguinte, para o desejo de retomar a sua aplicação concreta e social na vida quotidiana da Igreja.

São 134 anos desde a publicação da Encíclica Rerum Novarum. O Papa Leão XIV afirmou que a Igreja, hoje, é chamada a responder a uma nova revolução industrial, marcada pelos avanços da inteligência artificial e pelas transformações do mundo do trabalho. O novo Papa eleito disse que o Papa Leão XIII, com a Encíclica Rerum Novarum, abordou "a questão social no contexto da primeira grande revolução industrial. Hoje, a Igreja oferece a todos o seu patrimônio de doutrina social para responder a uma outra revolução industrial que é o desenvolvimento da inteligência artificial, que traz novos desafios para a defesa da dignidade humana, da justiça e do trabalho". Ao encontrar os cardeais em 10 de maio, o Papa Prevost explicou com estas palavras a escolha de "assumir o nome de Leão XIV". O caminho indicado é, portanto, o da doutrina social, a ser percorrido nesse tempo dominado por desequilíbrios econômicos e novos desafios.

Rerum Novarum, escrita há mais de 100 anos atrás, não apenas apontou a desigualdade social e as condições precárias dos trabalhadores, mas também expressava uma forte esperança na possibilidade de construir uma ordem social mais justa e solidária, baseada na caridade e na colaboração entre classes. A esperança reside na crença que, com a atuação conjunta de governos, patrões, trabalhadores e da Igreja, é possível superar os problemas e alcançar um bem-estar comum.

O texto do Papa Ratti – Leão XIII - denunciava um “imperialismo internacional do dinheiro” e descreve os danos de um sistema em que as finanças dominam a economia. Uma situação muito semelhante à que vivemos hoje. Tamanha a preocupação com o mundo do trabalho, que os outros papas seguiram atualizando a Rerum Novarum. Um pilar da doutrina social da Igreja, intimamente ligada à Rerum Novarum, é a Encíclica Quadragesimo Anno, do Papa Pio XI. Pio XII, por sua vez, também retratou o tema social: “A encíclica Rerum Novarum, aproximando-se do povo, a quem abraçou com estima e amor – acrescenta Pio XII –, penetrou nos corações e mentes da classe operária e incutiu nela o sentimento cristão e a dignidade cívica”. Em sua mensagem radiofônica de 1942, na véspera do Natal, Pio XII enfatiza que a Igreja não hesita em deduzir as consequências práticas derivadas da nobreza moral do trabalho.

No 70º aniversário da Rerum Novarum, outro documento, promulgado em 15 de maio de 1961, retoma temas e questões abordados por Leão XIII. Trata-se da Encíclica Mater et Magistra, de São João XXIII. O Papa Roncalli, conhecido como o Papa bom, indica duas palavras-chaves: comunidade e socialização. "Um dos aspectos típicos que marcam a nossa época - escreve o Pontífice - é a socialização, entendida como multiplicação progressiva das relações em convivência com diversas formas de vida e atividades associadas, e a institucionalização jurídica". A Igreja é então chamada a colaborar para construir uma comunhão autêntica.

No 80º aniversário da Rerum Novarum, foi promulgada a Carta Apostólica de São Paulo VI, Octogesima Adveniens. O mundo mudou profundamente. “O crescimento excessivo das cidades”, escreveu Paulo VI, que também em 1967 promulgou a encíclica Populorum Progressio sobre o desenvolvimento dos povos, “acompanha a expansão industrial, sem se identificar com ela”. “Baseada na pesquisa tecnológica e na transformação da natureza”, escreveu o Papa Montini, “a industrialização continua seu caminho sem parar, demonstrando uma criatividade inexaurível.

No 90º aniversário da Rerum Novarum, foi promulgada a Encíclica Laborem Exercens de São João Paulo II, que trata sobre a dignidade do Trabalho. Celebramos este aniversário – escreve o Pontífice – na véspera de novos progressos nas condições tecnológicas, econômicas e políticas que, segundo muitos especialistas, influenciarão o mundo do trabalho e da produção não menos do que a revolução industrial do século passado. No centenário da Rerum Novarum, foi promulgada, em 1º de maio de 1991, a Encíclica Centesimus Annus do mesmo Pontífice. Essa encíclica do Papa Wojtyła é uma “releitura” da encíclica leonina. O Pontífice polonês exorta a “olhar para trás”, a redescobrir a riqueza dos princípios fundamentais formulados na Rerum Novarum. Todos esses documentos papais demonstram o que o Concilio Vaticano II quis que a Igreja fosse luz para a realidade dos desafios no mundo."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O olhar cristão de Sebastião Salgado

A mão do homem (Foto: Sebastião Salgado)

Cibele Battistini - publicado em 26/05/25

Neste artigo, o olhar de Sebastião Salgado, um dos mais renomados fotógrafos contemporâneos, conhecido por suas imagens que transcendem a mera estética e nos fazem refletir sobre a condição humana e as injustiças do mundo.

Seu olhar, impregnado de um profundo compromisso ético e social, revela um aspecto essencial da fé cristã, especialmente em relação à dignidade da criação e à defesa dos mais vulneráveis.

A Amazônia e os Indígenas: retratos de uma crise anunciada

As impressionantes fotografias da Amazônia e dos povos indígenas que habitam essa rica e ameaçada biodiversidade são um testemunho poderoso do que está em jogo em nossa era. A obra de Salgado, ao capturar a beleza e a fragilidade desse ecossistema, vai ao encontro do chamado do Papa Francisco em sua encíclica Laudato Si'. Nesta carta, o Papa enfatiza a necessidade urgentíssima de cuidar da nossa casa comum, alertando sobre os perigos que a degradação ambiental representa, especialmente para os habitantes mais pobres do planeta.

Salgado, com seu olhar sensível e perspicaz, nos convida a ver além da superfície das dificuldades enfrentadas pelos povos da Amazônia, revelando suas histórias, sua conexão intrínseca com a terra e a urgência de proteger seus direitos. Através de suas lentes, podemos testemunhar a riqueza cultural dos indígenas e a ameaça que representam as atividades predatórias, como o desmatamento e a exploração econômica desenfreada.

Citações de Papa Francisco: um chamado à reflexão

Durante seu pontificado, o Papa Francisco frequentemente destaca a importância de ouvir a voz dos pobres e dos excluídos. Em um de seus discursos durante o Sínodo para a Amazônia, ele mencionou: “A Amazônia é uma região que, sem dúvida, enriquece a humanidade. Ela possui uma beleza que nos toca profundamente e que deve ser protegida”. Essas palavras ecoam perfeitamente o que está retratado no trabalho de Salgado. As imagens da Amazônia que ele captura não são apenas fotografias; são apelos visuais que fazem brotar um desejo de mudança e um chamado à ação.

O Papa também reforça que a proteção do meio ambiente está intrinsicamente ligada à defesa dos direitos humanos, especialmente dos povos indígenas. Salgado, ao documentar as lutas e a resistência desses povos, alinha-se a esse chamado, defendendo um mundo onde a dignidade humana e o cuidado pela criação são valorizados em igual medida.

Laudato Si': Uma mensagem de esperança e responsabilidade

Laudato Si', publicada em 2015, se torna uma referência constante ao analisarmos o trabalho de Salgado. A encíclica abrange a interconexão de todas as criaturas e o imperativo moral de cuidar do planeta. Salgado, através de seu olhar único, oferece uma interpretação visual para esta mensagem, desafiando cada um de nós a reconsiderar nossa relação com a natureza e com os outros.

Em suas fotografias, a expressão da luta pela preservação ambiental e pelo respeito às culturas nativas ressoa com a visão do Papa Francisco de que todos somos responsáveis pelo futuro do nosso planeta. A arte fotográfica de Salgado não apenas documenta a realidade, mas também ilumina uma verdade espiritual que urge ser reconhecida: a criação é um dom que deve ser honrado.

O olhar cristão de Sebastião Salgado, manifestado nas suas poderosas imagens da Amazônia e dos indígenas, é um convite à ação e à contemplação. Ele nos desafia a enxergar a beleza e a dignidade que existem mesmo nas situações mais sombrias e a reafirmar nosso compromisso com a justiça social e ambiental. Ao alinhar sua obra com a mensagem do Papa Francisco e com os ensinamentos de Laudato Si', Salgado se torna não só um testemunha da realidade, mas um porta-voz da esperança e da responsabilidade que temos para com o mundo e suas criaturas.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/05/26/o-olhar-cristao-de-sebastiao-salgado

Leão XIV recorda os 10 anos da Laudato Si'

2024.06.27 mostra fotografica "Changes", curata da Lia e Marianna Beltrami, con il Dicastero per la Comunicazione e in collaborazione con il Dicastero per il Servizio dello Sviluppo umano integrale e il Centro di Alta Formazione Laudato Si’  (Lia e Marianna Beltrami, Dicastero per la Comunicazione,Dicastero per il Servizio dello Sviluppo umano integrale, Centro di Alta Formazione Laudato Si’)

Com uma mensagem nas redes sociais, o Papa Leão XIV recordou os 10 anos de um dos documentos mais importantes do pontificado do seu predecessor.

Vatican News com CNBB

“Dez anos da #LaudatoSi'. A Encíclica do Papa Francisco nos chama a renovar o diálogo sobre como estamos construindo o futuro do planeta, unindo-nos na busca por um desenvolvimento sustentável e integral, e comprometendo-nos a proteger a casa comum que Deus nos confiou.”

Com esta mensagem nas redes sociais, o Papa Leão XIV recordou os 10 anos de um dos documentos mais importantes do pontificado do seu predecessor. Não é a primeira vez que o Pontífice cita esta Encíclica. Esta semana, no dia 20 de maio, este texto esteve no centro da mensagem enviada aos participantes do II Encontro Sinodal de Reitores de Universidades para o Cuidado da Casa Comum, reunidos em evento na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) que se encerra este 24 de maio.

Há uma década o Papa Francisco presenteava o mundo com a Carta Encíclica Laudato Si’, um documento que se tornou referência moral, espiritual e ambiental para líderes, instituições e cidadãos preocupados com o futuro do planeta. Promulgada em 24 de maio de 2015, a Encíclica permanece atual e necessária, como afirma o arcebispo de Belo Horizonte, dom Walmor Oliveira de Azevedo, em recente artigo que reforça a urgência dos apelos lançados pelo pontífice.

Intitulada “sobre o cuidado da casa comum”Laudato Si’ é uma exortação ao compromisso ético e coletivo com a ecologia integral – um conceito que transcende a visão ambientalista tradicional ao conectar questões ambientais, sociais, econômicas e espirituais. “Apesar de promessas e acordos, ainda prevalece o interesse por lucros egoístas”, alerta dom Walmor, destacando a resistência de governos e setores econômicos em adotar mudanças profundas nos modelos de produção e consumo.

Segundo o arcebispo, a Encíclica se manteve viva nesses dez anos por insistir na conversão ecológica e na responsabilidade cidadã.

“O cuidado com a criação deve ser uma atuação de cada pessoa e todas as instituições. É também uma interpelação à prática da fé”, reforça.

Para ele, a negação da crise ecológica por parte de grupos poderosos é acompanhada por uma confiança cega nas soluções meramente técnicas, desconsiderando as dimensões éticas e espirituais do problema.

Entre os desafios apontados está a necessidade de um longo e contínuo processo educativo, ainda travado por interesses corporativos e visões limitadas. Dom Walmor cita, como exemplo, o projeto Junho Verde, iniciativa de motivação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que enfrenta dificuldades para ganhar força apesar de seu potencial transformador. O objetivo da campanha é mobilizar a sociedade para repensar estilos de vida e práticas econômicas em consonância com os valores da Laudato Si’.

O arcebispo também critica a incoerência de muitos cristãos que, embora celebrem a beleza da criação divina, não repudiam práticas destrutivas como o extrativismo predatório.

“A omissão diante da urgência ambiental ameaça o bem comum e nos afasta do desenvolvimento humano sustentável”, afirma.

Para ele, a ecologia integral propõe uma nova lógica de vida e de organização social que corrige desigualdades, discriminações e exclusões.

A mensagem da Encíclica, segundo dom Walmor, não se limita a uma convocação ambiental, mas representa um chamado à fraternidade universal.

“O meio ambiente é um bem coletivo, responsabilidade de todos, e a propriedade privada deve cumprir sua função social”, relembra, ecoando os princípios sociais da Igreja.

Ao celebrar os dez anos da Laudato Si’, o arcebispo propõe um novo ciclo de reflexão e ação, com foco na educação ambiental e na formação de consciências críticas. “Só assim poderemos trilhar um caminho mais sustentável, justo e solidário”, conclui.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 25 de maio de 2025

Leão XIV toma posse da cátedra do Bispo de Roma: "Ofereço o pouco que tenho e que sou"

Papa Leão XIV toma popsse como Bispo de Roma (Vatican Media)

Na Basílica de São João de Latrão, Leão XIV manifestou seu carinho por sua nova família diocesana, com o desejo de partilhar com ela alegrias e dores, cansaços e esperanças. "Também eu lhes ofereço o pouco que tenho e que sou", afirmou, citando as palavras do Beato João Paulo I na mesma ocasião em 1978.

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

Na tarde deste domingo, 25 de maio, Leão XIV realizou um dos gestos mais característicos no início de pontificado de um Papa: a tomada de posse da Cátedra do Bispo de Roma na Basílica de São João de Latrão.

Logo no início da celebração eucarística, o vigário do Papa para a Diocese de Roma, card. Baldassare Reina, expressou a alegria da Igreja por este momento. O Santo Padre então sentou-se na cátedra e uma representação da Igreja romana prestou a ele obediência.

A "cátedra" é a sede fixa do bispo, na igreja mãe de uma diocese, daí o nome "catedral". A palavra significa "cadeira", símbolo da autoridade e doutrina evangélica que o bispo, como sucessor dos Apóstolos, é chamado a preservar e transmitir à comunidade cristã.

Roma é considerada sede da cátedra de Pedro porque foi nesta cidade que ele concluiu a sua vida terrena com o martírio. Mais que um trono, representa o serviço e a unidade da Igreja sob a condução do Sucessor de Pedro, o Papa. E foi exatamente este o aspecto ressaltado por Leão XIV no início da sua homilia:

"A Igreja de Roma é herdeira de uma grande história, enraizada no testemunho de Pedro, de Paulo e de inúmeros mártires, e tem uma única missão, muito bem expressa pelo que está escrito na fachada desta Catedral: ser Mater omnium Ecclesiarum, Mãe de todas as Igrejas."

Na sequência, a referência foi o Papa Francisco, que com frequência convidava a meditar sobre a dimensão materna da Igreja e sobre as características que lhe são próprias: a ternura, a disponibilidade ao sacrifício e a capacidade de escuta que permite não só socorrer, mas muitas vezes prover às necessidades e às expectativas, antes mesmo que sejam manifestadas.

"Estes são traços que desejamos que cresçam em todo o povo de Deus, e também aqui, na nossa grande família diocesana: nos fiéis e nos pastores, a começar por mim", expressou Leão XIV.

O Santo Padre se inspirou nas leituras da missa para afirmar que todo desafio no anúncio do Evangelho deve ser enfrentado com escuta da voz de Deus e diálogo; que a comunhão se constrói primeiramente “de joelhos”, na oração e num compromisso contínuo de conversão. Não estamos sós nas escolhas da vida, o Espírito nos sustenta e nos indica o caminho a seguir, até nos tornarmos “carta de Cristo” uns para os outros.

"E é exatamente assim: somos tanto mais capazes de anunciar o Evangelho quanto mais nos deixamos conquistar e transformar por ele, permitindo que a força do Espírito nos purifique no íntimo, torne simples as nossas palavras, honestos e transparentes os nossos desejos, generosas as nossas ações."

Leão XIV manifestou apreço pelo exigente caminho que a Diocese de Roma está percorrendo nestes anos para acolher os seus desafios, dedicando-se sem reservas a projetos corajosos e assumindo riscos, mesmo perante cenários novos e desafiadores. Neste Jubileu, tem se esforçado para receber os peregrinos como "um lar de fé".

"Quanto a mim, expresso o desejo e o compromisso de entrar neste vasto canteiro, colocando-me, na medida do possível, à escuta de todos, para aprender, compreender e decidir juntos: «para vós sou Bispo, convosco sou cristão», como dizia Santo Agostinho. Peço que me ajudem a fazê-lo num esforço comum de oração e caridade."

Ao concluir, Leão XIV manifestou seu carinho por sua nova família diocesana, com o desejo de partilhar com ela alegrias e dores, cansaços e esperanças. "Também eu lhes ofereço 'o pouco que tenho e que sou'", afirmou, citando as palavras do Beato João Paulo I na mesma ocasião em 1978. E confiou todos à intercessão dos Santos Pedro e Paulo e "de tantos outros irmãos e irmãs, cuja santidade iluminou a história desta Igreja e as ruas desta cidade. Que a Virgem Maria nos acompanhe e interceda por nós".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Jerusalém, a cidade que viu Jesus Cristo ressurgir!

Le Saint-Sépulcre de Jérusalem | Shutterstock I sashk0

Paulo Teixeira - publicado em 20/04/25

A Cidade Santa ouviu as últimas palavras de Jesus e também foi testemunha da alegria da ressurreição.

Jerusalém conta, atualmente, com um cemitério no lugar do chamado Monte das Oliveiras. O lugar é usado para sepultura há cerca de três mil anos e tem, aproximadamente, 150 mil túmulos.  

Outro lugar enigmático é o que recorda as vítimas do holocausto e os nomes das pessoas que buscaram salvar os judeus, conhecidos como justos entre as nações. Um desses justos é Oscar Schindler, imortalizado no filme A lista de Schindler. Ele está sepultado em um cemitério católico e sua sepultura recebe muitas homenagens.  

Mas há um túmulo que chama muita atenção em Jerusalém, recebe peregrinos o ano todo e está envolvido por uma grande basílica do século IV. É um sepulcro vazio, venerado justamente por não ter ninguém lá dentro. É o santo sepulcro de Jerusalém, onde Jesus foi sepultado antes de ressuscitar. 

Um discípulo de Jesus, que o seguia em segredo, pediu para que o corpo de Jesus fosse sepultado às pressas, na sexta-feira, antes do dia santo que era sábado. José de Arimatéia devia ser um homem influente para ter conseguido essa autorização em tão breve tempo, e sobretudo, por ter conseguido descaracterizar um dos sentidos da crucificação. 

Morte na cruz

Primeiro de tudo, a cruz era um instrumento de tortura. A pessoa pregada na cruz sofria muito e agonizava enquanto os passantes viam aquilo. Era uma maneira de impor o medo, por isso os romanos faziam certa “publicidade” da crucifixão. Quando os evangelhos contam que foram quebradas as pernas dos crucificados com jesus, era para aumentar a tortura e para que não podendo se apoiar nos pés ficassem sufocados com o peso do corpo; Era um instrumento de tortura que levava inevitavelmente à morte. E o morto na cruz ficava exposto como exemplo a não ser seguido. Era uma punição exemplar. 

Túmulo

Jesus foi sepultado às pressas por intermédio desse homem influente. O sepulcro era novo, escavado na rocha. As mulheres que seguiam Jesus não tiveram tempo de preparar o corpo como convinha, com perfumes e óleos. No sábado, dia santo, não fizeram esse trabalho, mas, logo cedo do primeiro dia da semana, Madalena estava lá para prestar suas homenagens.  

É interessante notar como a morte de Jesus foi real, isto é, não foi somente simbólica ou indolor como alguns afirmaram ao longo da história. A morte de Jesus foi muito sentida por Arimatéia e Madalena, e para eles era importante dar dignidade ao mestre, mesmo depois de morto. A desesperança não tomou conta deles, mas, sim, o amor a Jesus.

Santo Sepulcro

Acredita-se que no início do cristianismo havia peregrinações a este sepulcro vazio que atesta a ressurreição de Jesus. Esta crença se dá pelo fato de o imperador Adriano ter ordenado a  construção de uma nova cidade sobre Jerusalém, por volta do ano 130, e que o local onde estava o túmulo de Jesus foi aterrado para a construção de um templo dedicado a Vênus.  

No século IV, Constantino, com sua mãe Helena, redescobriram os lugares cristãos. Construíram um majestoso templo no Santo Sepulcro que resistiu a diversos ataques e à ocupação islâmica. No ano 1000 o Santo Sepulcro foi ocupado e iniciaram-se as Cruzadas.  

Retomadas as construções, os cristãos retomaram as peregrinações. Até hoje milhares de pessoas de diversas comunidades têm Jerusalém como um centro de referência para a fé. O Santo Sepulcro é gerido por comunidades católicas e ortodoxas e acolhe peregrinos de todo o mundo. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/04/20/jerusalem-a-cidade-que-viu-jesus-cristo-ressurgir

Santo Agostinho: o cristianismo como verdadeira religião

Santo Agostinho (Chamado para Geração)

Santo Agostinho: o cristianismo como verdadeira religião

31/05/2010

Há uma interessante discussão entre Santo Agostinho e o filósofo pagão Marcos Terêncio Varrão (116-27 a.C.), no livro “A Cidade de Deus”, do santo doutor de Hipona. Primeiro Agostinho expõe o pensamento de Varrão e depois irá argumentar a favor do cristianismo como vera religio.

Aquele filósofo tinha a visão estóica de Deus e do mundo. Deus era para ele entendido como “animam motu ac ratione mundum gubernantem” (“alma que governa o mundo por meio do movimento e da razão”). Essa alma do mundo não era objeto de culto para eles, quer dizer, verdade e religião, inteligência racional e ordenamento do culto estavam em âmbitos diferentes. Dessa forma, a religião não pertence ao âmbito da realidade (res), mas ao âmbito dos costumes (mores). Sendo assim, não foram os deuses que criaram o Estado, mas foi este que estabeleceu os deuses que deveriam ser adorados, para assim manter a ordem do Estado. A religião é pois um fenômeno político.

Segundo Varrão há três tipos de “teologia”: a theologia mythica, a theologia civilis (politikéé) e a theologia naturalis (φυσιkή). Os teólogos da primeira são os poetas, são os cantores de Deus; os teólogos da segunda são os filósofos, isto é, os sábios que, indo além do costume indagam a realidade, a verdade; os teólogos da teologia civil são os “povos”, que, na sua escolha, não aderiram aos filósofos (e à verdade), mas aos poetas, às suas formas e imagens.  A teologia mítica corresponde ao teatro, que possuía uma característica inteiramente religiosa e cultual; a teologia política corresponde à urbe, porém o espaço da teologia natural seria o cosmos. A teologia mítica teria como conteúdo as fábulas criadas pelos poetas; a teologia estatal, o culto; a teologia natural responderá à pergunta: quem são os deuses?

Dessa forma, a teologia natural seria a desmitologização, o esclarecimento (Ilustração) que vê criticamente para além da aparência mítica e supera pelas ciências da natureza. Culto e conhecimento aqui se separam: o culto permanece necessário como conveniência política; o conhecimento atua como destruidor da religião, e por isso, não pode ser anunciado em público. Varrão ainda diz que a teologia natural ocupa-se da “natureza dos deuses” (que no existem) e as outras duas tratam da divina instituta hominum (as instituições divinas dos homens).  Com isso “a teologia não possui, nenhum deus, apenas ‘religião’; a ‘teologia natural’ não tem religião, apenas uma divindade”.

Santo Agostinho situa o cristianismo, segundo a tríade de Varrão, sem nenhuma dúvida no âmbito da “teologia física”, isto é, no âmbito do esclarecimento filosófico. Com isso continua a tradição antiga, de Paulo (Rom 1) aos apologistas do século II, que, por sua vez, seguem a teologia sapiencial do Antigo Testamento (e os Salmos). Sendo assim, o cristianismo encontra sua preparação interior no conhecimento filosófico e não nas religiões. Para Agostinho, pois, o monoteísmo bíblico se identifica com os conhecimentos filosóficos sobre a razão de ser do mundo.

Dessa forma, a religião cristão não se baseia em poesia ou em política, mas o seu fundamento é o verdadeiro conhecimento. No cristianismo, o conhecimento racional tornou-se religião, e não seu adversário. O cristianismo entendeu-se, desde o início, como a vitória sobre o mito, como vitória do conhecimento, como vitória da verdade e por isso, deve-se considerar a si mesmo como universal, como aquilo que todos os povos buscam. O cristianismo deve ser levado a outros povos, não pela força, mas como a verdade que torna supérflua a aparência. Por isso, o cristianismo é visto como intolerante com os deuses, como inimigo das religiões, até mesmo foi considerado “ateísmo”, pelos pagãos. O cristianismo assim perturbava o aproveitamento político das religiões. O cristianismo colocava em perigo as bases do Estado, não querendo ser uma religião entre as religiões, mas a vitória do conhecimento sobre as religiões.

Quando o Deus alcançado pelo pensamento vem ao nosso encontro no interior de uma religião, como o Deus que age e fala, então pensamento e fé se reconciliam. A partir de Cristo, o monoteísmo judaico torna-se universal, e a unidade do pensamento e a fé, a religio vera, é acessível a todos. Os primeiros cristãos (até a Idade Média) estavam convencidos que o cristianismo era filosofia, a perfeita filosofia, isto é, a filosofia que atingiu a verdade. A filosofia era entendida, então, como arte de viver e morrer corretamente, o que é alcançado só pela luz da verdade.

Da união entre o conhecimento e a fé a teologia cristã trouxe as seguintes correções na ideia filosófica de Deus antiga: 1) o Deus adorado pelos cristãos é realmente natura Deus (Deus por natureza) diferente dos deuses míticos e políticos. Ao mesmo tempo os cristãos sabiam que non tamen omnis natura est Deus (nem tudo o que é natureza é Deus). Deus é Deus por natureza, mas a natureza, enquanto tal, não é Deus. Dá-se então uma separação entre a natureza que engloba tudo e o ser que a fundamenta e lhe dá seu origem. Só assim se separam física e metafísica, natureza criada e Deus criador. Só ao Deus que é reconhecido na natureza (por meio do nosso pensamento) é adorado; 2) o Deus que antecede à natureza, como nos diz a Bíblia, se volta para o homem, não é mera natureza, mas entrou na história, veio ao encontro do homens, que por isso, podem encontrá-lo. Dessa forma o conhecimento racional pode tornar-se religião, porque o próprio Deus do conhecimento entrou na religião.

A conclusão é que no cristianismo o vínculo da religião com a metafísica e o vínculo da religião com a história se harmonizam. A partir de então a metafísica e história passam a constituir a apologia do cristianismo como vera religio. Com o Cristianismo razão e fé se encontram em harmonia, esse encontro “construiu o Ocidente”, renovou a cultura, transformou os povos, unindo-os em uma grande família, apesar de todas as resistências. Segundo Ratzinger, as Universidades, surgidas na Idade Média cristã tiveram a sua origem na pergunta socrática: que é o homem? Só no seio do cristianismo, quando fé e razão se encontraram, se pôde buscar com seriedade uma resposta a essa pergunta.

Bibliografia:

RATZINGER, J. Fé, Verdade Tolerância: o Cristianismo e as grandes religiões do mundo. São Paulo: Instituto Brasileiro de Filosofia e Ciência Raimundo Lulio, 2007.

________________. Discurso do Santo Padre Bento XVI para o Encontro na Universidade de Roma “La Sapienza”. 17 de janeiro de 2008.

Fonte: https://presbiteros.org.br/santo-agostinho-o-cristianismo-como-verdadeira-religiao/

Os frutos do Espírito Santo segundo São Tomás de Aquino

Os frutos do Espírito Santo (ACI Digital)

OS FRUTOS DO ESPÍRITO SANTO SEGUNDO SÃO TOMÁS DE AQUINO

22/05/2025

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RS)

São Tomás de Aquino, ao refletir sobre os frutos do Espírito Santo na Summa Theologiae (I-II, q. 70), nos oferece um ensinamento profundo e, ao mesmo tempo, muito atual: os atos virtuosos, quando praticados com liberdade e movidos pelo Espírito de Deus, não apenas cumprem um dever, mas trazem alegria verdadeira e realização interior. Em outras palavras, vale a pena viver o bem, não por medo de castigos, mas porque o bem gera sabor, paz e plenitude para quem o pratica.

São Paulo, na Carta aos Gálatas (5,22-23), enumera os frutos do Espírito: caridade, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, longanimidade, mansidão, fidelidade, modéstia, continência e castidade. São Tomás busca compreender o que esses frutos significam e como se manifestam na vida cristã.

O primeiro ponto que ele explica é que esses frutos são atos humanos inspirados pelo Espírito Santo, comparáveis aos frutos de uma árvore: são resultado de um processo interior de crescimento e amadurecimento. Mas, diferentemente dos frutos materiais, os frutos espirituais são agradáveis não ao paladar, mas à alma. Eles proporcionam uma alegria pura e serena para quem os pratica, pois são sinais de que a vida está bem ordenada, conforme o plano de Deus.

São Tomás destaca que o termo “fruto” tem dois sentidos: indica aquilo que o ser humano produz, mas também aquilo que saboreia, ou seja, aquilo em que ele encontra realização e alegria. Assim, a prática do bem não é apenas uma obrigação moral, mas um caminho de prazer espiritual. A pessoa virtuosa se alegra no bem, porque nele encontra um gosto que nenhuma experiência passageira consegue oferecer.

Ao comparar os frutos com as bem-aventuranças evangélicas, São Tomás mostra que, embora ambas falem da felicidade, os frutos são mais cotidianos, mais acessíveis. As bem-aventuranças apontam para a perfeição dos santos, enquanto os frutos do Espírito estão ao alcance de todos os que, mesmo em meio às lutas da vida, se deixam conduzir pela graça. Por isso, praticar a paciência, a mansidão, a fidelidade, ou viver com alegria e caridade, já é experimentar algo do céu aqui na terra.

São Tomás organiza os frutos de forma pedagógica: alguns dizem respeito à vida interior (caridade, alegria, paz, paciência, longanimidade); outros, à relação com o próximo (bondade, benignidade, mansidão, fidelidade); e outros ainda ao modo como lidamos com nossos próprios impulsos e com o mundo ao redor (modéstia, continência, castidade). É o Espírito Santo quem vai ordenando todas essas dimensões da vida, tornando o ser humano mais inteiro, mais livre e mais feliz.

Além disso, São Tomás explica que esses frutos se opõem às chamadas “obras da carne”, como a inveja, a ira, a impureza ou a discórdia, que desfiguram a vida humana. Os frutos do Espírito, ao contrário, elevam, pacificam, dão sentido. Eles não são apenas mandamentos a serem seguidos, mas sinais de que Deus está agindo em nós.

A doutrina tomista dos frutos do Espírito é, assim, uma verdadeira pedagogia da felicidade cristã. Ela nos ensina que a vida virtuosa não é um fardo, mas uma fonte de sabor e liberdade interior. Praticar o bem, mesmo quando custa, torna o coração mais leve, o olhar mais luminoso, a vida mais fecunda. Não se trata de buscar recompensas futuras, mas de já experimentar, aqui e agora, os sinais da vida nova em Cristo.

Portanto, como bem conclui São Tomás, os frutos do Espírito são atos bons que permanecem, porque nascem de uma vida conduzida por Deus. Como árvores boas, somos chamados a produzir esses frutos — e, ao colhê-los, descobrir que a alegria verdadeira nasce da fidelidade ao bem. Viver no Espírito é, afinal, o que nos realiza plenamente!

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Reflexão para o VI Domingo da Páscoa (C)

Evangelho do domingo (Vatican News)

Não somente o Pai e o Filho querem habitar nos discípulos, mas o Espírito Santo também habitará neles para ensinar e fazer recordar-se de tudo o que Jesus lhes disse.

Vatican News

Jesus gostava de dizer que nunca estava só. Vemo-lo retirar-se para a montanha, só, mas para se juntar a seu Pai. E promete aos discípulos não os deixar órfãos porque lhes enviará o seu Espírito, o Espírito Santo, o Defensor.

Na hora das grandes confidências, pouco tempo antes da sua paixão, Jesus anuncia aos seus discípulos que virá habitar neles com o seu Pai, na condição de permanecerem fiéis à sua palavra. Parece dizer: «se quereis que venhamos habitar em vós, aceitai morar na fidelidade a toda a mensagem que vos transmiti».

Não somente o Pai e o Filho querem habitar nos discípulos, mas o Espírito Santo também habitará neles para ensinar e fazer recordar-se de tudo o que Jesus lhes disse. Sabemos que há duas formas de morte: a morte física e o esquecimento.

Jesus veio anunciar aos seus discípulos que, após a sua morte, Ele ressuscitará, e o Espírito Santo ajudará os discípulos a não esquecer o que fez e disse: eles farão memória, recordando-se d’Ele, mas, sobretudo, proclamando-O vivo hoje até à sua vinda na glória.

E uma forma de Cristo perpetuar a sua memória e a sua mensagem viva e real entre nós é precisamente através do sacerdócio.

Por isso é sempre oportuno reafirmar a importância, o valor, a necessidade e a beleza do sacerdócio na vida e na missão da Igreja.

O sacerdócio ministerial é o sacerdócio dos bispos e padres (não dos diáconos); o sacerdócio comum dos fiéis é o sacerdócio de todos os batizados. Sacerdote significa: aquele que oferece o sacrifício. E sacrifício significa oferta sagrada. Então, o sacerdote é aquele que oferece a Deus um sacrifício.

Cristo é, a bem dizer, o único verdadeiro sacerdote: sacerdote único e eterno porque Se ofereceu a Si mesmo no altar da cruz. Ele próprio é, ao mesmo tempo, o sacerdote e a oferta.

Chamamos sacerdotes aos padres porque, agindo «na pessoa de Cristo Cabeça», eles oferecem no altar o sacrifício de Cristo na Cruz, atualizado através da Eucaristia. Porém, todo o batizado é, pelo seu baptismo, sacerdote, como Cristo.

Então, sendo sacerdotes, que oferta sagrada é que oferecem a Deus? O cristão oferece a Deus em sacrifício a sua vida. Isto não que dizer que faça da sua vida um sacrifício, sofrimento, mas sim um sacrifício, oferta a Deus, oblação.

Embora os seus sofrimentos também façam parte da sua oferta, pois o batizado consagra ao seu Senhor toda a sua vida, tudo aquilo que é. Ele é consagrado pelo baptismo e pela unção do Espírito Santo para oferecer, mediante todas as obras do cristão, sacrifícios espirituais.

Este «sacerdócio comum» é o de Cristo, único Sacerdote, do qual participam todos os seus membros. E é o selo baptismal os compromete e os torna capazes de: servir a Deus mediante uma participação viva na santa liturgia da Igreja; e de exercer o seu sacerdócio baptismal pelo testemunho duma vida santa e duma caridade eficaz.

Sacerdócio comum e ministerial são duas participações no mesmo sacerdócio de Cristo, Único Sacerdote. Sacerdócio «comum» não quer dizer inferior. Bem pelo contrário, o sacerdócio ministerial (dos bispos/padres) existe por causa do sacerdócio comum (de todos os batizados), e não o contrário.

Na verdade, o sacerdócio comum dos fiéis realiza-se através do desenvolvimento do seu baptismo: vivendo uma vida de fé, esperança e caridade, uma vida segundo o Espírito. Ora, o sacerdócio ministerial proporciona ao batizado os meios de que ele necessita para viver a vida divina que recebeu no baptismo. O sacerdote é um dispensador desses meios, principalmente dos sacramentos. Ninguém tem direito a ser padre: a comunidade é que tem direito a que ele seja padre!

Mas os padres continuam a viver, também, o sacerdócio comum dos fiéis. Antes de serem padres são batizados: «Convosco sou cristão; para vós sou bispo» (Santo Agostinho).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF