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sábado, 2 de agosto de 2025

Jovens precisam encontrar Jesus e não apenas conhecê-lo

fizkes | Shutterstock

Philip Kosloski - publicado em 01/08/25

Muitos jovens foram ensinados sobre Jesus desde o nascimento, mas esse conhecimento precisa levar a um encontro que torne a fé duradoura.

É comum ouvir católicos mais velhos lamentarem o fato de tantos jovens perderem a fé após se formarem no ensino médio. Muitos desses jovens aprenderam a fé católica desde pequenos e até frequentaram escolas católicas.

No entanto, todo esse conhecimento sobre Jesus e a Igreja não sustentou sua fé diante das tempestades da vida.

O que faltou em suas vidas? O que poderia aproximá-los verdadeiramente de Cristo?

Um encontro com Jesus

São João Paulo II abordou diretamente esse tema em uma carta aos jovens de Roma, em 1997:

“Vocês certamente já ouviram falar d’Ele desde pequenos. Mas deixem-me fazer uma pergunta: vocês realmente O encontraram? Pela fé, já tiveram uma experiência viva d’Ele como um amigo leal e fiel, ou sua imagem ainda parece distante demais dos seus problemas reais para despertar qualquer interesse?”

É possível frequentar escolas católicas a vida toda e ainda assim nunca ter “encontrado” Jesus de maneira íntima.

Isso significa mudar nossa visão de Jesus: de uma figura histórica para alguém vivo e ao nosso lado, como explica São João Paulo II:

“Jesus não é apenas uma grande figura do passado, um mestre de vida e moral. Ele é o Senhor ressuscitado, o Deus próximo de cada pessoa, com quem podemos falar e com quem podemos experimentar a alegria da amizade, a esperança nas dificuldades e a certeza de um futuro melhor.”

Muitas vezes, os jovens não são apresentados a essa realidade simples: Deus não está “nas nuvens”, mas ao lado deles. Ele está à porta, batendo nos corações.

Jesus é alguém que quer fazer parte da vida de cada pessoa. Ele quer estar conosco nas alegrias e nas tristezas e, acima de tudo, quer nos amar.

O que os jovens precisam fazer é se abrir a esse amor, como proclama São João Paulo II:

“Queridos jovens, quem não quer amar e ser amado? Mas, para experimentar um amor sincero, é preciso abrir a porta do coração a Jesus e seguir o caminho que Ele traçou com a própria vida: o caminho da doação de si. Esse é o segredo do sucesso de qualquer verdadeiro chamado ao amor — especialmente daquele que nasce de forma surpreendente no coração de um adolescente e que conduz ao matrimônio, ao sacerdócio ou à vida consagrada.”

Se queremos que os jovens permaneçam firmes na fé ao crescerem, eles precisam “encontrar” Jesus no caminho de suas vidas.

O conhecimento é bom — mas precisa conduzir a algo mais profundo: um encontro com o Senhor Ressuscitado.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/08/01/jovens-precisam-encontrar-jesus-e-nao-apenas-conhece-lo/

Peregrinos porque chamados

Peregrinos porque chamados (Diocese de São Carlos)

PEREGRINOS PORQUE CHAMADOS

01/08/2025

Dom João Santos Cardoso 
Arcebispo de Natal (RN)

Neste mês de agosto de 2025, em que a Igreja celebra a 44ª edição do Mês Vocacional, em sintonia com o Ano Jubilar, temos uma oportunidade privilegiada de escutar o Senhor, discernir e renovar o chamado que Ele dirige a cada um de nós. 

O tema deste Mês Vocacional – “Peregrinos porque chamados” – remete à condição existencial do cristão, alguém que está sempre a caminho, em busca, em resposta a uma Voz que chama, convoca e envia. O lema, inspirado na Carta de São Paulo aos Romanos – “A esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações” (Rm 5,5) –, recorda que toda vocação nasce do amor gratuito de Deus e se sustenta na esperança ativa de quem crê, ama e serve. 

Em sua Mensagem para o 62º Dia Mundial de Oração pelas Vocações, o Papa Francisco afirma que “toda vocação é animada pela esperança, que se traduz em confiança na Providência. Com efeito, para o cristão, ter esperança é mais do que um simples otimismo humano: é antes uma certeza enraizada na fé em Deus, que age na história de cada pessoa. E, deste modo, a vocação amadurece através do compromisso quotidiano de fidelidade ao Evangelho, na oração, no discernimento e no serviço.” 

O tema deste Mês Vocacional está em plena sintonia com a referida Mensagem do Papa Francisco, na qual ele recorda que “toda vocação na Igreja – seja laical, seja ao ministério ordenado, seja à vida consagrada – é sinal da esperança que Deus nutre pelo mundo e por cada um dos seus filhos”. Neste contexto, é oportuno contemplar a riqueza das diversas vocações presentes na vida da Igreja: a vocação laical, a vocação matrimonial, a vida consagrada e o ministério ordenado. 

A vocação é, antes de tudo, um dom. Não nasce do mérito pessoal, mas é fruto da iniciativa amorosa de Deus, que chama a quem quer, independentemente de suas virtudes, e o envia em missão. Como afirma o Papa Francisco: “A vocação é um dom precioso que Deus semeia nos corações, uma chamada a sair de si mesmo para trilhar um caminho de amor e serviço.” 

Todas as vocações na Igreja são essenciais, pois manifestam a multiforme graça do Espírito Santo e contribuem para a edificação do Corpo de Cristo. Contudo, nesta reflexão, desejo enfatizar particularmente a vocação sacerdotal, não apenas por sua centralidade na vida e missão da Igreja, mas também por seu papel insubstituível no anúncio da Palavra, na presidência da Eucaristia, no perdão dos pecados e no pastoreio do povo de Deus. O sacerdote é chamado a ser alter Christus, homem de Deus no meio do povo, servidor da comunhão e missionário da esperança. Ao presidir os sacramentos, formar comunidades e consolar os aflitos, torna-se presença sacramental de Cristo, o Bom Pastor. 

A vocação sacerdotal é belíssima, embora marcada por uma entrega total e exigente. Requer fidelidade cotidiana, proximidade com Deus e com o povo, além de disponibilidade para servir com alegria, mesmo em meio a desafios e renúncias. 

A juventude é terreno fértil para o despertar vocacional. Contudo, muitos jovens vivem imersos na incerteza, na desorientação e na crise de sentido, realidades agravadas pela cultura digital, pela precariedade social e pelas feridas interiores. Por isso, a Igreja é chamada a oferecer uma pastoral vocacional ousada, acolhedora e perseverante. Todo o processo vocacional deve ser vivido como um itinerário de escuta, discernimento e acompanhamento, no qual os jovens possam descobrir sua vocação como resposta ao amor de Deus e fonte de esperança para o mundo.  

A Igreja será sempre viva e fecunda na medida em que souber gerar, acompanhar e sustentar vocações. A oração, a escuta da Palavra, o testemunho coerente e o discernimento comunitário são os pilares de uma verdadeira cultura vocacional. “Descobrir o amor de Deus e ser homens e mulheres de esperança” é tarefa de cada batizado e de toda a comunidade cristã. Portanto, neste mês de agosto, elevemos ao Senhor da Messe nossa súplica: que Ele continue a chamar e que suscite em nossos corações a coragem de responder com fé e generosidade. Que cada pessoa, peregrina neste mundo, saiba reconhecer o chamado de Deus e, com amor, doe sua vida como sinal de esperança. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Os jovens nos confessionários do Circo Máximo: "Juntos para mudar o mundo"

(@Vatican Media)

No coração do seu Jubileu, neste 1º de agosto, os jovens vivem a Jornada Penitencial: mil sacerdotes atendem confissões em dez línguas, em duzentos gazebos dispostos em fileiras. "Em meio a todas essas pessoas e em um lugar que não é exatamente silencioso", conta Miriam, uma peregrina da região de Marche, "nunca pensamos que sentiríamos o abraço de Deus com tanta força."

Lorena Leonardi - Roma

"Cada bênção é o primeiro dia de uma nova vida, e agora eu me sinto exatamente assim." Martina tem 29 anos e vem de Foggia, no sul da Itália, junto com uma dúzia de fiéis, todos com menos de 30 anos, da Paróquia de São Guilherme e Pellegrino. Ela acaba de se confessar e é uma entre os milhares de peregrinos que vieram a Roma para o Jubileu da Jovens e que se reúnem no Circo Máximo nesta sexta-feira, para a Jornada Penitencial. 

Em preparação para a Vigília com Leão XIV na noite de sábado, e com o objetivo de oferecer o acesso ao Sacramento da Reconciliação ao maior número possível de jovens, 200 confessionários foram montados em várias fileiras e mais de 1.000 sacerdotes estão disponíveis para ouvir confissões em dez idiomas diferentes.

A Jornada Penitencial no Circo Máximo:

https://youtu.be/mJGTSwXHTeA

Um dia para se reconciliar

Os portões foram abertos às 10 horas, permitindo aos jovens o acesso à antiga arena romana de 85.000 metros quadrados, aninhada no vale entre as colinas do Palatino e do Aventino.

Sob a primeira e ampla tenda, garrafas de água são distribuídas para que os jovens possam recarregar as energias após a espera e os longos deslocamentos realizados no início da manhã, a pé e ou com transporte público, partindo dos locais onde passaram a noite — além da "Fiera Roma", albergues, paróquias e escolas. Os duzentos confessionários ficam literalmente lotados: cartazes com bandeiras indicam os idiomas falados pelos sacerdotes que aguardam os jovens lá dentro — alguns com a ajuda de um ventilador portátil.

Cartazes indicam as línguas com as quais os sacerdotes atendem as confissões.   (@Vatican Media)

Jovens corações "ardentes"

Assim como estes últimos, os confessores também são provenientes de várias partes do mundo. Padre Mark Destura, de 40 anos, de origem filipina, atua na pastoral juvenil e vocacional em uma paróquia de Los Angeles, Califórnia, e atualmente estuda na Pontifícia Universidade Gregoriana. As idas e vindas são constantes, mas entre as confissões, o sacerdote consegue transmitir "o fogo que arde nestes corações jovens e igualmente sensíveis": o que o impressiona é a "grande necessidade de Deus" e a "busca de esperança neste mundo dominado pela incerteza e pela confusão".

Após as absolvições, os padres apertam as mãos dos jovens, que se levantam com um sorriso e se juntam aos seus companheiros de viagem. Maria José agora se sente "plena, feliz". Ele vem de Cartagena, na Espanha, e participa do Jubileu como membro de uma organização educacional ligada às Irmãs Carmelitas da Caridade de Vedruna: "Nunca vi tantos católicos juntos, quase me dá vontade de pular de emoção. Quando eu voltar - conclui - me esforçarei para transmitir melhor a fé aos meus alunos adolescentes".

Os confessionários montados no Circo Máximo (@Vatican Media)

Sinais de esperança e paz

De Houston, Texas, vêm Matthew e Gonzalo, de 17 anos, que partiram com o movimento Regnum Christi: "Tudo isso — Matthew aponta com os braços para a extensão dos gazebos — é um presente que vem da misericórdia de Deus, que nos concede a cada dia a oportunidade de viver melhor do que no dia anterior". "Não nos conhecemos todos, mas estamos aqui pelo mesmo motivo: Deus, que é a esperança que adquirimos aqui, mas que levamos para onde quer que vamos, com nossas famílias, com a escola -  ecoa Gonzalo - superemocionado com a ideia de conhecer o 'novo Papa': se viemos de tantos países diferentes e estamos aqui juntos como uma grande família, talvez possamos realmente ser um sinal de esperança de paz para o mundo inteiro", reflete com uma lógica desarmante.

As confissões no Circo Máximo   (@Vatican Media)

Barulho fora, silêncio dentro

Miriam, que veio da região das Marcas (Itália), com a Renovação no Espírito Santo, também acabou de se confessar. A italiana de 26 anos descreve o momento como "um momento muito profundo. No meio de todas essas pessoas e em um lugar que não é exatamente silencioso, não pensei que sentiria o abraço de Deus com tanta força e o conforto nas palavras do padre. Sinto-me muito mais leve; há muito tempo não vivenciava uma confissão espiritual tão profunda. Valeu a pena."

Ser credível todos os dias

Um grupo de jovens da Apúlia, membros da Ação Católica, relembra com entusiasmo o encontro no entardecer de quinta-feira na Praça de São Pedro, para o encontro jubilar dos jovens italianos, organizado pela Conferência Episcopal Italiana (CEI). A promessa "é levar um pouco do Jubileu aos que ficaram para trás", brinca Alessandro, de 30 anos, descrevendo seu compromisso diário de "não ser preconceituoso nem crítico, mas credível, vivendo o Evangelho de forma concreta". "Às vezes conseguimos e sempre tentamos", ecoa Claudia, de 17 anos.

Fiéis participam da Jornada Penitencial pelo Jubileu da Juventude, no Circo Máximo, em Roma, Itália, em 1º de agosto de 2025. ANSA/ANGELO CARCONI   (ANSA)

Nunca sozinhos

Elias, Verônica e Carlos, paraguaios de 25 anos de Assunção, sentem-se "privilegiados": "Estamos impressionados ao ver tantos jovens com a mesma fé, que falam tantas línguas diferentes, mas acreditam nas mesmas coisas. É claro que não estamos sozinhos e, se somos tantos, significa que realmente podemos mudar o mundo."

Manual Youcat sobre Confissão

Vinte voluntários da Fundação Youcat estão atualmente distribuindo dez mil exemplares do livro Youcat sobre confissão. Publicado pela primeira vez em 2014, o volume foi atualizado para o Jubileu da Juventude e está disponível em italiano, inglês, francês e alemão. A nova edição inclui um exame de consciência, explicações sobre o significado da confissão e orações.

Youcat ajuda jovens a prepararem a confissão (@Vatican Media)
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Não somos turistas espirituais, diz manifesto de jovens em Roma por uma Europa com alma

Jovens levantam suas vozes hoje (1) na basílica de Santa Maria em Trastevere, em Roma. | Daniel Ibáñez/EWTN News

Por Almudena Martínez-Bordiú*

1 de ago. de 2025

“Não somos turistas espirituais. Somos peregrinos de significado. Viemos com mochilas cheias de dúvidas, feridas, canções e esperança. E com uma certeza no coração: Cristo está vivo. E Ele nos chama”.

Assim começa o "Manifesto dos Jovens Cristãos da Europa", cerne do projeto Roma 25, Santiago 27, Jerusalém 33, que visa "restaurar a alma" do Velho Continente e convida os cristãos a encontrar o Senhor por meio da peregrinação, da cura e da evangelização.

Essa iniciativa, que começou há dois anos com o apoio da subcomissão episcopal para a Juventude e a Infância da Conferência Episcopal Espanhola, da arquidiocese de Santiago de Compostela e da Igreja em Jerusalém, convida jovens cristãos de todo o continente a trilhar um caminho de fé e esperança em vista do Jubileu da Redenção, que será celebrado em 2033, ao se completar o segundo milênio da Paixão e Ressurreição de Jesus.

A iniciativa também tem apoio da Santa Sé e do papa Leão XIV, a quem a iniciativa foi apresentada depois de uma audiência geral no Vaticano em 25 de junho.

O momento-chave do projeto ocorreu hoje (1º) de manhã, no âmbito do Jubileu da Juventude. Muitos jovens se reuniram hoje de manhã na basílica de Santa Maria em Trastevere para assinar o manifesto, que dá voz a uma geração que deseja criar uma nova Europa com Cristo no centro.

"Esse manifesto é um ato de fé e um chamado à esperança”, disse Fernando Moscardó, um dos jovens porta-vozes do projeto, na apresentação da iniciativa em Roma no mês passado.

“É a voz de uma juventude que não quer ficar de fora, que não precisa dizer com veemência: Queremos mais, queremos Cristo no centro (...) A revolução começou; o Espírito está soprando".

Na ocasião, monsenhor Marco Gnavi, pároco de Santa Maria em Trastevere e anfitrião do evento de hoje, disse estar “surpreso com o entusiasmo dos jovens”, especialmente num momento de “mudanças dolorosas”.

O documento foi publicado no site (em inglês, espanhol e italiano) oficial do projeto, e todos os "que se sentem parte dele" são incentivados a assiná-lo.

*Almudena Martínez-Bordiú é uma jornalista espanhola correspondente da ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, em Roma e no Vaticano, com quatro anos de experiência em informação religiosa.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63903/nao-somos-turistas-espirituais-diz-manifesto-de-jovens-em-roma-por-uma-europa-com-alma

Curiosidades da Bíblia: a desconhecida civilização dos arameus

Sagrada Escritura (Vatican News)

Apesar de terem perdido a independência política, o legado dos arameus perdurou através dos séculos, principalmente através da língua e da cultura que continuaram a influenciar o desenvolvimento do Oriente Médio até os dias atuais.

Padre José Inácio de Medeiros, CSsR - Instituto Histórico Redentorista

“Então vocês declararão perante o Senhor, o seu Deus: 'O meu pai era um arameu errante. Ele desceu ao Egito com pouca gente e ali viveu e se tornou uma grande nação, poderosa e numerosa. Mas os egípcios nos maltrataram e nos oprimiram, sujeitando-nos a trabalhos forçados. Então clamamos ao Senhor, o Deus dos nossos antepassados, e o Senhor ouviu a nossa voz e viu o nosso sofrimento, a nossa fadiga e a opressão que sofríamos. Por isso o Senhor nos tirou do Egito com mão poderosa e braço forte, com feitos temíveis e com sinais e maravilhas. Ele nos trouxe a este lugar e nos deu esta terra, terra onde há leite e mel com fartura”. (Dt 26,5)

Para conhecermos melhor as Sagradas Escrituras, inclusive a ligação de Jesus com a história de seu povo, precisamos conhecer um pouco sobre a Civilização Aramaica.

Os arameus foram um antigo povo semítico que habitou as terras do chamado Crescente Fértil, na região que abrange partes do atual Oriente Médio, incluindo partes da Síria, Turquia, Iraque e Irã, durante grande parte da história antiga. O povo arameu deixou profundas marcas na história da região, contribuindo significativamente para a cultura, língua e política do mundo antigo.

Origem da civilização aramaica

Além do texto do Livro do Deuteronômio com o qual iniciamos este episódio várias passagens da Bíblia mencionam os Arameus, povo oriundo da Mesopotâmia, do lugar chamado de Aram-Naharaim, ou Aram dos dois rios, além das regiões circunvizinhas, como a Síria, a Pérsia, o vale do Jordão ou as montanhas do Líbano.

Os arameus formavam tribos de pastores que habitavam a região de Arã-Naharaim, fazendo fronteira com Assur (até 323 a.C.), quando foi absorvida pelos gregos que renomearam a região como Selêucida (323-64 a.C.). Conquistada pelos romanos a região recebeu o nome de Síria (64 a.C.-636 d.C.) que mantem até nos dias de hoje.

Os arameus desempenharam um importante papel na história política do Oriente Médio. Por volta do século II a.C., conseguiram estabelecer vários estados independentes conhecidos como "reinos arameus". Um deles, o Reino de Arã, com sua capital em Damasco se destacou, exercendo influência sobre a região por vários séculos chegando a desafiar a hegemonia dos reinos vizinhos, incluindo Israel e Judá.

Conforme narra o Segundo Livro de Samuel, no processo de ocupação da região pelos Hebreus, o Rei Davi enfrentou e venceu o reino arameu de Damasco, capital da Síria moderna.

Davi se apossou de mil dos seus carros de guerra, sete mil cavaleiros e vinte mil soldados de infantaria. Ainda levou cem cavalos de carros de guerra, e aleijou todos os outros. Quando os arameus de Damasco vieram ajudar Hadadezer, rei de Zobá, Davi matou vinte e dois mil deles. Em seguida estabeleceu guarnições militares no reino dos arameus de Damasco, sujeitando-os a lhe pagarem impostos. E o Senhor dava vitórias a Davi aonde quer que ele fosse. (II Sam 8, 4-6)

A língua falada por Jesus

A língua aramaica se consolidou como uma das línguas semíticas mais importantes da antiguidade, sendo adotada como a língua administrativa do Império Persa, usada em documentos oficiais e diplomáticos.

O aramaico era uma das línguas faladas por Jesus Cristo e pelos seus discípulos, tornando-se importante no contexto do Cristianismo primitivo. Jesus falava o aramaico porque era a língua do dia a dia do Oriente Médio. Se o grego era a linga comercial, o aramaico era falado pelas pessoas mais simples em seu quotidiano, tanto que partes do Novo Testamento foram escritas nesta linga e o evangelho preserva várias expressões em aramaico.

O povo que vivia em cidades e pequenas povoações da Galileia, na região norte e em cidades como Cafarnaum, Nazaré, Caná, Tiberíades, Corazim falava o aramaico. Ali Jesus foi educado, cresceu e passou a maior parte de sua vida.

Fora das fronteiras da Galiléia o aramaico também era falado e entendido porque somente se usava a língua hebraica no ambiente religioso.

Herança dos arameus

Além das realizações políticas e linguísticas, os arameus deram diversas contribuições para a cultura e sociedade do Oriente Médio antigo. Sua arte e artesanato refletiam a rica tradição cultural, evidenciada nas esculturas, cerâmicas e artefatos como os que foram descobertos em sítios arqueológicos dos arameus. Eles também eram conhecidos pelas habilidades comerciais e pelas técnicas agrícolas avançadas que contribuíram para a prosperidade de suas cidades e de seus reinos.

Seu apogeu e queda estão ligados às mudanças políticas e militares da região. A partir do século VIII a.C., o domínio assírio levou à gradual assimilação dos arameus em seus vastos domínios. Depois veio a dominação do Império Neobabilônico e do Império Persa Aquemênida que governaram sobre as terras arameias, consolidando a influência persa na região e marcando o declínio de sua civilização.

Apesar de terem perdido a independência política, o legado dos arameus perdurou através dos séculos, principalmente através da língua e da cultura que continuaram a influenciar o desenvolvimento do Oriente Médio até os dias atuais.

Atualmente, pouco mais de dois mil arameus considerados puritanos vivem na Síria, na Turquia e numa pequena região do Iraque, mas estão ameaçados de extinção por conviverem em um ambiente próximo do domínio islâmico, enfrentando exércitos turcos e guerrilheiros curdos.

O povo arameu continua, entretanto, representando uma peça importante no quebra-cabeça da história de ontem e de hoje do Oriente Médio, como testemunho de uma civilização que deixou sua marca duradoura na região.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Jovens brasileiros presentes no Jubileu em Roma

Jovens brasileiros presentes no Jubileu em Roma (Vatican Media)

Roma nestes dias acolhe jovens de todas as partes do mundo - peregrinos de 146 países - para o Jubileu dos Jovens. Entre eles, grupos de brasileiros que participam de uma programação, que teve início na segunda-feira (28), e segue até este domingo, 03 de agosto, no coração da fé católica. A presença dos jovens brasileiros.

Silvonei José – Vatican News

A iniciativa do Jubileu dos Jovens havia sido anunciada pelo Papa Francisco no fim da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, em Portugal, em 2023. “Marco encontro com os jovens de todo o mundo no ano 2025, em Roma, para celebrarmos juntos o Jubileu dos jovens”, disse o pontífice na ocasião.

Mas quem acolheu os jovens foi o Papa Leão XIV, que no início da noite de terça-feira, a surpresa saudou os jovens na conclusão da Santa Missa na Praça São Pedro. Aproximadamente 120 mil jovens participaram da celebração eucarística presidida por dom Rino Fisichella. 

Ao final da missa, o Papa Leão XIV fez questão de comparecer à Praça São Pedro para saudar a juventude. A bordo do papamóvel, o Santo Padre percorreu os corredores da praça vaticana e toda a Via da Conciliação, acenando e recebendo o afeto dos presentes, que acolheram com grande alegria a surpresa do Pontífice. Ele dirigiu aos fiéis palavras de acolhimento e fez um convite à oração pela paz no mundo em inglês, italiano e espanhol:

Jovens na Basílica de São Pedro (Vatican Media)

"Esperamos que todos vocês sejam sempre sinais de esperança! Hoje estamos começando. Nos próximos dias, vocês terão a oportunidade de ser uma força que pode levar a graça de Deus, uma mensagem de esperança, uma luz para a cidade de Roma, para a Itália e para todo o mundo. Caminhemos juntos com a nossa fé em Jesus Cristo. E o nosso grito deve ser também pela paz no mundo", e fez um pedido aos jovens:

“Digamos todos: Queremos a paz no mundo!”

"Rezemos pela paz e sejamos testemunhas da paz de Jesus Cristo, da reconciliação, essa luz do mundo que todos estamos buscando. Nos vemos. Nos encontraremos em Tor Vergata. Boa semana!", concluiu o Papa. 

Jovens na Basílica de São Pedro (Vatican Media)

Jovens brasileiros

Ítalo Andreatto da paróquia de São Judas Tadeu, Mogi Guaçu acompanha jovens brasileiros junto com o padre Lucas dos Santos Janucci, presbítero da Diocese de São João da Boa Vista, que exerce seu ministério na paróquia São José de Estiva Gerbi-SP. Ele diz que “acompanho nestes dias com muita alegria um grupo de peregrinos de nossa Diocese, composto pelos jovens do Caminho Neocatecumenal, que ao todo compõe-se de 150 jovens, ao Jubileu da Esperança”.

“Partilho a beleza de ver como eles tem tocado com a vida o que até então já viviam pela fé e colher deles o testemunho rico de suas experiências”, afirmou.

O padre Lucas destaca que “neste tempo temos rezado muito e com a esperança viva em nós, cantado pelas ruas das cidades que temos passado. Nelas o próprio povo reconhece o anúncio da Boa Nova de que Cristo Ressuscitou e de que a Igreja é jovem e anseia encontra-se com o Santo Padre nos próximos dias e ali ser confirmados na fé e abraçar a vocação e a missão”.

Jovens em Assis (Vatican Media)

O jovem Paulo Augusto de Aguiar Antunes da Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Mogi Guaçu do Caminho Neocatecumenal, disse que “essa Peregrinação tem sido um presente de Deus na minha vida, graças a ajuda de muitos irmãos eu e mais dois jovens de nossa paróquia temos a chance de viver essa experiência extraordinária”.

“O Senhor – afirmou ele -, vem se mostrando em cada detalhe por onde passamos, poder sair da nossa zona de conforto para peregrinar é algo difícil, mas com a providência de Deus vem me animando e ajudando na minha caminhada dentro da igreja”.

“Até o momento passamos por diversas Igrejas e santuários, mas em todos os lugares o Senhor me mostra uma palavra de conversão que me convida a mudar, a voltar para casa como um novo jovem cristão”.

Jovens brasileiros (Vatican Media)

Também a jovem Ana Karolina Macedo, da 5ª comunidade da Paróquia do Rosário, localizada em São João da Boa Vista, SP que atualmente está no pré-catecumenato deu seu testemunho: “essa é a minha primeira peregrinação, e ela foi um verdadeiro presente de Deus, uma experiência marcada pela providência divina. Ele me concedeu essa graça por meio de uma pessoa muito especial e também através de muito trabalho”.

“Minha experiência está sendo viva, única e profunda, na qual Deus nos demonstra o seu amor e carinho! É difícil descrever tudo o que estou sentindo. Visitar os lugares onde viveram os santos pelos quais tenho grande devoção foi uma emoção imensa, foi como caminhar com eles”.

Ela confessa: “nunca havia dormido fora de casa ou ficado tantos dias longe da minha família. Até brinquei dizendo que achava que iria chorar querendo voltar, mas, na verdade, estou chorando porque não quero ir embora. Está sendo uma vivência transformadora”.

Jovens em Monte Cassino (Vatican Media)

“O momento que mais me marcou foi a visita ao túmulo de São Francisco de Assis. Naquele instante, não consegui conter as lágrimas. Admiro profundamente a humildade e a coragem que ele teve para abandonar tudo e seguir a vontade de Deus”.

“Senti, nesse momento, que Deus também nos chama. A mim, a você, a todos. Ele nos chama à santidade. Mas mais do que isso: Ele quer nos revelar algo maior. Para isso, é preciso estar atento, abrir o coração e decidir caminhar com Ele”, concluiu ela.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Chegando à fé pelo Caminho de Santigo

Os caminhos de Santiago (Shutterstock)

Chegando à fé pelo Caminho de Santigo

Reproduzimos o testemunho de conversão ao catolicismo de Cuiwen, uma mulher de Cingapura cujo caminho de fé atravessou várias religiões, uma viagem para fazer o Caminho de Santiago e o livro “Caminho”, do fundador do Opus Dei.

23/07/2025

Sou Cuiwen, moro em Cingapura e estou casada há sete anos. Junto com meu marido, formamos uma família com nossos dois filhos. No entanto, o caminho até aqui não foi fácil: em minha vida, enfrentei momentos de desentendimentos e dificuldades que nem sempre foram fáceis de superar.

Na minha juventude, eu frequentava uma igreja batista. Minha fé era motivada principalmente pelo desejo de agradar meus pais e ser uma boa filha. Eu acreditava que, se obedecesse a Deus, eu O encontraria. Fui batizada no 4º ano do ensino médio, mas, no fundo, não tinha certeza se havia aceitado Deus plenamente em meu coração. Pouco tempo depois, deixei a igreja.

Cuiwen com seu marido, Gerard e Joan (Opus Dei)

Um novo horizonte inesperado

As coisas mudaram no colégio, quando conheci Wei Lian. Tornamo-nos muito amigas porque morávamos perto e partilhávamos o mesmo programa de arte. Foi ela que me apresentou pela primeira vez a fé católica. Quando começou a fazer parte do Opus Dei, convidou-me várias vezes para aulas de doutrina e meditações.

Foi a primeira vez que conheci católicos, que eram calorosos, acolhedores e ficavam felizes de responder às minhas perguntas. Antes disso, achava os rituais e devoções do catolicismo difíceis de compreender. Mas, com o tempo, passei a apreciar a riqueza da fé e a beleza da missa.

Servir aos outros, descobrir Deus

Em dezembro de 2013, participei de uma viagem missionária ao Vietnã organizada por Hillcrest, um centro da Opus Dei para jovens em Cingapura. Foi minha primeira experiência missionária no exterior e uma oportunidade de servir em um país em desenvolvimento. A viagem coincidiu com uma transição profissional e senti que podia oferecer meu tempo e energia aos outros. Lá conheci Carmen, que organizava a viagem e sempre me pareceu simpática e aberta a compartilhar sua fé.

Embora na época eu não sentisse um chamado espiritual nem imaginasse minha futura conversão, fiquei impressionado com o testemunho da fé católica vivida com generosidade. O padre da aldeia conhecia todos os habitantes e se preocupava com ações concretas para melhorar a vida dos mais necessitados.

Também me impressionaram os tradutores vietnamitas, que acolhiam os idosos e os pobres com grande cordialidade, e as voluntárias de Hillcrest, sempre alegres e entusiasmadas. Tudo isso me fez sentir de maneira especial a presença real de Deus na vida cotidiana desses católicos que rezavam e assistiam à missa todos os dias.

Depois dessa viagem, comecei a trabalhar na área de saúde mental dentro do setor de serviços sociais. Uma colega me convidou para uma igreja metodista, e lá comecei a sentir o desejo de me aproximar mais de Deus. Eu me sentia acolhida e em comunidade, muito diferente da minha experiência anterior. Também me inscrevi em um curso de estudo bíblico de um ano para aprofundar minha fé.

Eu achava que talvez não tivesse lido a Bíblia o suficiente para entender a vontade de Deus para mim. Através da convivência e das atividades de serviço, como visitas a lares de idosos, descobri um crescimento espiritual que superava o que eu havia vivido anteriormente.

No Vietnam (Opus Dei)

Quando os percalços do caminho são uma ajuda

No entanto, foi somente no final de maio de 2015, quando estava na metade do curso bíblico e já estava há um ano no meu novo trabalho, que comecei a me sentir exausta por ter me dedicado tanto ao meu trabalho. Minha amiga Wei Lian me contou que iria fazer o Caminho de Santiago pela segunda vez com Carmen e me convidou para participar. Eu aceitei. Desta vez, o grupo era pequeno e eu era a única pessoa não católica.

No início, fiquei entusiasmada com a experiência de ser peregrina, passar tempo na natureza, desfrutar do silêncio com Deus e do bom ambiente entre os caminhantes. Mas, com o passar dos dias, comecei a me sentir desconfortável por ser a única que não rezava o terço nem conhecia as histórias “à maneira católica”. Para evitar me sentir deslocada, comecei a caminhar rápido e sozinha.

No entanto, as coisas não saíram como eu esperava. No terceiro dia, fiquei doente. Tinha febre e me sentia muito fraca. Minhas companheiras viram que eu não podia continuar e me ajudaram muito: chamaram um carro e Joanna me acompanhou até a próxima cidade. Enquanto ardia em febre no albergue, me sentia fraca e zangada com Deus. Me perguntava por que Ele me levara a essa viagem para sofrer, se tudo o que eu queria era estar com Ele.

Só pude chegar a uma conclusão: Deus queria me dizer algo. Não conseguia imaginar um Deus malvado que se alegrasse com meu sofrimento. Ao repassar os dias anteriores, compreendi que, embora minhas companheiras tivessem sido gentis, eu mantivera uma atitude cortês, mas distante.

A partir daquele momento, decidi mudar: aprendi a rezar o terço e começamos a ler, revezando-nos, trechos de Caminho, de São Josemaria.

Refleti sobre minha atitude habitual diante da vida e diante de Deus, e comecei a ver semelhanças com o modo como havia começado o Caminho de Santiago. Rezei a Deus para que me mostrasse a verdade: como eu deveria viver minha fé?

No dia da profissão de fé como católica (Opus Dei)

Amar a Deus como Ele quer ser amado

Foi em uma pequena capela, perto do final do Caminho, que vi uma imagem de Jesus. Pela primeira vez, rezei diante de uma imagem dEle e perguntei se esse era o caminho para o qual ele me chamava e, se fosse, que me explicasse do que se tratava tudo isso.

Naquele momento, uma amiga se aproximou de mim e me disse que aquela imagem era do Sagrado Coração de Jesus e que lembrava uma oração escrita por uma religiosa francesa. Só quando voltei para Cingapura é que compreendi a resposta de Jesus.

Depois de assistir à missa diariamente na Espanha, decidi ir à missa também em Cingapura. Foi numa sexta-feira, na Igreja de São José, onde ouvi a oração ao Sagrado Coração de Jesus. Fiquei profundamente comovida com as palavras: “Jesus, ajude-me a amá-lo mais”. Naquele momento, compreendi que sempre me aproximara de Deus com os meus problemas e necessidades, mas nunca lhe pedira que me ensinasse a amá-lo mais.


São Josemaria diante de São Tiago apóstolo - Opus Dei.

O meu caminho para a plenitude da fé

Naquela época, Wei Lian estava acompanhando outra amiga, Janelle, que morava em Jurong, no seu caminho de iniciação cristã (RCIA). O seu processo de confirmação correu bem.

O maior obstáculo que tive que superar foi a irritação da minha mãe, mas graças à graça de Deus, que me deu firmeza e doçura, pude ser plenamente recebida na Igreja Católica na Páscoa de 2016.

Hoje dou graças a Deus por como Ele continuou me abençoando todos esses anos. Conheci meu marido, um ex-protestante que também se converteu ao catolicismo em 2020, e dois anos depois descobri minha vocação como supernumerária do Opus Dei, enquanto meu marido se tornou cooperador pouco depois e atualmente participa das atividades de formação.

Antes de nos casarmos, participei em duas viagens missionárias a Cebu e atualmente dou aulas de formação a um grupo de amigas e cooperadoras.

Em 2023, fomos abençoados com o nascimento de nosso primeiro filho, Gerard, e em 2025, com nossa filha, Joan, justamente na solenidade da Assunção. Naquele dia, senti como se a Virgem me lembrasse de sua proximidade. A experiência da maternidade tem sido linda, embora não isenta de desafios, especialmente pela ausência de minha mãe.

Nestes anos de caminho rumo à fé, aprendi a reconhecer Deus através do silêncio, da reflexão e do serviço aos outros, e sua presença no dia a dia com maior profundidade. Sou especialmente grata pelo apoio e pela formação do Opus Dei, que nos ajuda a educar nossos filhos na fé e me inspirou a ser uma esposa, mãe, filha e amiga melhor.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/chegando-a-fe-pelo-caminho-de-santigo/

Frei George de Aleppo: no Jubileu, vivemos o sonho de tantos sírios

Os peregrinos sírios diante da sede da Rádio Vaticano (Vatican News)

Vindo a Roma acompanhando vários jovens que haviam fugido para a Europa com suas famílias devido ao conflito civil que eclodiu em 2011, o frade franciscano da Custódia da Terra Santa falou à mídia vaticana sobre as dificuldades da Paróquia de São Francisco de Assis após os recentes ataques. Ele também testemunhou o "milagre diário" de uma vibrante comunidade cristã, composta por mais de 1.200 fiéis, que continua a resistir com fé e esperança.

Edoardo Giribaldi – Cidade do Vaticano

"Espero levar tanta, tanta esperança." Estas são palavras simples, mas que resumem toda a força e fé do frei George Jallouf, frade franciscano da Custódia da Terra Santa, vigário paroquial da Igreja de São Francisco de Assis em Aleppo. Ele veio a Roma acompanhando um grupo de jovens — "filhos da diáspora", como ele os chama — para participar do Jubileu. É com eles, diz ele, que "estamos realizando um sonho que muitos na Síria ainda não conseguem viver".

Jovens retidos na Síria pedem para acender uma vela para eles

Os jovens, refugiados na Europa com suas famílias devido à guerra civil que eclodiu no país em 2011, agora vivem na Alemanha, França, Bélgica e Suécia. Na tarde quente de Roma, eles encontram abrigo à sombra do Palazzo Pio, sede da mídia do Vaticano, que ostenta orgulhosamente a bandeira de seu país.

"Os sírios, no momento, não podem vir facilmente devido a complicações com o visto", explica frei George. O franciscano, no entanto, assumiu pessoalmente as intenções de toda a comunidade cristã local: "Eles me pediram para acender uma vela para eles e levá-los comigo até a Porta Santa". Ele assim o fez. Tirou fotos, enviou mensagens, testemunhando que "eles também estavam lá, mesmo que de longe".

As dificuldades e os "milagres diários" em Aleppo

Mas a situação na Síria continua difícil. “A situação em Aleppo está relativamente calma - conta ele - mas depois dos últimos ataques em Damasco, o medo voltou aos corações dos fiéis. Tivemos que aumentar a segurança, inclusive durante a Missa: homens nas portas das igrejas para proteger quem entra para rezar.”

Apesar de tudo, a comunidade cristã continua resistindo. Uma minoria, que conta com mais de 1.200 jovens, mas que é uma presença vibrante e engajada. “Temos um catecismo que se estende do jardim de infância ao ensino médio. É uma graça, é um milagre diário.”

Quando retornar à Síria, frei George levará consigo os rostos, as palavras e a bênção de Roma. E uma certeza: “O Senhor está conosco. A esperança não desilude. E somos chamados a ser essa esperança, todos os dias, para aqueles que encontramos.”

Frei George Jallouf (Vatican News)

Da Síria para pedir paz em todo o Oriente Médio

"Só o fato de estar aqui e representar a Síria já é motivo de orgulho", diz um dos jovens sírios presentes em Roma para o Jubileu da Juventude: "É um sentimento indescritível. Estamos verdadeiramente felizes. E rezamos para que, um dia, haja paz em todos os países do mundo."

Um companheiro de peregrinação compartilha esse sentimento, explicando como sua presença é significativa não apenas para a Síria, mas para todo o Oriente Médio. "Há tantos jovens cristãos maravilhosos lá, com uma fé tremenda." Assim como no caso do frei George, os jovens também expressam suas orações e sonhos de seus colegas: "Rezamos aqui no lugar deles, em nome deles."

Acima de tudo, eles estão cientes do presente que representa estar em Roma e participar do Jubileu. "Rezamos acima de tudo para que o Senhor um dia lhes dê a oportunidade de vir e viver esta experiência."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Os jovens do Jubileu redescobrem São Carlos de Foucauld

Antoine Mekary | ALETEIA

Cyprien Viet - publicado em 01/08/25

"Como um viajante na noite": esse foi o título do espetáculo apresentado aos participantes do Jubileu dos jovens, realizado nos dias 30 e 31 de julho no auditório da Conciliazione, perto do Vaticano.

Cerca de 50 cantores e 18 músicos se reuniram para fazer essa apresentação gratuitamente, que foi criada para a canonização de Carlos de Foucauld, em 15 de maio de 2022.

Capucine, que veio de Lorient, ficou encantada: "Achei isso absolutamente sublime, de uma qualidade excepcional! Isso dá um novo ânimo à vida espiritual, à vida com Deus e até ao dia a dia." Para a primeira apresentação, muitos peregrinos franceses e italianos lotaram as quase 1.800 cadeiras do auditório, inaugurado durante o Ano Santo de 1950.

O desejo da embaixada da França junto ao Vaticano e dos Pios Estabelecimentos da França em Roma de destacar figuras jovens de santidade durante o Jubileu levou à reexibição deste espetáculo, que já tinha sido visto em 2022 na Catedral de São João de Latrão.

O oratório, intitulado "Come un viaggiatore nella notte", foi escrito por Marcello Bronzetti e dirigido por sua esposa, Tina Vasaturo. A cantora Fatima Lucarini explicou que o coro nasceu na paróquia Santa Silvia em Roma, com a iniciativa desse casal de artistas, que até convidou pessoas que não sabiam cantar. Essas pessoas, aos poucos, puderam aprender e contribuir para divulgar a história desse santo. “Carlos de Foucauld é uma figura incrível, que acolhe todas as religiões e todos os povos. Ele viveu uma vida bela e fez escolhas significativas. Que melhor exemplo para os jovens?”, refletiu Fatima.

O espetáculo, dividido em dez atos com textos e músicas em italiano, acompanhados de tradução em francês, retrata de forma emocionante a jornada de Carlos de Foucauld. O relato vai desde suas dúvidas espirituais em Paris até o cumprimento de sua vocação em Nazaré e, finalmente, em Tamanrasset, onde ele foi tragicamente assassinado por bandidos no deserto. Este ex-militar e geógrafo viveu como eremita nas montanhas do Hoggar, na Argélia, e ficou na história como um profeta do diálogo com os muçulmanos. Sua vida discreta gerou um impacto missionário extraordinário, especialmente através dos Pequenos Irmãos e Irmãs de Jesus, que se inspiram em sua espiritualidade.

Da noite da dúvida à luz do amor

“Eu conhecia pouco sobre Carlos de Foucauld”, admitiu Marie, que veio de Dijon com um grupo de amigos. “Com esse espetáculo, percebi que a fé não é uma estrada fácil. Todos temos momentos de dúvida, jovens e menos jovens... Foi lindo entender que ele também teve suas crises na juventude e precisou crescer para reencontrar a fé.” Marie também se emocionou com a história da prima dele, que orava por ele. “É muito bonito, porque é importante orar uns pelos outros e acreditar na força da oração”, contou a jovem, especialmente ligada à adoração.

Irmã Geneviève, uma amiga próxima do Papa Francisco, ficou muito emocionada ao ver tantos jovens saindo do espetáculo dedicado a São Carlos, cuja espiritualidade inspirou sua congregação. Conhecida por seu trabalho com circenses, ela não queria falar muito, mas compartilhou que encontra em Carlos de Foucauld um apóstolo do “amor universal”. E é esse “amor universal” que os jovens participantes do Jubileu podem levar para seus amigos durante e após essa semana especial.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/08/01/os-jovens-do-jubileu-redescobrem-sao-carlos-de-foucauld-apostolo-do-amor-universal/

Cardeal Newman, “um gênio complexo, poeta e místico”

São John Henry Newman, próximo Doutor da Igreja (Vatican News)

O arcebispo de Reggio Calabria - Bova, sul da Itália, dom Fortunato Morrone, traça um perfil do santo purpurado inglês, que será proclamado Doutor da Igreja.

Por Fortunato Morrone

John Henry Newman será doutor da Igreja. Finalmente! Após a canonização do beato cardeal, proclamada pelo Papa Francisco em 13 de outubro de 2019, esperava-se que a Igreja, na pessoa do Santo Padre Leão XIV, o reconhecesse como um de seus doutores (note-se que, em 1879, Leão XIII o elevou ao cardinalato). Imagino, todavia, um Newman de certo modo embaraçado e surpreso com tal reconhecimento da Igreja.

Consciente de seu caráter e limitações culturais, mas também de seu notável potencial intelectual e moral, Newman, já idoso, em uma correspondência, após listar uma série de qualidades e dons específicos exigidos de um teólogo, confidenciou: "Isso eu não sou, nem jamais serei. Como São Gregório Nazianzeno, prefiro trilhar meu próprio caminho e dispor do meu tempo [...] sem compromissos urgentes" (LD XXIV, 213).

Nesse sentido, Newman foi, antes de mais nada, um pastor e pregador de rara delicadeza linguística e comunicativa, e um homem de fé de notável cultura e refinada inteligência que - na contingência de polêmicas culturais ou na defesa detalhada desta ou daquela questão teológica ou filosófica - soube expor as razões da esperança cristã em toda a sua plenitude, mas com um estilo e uma agudeza de reflexão que revelam a grandeza de seu espírito, capaz de elevar o tom do debate religioso, social, educacional ou cultural para ampliar o horizonte cognitivo, racional e de fé de seus leitores ou ouvintes, fossem eles a favor ou contra ele.

Mas a Igreja não se engana: Newman será doctor Ecclesiae porque, nas palavras de São Paulo VI, ele é reconhecido como "um farol cada vez mais luminoso para todos os que buscam uma orientação clara e uma direção segura em meio às incertezas do mundo moderno" (Discurso aos especialistas e estudiosos do pensamento do Cardeal Newman, 7 de abril de 1975).

Leitor assíduo e discípulo dos Padres, como eles, Newman alimentou e motivou seu exercício e ministério teológicos, haurindo continuamente, por meio da oração, da escuta e do estudo das Escrituras. Se com sua vida de fé, Newman testemunhou a beleza e a praticabilidade do Evangelho, com sua reflexão teológica, o presbítero anglicano e professor em Oxford, e mais tarde presbítero católico oratoriano, ofereceu argumentos convincentes em favor da credibilidade, solidez e sabedoria da fé.

"Um gênio complexo, poeta e místico" (Bremond), líder do Movimento de Oxford durante a era anglicana, Newman foi uma referência teológica confiável, apesar de anos de desconfiança entre seus compatriotas, para a comunidade católica renascida na Inglaterra após sua dolorosa, mas lúcida passagem para a Igreja de Roma. Defendendo a liberdade de consciência em nome de uma fé incondicionalmente aberta à "luz suave" da Verdade e dialogando dialógica e criticamente com as correntes do pensamento religioso, filosófico e teológico da era vitoriana, Newman soube conjugar magistralmente a relação entre fé e razão, aspecto crucial do pensamento ocidental, com uma abordagem mais fenomenológica-personalista do que metafísica. Abriu, assim, novos caminhos para a pesquisa teológica, chamada a oferecer razões para a esperança que os crentes, especialmente os simples, são convidados a testemunhar, ontem e hoje, nesta história humana amada por Deus. E aos simples, Newman dedicou sua Gramática do Assentimento (1870), que o envolveu por toda a vida, seguindo as linhas programáticas essenciais já delineadas nos Quinze Sermões Universitários, proferidos entre 1830 e 1843.

Atualmente, sua obra, no horizonte da amizade entre as razões da fé, fundadas na Revelação, e as exigências da razão, oferece-nos a visão de uma fé jubilosa que dá confiança à razão diante do relativismo e o cientificismo atual.

Entre outras obras teológicas de Newman, destacamos o Ensaio sobre o desenvolvimento da doutrina cristã (1845), concluído pouco antes de sua passagem para o catolicismo, no qual a categoria de Tradição é evidenciada à luz da história secular da Igreja de forma dinâmica e criativa; a Ideia de Universalidade (1854), fruto de sua experiência como reitor da nova Universidade de Dublin, obra na qual os temas da unidade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade do conhecimento em diálogo com a teologia (ver Veritatis Gaudium 4, aqui Newman é citado juntamente com Rosmini) são antecipados no contexto de seu tempo. Ainda, Sobre a consulta dos fiéis em matéria de doutrina (1859), no qual a visão eclesiológica — delineada em The Prophetical Office, publicado em 1837 para dar consistência teológica ao anglicanismo, mas retomado e corrigido no Terceiro Prefácio da Via Media (1873) — nos ajuda a compreender a natureza sinodal da Igreja hoje. E, por fim, a Carta ao Duque de Norfolk, sobre o delicado tema da consciência, o lugar do coração na experiência de si mesmo e de Deus (God and myself – “Deus e eu mesmo”), mas entendido dentro do ato de fé do crente, como uma assunção subjetiva e responsável da confissão objetiva de fé garantida pela Igreja.

Esses textos permanecem um ponto de referência hoje, tanto para o amplo debate teológico contemporâneo quanto para a missão da Igreja neste mundo em constante mudança, que apresenta novos desafios para a inteligência da fé e oportunidades inéditas para a proclamação do Evangelho, mas em uma dinâmica relacional que, no crente, envolve principalmente o coração que se comunica com o coração (cor ad cor loquitur) e que certamente envolve a inteligência.

*Arcebispo de Reggio Calabria – Bova

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF