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segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Astronauta revela a “grande ilusão” da humanidade após ir ao espaço

Após 178 dias em órbita, um astronauta alerta a humanidade sobre uma "ilusão dolorosa" (Foto: banco de imagens)

Do espaço, ele enxergou o que poucos veem. Descubra a verdade chocante que o ex-astronauta da NASA revela.

17/10/2025 - 13:29

Agência Hora

A experiência de ver a Terra do espaço transforma. Para muitos astronautas, o planeta deixa de ser apenas um território dividido por fronteiras para se tornar um organismo vivo e interconectado.

Essa mudança de perspectiva é tão profunda que pode revelar verdades duras. Foi o que aconteceu com o ex-astronauta da NASA, Ron Garan. Após passar 178 dias em órbita, ele concluiu que a humanidade está vivendo uma “grande mentira”.

Durante 2.800 voltas ao redor do planeta, Garan teve a chance de refletir sobre o que acontece na superfície. De lá, ele viu que tudo o que construímos se baseia na ideia de que estamos separados uns dos outros e da própria Terra.

Problemas como a crise climática e o desmatamento, para ele, são apenas reflexos dessa ilusão. Garan argumenta que nossa obsessão pela economia nos faz esquecer o que realmente importa: o planeta e a vida que o habita.

“Do espaço, eu vi uma biosfera iridescente repleta de vida. Eu não vi a economia”, afirmou Garan. Para o astronauta, é óbvio que estamos vivendo uma “ilusão”, já que tratamos os sistemas de suporte à vida do planeta como subsidiários da economia global.

A visão que muda tudo

Quando estão no espaço, os astronautas ganham uma nova visão da Terra. De lá, as divisões nacionais e sociais não existem. O planeta se mostra como um só. Esse sentimento, conhecido como “efeito panorâmico”, traz à tona uma profunda sensação de união.

A visão do mundo lá de cima nos faz enxergar que somos todos parte de um sistema complexo e interligado, e que a saúde de um afeta a todos.

Essa tristeza e compaixão não são exclusivas de Ron Garan. O ator William Shatner, famoso por interpretar o Capitão Kirk em Star Trek, também experimentou o efeito em 2021. “Foi uma das sensações mais profundas de tristeza que já experimentei”, disse ele.

Entenda o que é o overview effect

O “overview effect” é um termo criado em 1987 pelo filósofo espacial Frank White. Ele descreve a experiência psicológica que atinge alguns astronautas ao verem a Terra do espaço pela primeira vez.

Eles relatam uma forte conexão com a humanidade e uma nova percepção sobre o quão pequeno e frágil nosso planeta é.

A Agência Espacial Canadense (CSA) explica que, depois de vivenciar essa visão, os astronautas “voltam para casa com uma nova mentalidade” e muitos se dedicam ao ativismo ou à arte. Embora seja marcante, o efeito não se manifesta da mesma forma para todos.

Alguns podem se sentir mais conectados com a humanidade, enquanto outros podem sentir-se pequenos ou até ter um impacto negativo em sua saúde mental, segundo a agência.

Priorizar o dinheiro em vez do planeta

O astronauta Ron Garan concluiu que o erro da humanidade é priorizar o dinheiro em detrimento da vida. Para ele, nossa sociedade e a economia deveriam servir ao planeta, e não o contrário.

O alerta é direto: enquanto tratarmos a Terra apenas como uma ferramenta para gerar crescimento econômico, continuaremos a degradar os sistemas que sustentam nossa própria vida.

Apesar da seriedade da mensagem, Garan mantém a esperança. Ele acredita que a humanidade pode evoluir e alcançar um novo nível de consciência. Para isso, é preciso deixar para trás o pensamento de “nós contra eles” e, em vez disso, colaborar para um futuro melhor.

agenciahora@nsc.com.br

Fonte: https://www.nsctotal.com.br/noticias/astronauta-revela-a-grande-ilusao-da-humanidade-apos-ir-ao-espaco

O Papa: a usura é um pecado muito grave, é um fardo que sufoca

A audiência do Papa Leão XIV aos membros da Conselho Nacional Antiusura (Vatican Media)

Na audiência ao Conselho Nacional Antiusura, por ocasião dos seus 30 anos de existência, Leão XIV recorda o drama das vítimas desta prática, que tem um impacto devastador na vida de muitas pessoas e famílias. Mas “os sistemas financeiros usurários podem colocar povos inteiros de joelhos”. Por isso, “a conversão de quem se mancha com a usura é tão importante quanto a proximidade com quem sofre com a usura sofrida”

Manoel Tavares/Raimundo de Lima - Vatican News

O Santo Padre recebeu, na manhã deste sábado, na Sala Clementina, no Vaticano, 150 membros da Conselho nacional italiano Antiusura, por ocasião dos seus 30 anos de existência.

Em seu discurso, o Papa agradeceu, também em nome de seus predecessores, o trabalho feito, durante estes trinta anos de fundação, para combater um problema que tem um impacto devastador na vida de tantas pessoas e famílias.

Usura, corrupção do coração humano

O fenômeno da usura, disse o Pontífice, faz-nos recordar a corrupção do coração humano. Trata-se de uma história dolorosa e antiga, que já encontramos na Bíblia: “Os profetas denunciavam a usura, além da exploração e toda forma de injustiça em relação aos pobres”. E explicou:

“Quanto está distante de Deus a atitude dos que oprimem as pessoas, a ponto de escravizá-las! Este é um pecado grave, às vezes, gravíssimo, porque não se reduz a uma mera contabilidade. A usura pode causar crises às famílias, desgastar a mente e o coração até levar as pessoas a considerarem o suicídio como a única saída”.

Também países inteiros são vítimas de sistema usurários

A dinâmica negativa da usura, observou o Papa, manifesta-se em vários níveis: um tipo de usura, aparentemente, busca ajudar os que estão em dificuldades financeiras, mas, logo se revela ser ‘um peso sufocante’. Os mais vulneráveis ​​sofrem as consequências, como os que são vítimas do jogo. Porém, afeta também os que devem enfrentar momentos difíceis, como tratamentos médicos extraordinários, despesas inesperadas, que vão além das suas possibilidades e das de suas famílias. Assim, o que, inicialmente, parece uma ajuda, na verdade, se torna um tormento a longo prazo. E o Papa continuou:

“Isso acontece também em diversos países no mundo. Infelizmente, sistemas financeiros usurários podem levar populações inteiras à ruína. Da mesma forma, não podemos ignorar os que, no comércio, se envolvem em práticas usurárias e mercantis, que causam a fome e a morte de seus irmãos e irmãs; suas responsabilidades são graves e alimentam estruturas do pecado iníquas”.

Precioso o trabalho de quem combate a usura

Aqui, Leão XIV recordou as mesmas perguntas que sempre se repetem: “Os menos dotados não são seres humanos? Os mais fracos não têm a mesma dignidade nossa? As pessoas que nascem, com menos possibilidades, contam menos? Devem só sobreviver? Respondendo a estas questões, disse: “O valor das nossas sociedades depende da resposta que dermos a estas perguntas. O nosso futuro depende disso: devemos restabelecer a nossa dignidade moral e espiritual, senão cairemos em um poço de imundícies”. Por isso, o Papa enalteceu o trabalho dos membros da Consulta italiana:

“Eis porque é tão preciosa a obra de quem, como vocês, se esforça para combater a usura e pôr um fim nesta prática. O trabalho da sua fundação está, sobretudo, em sintonia com o espírito e a prática do Jubileu e pode ser inserido entre os sinais de esperança, que caracterizam este Ano Santo”.

Conversão e solidariedade

Por fim, o Pontífice convidou os presentes a meditar sobre a atitude de Jesus para com Zaqueu, chefe dos publicanos de Jericó, que, acostumado com os abusos, opressão e intimidação, aproveitava para explorar as pessoas. Por isso, Jesus disse a Zaqueu para ficar em sua casa. Esta atitude do Messias fez com que ele se arrependesse de seus erros, a ponto de restituir quatro vezes mais os seus bens, com juros, aos pobres"! Enfim, o encontro com Cristo transformou o coração daquele homem. A conversão de quem comete usura é tão importante quanto a solidariedade com quem sofre por ela.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Descubra o que está por trás do Salmo 131

By Evgeny Atamanenko | Shutterstock

Paulo Teixeira - publicado em 14/07/25

“Como uma criança amamentada no colo da mãe.”

“Senhor, meu coração não é orgulhoso,  nem se eleva arrogante o meu olhar;  não ando à procura de grandezas nem tenho pretensões ambiciosas!  

Fiz calar e sossegar a minha alma;  ela está em grande paz dentro de mim,  como a criança bem tranquila, amamentada  no regaço acolhedor de sua mãe.  

Confia no Senhor, ó Israel,  desde agora e por toda a eternidade!”

Este salmo faz parte de uma série de 15 que são chamados de cantos da subida e vão do salmo 120 até o 135. A subida era para Jerusalém em peregrinação. Então, digamos assim, fazia parte de um livrinho de cânticos do romeiro.  

Imaginemos, primeiramente, que no longo trajeto até Jerusalém, vendo já o templo à distância, os fiéis fizessem uma pausa na caminhada para recitar este salmo. A primeira palavra já define a quem se dirigem as palavras. Senhor abre o poema falando da identidade de Deus e também está presente na última frase, como se fosse uma moldura para o que é retratado.  

Se o peregrino está na fase final de seu trajeto em direção a Jerusalém, os versos mostram que ele também realizou uma peregrinação interior. O salmista usa por três vezes uma negação para mostrar que está distante de condutas que não agradam a Deus. Diz que o coração não é orgulhoso, não tem olhar arrogante e não procura grandezas, inclusive que deixou pretensões ambiciosas, certamente para estar nesta peregrinação.  

É curiosa a parte que fala da criança no colo da mãe. Para quem caminhou longos dias, chegar à Cidade Santa parece ser um lugar de aconchego. A imagem da criança alimentada perfaz a ideia de satisfação e paz. A criança que teve suas necessidades satisfeitas pode descansar na proteção da mãe. Assim, o peregrino sente que ao cumprir sua meta satisfez uma necessidade interior importante e, por isso, alcança a paz.  

A criança amamentada representa a alma da pessoa que reza e tem suas necessidades básicas satisfeitas. Nesse sentido, este verso se conecta com o primeiro, no qual deixou por meio de um tríplice não os desejos e ambições, para se deixar satisfazer pelo que há de mais básico e interior.  

As palavras finais do salmo são um convite à esperança que é dirigido para todos. As expectativas dos desejos e ambições nem sempre são satisfeitas, mas aquelas da alma Deus vai satisfazer, certamente, Esse é o testemunho e convite que o salmista peregrino dirige a todos.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/07/14/descubra-o-que-esta-por-tras-do-salmo-131/

Leão XIV: os novos santos e santas mantiveram acesa a lâmpada da fé

Santa Missa com Canonização e Angelus, 19/10/2025 -Papa Leão XIV (Vatican Media)

A Igreja tem sete novos santos canonizados pelo Papa Leão, neste domingo, Dia Mundial das Missões. São eles: Inácio Maloyan, Pedro To Rot, Vincenza Maria Poloni, Maria Carmen Rendiles Martínez, Maria Troncatti, José Gregório Hernández Cisneros e Bartolo Longo. Os novos santos e santas "se tornaram lâmpadas capazes de difundir a luz de Cristo", disse o Pontífice em sua homilia.

https://youtu.be/Adq8-pVV-Hg

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Leão XIV presidiu a missa de canonização de sete beatos, na Praça São Pedro, neste domingo, 19 de outubro, Dia Mundial das Missões. Os novos santos são: Inácio Maloyan, Pedro To Rot, Vincenza Maria Poloni, Maria Carmen Rendiles Martínez, Maria Troncatti, José Gregório Hernández Cisneros e Bartolo Longo. Participaram da celebração cerca de 70 mil fiéis.

Lâmpadas capazes de difundir a luz de Cristo

O Pontífice iniciou sua homilia com as palavras de Jesus extraídas do Evangelho de Lucas da liturgia deste domingo: "Quando o Filho do Homem voltar, encontrará a fé sobre a terra?" "Esta pergunta nos revela o que é mais precioso aos olhos do Senhor: a fé, ou seja, o vínculo de amor entre Deus e o ser humano", destacou o Papa.

“Hoje, temos precisamente diante de nós sete testemunhas, os novos santos e as novas santas, que mantiveram acesa, com a graça de Deus, a lâmpada da fé, ou melhor, eles mesmos se tornaram lâmpadas capazes de difundir a luz de Cristo.”

"Em relação aos grandes bens materiais e culturais, científicos e artísticos, a fé sobressai não porque estes se devam desprezar, mas porque sem fé perdem sentido", disse ainda o Papa, sublinhando que "a relação com Deus é da maior importância porque Ele, no início dos tempos, criou todas as coisas do nada e, no tempo, salva do nada tudo o que simplesmente acaba. Uma terra sem fé seria povoada por filhos que vivem sem Pai, ou seja, por criaturas sem salvação".

A oração autêntica vive da fé

“Caríssimos, é precisamente por isso que Cristo fala aos seus discípulos «sobre a obrigação de orar sempre, sem desfalecer»: tal como não nos cansamos de respirar, também não nos cansemos de orar! Do mesmo modo que a respiração sustenta a vida do corpo, a oração sustenta a vida da alma: a fé, com efeito, expressa-se na oração e a oração autêntica vive da fé.”

"Jesus nos mostra essa ligação com uma parábola: um juiz mantém-se surdo perante os pedidos insistentes de uma viúva, cuja persistência, por fim, o leva a agir. Tal tenacidade, à primeira vista, torna-se para nós um bonito exemplo de esperança, especialmente nos momentos de provação e tribulação. Porém, a perseverança da mulher e o comportamento do juiz, que age contra vontade, preparam uma provocante pergunta de Jesus: Deus, Pai bom, «não fará justiça aos seus eleitos, que a Ele clamam dia e noite?»", disse ainda Leão XIV.

Tentações que põem à prova a nossa fé

O Papa convidou a deixar que "estas palavras ressoem em nossa consciência: o Senhor nos pergunta se acreditamos que Deus é um juiz justo para com todos. O Filho nos pergunta se acreditamos que o Pai quer sempre o nosso bem e a salvação de todas as pessoas".

“A este propósito, duas tentações põem à prova a nossa fé: a primeira ganha força a partir do escândalo do mal, levando-nos a pensar que Deus não ouve o clamor dos oprimidos nem tem piedade do sofrimento dos inocentes. A segunda tentação é a pretensão de que Deus deve agir como nós desejamos: a oração cede então lugar a uma ordem dirigida a Deus, para lhe ensinar o modo de ser justo e eficaz.”

Quem não acolhe a paz como um dom, não saberá dar a paz

"Jesus, testemunha perfeita da confiança filial, nos liberta de ambas as tentações. Ele é o inocente que, sobretudo durante a sua Paixão, reza assim: «Pai, faça-se a tua vontade». São as mesmas palavras que o Mestre nos entrega na oração do Pai-Nosso. A oração da Igreja nos lembra que Deus, ao dar a sua vida por todos, faz justiça a todos. A cruz de Cristo revela a justiça de Deus e a justiça de Deus é o perdão: Ele vê o mal e redime-o, tomando-o sobre si", disse ainda o Papa, acrescentando:

“Quando somos crucificados pela dor e pela violência, pelo ódio e pela guerra, Cristo já está ali, na cruz por nós e conosco. Não há choro que Deus não console, nem lágrima que esteja longe do seu coração. O Senhor escuta-nos, abraça-nos como somos, para nos transformar como Ele é. Quem, pelo contrário, recusa a misericórdia de Deus, permanece incapaz de misericórdia para com o próximo. Quem não acolhe a paz como um dom, não saberá dar a paz.”

Mártires pela sua fé

"As perguntas de Jesus são um vigoroso convite à esperança e à ação: quando o Filho do homem vier, encontrará fé na providência de Deus? Na verdade, é esta fé que sustenta o nosso compromisso com a justiça, precisamente porque acreditamos que Deus salva o mundo por amor, libertando-nos do fatalismo. Perguntemo-nos, então: quando ouvimos o apelo de quem está em dificuldade, somos testemunhas do amor do Pai, como Cristo o foi para com todos? Ele é o humilde que chama os prepotentes à conversão, o justo que nos torna justos, como atestam os novos santos de hoje: não são heróis, nem paladinos de um ideal qualquer, mas homens e mulheres autênticos", destacou.

Novos Santos e Santas (Vatican Media)

“Estes fiéis amigos de Cristo são mártires pela sua fé, como o Bispo Inácio Choukrallah Maloyan e o catequista Pedro To Rot; são evangelizadores e missionários, como a Irmã Maria Troncatti; são fundadoras carismáticas, como a Irmã Vincenza Maria Poloni e a Irmã Carmen Rendiles Martinez; são benfeitores da humanidade, com coração ardente de devoção, como Bartolo Longo e como José Gregório Hernández Cisneros.”

"Que a sua intercessão nos assista nas provações e o seu exemplo nos inspire na comum vocação à santidade. Enquanto peregrinamos rumo a esta meta, rezemos sem nos cansarmos, firmes naquilo que aprendemos e acreditamos resolutamente. A fé sobre a terra sustenta assim a esperança do céu", concluiu o Papa.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 18 de outubro de 2025

Escalas de trabalho podem afetar os rins, conclui pesquisa

x. Além de dor intensa, os cálculos nos rins estão ligados ao risco aumentado de insuficiência renal crônica e a doenças cardiovasculares - (crédito: Divulgação)

Estudo com mais de 226 mil pessoas indica que turnos irregulares aumentam em 22% o risco de formação de cálculos, uma das doenças urológicas mais comuns. Funcionários noturnos também são prejudicados.

Por Paloma Oliveto

postado em 17/10/2025 05:30

Trabalhar em escalas aumenta em 15% o risco de desenvolver cálculo renal, a famosa pedra nos rins, comparado a quem mantêm uma rotina laboral regular. Entre os que atuam frequentemente em turnos alternados ou noturnos, como profissionais das áreas de segurança, medicina e transporte, a chance é ainda maior: 22%. A conclusão é do maior estudo já realizado sobre saúde ocupacional e doenças renais, que incluiu dados de 226 mil pessoas, acompanhadas por 14 anos. 

Também conhecido como nefrolitíase, o cálculo renal é uma das doenças urológicas mais comuns, com prevalência que varia de 1% a 13% da população mundial. Embora geralmente curável, metade dos pacientes sofre recorrência em até 10 anos. Além da dor intensa, o problema está ligado ao risco aumentado de insuficiência renal crônica e doenças cardiovasculares. Também é uma das principais causas de afastamento do trabalho. 

No Brasil, estima-se que cerca de 10% dos adultos sofram ao menos um episódio de cálculo ao longo da vida, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e, segundo dados do Ministério da Saúde, o número de internações hospitalares associadas ao problema tem aumentado anualmente. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) calcula que cerca de um em cada cinco trabalhadores no mundo realiza algum tipo de trabalho em turnos; a estimativa nacional mais recente, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é de que 6,9 milhões exerçam suas funções laborais em horários atípicos. 

Hormônios

Os autores do estudo, da Universidade Sun Yat-sen, na China, explicam que a exposição contínua a horários irregulares, principalmente à noite, afeta o ritmo circadiano (o relógio biológico), o metabolismo e a secreção hormonal, fatores que repercutem na função renal. Estudos anteriores já haviam apontado que trabalhadores noturnos são mais propensos a obesidade, hipertensão e doenças cardiovasculares, condições que também favorecem o desenvolvimento de cálculos. 

Segundo o urologista Irineu Neto, da Amplexus Saúde Especializada, o ciclo circadiano regula funções essenciais do rim, como a filtração glomerular, a reabsorção de eletrólitos e a concentração urinária. Quando uma pessoa trabalha à noite ou no esquema de escalas, há uma desorganização desse sistema, com consequências diretas no órgão. Entre elas, a alteração na secreção do hormônio antidiurético (ADH). "O organismo tende a concentrar mais a urina durante o turno noturno, aumentando o risco de supersaturação urinária e precipitação de cristais", explica.

Neto também diz que interrupções no ciclo circadiano promovem mudanças no metabolismo de cálcio, fosfato e ácido úrico, com aumento da excreção de sais que participam da formação de cálculos. "Além disso, há maior estresse oxidativo e inflamação renal, o que prejudica os mecanismos protetores das células tubulares contra a cristalização. Assim, o desalinhamento do relógio biológico com o ciclo claro-escuro favorece o acúmulo de cristais e a formação de cálculos renais."

Estilo

O estilo de vida pode justificar parte da associação encontrada na pesquisa, publicada na revista Mayo Clinic Proceedings. Até 22% do efeito do trabalho em turnos sobre o risco renal está associado ao aumento do peso corporal. Tabagismo e sono inadequado respondem, cada um, por cerca de 6%. Por outro lado, a ingestão de líquidos — especialmente água, chá e café — demonstrou papel protetor, reduzindo a chance de cálculo nos rins em quase 18%.

Os autores do estudo argumentam que os impactos do turno irregular vão além do desequilíbrio do relógio biológico. "Fumar, dormir mal, permanecer longos períodos sentado e ter índice de massa corporal elevado foram identificados como mediadores importantes da relação entre trabalho em turnos e formação de cálculos renais", escreveram Man He e Yin Yang, principais autores do artigo. 

O estudo usou estatísticas do UK Biobank, um banco de dados britânico que reúne informações genéticas, clínicas e comportamentais de meio milhão de voluntários. Foram excluídas as pessoas que já tinham histórico de cálculo renal, totalizando 226.459 participantes empregados ou autônomos, com idades entre 37 anos e 73 anos no início da pesquisa. Durante o período de acompanhamento — de 2006 a 2023 — 2.893 deles desenvolveram nefrolitíase. 

Sedentarismo

Os efeitos foram observados mais em profissionais com menos de 50 anos e que realizam atividades de baixo esforço físico. "Aparentemente, a menor ingestão de líquidos entre trabalhadores com atividades sedentárias ajuda a explicar esse resultado", observa o artigo.

Para Yin Yang, epidemiologista e coautor do estudo, os resultados reforçam a necessidade de políticas de saúde voltadas a trabalhadores com horários não convencionais. "Nossas descobertas indicam que o trabalho em turnos deve ser considerado um fator de risco para cálculos renais. É preciso promover estilos de vida saudáveis nesse grupo, incluindo hidratação adequada, manutenção do peso, sono regular e redução do sedentarismo e do tabagismo", destaca o pesquisador.

"Os resultados do estudo destacam a necessidade de explorar iniciativas que busquem remediar os fatores de risco para cálculos renais, incluindo maior flexibilidade nos horários de trabalho", acredita Felix Knauf, da Divisão de Nefrologia e Hipertensão da Clínica Mayo, em Rochester, que escreveu um editorial sobre a pesquisa. Knauf cita, entre outras iniciativas, o incentivo a check-ups regulares com exames renais simples, como ultrassonografia; a promoção de campanhas sobre hidratação e controle de peso, e a oferta de ambientes de descanso apropriados. 

Os autores do artigo concordam que pequenas mudanças podem reduzir significativamente o risco de pedra nos rins. "Nossos resultados indicam que intervir em fatores modificáveis, como peso corporal e hábitos de sono, pode evitar uma parcela considerável dos casos de cálculo renal entre trabalhadores em turnos", escreveram. "Cuidar do corpo e respeitar o ritmo biológico é essencial — mesmo quando o relógio insiste em dizer o contrário."

Quatro perguntas para...

Rafael Buta, urologista, especialista em cirurgia robótica da Clínica Veridium 

De que forma a alteração do ritmo circadiano pode favorecer o acúmulo de cristais nos rins?

O trabalho em turnos, especialmente o noturno, desregula nosso relógio biológico (ritmo circadiano). Essa alteração impacta o metabolismo e pode levar à obesidade, elevando os níveis de cálcio no organismo. O excesso de cálcio na urina é um dos principais componentes da maioria dos cálculos. Além disso, a desregulação circadiana causa estresse oxidativo e inflamação, que estão envolvidos diretamente na formação de cristais de oxalato de cálcio nos rins, aumentando o risco de cálculos.

De que modo fatores como sono inadequado e sedentarismo influenciam o risco de doença renal a longo prazo?
Com o tempo, o sono inadequado eleva o estresse oxidativo e a inflamação no corpo, processos que facilitam a formação de cristais nos rins. Já o sedentarismo prolongado pode desencadear a síndrome metabólica, que é um conhecido fator de risco para o desenvolvimento de cálculos renais. Ambos afetam o equilíbrio do corpo, tornando-o mais propenso a essa condição.

O consumo de café ou chá, comuns em quem trabalha à noite, pode contribuir positivamente para a hidratação?

O estudo sugere que o consumo de café pode estar associado a uma menor incidência de cálculos renais, mesmo considerando seu teor de oxalato. Café, chá e água são contabilizados na ingestão total de líquidos. Manter uma boa hidratação ajuda a diluir a urina e a eliminar cristais, reduzindo o risco de formação de pedras nos rins. Portanto, essas bebidas podem, sim, contribuir positivamente para a hidratação.

Que medidas preventivas poderiam ser implementadas em empresas com regimes noturnos?

Empresas com regimes noturnos podem promover hábitos saudáveis. Isso inclui oferecer horários de trabalho flexíveis para minimizar a desregulação circadiana e implementar programas educativos focados em: manejo do peso, aumento da ingestão de líquidos, bons hábitos de sono, redução do sedentarismo e abandono do tabagismo. Incentivar uma alimentação equilibrada também é fundamental. (PO)

Hábitos protetores

O urologista Irineu Neto ensina como reduzir o risco de cálculos renais: 

1. Hidratação: as diretrizes da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomendam que adultos ingiram uma média de 2,5l a 3l de líquidos diários; 

2. Manter rotina de sono regular, mesmo nos dias de folga, e dormir em ambiente escuro e silencioso;

3. Reduzir o consumo de sal (menos de 5g/dia) e de proteína animal, pois aumentam a excreção de cálcio e ácido úrico;

4. Evitar bebidas açucaradas e energéticos, muito usados em turnos, que favorecem a litogênese;

5. Consumir frutas ricas em citrato, como limão e laranja, que inibem a cristalização;

6. Urinar com frequência, evitando longos períodos de retenção;

7. Manter peso corporal adequado e praticar atividade física regularmente.

Fonte: https://www.correiobraziliense.com.br/ciencia-e-saude/2025/10/7272352-escalas-de-trabalho-podem-afetar-os-rins-conclui-pesquisa.html

TEOLOGIA: Introdução à História da Teologia Ortodoxa (Parte 3/3)

Igreja Ortodoxa (FASBAM)

TEOLOGIA

Introdução à História da Teologia Ortodoxa

Capítulo 10 da Obra «Os Grandes Teólogos do Século Vinte» - Vol. 2 - Os Teólogos protestantes e ortodoxos.

Battista MONDIN

Teólogo católico

Os estudiosos não estão de acordo sobre a divisão da história da teologia ortodoxa. Segundo Jugie, não existem na teologia oriental escolas teológicas e sistemas que possam oferecer um “fundamentum divisionis”[1]. Segundo outros estudiosos, ao contrário, há razões de tempo, lugar e outros gêneros que justificam sua divisão em dois ou mais períodos. Também somos dessa opinião, parecendo-nos justo dividir toda a história bimilenar da teologia oriental em sete grandes períodos.

VII. O Renascimento Moderno (séculos XIX-XX)

Nos séculos XIX e XX, a teologia ortodoxa se renova sobretudo em duas nações, Grécia e Rússia. Neste último país, nem mesmo a revolução bolchevique, com todas as suas dolorosas consequências para a Igreja, conseguiu impedir o grande florescimento teológico em curso no início do nosso século, ainda que tenha obrigado quase todos os mais insignes cultores da ciência sagrada a buscarem refúgio no exterior, pois eles reconstituíram em Paris e Nova York dois centros de teologia ortodoxa dotados de uma prodigiosa vitalidade.

Podemos dividir a história contemporânea da teologia ortodoxa em três partes: russa, grega e da Diáspora. Vamos examiná-las uma por uma, começando pela russa.

1. O renascimento russo

No início do século XIX, o epicentro da teologia ortodoxa desloca-se de Kiev para Moscou. A faculdade de teologia da capital começa a ascender durante o patriarcado de Filarete Drozdov (+ 1867).

As principais causas do renascimento foram duas: um maior contato com as fontes bíblicas e patrísticas (em 1812, foi fundada a Sociedade Bíblica Russa) e a introdução da língua russa em lugar do latim. Com o desaparecimento do latim, decai também a influência escolástica.

Os maiores artífices da renovação antes da Revolução Russa foram quatro: o metropolita Macário, Khomiakov, Svetlov e Soloviev.

O metropolita Macário (o seu nome de nascimento era Mikhail Petrovic Bulgakov) é o autor de uma famosa História da Igreja Russa em doze volumes e de uma Teologia Dogmática Ortodoxa, sendo que esta última chegou a ser premiada pela Academia de Ciências de Moscou. Ela é considerada por N. Glubokovski, um historiador da teologia russa, como “uma grandiosa tentativa de classificação científica do material teológico acumulado no passado”[9]. A obra foi adotada não só como manual para a formação de padres ortodoxos na Rússia, mas também como critério de ortodoxia. Com efeito, as posições de Macário correspondiam exatamente às do Santo Sínodo de Moscou no rígido conservadorismo, na interpretação literal da Escritura, no tom apologético e numa forte intolerância para com as outras confissões. Por esse motivo, além da escassa originalidade da obra, os teólogos russos deste século julgam-na bem menos favoravelmente do que seus colegas do século passado[10].

Enquanto o metropolita Macário é o expoente máximo da teologia “oficial”, Alexis Khomiakov (+ 1860) é o teólogo mais representativo do movimento eslavófilo. Esse movimento nasceu como reação contra a ocidentalização da intelectualidade. Para combater esta ocidentalização os “eslavófilos” recorriam ao velho mito do messianismo russo e ao pan-eslavismo religioso, rujas raízes haviam penetrado na consciência nacional desde os tempos dos grandes tzares do século XVI.

Teórico e teólogo do “eslavofilismo”, Khomiakov afirma que a antropologia, a sociologia e a teologia orientais estão separadas do “racionalismo cristão” do Ocidente por uma oposição radical. Contra o caráter jurídico dos latinos, exalta a Sobornost’ eslava. A nova eclesiologia de que ele é fundador baseia-se toda na ideia da comunidade unânime de todos os fiéis, isto é, a Sobornost’. Em sua opinião, é nela que residem a unidade e a infalibilidade da Igreja. Consequentemente, não pode haver nenhuma diferença essencial entre Igreja docente e Igreja discente, entre hierarquia e povo: toda decisão da hierarquia, para tornar-se autorizada e infalível, deve ser aceita por todo o povo. Assim, segundo Khomiakov, viria a realizar-se na Igreja Ortodoxa aquela perfeita harmonia entre liberdade e união que não seria possível no catolicismo nem no protestantismo; no primeiro, porque a união suprime a liberdade; no segundo, porque a liberdade suprime a união. No século passado, essas teorias de Khomiakov foram duramente criticadas e condenadas pela hierarquia ortodoxa e seu autor foi asperamente censurado. A publicação de suas obras só foi autorizada vinte anos depois de sua morte. Hoje, porém, a teologia de Khomiakov é muito difundida entre os teólogos ortodoxos.

Pavel I. Svetlov (+ 1942) foi quem mais contribuiu para consolidar e difundir as doutrinas de Khomiakov. Suas obras mais importantes são: A Doutrina Cristã Apresentada em Forma Apologética e A Ideia do Reino de Deus no seu Significado Relativo à Concepção Cristã do Mundo. Ele assume uma posição conciliatória nos pontos controversos entre ortodoxos e latinos, como por exemplo na questão da processão do Espírito, em que ele não encontra nenhuma diferença substancial entre as doutrinas grega e latina, e na questão da Imaculada Conceição. Svetlov critica particularmente os teólogos ortodoxos que consideram que as confissões não-ortodoxas não pertencem à Igreja de Cristo. Contra essa tese, afirma que “as Igrejas Oriental e Ocidental não são dois corpos completamente separados um do outro e mutuamente estranhos, mas simplesmente partes do único e verdadeiro Corpo de Cristo: a Igreja universal; ambas as comunidades cristãs estão da mesma forma unidas a Cristo através da sucessão apostólica, da verdadeira fé e dos sacramentos. Portanto, em consequência da aparente divisão, a Igreja universal parece subsistir em dois corpos, enquanto, de fato, é uma só. O obstáculo à sua reunião é constituído pela ideia errada, profundamente radicada em ambas as partes da cristandade, de que depois da divisão só uma parte se identifique com o todo, com a Igreja universal… As diferenças entre as duas Igrejas não são de substância, mas foram aumentadas pela inimizade e pela polêmica; frequentemente, são apenas aparentes”[11].

Soloviev (+ 1900), além de grande filósofo, foi um dos mais válidos representantes do renascimento teológico ortodoxo. Sua obra mais importante são as Lições sobre a Divino-humanidade, um profundo ensaio cristológico no qual a Encarnação é concebida como um evento que tem lugar no próprio coração do ser, sendo o seu evento interior, e depois, por extensão, se amplia a tudo o que é humano, colocando a história sob o signo da “cristificação” universal. De tal modo, o Cristo-Deus-Homem se cumpre no Cristo-Deus-Humanidade. Em harmonia com esse “teandrismo“, Soloviev elaborou uma “sofiologia” que, através das malhas do idealismo alemão e de um misticismo por vezes equívoco, tenta reler as afirmações da Bíblia e de Orígenes sobre a Sabedoria, que ele vê sair da Trindade para criar o mundo, divinizá-lo e reintegrá-lo em sua fonte. Florensky e Bulgakov retomariam depois por sua conta os elementos essenciais dessa teoria, esforçando-se por libertá-la dos seus elementos cabalísticos e gnósticos. 

3. O renascimento grego

O ponto de partida do renascimento da teologia ortodoxa na Grécia foi a fundação da Universidade de Atenas, poucos anos depois da expulsão dos turcos. A Faculdade de Teologia ocupava o lugar de honra entre as quatro faculdades com que teve início a nova universidade. Num primeiro momento, a principal função da faculdade foi a formação do clero e dos mestres de religião no novo Estado. Em seguida, contudo, passou-se a cuidar sempre mais da pesquisa científica. Essa orientação favoreceu consideravelmente o despertar da ciência teológica. Já no século XIX surgiram alguns autores de valor, como Constantino Kontogonis e Nicola Damalas. Este último é autor de um livro, Princípios Científicos e Eclesiásticos da Teologia Ortodoxa, que ainda hoje goza de grande fama.

Mas, foi sobretudo neste século que a Grécia produziu uma série respeitável de grandes teólogos. O primeiro de todos foi Christos Antroutsos (+ 1935), do qual Bratsiotis escreveu:

“Em minha opinião pessoal e interpretando também a opinião de todos os cientistas imparciais, posso assegurar que nossa escola teológica ainda não viu um teólogo tão capaz e genial e nunca ouviu um mestre tão metódico e atraente como ele”[13].

Suas inúmeras obras teológicas e a qualidade de suas monografias, estudos e discursos científicos constituem a demonstração mais eloquente da fecundidade de seu gênio. No Simbolismo do Ponto de Vista Ortodoxo, uma de suas obras mais originais, através de um penetrante estudo da Sagrada Escritura e dos Padres, ele procura identificar e descrever as diferenças entre as principais Igrejas e precisar o pensamento da Igreja Ortodoxa.

Outros teólogos importantes são Amilcas Alivizatos, Panaghiotis Bratsiotis, Panaghiotis Trembelas, João Karmiris e Nikos Nissiotis.

Amilcas Alivizatos, além de teólogo, é também um personagem bem conhecido tanto na Grécia como no resto da Europa. Ocupou numerosos e variados cargos nos governos do seu país. Teve um papel determinante na preparação da Carta Constitucional de 1923. Participou ativamente de muitas assembleias ecumênicas. Suas maiores obras são: A Continuidade Ininterrupta da Igreja Ortodoxa Grega com a Igreja Indivisa (1934); Posição Contemporânea da Teologia Ortodoxa (1931 ); O Culto na Igreja Ortodoxa (1952). Quanto ao pensamento, “Alivizatos é o descendente espiritual da tradição patrística liberal dos tempos em que florescia o cristianismo helênico, da Ortodoxia e do espírito ecumênico da Igreja antiga”[14].

Panaghiotis Bratsiotis é eminente sobretudo como exegeta. De 1929 a 1960, ocupou a cátedra de Introdução e Interpretação do Antigo Testamento. Suas principais obras são: O Judaísmo Palestino na Palestina (192O); João Batista como Profeta (1921); Estudos sobre os LXX (1926); Introdução ao Antigo Testamento (1937); Comentário a Isaías (1956).

Panaghiotis Trembelas, talento multiforme e fecundo não negligenciou nenhum campo do saber teológico, da apologética à teologia fundamental, da exegese à liturgia, da moral à dogmática. Neste último campo, sua principal obra é A Dogmática da Igreja Católica Ortodoxa, em três volumes, publicados entre 1959 e 1961. Nela, o autor se propõe a dar a conhecer o espírito dos Santos Padres; na realidade, entre suas qualidades, a sua dogmática tem a qualidade de ser verdadeiramente patrística. Um mérito de Trembelas foi ter renovado a exposição da teologia dogmática grega, aprofundada de há muito pelos trabalhos de Androutsos, os quais, porém, já se encontravam um pouco ultrapassados.

João Karmiris é um teólogo que se formou no Ocidente, nas universidades de Berlirh e Bonn, tendo começado a conquistar fama nos ambientes internacionais com a tradução neo-helênica da Summa Theologiae de são Tomás de Aquino. São bastante numerosas suas publicações no campo histórico-dogmático. A sua obra-prima é A Tradição Histórica e Simbólica da Igreja Católica Ortodoxa, em dois volumes, publicados respectivamente em 1952 e 1953. Seus estudos “esclareceram a posição da Igreja Ortodoxa diante das várias tentativas dos Reformadores e fortaleceram o zelo e a altivez dos ortodoxos”[15].

Nikos A. Nissiotis (nascido em Atenas em 1925) está exercendo considerável influência especialmente nos ambientes ecumênicos. Atualmente, exerce o cargo de diretor do Instituto Ecumênico de Bossey (Suíça). Sua atividade teológica inspira-se constantemente nas exigências de sua função: o estudo dos problemas ecumênicos mais importantes do momento. Durante e depois do Concílio Vaticano II, granjeou apreço por suas penetrantes análises dos documentos conciliares desde o ponto de vista ortodoxo. Sua principal obra intitula-se O Problema da Fé em Kierkegaard e no Existencialismo Moderno.

E assim concluímos nossa visão panorâmica da história da Teologia Oriental. Breve síntese que, no entanto, não nos impediu de constatar como essa história é rica e variada. É bem verdade que ela teve momentos de pausa e declínio, como qualquer outra história, mas também teve longos períodos de grande esplendor, principalmente o período patrístico e neopatrístico e, depois, o período moderno e contemporâneo.

Neste século, a teologia ortodoxa registrou um reflorescimento semelhante ao das teologias irmãs, a católica e a protestante. Seus Bulgakov, Berdiaev, Florovsky e Lossky não são menores do que os nossos Rahner, Congar, Guardini, de Lubac e Chenu.

Esse é um fato bastante prometedor para o futuro da Cristandade. Faz brotar a esperança de que, por meio do diálogo entre os grandes teólogos e mediante o confronto de suas posições, as Igrejas Católica, Protestante e Ortodoxa possam reencontrar a unidade na fé. 

Notas:

[1] M. JUGIE, Theologia Dogmatica Christianorum Orientalium ab Ecclesia Cathotica Dissidentium, Paris, 1926-1935, v. 11, p. 18, nota.

[9] N. GLUBOKOVSKI, Russische Theologische Wissenschaft in lhrer Geschichtlichen Entwicklung uni lhren Heutigen Zustand, Varsóvia, 1928, p. 4.

[10] G. FLOROVSKY mostra-se severo em relação a Macário na obra Os Caminhos da teologia Russa (em ruSSO). Cf. pp. 222ss. 9. Os grandes teólogos … Vol. 2.

[11] Citação em J. CHRYSOSTOMUS, O.c., pp. 105-106.

[12] N. BERDIAEV, Autocoscienza, Esperimento di Autobiografia Filosofica, Paris, 1949, p. 99.

[13] Citado por P. DUMONT, “La Teologia Greca Odierna” em Oriente Cristiano, 1966, n. I, pp. 36-37.

[14] G. KONIDARIS, citado por P. DUMONT, “La Teologia Greca Odierna” em Oriente Cristiano, 1967, n. 4, p. 20.

[15] Idem, ibidem, n. 4, p. 53.

Fonte: https://byblos.ecclesia.org.br/teologia/

HISTÓRIA DOS JUBILEUS: A Igreja Triunfante e a Humildade Cristã

Roberto Bellarmino | 30Giorni

HISTÓRIA DOS JUBILEUS

Arquivo 30Dias nº 03 - 1999

A Igreja Triunfante e a Humildade Cristã

O ano é 1600. O primeiro Jubileu do novo século é diferente dos anteriores. Desta vez, todas as iniciativas visam exaltar o triunfo da Igreja. O elemento espetacular torna-se central em cada evento religioso. Apenas alguns, como Cesare Baronio, Roberto Bellarmino e Camillo de Lellis, não se conformam...

por Serena Ravaglioli

O rigor austero que caracterizara a vida religiosa no período imediatamente posterior ao Concílio de Trento, e que, portanto, também caracterizara as celebrações do Jubileu de 1575, foi gradualmente substituído, nos últimos anos do século, por um conceito diferente, voltado para a exaltação do "triunfo" da Igreja por meio da magnificência, da pompa e da exuberância.

Isso marcou o início da grande era do Barroco Romano. O elemento espetacular tornou-se central em todos os eventos – religiosos, artísticos e culturais – e foi esse gosto por cerimônias suntuosas, por procissões imponentes, por "pompa maravilhosa e sagrada", para usar as palavras de Torquato Tasso, que foi a característica marcante do Jubileu de 1600, no qual as confrarias, romanas e estrangeiras, foram protagonistas principais.
De fato, foram as confrarias que organizaram os eventos mais espetaculares.

Estas também eram muito apreciadas pelos romanos, que, privados das celebrações mais queridas e populares (o Carnaval, suspenso ainda em 1600 para o Jubileu), satisfaziam seu desejo de espetáculo desfrutando da teatralidade das cerimônias religiosas. Não passava um dia sem que uma procissão solene cruzasse a cidade: as irmandades romanas, cujos membros também se distinguiam por suas longas e coloridas vestes, marchavam para escoltá-los em suas visitas a locais sagrados. Uma dessas procissões, à noite, é descrita por Montaigne em seu diário de viagem: "Eles marcham em procissão com vestes de linho: cada irmandade tem sua própria cor, seja branco, vermelho, azul, verde, preto, a maioria com o rosto coberto... assim que escurecia, a cidade parecia em chamas por toda parte, todos aqueles irmãos marchando em fila em direção a São Pedro, cada um segurando uma tocha, a maioria de cera branca. Acredito que pelo menos doze mil tochas passaram diante de mim, pois das oito horas da noite até a meia-noite a rua permaneceu sempre cheia dessa procissão procedendo em tão bela ordem e com tanta compostura que, embora fosse composta por diferentes companhias e partisse de lugares diferentes, não vi uma lacuna nem uma interrupção".

As crônicas registram 408 procissões somente durante o mês de julho. O desfile de várias irmandades da Apúlia, que marcharam descalças pela cidade, batendo-se com correntes de ferro, causou grande comoção. No entanto, fontes contemporâneas concordam que a procissão mais suntuosa foi a da Confraria da Misericórdia de Foligno, que chegou a Roma na noite de 9 de maio, iluminada por muitas tochas. Foi precedida por uma procissão de crianças vestidas de anjos, seguidas por vários fiéis vestidos como figuras do Antigo Testamento. Em seguida, passou uma série de carros alegóricos carregando representações figurativas altamente realistas de todas as cenas da Paixão, de Jesus no Horto até Cristo Ressuscitado; seguidos por músicos, crianças carregando flores e ramos de oliveira, as piedosas mulheres e toda a congregação. A procissão durou várias horas. Outra procissão das irmandades da Úmbria foi inspirada na vida de São Francisco: jovens de Gubbio, ricamente vestidos e liderados por um Francisco como o príncipe da juventude, relembraram o período mundano da vida do santo e foram seguidos por setecentos fiéis de Assis que, em vez disso, vestiram o hábito e representaram Francisco como penitente.

César Barônio | 30Giorni

Às vezes, o espetáculo não era tão edificante: houve, de fato, casos em que, talvez por razões triviais de precedência, membros de uma confraria entraram em choque com os de outra. Assim, por exemplo, na ponte do Castelo de Santo Ângelo, a Confraria dos Gonfalones entrou em choque com a da Trindade; então, quando uma terceira confraria, esta de napolitanos, entrou na disputa, as duas confrarias romanas uniram forças contra os forasteiros, e o nobre Don Ferrante d'Avalos, que marchava à frente dos napolitanos carregando a cruz, achou mais prudente deixá-la de lado e desembainhar a espada. A Confraria dos Gonfalones também esteve no centro de outras façanhas semelhantes, enquanto entre os peregrinos de fora, os mais inquietos parecem ter sido os de Castelli, muito barulhentos e frequentemente embriagados.

Mas nem a teatralidade nem os episódios de intemperança devem nos levar a desconsiderar a sinceridade da devoção manifestada durante aquele Jubileu. Um grande promotor e exemplo disso foi o próprio Papa Clemente VIII Aldo Brandini, apesar de sua saúde precária, que o obrigou a inaugurar o Ano Santo vários dias depois do previsto, em 31 de dezembro em vez do dia 24.

O zelo religioso do Pontífice durante o Jubileu foi intenso: visitou as quatro Basílicas sessenta vezes, em vez das trinta prescritas, visitou frequentemente as Sete Igrejas e subiu regularmente a Escada Santa de joelhos. Não se limitou, contudo, a práticas devocionais, dando constantes provas de caridade e abnegação. Serviu frequentemente no hospício Trinità dei Pellegrini e dedicou-se ao lava-pés. Durante a Quaresma, acolheu doze pobres à sua mesa todos os dias e ajudou incansavelmente os peregrinos necessitados com suas esmolas. Em particular, ele providenciou uma casa em Borgo, especialmente disponibilizada para esse fim, para abrigar, às suas expensas, padres sem meios de subsistência que viessem a Roma por dez dias.

Clemente VIII, cujo pai nasceu em Florença, acolheu com particular cordialidade as confrarias daquela cidade, para as quais celebrou missa na Basílica de São Pedro, distribuindo pessoalmente a comunhão, e a quem também ofereceu café da manhã nos palácios do Vaticano.

O exemplo de generosidade do Pontífice foi seguido por muitos cardeais (aliás, o Papa havia proibido os cardeais de usar a púrpura o ano todo): entre eles, destacam-se Cesare Baronio e, especialmente, Roberto Bellarmino, ambos assiduamente dedicados à pregação. Roberto Bellarmino era o teólogo oficial de Clemente VIII, mas, devido à sua disponibilidade e espírito de serviço, era conhecido como o "porteiro das Congregações".

Roberto Bellarmino | 30Giorni

Vale a pena recordar outra figura de grande e ativa caridade, atuante em Roma naquele ano: Camilo de Lellis, fundador da Ordem dos Ministros dos Enfermos. As datas marcantes de sua vida parecem singularmente ligadas aos Anos Santos. Ele nasceu no Pentecostes de 1550, e sua conversão remonta a 1575. Já por ocasião daquele Jubileu, ele havia viajado para Roma, onde, após completar os atos devocionais prescritos, dedicou-se a servir os doentes no Hospital de San Giacomo degli Incurabili, onde já havia sido internado. Foi sua observação do tratamento frio reservado aos doentes, especialmente aos pobres, que o levou, em 1586, a fundar sua Ordem, que se comprometia a servir os doentes por puro amor a Deus, sem qualquer recompensa material, e "com o carinho que uma mãe amorosa dispensa ao seu único filho doente". Em 1600, Camilo fez trinta visitas às Basílicas com fervorosa devoção, entre janeiro e a Páscoa, como relata sua biografia: "Ele não se importava que as janelas e as ruas estivessem severamente danificadas pela chuva e lama constantes daquele inverno. Todos que o conheciam ficavam surpresos e se perguntavam como ele, com uma perna tão dolorida, conseguia continuar visitando as Basílicas por três ou quatro dias seguidos, sempre em jejum, pois era Quaresma. Mas o que dava um sinal maior de sua profunda perfeição era que, ao retornar das visitas mencionadas, ele sempre ia dormir à noite no Hospital do Espírito Santo.

Lá, em vez de descansar do grande cansaço do dia, ele infalivelmente se levantava à meia-noite e vigiava, permanecendo acordado até a manhã seguinte à refeição dos doentes... Ele também praticava um pouco de caridade para com os pobres peregrinos que iam a Roma, hospedando muitos deles em nossa casa, lavando seus pés e servindo-os à mesa." No mesmo ano de 1600, quatorze anos após sua fundação, Clemente VIII dedicou uma bula papal à Ordem de São Camilo, que entretanto havia estendido sua atividade de Roma para outras localidades da Itália, nas quais se estabeleceram seus novos objetivos e novas necessidades.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Dia Mundial das Missões

Dia Mundial das Missões (P.O.M.)

Dia Mundial das Missões: Vaticano divulga estatísticas da Igreja Católica

17 outubro 2025

Por ocasião do 99º Dia Mundial das Missões, que se celebra no domingo, 19 de outubro de 2025, com o tema “Missionários de esperança entre os povos”, a Agência Fides apresenta, como de costume, algumas estatísticas compiladas para oferecer um panorama da Igreja missionária no mundo.

Todos os dados deste dossiê, e a posterior elaboração das tabelas, foram retirados do último “Anuário Estatístico da Igreja” publicado este ano e referem-se aos membros da Igreja, às suas estruturas pastorais, às atividades nos campos da saúde, assistência e educação. Os dados contidos no volume relativos à população mundial total e ao número de batizados católicos estão atualizados em 30 de junho de 2023. Os restantes dados estão atualizados em 31 de dezembro de 2023.

A Igreja Católica no mundo: síntese dos dados

Em 30 de junho de 2023, a população mundial era de 7,9 bilhões de pessoas, com um aumento de 75,6 milhões em relação ao ano anterior. A tendência positiva se confirma em todos os continentes, incluindo a Europa.

Também a 30 de junho de 2023, o número de católicos era de 1,4 bilhão de pessoas, com um aumento total de 15.881.000 (quinze milhões, oitocentos e oitenta e um mil) de católicos em relação ao ano anterior. Também neste caso, o aumento de católicos ocorre nos cinco continentes, incluindo a Europa, onde se inverte a tendência de queda observada na medição anterior, na qual foi registrada uma diminuição em 2022 em relação a 2021.

Tal como nos anos anteriores, o aumento é maior na África (+8,3 milhões) e na América (+5,6 milhões). Seguem-se a Ásia (+954 mil), a Europa (+740 mil) e a Oceania (+210 mil).

A percentagem de católicos na população mundial aumentou ligeiramente (+0,1) em relação ao ano anterior, e equivale a 17,8%.  No que diz respeito aos diferentes continentes, as variações deste dado em relação ao relatório anterior são mínimas.

O número de Bispos em todo o mundo aumentou para 5.430. Aumentam os bispos diocesanos (+84) e diminuem os bispos religiosos (-7). Os bispos diocesanos são 4.258, enquanto os religiosos são 1.172.

O número total de sacerdotes no mundo continua a diminuir, situando-se em 406.996 (-734 no último ano). Mais uma vez, é a Europa (-2.486) que apresenta um declínio consistente, seguida da América (-800) e da Oceania (-44). Tal como no ano passado, registam-se aumentos significativos na África (+1.451) e na Ásia (+1.145). O número de sacerdotes diocesanos no mundo diminuiu globalmente em 429, situando-se em 278.742. Diferentemente do ano passado, regista-se um declínio nos sacerdotes religiosos, que são atualmente 128.254 (-305).

De acordo com o último anuário, o número de diáconos permanentes no mundo continua a aumentar (+1.234), atingindo 51.433. O aumento é registado na América (+1.257) e na Oceania (+57). Registam-se ligeiras quedas na Ásia (-1), África (-3) e Europa (-27).

Os religiosos não sacerdotes diminuíram (-666) em relação ao ano anterior, totalizando 48.748. As diminuições são registadas na Europa (-308), América (-293), Ásia (-126) e Oceania (-46), enquanto aumentam apenas na África (+107).

Nas estatísticas deste ano, também se confirma a tendência de diminuição global das religiosas em curso há algum tempo: são 589.423 (-9.805). Os aumentos são registados novamente na África (+1.804) e na Ásia (+46), e as diminuições na Europa (-7.338), América (-4.066) e Oceania (-251).

O número de seminaristas maiores, tanto diocesanos como religiosos, também diminuiu na última contagem anual: em todo o mundo são 106.495 (eram 108.481 no ano anterior). Os aumentos são apenas na África (+383), enquanto diminuem na América (-362), Ásia (-1.331), Europa (-661) e também na Oceania (-15).

O número de seminaristas menores, diocesanos e religiosos, também diminuiu, situando-se em 95.021 (-140). Em detalhe, inverte-se a tendência na África, passando do aumento registado no inquérito anual anterior (+1.065) para a diminuição registada no último inquérito (-90); também se registam descidas na Europa (-169) e na Oceania (-31), mas um forte aumento na Ásia (+123) e um ligeiro aumento na América (+27).

No campo da instrução e da educação, a Igreja administra no mundo 74.550 escolas maternais frequentadas por 7.639.051 alunos; 102.455 escolas primárias com 36.199.844 alunos; 52.085 escolas secundárias com 20.724 alunos. Além disso, 2.688.615 estudantes frequentam institutos superiores e 4.468.875 institutos universitários ligados à Igreja Católica.

Os institutos de saúde, beneficência e assistência administrados no mundo pela Igreja englobam 103.951 e incluem: 5.377 hospitais e 13.895 postos de saúde; 504 leprosarias; 15.566 casas para idosos, doentes crónicos e deficientes; 10.858 creches; 10.827 consultórios matrimoniais; 3.147 centros de educação ou reeducação social e 35.184 instituições de outros tipos.

As circunscrições eclesiásticas (ou seja, Metropolitanas, Arquidioceses, Dioceses, Abadias territoriais, Vicariatos apostólicos, Prefeituras apostólicas, Missões sui iuris, Prelaturas territoriais, Administrações apostólicas e Ordinariatos militares) dependentes do Dicastério para a Evangelização, Seção para a Primeira Evangelização e as Novas Igrejas Particulares, são no total 1.130, de acordo com a última variação registada (+7). A maior parte das circunscrições eclesiásticas confiadas ao Dicastério com sede na Piazza di Spagna, em Roma, encontram-se na África (530) e na Ásia (483). Seguem-se a América (71) e a Oceania (46).

Fonte: Agência Fides

https://pom.org.br/

Papa a ciganos: trabalho e oração, força para derrubar muros da desconfiança e do medo

Jubilei dos Ciganos e Povos Intinerantes, 18/10/2025 - Papa Leão XIV (Vatican Media)

Leão XIV recebeu na manhã deste sábado, 18 de outubro, os participantes do Jubileu dos Ciganos e Povos Itinerantes, reunidos na Aula Paulo VI, no Vaticano. Música, cantos, danças, leitura de escritos, testemunhos, antes da chegada do Pontífice, que exorto a serem “protagonistas da mudança de época em curso”, fazendo “conhecer a beleza da sua cultura” e “compartilhando a fé, a oração e o pão fruto do trabalho honesto”.

https://youtu.be/bgUm_RnJuzM

Vatican News

Após dar-lhes as boas-vindas, recebendo-os na Sala Paulo VI, no Vaticano, por ocasião do Jubileu dos Ciganos e Itinerantes, Leão XIV disse que eles vieram a Roma de toda a Europa — alguns até de fora da Europa — como peregrinos de esperança neste Jubileu. Com a sua presença, lembramo-nos de que "a esperança é itinerante" — o título do nosso encontro — e hoje todos nos sentimos impelidos a caminhar pelo dom que trazem com vocês ao Papa: a sua fé forte, a sua esperança inabalável somente em Deus, a confiança sólida que não cede às fadigas de uma vida muitas vezes à margem da sociedade.

“Que a paz de Cristo esteja em seus corações”, disse-lhes! “E que a paz esteja também nos corações dos numerosos agentes pastorais que aqui estão presentes e que caminham incansavelmente com vocês”.

A celebração jubilar de hoje ocorre sessenta anos após o histórico primeiro encontro mundial que o Papa São Paulo VI teve com as suas comunidades, em Pomezia, em 26 de setembro de 1965. Quase como testemunha desse acontecimento, está aqui hoje, a imagem de Nossa Senhora, que o próprio Pontífice coroou como "Rainha dos Ciganos, dos Sinti e dos Itinerantes". Ao longo destes sessenta anos, os encontros com os meus predecessores têm-se verificado cada vez com mais frequência, em diversos contextos, sinal de um diálogo vivo e de um cuidado pastoral especial para com vocês, "porção predileta do povo peregrino de Deus". Sim, Deus Pai os ama e os abençoa, e a Igreja também os ama e os abençoa.

Vocês podem ser testemunhas vivas da centralidade destas três coisas: confiar somente em Deus, não se apegar a nenhum bem mundano e mostrar uma fé exemplar em ações e palavras. Viver assim não é fácil. Aprende-se acolhendo a bênção de Deus e permitindo que ela trabalhe para transformar o nosso coração. "O coração da Igreja, por sua própria natureza, é solidário com os pobres, os excluídos e os marginalizados, com aqueles considerados 'descarte' da sociedade. [...] No coração de cada fiel, há a necessidade de ouvir aquele grito que vem da obra libertadora da graça em cada um de nós; portanto, esta não é uma missão reservada apenas a alguns".

Por quase mil anos, vocês foram peregrinos e nômades num contexto que construiu progressivamente modelos de desenvolvimento que se mostraram injustos e insustentáveis em muitos aspectos. Por essa razão, as chamadas sociedades "progressistas" os descartaram consistentemente, marginalizando-os sempre: as margens das cidades, as margens dos direitos, as margens da educação e da cultura. No entanto, o próprio modelo de sociedade que os marginalizou e os tornou itinerantes, sem paz nem acolhimento — primeiro em caravanas sazonais, depois em acampamentos nas periferias das cidades, onde às vezes ainda vivem sem eletricidade ou água — foi o que criou as maiores injustiças sociais em todo o mundo ao longo do último século: enormes desigualdades econômicas entre indivíduos e povos, crises financeiras sem precedentes, desastres ambientais e guerras.

Mas nós, na fé em Jesus Cristo, sabemos que "a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular", e assim somos cada vez mais fortalecidos na convicção de que os mesmos valores que os pobres defendem com grande dignidade e orgulho são aqueles para os quais todos devemos olhar para mudar de rumo. A sua presença nas periferias do Ocidente é, de fato, ao qual fazer referência no campo da eliminação de muitas estruturas de pecado, para o bem e o progresso da humanidade rumo a uma convivência mais pacífica e justa, em harmonia com Deus, com a criação e com os outros.

O Santo Padre exortou-os a não desanimarem! Ao estarem mais próximos da condição de Cristo, pobre e humilhado, vocês lembram à humanidade o "paradigma da vida cristã", disse, encorajo-os a acreditar na beleza salvadora que a sua cultura e a sua situação itinerante trazem consigo. Leão XIV retomou o apelo sincero que o Papa Francisco, em 2019, fez aos ciganos e itinerantes:

"Peço-lhes, por favor, que tenham um coração maior, ainda mais amplo: sem ressentimentos. E que sigam em frente com dignidade: a dignidade da família, a dignidade do trabalho, a dignidade de ganhar o pão de cada dia - é isso que os faz seguir adiante - e a dignidade da oração."

“Que a dignidade do trabalho e a dignidade da oração sejam a sua força para derrubar os muros da desconfiança e do medo”, exortou-os, por sua vez, o Papa Leão XIV.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

Uma investigação sobre o Salmo 47: por que Deus é “terrível”?

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Paulo Teixeira - publicado em 16/10/25

Entenda a polêmica da tradução que incomoda, mas é mantida por especialistas em várias línguas. A resposta não está no dicionário, mas na história e na teologia.

Estava lendo em casa minha Bíblia e me deparei com o Salmo 47 (46) e, em um dos versos, a palavra "terrível" surge para descrever o Altíssimo. Logo isso me causou estranheza. Afinal, um Deus de amor, misericórdia e bondade pode ser chamado de "terrível"? A controvérsia não é nova, e as traduções litúrgicas oficiais parecem preferir manter a palavra, mesmo com a existência de sinônimos mais "suaves" como "sublime" ou "excelso". Mas por quê? 

O ponto de partida para essa discussão não é a sensibilidade do ouvinte, mas a precisão da tradução. Especialistas em Bíblia e linguística, responsáveis por traduzir os textos sagrados, explicam que a palavra "terrível" é a que mais se aproxima do original hebraico. Em outras palavras, não é uma escolha aleatória, mas um esforço para ser fiel ao texto que saiu do forno há milênios. 

O Salmo em sua essência

A questão central é que a tradução de um texto antigo não pode se basear apenas em dicionários contemporâneos. A palavra hebraica por trás de "terrível" carrega um significado muito mais complexo do que o "medonho" ou "violento" que associamos hoje. Para os antigos, essa palavra evocava uma mistura de reverência, poder avassalador e admiração. 

Imagine a força de um furacão, a grandiosidade de uma montanha ou o mistério de um eclipse solar. Esses fenômenos são "terríveis" no sentido de que inspiram uma mistura de medo e fascínio. Eles nos lembram de nossa pequenez e do poder imenso que os criou. É essa dimensão de poder transcendente que a palavra "terrível" tenta capturar. 

O que os especialistas argumentam é que sinônimos como "excelso" ou "sublime", embora agradáveis, já estão contidos na palavra "Altíssimo", gerando uma redundância. Além disso, esses termos perdem a nuance de poder e majestade que o termo original contém. 

A Bíblia de Jerusalém  e a Bíblia Pastoral, por exemplo, mantêm a palavra. As Bíblias em línguas românicas (espanhol, francês, italiano) também a adotam, o que sugere uma escolha técnica e não uma simples convenção de tradução. 

Do medo ao temor: a diferença teológica

A Bíblia está repleta de adjetivos que, à primeira vista, parecem "duros" para descrever Deus. Ele é o "Justo Juiz", o "Deus dos Exércitos", e o Credo diz que "há de vir em sua glória, para julgar os vivos e os mortos". A teologia por trás disso é que Deus, além de amor, é também justiça. E sua onipotência, expressa no termo "Todo-poderoso", não significa que ele é um "déspota" ou um "prepotente", mas que sua força é ilimitada. 

Outro exemplo é o "temor de Deus", um dos sete dons do Espírito Santo. Ele não significa "ter medo" de Deus no sentido de que ele vai nos punir, mas sim um medo de ofendê-lo, uma profunda reverência por sua santidade e grandeza. 

A tradução litúrgica, portanto, não é um exercício de "agradar" o fiel, mas de educá-lo. Ao manter a palavra "terrível", ela convida a uma reflexão mais profunda sobre a totalidade de Deus: um ser que é amor incondicional, mas também justiça e poder absolutos. 

A sensibilidade moderna pode se chocar com a dureza de certas palavras, mas a tradição teológica insiste que a Bíblia deve ser compreendida em seu próprio contexto. Afinal, a tradução perfeita é aquela que captura não só a letra, mas também o espírito do texto original. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/10/16/uma-investigacao-sobre-o-salmo-47-por-que-deus-e-terrivel/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF