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sábado, 1 de fevereiro de 2025

Três meses após o casamento, um jovem casal espanhol parte em missão missionária para… Tanzânia!

Gloria E Pablo Participaram De Várias Experiências Missionárias Durante Os Verões Foto: Arquidiocese De Madrid

Desde criança, Glória sonhava em conhecer o mundo da missão e, aos 18 anos, deu o primeiro passo acompanhando os tios ao Peru. Por sua vez, Paulo sentiu o chamado missionário na adolescência, quando o Senhor plantou essa preocupação em seu coração. Durante o namoro, ambos colaboraram ativamente na Delegação Missionária de Madri, divulgando histórias de outros missionários.

Sandra Madrid

(ZENIT News – InfoMadrid / Roma, 01.30.2025).- Gloria Rey e Pablo de Mergelina, um jovem casal da  diocese de Madrid , casaram-se no dia 12 de outubro de 2024. Meses antes do casamento, o cardeal José Cobo os enviou como missionários para a diocese de Bunda, na Tanzânia.

Por ocasião do  Encontro Diocesano da Infância Missionária , que aconteceu no próximo sábado, 25 de janeiro, eles compartilharam seu testemunho com os pequenos missionários que participaram do evento. Glória começou sua fala explicando “por que eles vão em missão”, uma resposta que eles têm clara: “Porque é um chamado que Deus nos fez e ao qual nós respondemos sim”.

Foto: Arquidiocese De Madrid

Desde criança, Glória sonhava em conhecer o mundo da missão e, aos 18 anos, deu o primeiro passo acompanhando os tios ao Peru. Por sua vez, Paulo sentiu o chamado missionário na adolescência, quando o Senhor plantou essa preocupação em seu coração. Durante o namoro, ambos colaboraram ativamente na Delegação Missionária de Madri, divulgando histórias de outros missionários. "Essas vidas nos parecem incríveis e sempre encheram nossos corações de alegria", diz Gloria.

Gloria e Pablo participaram de várias experiências missionárias durante os verões e agora estão embarcando em um novo capítulo na Tanzânia, onde permanecerão por pelo menos três anos.

Foto: Arquidiocese De Madrid

“Vamos como missionários e nos colocamos à disposição do bispo e da diocese”, explica Pablo. Ela explica que seus dias serão divididos: "De manhã, trabalharemos no Hospital Kibara, perto da margem do Lago Vitória, e à tarde colaboraremos em tarefas pastorais, visitaremos famílias e realizaremos outras atividades".

Em relação ao lema do Dia da Infância Missionária, celebrado no domingo, 19 de janeiro, “Eu compartilho o que tenho”, Glória e Pablo destacam o profundo impacto que Deus teve em suas vidas, especialmente por meio de suas famílias. e amigos. "Nós nos sentimos muito amados e cuidados", eles dizem. Por isso, sentem a necessidade de partilhar a fé que receberam: “Queremos dar a conhecer ao mundo inteiro, transmitir a alegria e a felicidade que encontramos em Jesus, ter um coração missionário e anunciar Cristo em lugares onde ele ainda não é conhecido".

Foto: Arquidiocese De Madrid

Em suma, na Tanzânia eles buscam viver como uma autêntica família cristã, totalmente integrada à comunidade local. "Isso também significa compartilhar o que temos em qualquer momento", concluem.

Fonte: https://es.zenit.org/2025/01/30/con-tres-meses-de-matrimonio-jovenes-esposos-espanoles-se-van-de-misioneros-a-tanzania/

A misericórdia muda o coração e recoloca a vida nos sonhos de Deus

A misericórdia muda o coração e recoloca a vida nos sonhos de Deus |
Audiência Jubilar do Papa Francvisco (Vatican News)

"Em vez de olhar para a escuridão do passado, para o vazio de um sepulcro, de Maria Madalena aprendemos a nos voltar para a vida. Nosso Mestre nos espera lá. Nosso nome é pronunciado ali. Porque na vida real há um lugar para nós, sempre e em todo lugar. Há um lugar para ti, para mim, para todos. Ninguém pode pegá-lo, porque ele sempre foi projetado para nós", disse o Papa aos milhares de peregrinos que lotavam a Sala Paulo VI na Audiência Jubilar deste sábado.

https://youtu.be/EW3K-_cBLRU

Jane Nogara - Cidade do Vaticano

Neste sábado, 1º de fevereiro foi realizada a 2ª Audiência Jubilar deste Ano Santo dedicado à esperança. Nesta ocasião o Santo Padre recebeu na Sala Paulo VI os peregrinos das Dioceses de Cápua e Caserta, que vieram em peregrinação ao Vaticano acompanhados por seu pastor, dom Pietro Lagnese.

Na sua catequese intitulada "Esperar é voltar-se. Maria Madalena", o Papa recordou a importância de reconhecer o Ressuscitado nas pessoas comuns e voltar-nos para a vida, citando o exemplo de Maria Madalena narrado no Evangelho de João. O Jubileu é um novo começo, disse Francisco, "é um tempo onde tudo deve ser repensado dentro do sonho de Deus. E sabemos que a palavra 'conversão' indica uma mudança de direção. Tudo é visto sob outra perspectiva e assim também nossos passos vão em direção a novas metas". E acrescenta:

Também para nós, a experiência da fé foi estimulada pelo encontro com pessoas que na vida souberam mudar e entraram, por assim dizer, nos sonhos de Deus. De fato, ainda que no mundo haja tanta maldade, podemos distinguir quem é diferente: a sua grandeza, que muitas vezes coincide com a sua pequenez, conquista-nos.

Neste sentido, observou o Papa, "nos Evangelhos a figura de Maria Madalena destaca-se acima de todas as outras por causa disso. Jesus curou-a com misericórdia e ela mudou (...). A misericórdia muda o coração e, a Maria Madalena, a misericórdia recolocou nos sonhos de Deus e deu novos objetivos a seu caminho".

Maria Madalena "voltou-se para"

O Papa citou o Evangelho de João que narra o encontro de Maria Madalena com o Ressuscitado. Naquele encontro diante do sepulcro, "é repetido várias vezes que Maria se voltou. O Evangelista escolhe bem as suas palavras!", explicou o Papa. "Em lágrimas, Maria Madalena olha primeiro para o sepulcro, e então volta-se: o Ressuscitado não está do lado da morte, mas do lado da vida".

Ao ouvir o seu nome pronunciado por Jesus, Maria volta-se novamente. "É assim que a sua esperança cresce: agora vê o sepulcro, mas não como antes". Agora "pode enxugar as suas lágrimas, porque ouviu o próprio nome: só o seu Mestre o pronuncia assim. O velho mundo parece ainda estar lá, mas já não está. Quando sentimos o Espírito Santo agindo em nosso coração e ouvimos o Senhor nos chamando pelo nome, sabemos distinguir a voz do Mestre".

Aprender a esperança

"De Maria Madalena, a quem a tradição chamou 'apóstola dos apóstolos', aprendemos a esperança", disse Francisco. "Entra-se no mundo novo convertendo-se mais de uma vez. A nossa caminhada é um convite constante para mudar de perspectiva". Neste ponto Francisco convida a nos perguntamos: sei como me voltar e olhar para as coisas de forma diferente? Tenho desejo de conversão?".

Reconhecer o Ressuscitado

O Santo Padre chama a atenção para o fato que "um eu demasiado confiante e orgulhoso impede-nos de reconhecer Jesus Ressuscitado: ainda hoje, com efeito, a sua aparência é a de pessoas comuns que facilmente ficam para trás".

Referindo-se à passagem do Evangelho de João afirma ainda: "Em vez de olharmos para as trevas do passado, para o vazio de um sepulcro, com Maria Madalena aprendemos a voltar-nos para a vida. É ali onde o nosso Mestre espera-nos. É ali onde o nosso nome é pronunciado".

"Porque na vida real - disse Francisco ao concluir - há um lugar para nós, sempre e em todo o lugar. Há um lugar para ti, para mim, para cada um. Ninguém o pode pegar, porque desde sempre foi concebido para nós. Todos podem dizer: eu tenho um lugar, eu sou uma missão":

Pensem nisso: onde é o meu lugar? Qual é a missão que o Senhor nos dá? Que esse pensamento nos ajude a ter uma atitude corajosa na vida. Obrigado!

A saudação aos peregrinos na Basílica de São Pedro

A Audiência Jubilar deste sábado, onde os peregrinos italianos eram a grande maioria, teve dois momentos: inicialmente na Sala Paulo VI, lotada pelos fiéis da Diocese de Cápua e Caserta - que assim também retribuíram a visita Pastoral de Francisco realizada em 26 de julho de 2014 - e depois na Basílica de São Pedro, onde estavam cerca de dois mil peregrinos da Diocese de Sulmona Valva, além de fiéis de diversas paróquias italianas e movimentos.

Após saudar e abençoar os presentes na Sala Paulo VI ao final da audiência, incluindo os presentes no saguão de entrada, Francisco foi até a Basílica de São Pedro, para agradecer a presença tão numerosa desses fiéis e rezar com eles a oração do Pai Nosso, seguida pela sua bênção. Após, se entreteve com os presentes, saudando, abençoando e distribuindo Terços e balas para as crianças.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

HISTÓRIA: "A fé nasce da vontade, não da coerção" (I)

Fé prática na providência divina (Schoenstatt)

Arquivo 30Giorni n. 01 - 2001

"A fé nasce da vontade, não da coerção"

Com estas palavras de De civitate Dei , Alcuíno, o conselheiro mais ouvido de Carlos Magno, dirige-se ao rei franco que tentou forçar o batismo dos saxões. Na história da Igreja, a autoridade de Santo Agostinho, desde que reconhecida, representou um elemento de crítica à imposição da prática cristã pela força. E a toda idealização doentia das realidades mundanas. Entrevista com Alessandro Barbero.

por Paolo Mattei

Em 23 de novembro de 800, o rei dos francos Carlos Magno, o "novus Christianissimus Dei Costantinus Imperator", como o Papa Adriano I o havia chamado anos antes, apresentou-se às portas de Roma. O Papa Leão III foi recebê-lo pessoalmente a doze milhas da cidade, dobrando a distância tradicional exigida pelo ritual do "adventus Caesaris", que regulamentava as entradas imperiais na cidade. Quase um mês após as boas-vindas papais, na manhã de Natal, Carlos foi coroado e recebeu os títulos de Augusto e Imperador. Do Império Romano, é claro. De fato, aos olhos dos protagonistas, naquele dia floresceu novamente o Império Romano Cristão, cujo curso havia sido interrompido cerca de três séculos antes pelas invasões dos bárbaros (em 23 de agosto de 476, o herúlio Odoacro depôs o último imperador romano, Rômulo Augusto, tomando para si o título de rex ). E foi precisamente diante de um bárbaro, um franco (descendente daquele conjunto de tribos germânicas que se fixaram na Gália e que se converteram posteriormente ao cristianismo no final do século V), que o Papa Leão III se curvou, com o gesto de proskynesis , sancionando, com isso um ritual propriamente oriental, a distância irredutível – política, cultural, teológica – com o Oriente cristão e com o basileu de Constantinopla. O Império, naquela manhã de Natal em que Leão III ungiu Carlos com óleo sagrado, foi reconstituído, nas crenças dos protagonistas, em Roma.

Mas olhando para esses eventos da nossa perspectiva histórica, é claro como a fisionomia "mediterrânica" (as costas europeia, africana e asiática do Mare Nostrum ) do antigo Império Romano se dissolve no novo perfil "continental", com o seu centro de gravidade no vale do Reno. , do Império Carolíngio. Portanto, não podemos deixar de concordar com aqueles que definiram Carlos como "rex pater Europae", fundador de um "espaço político" ocidental que ainda hoje está diante de nossos olhos.

Por ocasião do décimo segundo centenário daquela coroação, o Pontifício Comitê de Ciências Históricas e a Direção Geral dos Monumentos, Museus e Galerias Pontifícios montaram a exposição “Carlos Magno em Roma” nos Museus do Vaticano (aberta até 31 de março). e provavelmente além), focado na relação entre o imperador franco e a cidade. Carlos, provavelmente nascido por volta de 742 e falecido em 814, visitou Roma quatro vezes, em 774, 781, 787 e, a última vez, no fatídico ano de 800. Os aspectos capitolinos do famosíssimo “renascimento” carolíngio estão bem documentados pela exposição (um exemplo entre todos, a reprodução em miniatura do complexo de Latrão, renovado e ampliado por Leão III), que apresenta um rico e significativo catálogo de testemunhos sobre as relações do imperador com os papas Adriano I e Leão III, sobre as peregrinações em Roma, sobre a cultura clássica de Carlos Magno e sobre muitos outros aspectos da cultura e da sociedade carolíngia.

O aniversário da sua coroação e a exposição no Vaticano são dois excelentes motivos para falar sobre Carlos Magno e o período histórico em que trabalhou, com Alessandro Barbero, professor de História Medieval na Universidade do Piemonte Oriental em Vercelli e escritor consagrado ( Strega Prêmio 1995), cujo romance (histórico, claro) L'ultimo rosa di Lautrec está prestes a ser lançado nas livrarias. Em junho de 2000, ele publicou uma bela biografia do «pater Europae» ( Carlos Magno. Um Pai da Europa , Editori Laterza, Roma-Bari 2000). 

O que a ascensão de Carlos Magno ao trono significou para o cristianismo no início da Idade Média? ALESSANDRO BARBERO: A era de Carlos Magno marca o fim de uma realidade. O cristianismo nos primeiros séculos foi uma realidade predominantemente grega e oriental. Os lugares onde o cristianismo nasceu e depois foi pregado, os lugares onde os apóstolos e depois os primeiros Padres da Igreja viveram, eram todas regiões muito mais influenciadas pela cultura e tradições gregas do que pelas latinas. Pois bem, nesse sentido, certamente com a era de Carlos Magno gerou-se uma fratura incurável, que ainda não foi cicatrizada. O fim do cristianismo, inerente a um império romano greco-latino, está consumado, e o espaço de ação é dividido em duas esferas distintas: uma grega do Oriente e uma latina do Ocidente. 

Esta situação não corresponde, contudo, ao fim da ideia de um império cristão…
BARBERO: Não podemos falar do fim da utopia imperial, porque naquele momento ela era mais forte do que nunca. Podemos dizer que a utopia naquele período aceitou alguns "ajustes" realistas, que levaram a parte ocidental a um distanciamento fundamental, a um desinteresse substancial pela parte grega, pelos cristãos do Oriente: eles estavam muito distantes, falavam uma ' outra língua… Nesta ideia de um império cristão, os cristãos do Oriente são tacitamente esquecidos. Um pouco como hoje, quando, falando de uma Europa unida, esquecemos tacitamente, por exemplo, as regiões greco-eslavas do Leste (e, por outro lado, desconfiamos das populações mediterrânicas). Nesse sentido, a utopia imperial não morreu, mas mudou, modificou-se.

Podemos identificar naquele momento o início da autoidentificação da Igreja de Roma com o Ocidente do mundo?
BARBERO: Pelos nossos padrões históricos, sim. Com nosso critério de avaliação histórica podemos registrar o fato de que a ação da Igreja Romana se reduz naquele momento àquela parte do mundo que está disposta a reconhecer a primazia de Roma. O resto do mundo… não importa. Contudo, ao mesmo tempo, é preciso dizer que o espírito missionário era muito forte na época de Carlos Magno (e de uma forma que não seria mais o caso mais tarde, por exemplo, na época das Cruzadas). É claro que missionários não são enviados ao Japão (isso foi feito mais tarde pelos jesuítas no século XVI).

Entretanto, na era carolíngia, a ideia era clara de que no Ocidente havia vastos territórios e ainda havia tribos a serem cristianizadas. Carlos Magno passou trinta anos tentando subjugar os saxões. Subjugá-los não significava apenas expandir seu poder político sobre o norte da Alemanha, mas também recuperar as últimas tribos germânicas (portanto, tribos relacionadas aos francos e lombardos) que ainda eram pagãs para o cristianismo. Então Charles dá um passo adiante e descobre que existem os dinamarqueses, os escandinavos, em suma... Eles também são alemães, nós também nos entendemos, eles também são pagãos. E aí também surge a atividade missionária. Em suma, há uma clara vocação missionária, que também é cheia de riscos. Há, a esse respeito, uma bela anedota: um dia, Carlos enviou um poema a Paulo, o Diácono, um intelectual lombardo da corte, no qual lhe perguntava se ele preferiria ser jogado na prisão ou ir converter os dinamarqueses. .. Isso dá uma ideia do fato de que tínhamos plena consciência de que a missão era algo difícil, de que estávamos arriscando nossa pele. Ao mesmo tempo, porém, era uma intenção deliberada…

Enquanto isso, e volto ao parêntesis sobre as cruzadas, não é de todo verdade que elas ainda tivessem como objetivo a conversão dos pagãos. As Cruzadas foram feitas para conquistar a Terra Santa, para manter Jerusalém. E hoje podemos compreender melhor a força simbólica que tal objetivo poderia – e pode – ter… Pensemos hoje em Jerusalém, como por razões puramente simbólicas… Essas foram as Cruzadas. Não havia interesse algum em converter muçulmanos, não havia tal propósito. Então, em resumo: é na época de Carlos Magno que o espaço de ação da Igreja se estreita e que ela começa a se identificar com o Ocidente. No entanto, ainda não há consciência dos riscos desse fenômeno, não há plena consciência dele, ainda há um espírito missionário muito vivo.

Fonte: https://www.30giorni.it/

sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Tolerância em um Mundo Plural

Um mundo plural (Mais Que Dois)

TOLERÂNCIA EM UM MUNDO PLURAL

Dom João Santos Cardoso

Arcebispo de Natal (RN)

No mundo contemporâneo, marcado pela convivência de múltiplas culturas, religiões e ideologias, a tolerância emerge como uma virtude indispensável para promover o convívio pacífico, especialmente diante do agravamento das polarizações ideológicas amplificadas pelas novas mídias de comunicação e pelo controle exercido pelas Big Techs. Com base nas reflexões de Tomáš Halík, em Quero que sejas. Podemos acreditar no Deus do Amor? (2018), pode-se entender a tolerância ocidental moderna como um caminho para vivenciar o respeito ao diferente e desenvolver a capacidade de acolher o outro.

A tolerância, conceito típico do Ocidente moderno, enraizado no Iluminismo e nos conflitos religiosos decorrentes da Reforma Protestante, foi explorado por John Locke e está associada à ideia de “suportar” ou “aguentar” aquilo que nos desafia, como observa Tomáš Halík. Embora tenha se mostrado eficaz na redução de conflitos abertos, essa forma de tolerância muitas vezes não resolve o problema de fundo, resultando em guetos culturais que promovem apenas um convívio lado a lado, sem construir comunidades verdadeiras. No mundo contemporâneo, transformado em uma “aldeia global”, essa abordagem torna-se insuficiente, pois a proximidade inevitável entre pessoas e culturas intensifica os conflitos e demanda um modelo que vá além da mera convivência, promovendo o respeito mútuo e o acolhimento genuíno da alteridade.

A tolerância de Locke, como lembra Ulrich Beck, funcionou em contextos religiosos homogêneos, mas se mostra insuficiente no cenário globalizado e multicultural. A “aldeia global” exige regras que vão além do simples “não perturbar os círculos dos outros”. Precisamos de um modelo que promova o diálogo e a cooperação genuína entre culturas e tradições diversas.

O multiculturalismo ocidental, fundamentado na tolerância, enfrenta sérias dificuldades em sociedades marcadas por conflitos religiosos e culturais intensos. Halík critica o que chama de “imperialismo do amor”, uma postura que, em nome de uma fraternidade universal, busca minimizar as diferenças ao enfatizar apenas as semelhanças. Um exemplo disso é o conceito de “cristãos anônimos” de Karl Rahner, que, embora reconheça a bondade no outro e sugira semelhanças entre tradições religiosas, pode ser percebido como uma forma de arrogância. Essa abordagem, ao tentar enquadrar outras tradições nos moldes do cristianismo, muitas vezes desconsidera a singularidade e a autonomia espiritual do outro, reduzindo a riqueza da diversidade a uma uniformidade superficial. Em vez de promover um diálogo autêntico e respeitoso, ela pode ser interpretada como desrespeitosa, negando a alteridade e o direito do outro a manter sua identidade própria.

A tolerância ocidental, em sua forma iluminista, muitas vezes cai no relativismo, resumido no mantra “cada um tem sua própria verdade”. No entanto, Halík nos adverte que esse relativismo pode obscurecer o verdadeiro encontro com o outro. A verdade, como valor supremo, exige uma busca ativa, que respeite as diferenças e permita o crescimento mútuo.

O modelo ideal de convivência deve ir além da mera tolerância, que muitas vezes se limita a uma aceitação passiva, e do chamado “imperialismo do amor”, que tenta homogeneizar as diferenças em nome de uma fraternidade universal. A tradição cristã propõe algo mais profundo: o amor aos inimigos. Esse amor, incondicional e universal, não busca assimilar ou negar o outro, mas reconhecê-lo em sua dignidade e alteridade.

Esse desafio, mais complexo do que parece, exige um respeito genuíno pela autonomia espiritual e cultural do próximo, como enfatiza o filósofo Emmanuel Lévinas. O verdadeiro amor não reduz o outro à nossa visão ou entendimento, mas valoriza a sua singularidade. Como sugere Tomáš Halík, um amor autêntico é aquele que oferece espaço para o outro, respeitando sua autonomia e promovendo uma integração que acolha as diferenças sem anulá-las. Esse tipo de amor, fundamentado no respeito e na confiança mútuos, é indispensável para a construção de uma convivência verdadeiramente humana. Em última análise, no mundo atual, tão interconectado quanto vulnerável aos conflitos, é imperativo ir além da tolerância entendida como mera “paz armada”. Precisamos de uma ética do amor que reconheça o outro em sua singularidade e dignidade, construindo pontes que integrem as diferenças sem apagá-las.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A menina que está no limiar

Lila Azam Zanganeh  (copyright: Hank Gans © 2025)

A escritora iraniana Lila Azam Zanganeh e sua experiência no Jubileu da Comunicação.

Andrea Tornielli

"Eu me senti como uma menina acolhida numa casa que também poderia ser dela..." A escritora Lila Azam Zanganeh é um apaixonado rio de palavras, nenhuma delas parece demais. Seus grandes olhos escuros examinam o interlocutor para ler seu coração. Ela nasceu em Paris, filha de pais iranianos, lecionou literatura e cinema em Harvard, vive entre Roma, Paris e Nova York e fala sete idiomas. Ela é uma mulher do mundo que conhece o mundo, mãe de um menino de dois anos. Nos últimos dias, ela participou do Jubileu da Comunicação junto com outros membros da “Narrative 4”, organização sem fins lucrativos fundada pelo escritor Colum McCann para promover a empatia e a compreensão recíproca por meio do compartilhamento de histórias pessoais.

"Vir ao Jubileu", disse com emoção, "para mim foi talvez um dos acontecimentos mais importantes da minha vida, junto com o nascimento do meu filho dois anos atrás. Nasci em Paris, minha mãe iraniana frequentou escolas católicas em Teerã e, desde a infância, ela me ensinou uma fé muito aberta. Estudei numa escola católica. Mas ninguém nunca me disse que eu... não era católica!"

Quando Lila tinha nove anos, ela “descobriu” que não podia comungar, porque não era batizada. E a prática prevê que a pessoa tem de esperar até completar quinze anos para ser batizada. "Lembro-me que mais tarde, na França, fiz o catecismo. Certa vez, na aula, fiz uma pergunta: “Por que somente Cristo é filho de Deus? Não somos todos filhos de Deus?” A catequista – talvez pensando também no meu sobrenome – respondeu: “Se você diz estas coisas, não deve estar aqui”. É uma lembrança desagradável. "Mas por algum milagre e talvez por causa da fé da minha mãe, continuei esta relação muito profunda com o cristianismo. Vocês podem imaginar minha emoção ao chegar aqui para o Jubileu!"

Lila sempre acompanhou o testemunho do Papa com atenção e simpatia. "“Um padre da Amazônia me disse um dia: ‘Com este Papa há a lei do coração, e no seu coração você já é cristã.’ Fiquei muito impressionada com a visão inclusiva de Francisco, sua insistência em dizer que devemos sair para partilhar a mensagem de Jesus. Fiquei profundamente comovida quando ele falou de um Deus que bate à porta porque quer sair e alcançar a todos."

Na sexta-feira, 24 de janeiro, o primeiro gesto do Jubileu dos Comunicadores foi a vigília penitencial em São João de Latrão. "Vou muitas vezes à missa, mesmo sabendo que “tecnicamente” não sou católica", disse a escritora, "e posso dizer que o serviço litúrgico a que participei em São João de Latrão foi o mais bonito que já vivi. De repente, fomos informados de que havia sessenta padres disponíveis para confissões, e uma amiga minha da “Narrativa 4”, Rosa, que é muito católica, foi imediatamente se confessar. Quando ela voltou, perguntei se tinha sido legal. Ele respondeu: “Muito.” Eu disse a ela: “Eu não sou estritamente católica… você acha que eu também posso ir?” Ela é muito específica sobre essas coisas, eu esperava que ela me respondesse: absolutamente não! E em vez disso ela me disse: 'Sim, você pode ir.'"

Lila, a antiga menina que queria comungar, mas não pôde fazer porque não era batizada, levantou-se e se aproximou de um dos padres. "Entrei na fila para a língua francesa. Cheguei diante desse padre congolês e a primeira coisa que lhe disse foi: “Padre, meu primeiro pecado, antes de tudo, é não ser católica. Mas eu tenho a fé cristã em meu coração." Ele respondeu: “Somos todos pecadores e na casa de Deus você é bem-vinda”. Ele começou a rezar. Foi um momento tão bonito que comecei a chorar, mas de alegria. Ele me disse coisas maravilhosas. Convidou-me a permanecer em contato com o Espírito Santo, conversamos sobre o amor que às vezes permanece desiludido. Ele me disse que o outro sempre faz parte de nós e me lembrou do mandamento do amor. Eu chorava de alegria e no final também ria e agradecia, porque foi um grande momento de alegria."

Na manhã de segunda-feira, na audiência com um grupo de comunicadores, Lila encontrou pessoalmente o Papa Francisco e lhe contou um pouco de sua história. "Ele olhou para mim, convidou-me a seguir em frente e a ter coragem. Até o meu confessor congolês captou o espírito do Papa com essa abertura incrível, como alguém que está fora e dentro ao mesmo tempo, para ir “além”. E assim, no abraço do Jubileu e daquela confissão, Lila sentiu-se como uma menina que ainda está no limiar, mas se sente acolhida e bem-vinda numa casa que também poderia ser a sua. Está no limiar, como o grande escritor católico francês Charles Péguy, autor de páginas inesquecíveis pela profundidade do seu olhar e da sua fé, que permaneceu nessa condição durante toda a sua vida sem poder aproximar-se dos sacramentos porque era casado civilmente com uma mulher ateia e com três filhos não batizados. A propósito dos três anos da vida pública de Jesus, Péguy escreveu: "Ele não os usou para lamentar e acusar a maldade dos tempos. (...) Ele não incriminou, não acusou ninguém. Ele salvou. Não incriminou o mundo. Salvou o mundo. Esses outros, em vez disso, insultam, argumentam, incriminam. Como médicos abusivos, que descontam no doente. Acusam as areias do século, mas mesmo no tempo de Jesus havia o século e as areias do século. Mas na areia árida, na areia do século, uma fonte inesgotável foi derramada, uma fonte de graça."

Essa graça que reverbera nas palavras e no rosto emoldurado por longos cabelos pretos de uma escritora que “tecnicamente” não é católica. Em seu coração, uma noite em São João de Latrão, o mundo e a graça se abraçaram a ponto de se tornarem quase indistinguíveis.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

O outro lado da história: morte e ressurreição

O outro lado da história (Opus Dei)

O outro lado da história: morte e ressurreição

Todo ser humano deseja a plenitude de vida. Qual é a relação deste anseio com a morte e ressurreição de Cristo? A morte é o único limite para o progresso? Por que a ressurreição de Jesus é decisiva? Em que consiste “o novo céu e a nova terra”?

28/05/2019

Provavelmente já assistimos a um filme, lemos um livro ou jogamos algum videogame em que aparece oelixir da longa vida. Com esta expressão, alcunhada faz séculos, tratava-se de descrever a procura dos alquimistas por um medicamento também chamado “panaceia”, que permitisse ao ser humano viver para sempre. Na nossa época existe uma corrente de pensamento – chamada Trans-humanismo – que constitui uma versão atualizada desta pretensão, e que se caracteriza pelo seguimento de três grandes objetivos para a aparição de uma humanidade perfeita: a super longevidade, o super conhecimento e o super bem-estar; em outras palavras: a procura de uma vida em plenitude.

Progresso versus morte: limite ou ponto de partida?

Porque, depois de tantos séculos de progresso, continuamos procurando fins não atingidos? É evidente que o homem é um ser insatisfeito. É um ser que, embora consiga um nível de vida e de felicidade que poderia ser considerado satisfatório, nunca se sente totalmente satisfeito: quer conhecer mais, viver cada vez melhor e para sempre. Com o desenvolvimento científico e tecnológico, os conhecimentos se ampliaram notavelmente, e também a capacidade de evitar a dor ou de combatê-la. No entanto, mais cedo ou mais tarde, a existência terrena acaba encontrando um obstáculo que até agora nenhum ser humano conseguiu ultrapassar: a morte.

JESUS CRISTO NÃO SÓ SUPEROU A MORTE COMO LIMITE, COMO NOS CONVIDA A PARTICIPAR DE SUA VITÓRIA

A morte parece algo profundamente injusto, que nunca deveria acontecer. E, no entanto, se de algo temos certeza nesta vida, é que um dia morreremos. Nosso ser está aberto a uma perfeição que fica truncada pela morte. Por isso, os povos de todos os tempos e culturas desenvolveram modos de lidar com aquilo que transcende esta vida, desdobrando o sentido religioso que está ancorado na natureza humana. As representações do Além são variadas no panorama religioso da humanidade e dão testemunho desse desejo humano de infinito; ao mesmo tempo, nenhuma delas consegue demonstrar que é a única realmente verdadeira.

Neste vasto horizonte, o cristianismo chega com uma força inusitada: afirma que houve um homem que superou a morte como limite; que, vencendo a morte, obteve uma vida que dura para sempre. Esse homem é Jesus Cristo. Mas além disso afirma que Jesus prometeu aos que viverem com Ele e seguirem o seu exemplo, poder participar dessa nova existência que vence a morte.

Perante a morte de uma pessoa amada, com frequência escutamos uma frase como: “a sua desaparição foi uma grande perda”. A morte de um ser humano é injusta, pois cada um é um exemplar único, e, portanto, a sua desaparição do mundo supõe um autêntico empobrecimento. Se isto é assim para nós, podemos dizer que a morte de Cristo foi o acontecimento mais injusto da história, pois a sua vida, como nos chegou através dos testemunhos da época, tem uma exemplaridade fora do comum, que foi reconhecida inclusive pelos que têm uma opinião negativa sobre o cristianismo.

Voltar às raízes

Algumas obras literárias descrevem esta busca humana como a tentativa de voltar a um paraíso perdido, como sugere o título do famoso livro de John Milton. Com isso fazem referência a diversas tradições que falam de uma época inicial paradisíaca da humanidade, que foi quebrada por um acontecimento que fez o homem perder a sua imortalidade e a sua bondade. A história de alguns personagens da mitologia grega, como Aquiles, insinua que o preço que o homem deve pagar para ser ele mesmo e não um ente sem características próprias no mundo divino é a aceitação da própria mortalidade. Por outro lado, no pensamento ilustrado é frequente encontrar a ideia de que o ser humano, para poder ser ele mesmo, precisa emancipar-se da sua origem, da sua dependência de um Deus ou de um contexto familiar que até então o protegeu. Subsistir por si próprio significa perder o medo de encarar a morte. As promessas da vida após a morte seriam, pois, uma volta às origens felizes. Lembremos que alguns clássicos literários de épocas muito diversas, desde a Odisseia até O Senhor dos anéis, se propõem como a volta do herói à casa.

Falou-se da busca de uma vida duradoura, de um bem-estar e de um conhecimento supremo. Pois bem, na realidade, a fé cristã nos diz que era exatamente isso o que o ser humano tinha nas suas origens remotas, quando foi criado por Deus em estado de inocência, que a doutrina da Igreja chama de “justiça original”[1]: além da amizade com Deus, o homem havia recebido os dons da integridade, conhecimento, impassibilidade e imortalidade. Foi o pecado, a desobediência a Deus (cfr. Gn 3, 6), o que provocou a expulsão do paraíso, e, por conseguinte, a perda do acesso à árvore da vida (cfr. Gn 3, 22-24). A Bíblia especifica a seguir que a história primordial não termina assim, de modo trágico, mas o próprio Deus cuida dos humanos cobrindo a sua nudez com roupas improvisadas (Gn 3,21), e prometendo-lhes um futuro redentor (cfr. Gn 3,15). Em efeito, Jesus Cristo, que se apresenta como “o último Adão” (1 Cor 15,45), novo início da humanidade, permanecendo ao mesmo tempo na sua condição divina, toma sobre si a condição humana (cfr. Flp 2,5-11), com esses efeitos de mortalidade, sofrimento e estar exporto à tentação, e realiza na sua vida o projeto de Deus, em plena obediência ao Pai até a entrega da sua própria vida. E graças a esse ato supremo de amor, vence a morte com a sua ressurreição, reabrindo as portas do paraíso aos homens, que agora podem ter acesso de novo à árvore da vida: os sacramentos, cuja fonte e cume é o alimento eucarístico[2]. Nele, de alguma forma, o Céu de Deus, o Paraíso, se une à terra que habitamos, enquanto esperamos a sua prometida manifestação gloriosa no fim dos tempos[3].

A Ressurreição: o mistério de Deus no mundo

A fé cristã fala, portanto, de um além que se torna presente em nosso aquém, de um Céu que, sendo promessa de algo completamente novo, que não pertence às categorias espaço-temporais do nosso mundo, e que ao mesmo tempo é algo que corresponde a um desejo profundamente enraizado no nosso ser. É verdade que Jesus, depois da sua ressurreição, ascendeu aos Céus, de onde voltará; esse mesmo Céu que acolheu Maria, que foi concebida sem pecado e portanto participa de modo eminente do mistério do seu Filho; porém é também certo, que esse Céu na verdade é o mistério de Deus que, ao mesmo tempo que é transcendente a este mundo, está completamente dentro dele, de modo que, paradoxalmente, agora Jesus se encontra mais perto de nós do que quando percorria os caminhos da Palestina[4].

O CÉU É O MISTÉRIO DE DEUS: AO MESMO TEMPO QUE É TRANSCENDENTE A ESTE MUNDO, ESTÁ COMPLETAMENTE DENTRO DELE

Com a sua ressurreição e a sua promessa, Jesus introduziu no mundo da nossa experiência, muitas vezes negativa por estar marcada pelas consequências do pecado nas nossas vidas (ignorância, dor, morte, etc.), uma nova esperança, real, pois a vida e a ressurreição de Jesus ocorreram na nossa história e, ao mesmo tempo, de algum modo a superam, porque a abrem ao que está além dela, do outro lado da história. Essa esperança é convincente porque Jesus deu a sua vida, e não existe nada mais digno de credibilidade neste mundo do que o exemplo, que ao ser de santidade – isto é, de caridade – é simplesmente incontestável. “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15,13). Por isso, o martírio, desde o início do cristianismo até hoje, constitui a maior demonstração da credibilidade e veracidade de uma fé pela qual uma pessoa é capaz de dar a vida.

Deste modo, entende-se que a vida eterna prometida por Jesus, por um lado já começou neste mundo para quem crê e, ao mesmo tempo, receberá uma plenitude transfiguradora que ainda não somos capazes de sonhar. “O que Deus preparou para os que o amam é algo que os olhos jamais viram, nem os ouvidos ouviram, nem coração algum jamais pressentiu” (1 Cor,2,9). Se a imaginarmos com as categorias deste mundo, poderíamos supor um tédio por uma vida que consistiria em uma “sucessão contínua de dias do calendário”[5]. Mas não se trata de uma cópia desta vida, mas, acima de tudo, de um dom surpreendente, pelo qual vale a pena gastar a vida, pois amamos e confiamos em quem diz que nos tornará felizes. “Muito bem, servo bom e fiel, [...] Vem participar da alegria do teu senhor” (Mt 25,21-23). Quando duas pessoas formam um projeto comum de vida, uma diz a outra que a fará feliz, não porque pense que a outra pessoa será um meio para alcançar a felicidade, mas porque ocupar-se da felicidade do outro a fará feliz. Certamente, Deus já é feliz como comunhão trinitária de Pessoas; mas, ao mesmo tempo, quer fazer-nos participar da sua felicidade. E esta existência terrena, vivida por amor, é uma antecipação desta felicidade. Por isso, santo Agostinho dizia que “amando ao próximo limpas o olho para ver a Deus”[6].

Um novo Céu e uma nova Terra

Para poder ver Deus temos que continuar sendo criaturas de alma e corpo, e, portanto, é necessária uma ressurreição final, que consiste em que, sendo Deus Criador de tudo, a matéria, o cosmos e os nossos corpos, transfigurados, também possam participar da glória divina, como de fato já participa a humanidade de Jesus Cristo, que existe para sempre em Deus. Trata-se de algo muito importante para uma correta interpretação das implicações do cristianismo na sociedade, na história e na cultura: o “novo céu e a nova terra” (Ap 21,1) não serão algo completamente diferente, mas, de alguma maneira, o empenho para construir um mundo melhor acompanhará o homem na eternidade.

ENTENDE-SE QUE A VIDA ETERNA PROMETIDA POR JESUS, POR UM LADO JÁ COMEÇOU NESTE MUNDO PARA QUEM CRÊ

Portanto o homem é pai de si mesmo[7], pois as suas decisões o configuram, e isso quer dizer que constrói a sua eternidade por meio da sua atuação neste mundo, pois as suas ações configuram a sua pessoa. Por isso, ressuscitará não somente um corpo em sentido puramente material, mas todo o seu ser com a bagagem de toda a sua história[8]. Por isso é tão certeiro o convite a “viver cada instante com vibração de eternidade”[9].

Nenhuma doutrina suscitou tantas ironias dos pagãos nos primeiros séculos como a da ressurreição. Recordamos o que disseram a São Paulo: “A respeito disso te ouviremos ainda uma outra vez”; “o teu muito saber tira-te o juízo” (At 17,32; 26,24). No entanto, o dualismo entre matéria e espírito, que caracterizava a cosmovisão grega, não oferecia perspectivas de salvação da dimensão material, considerada como fonte do mal. As teorias antigas e novas, que prometem uma reencarnação também não satisfazem, pois embora pareçam valorizar a necessidade de a matéria estar presente no destino do homem, não parecem respeitar a verdadeira identidade do homem na união indissolúvel de corpo e alma.

Olhando para Cristo podemos compreender que a promessa da ressurreição é razoável, embora não esteja na mão do Homem alcançá-la, pois se trata de puro dom. Por isso, o cristianismo é uma proposta de sentido que, sem decifrar totalmente nesta vida os enigmas que rodeiam a existência, oferece uma esperança razoável de uma vida inextinguível, pela qual vale a pena seguir Jesus Cristo e dar a vida por Ele.

Santiago Sanz

Leituras recomendadas:

Bento XVI, Enc., Spe salvi, 30-XI-2007.

R. Guardini, El tránsito a la eternidad, PPC, Madrid 2003.

J. Ratzinger, Escatologia, La muerte y la vida eterna, Herder, Barcelona 1992, p.150.

P. O’Callaghan – J.J. Alviar, Breve y sencillo curso de escatología, em www.collationes.org. Roma 2013.


[1] Cfr. São João Paulo II. O pecado do homem e o estado de justiça original, Audiência geral, 3-IX-1986.

[2] Cfr. J. Ratzinger, escatologia, La muerte y la vida eterna, Herder, Barcelona 1992, p.150.

[3] Cfr. S. Hahn, O Banquete do Cordeiro, Cleofas.

[4] Cfr. J. Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré - da Entrada em Jerusalém até a Ressurreição, Planeta.

[5] Bento XVI, Enc. Spe salvi, 30-XI-2007, n. 12.

[6] Santo Agostinho, In Evangelium Ioannis Tractatus, 17, 8.

[7] Cfr. São Gregório de Nisa, De vita Moysis, 2,3.

[8] Cfr. R. Guardini, El tránsito a la eternidad, PPC, Madrid 2003.

[9] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 239.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/morte-vida-ressurreicao/

O afeto do Papa Francisco por São João Bosco

Foto/Crédito: Aleteia

Isabella H. de Carvalho - publicado em 30/01/25

O Santo Padre recordou os filhos espirituais de Dom Bosco como aqueles que o formaram "na beleza e no trabalho" e que lhe ensinaram a ser "muito alegre."

No dia 31 de janeiro é a festa de São João Bosco, um sacerdote e educador italiano do século XIX que dedicou sua vida ao cuidado de crianças e jovens. Ao longo de seu pontificado, o Papa Francisco tem expressado frequentemente sua proximidade e preocupação com as crianças e os jovens, citando São João Bosco como exemplo a ser seguido em diversas ocasiões.

Em uma entrevista ao jornal italiano La Stampa em janeiro 2024, o Papa Francisco elogiou o santo, destacando sua habilidade em fornecer aos jovens as ferramentas necessárias para que crescessem intelectualmente e na fé, apesar das circunstâncias difíceis:

“Diz a lenda que Dom Bosco disse: 'Se quiserem ajudar jovens, joguem uma bola na rua.' O fundador dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora soube chamar, envolver e entusiasmar meninos sem futuro, e dar-lhes um futuro. Como? Com os oratórios. Lá, os jovens jogavam, rezavam e aprendiam. Para milhares de pequenos abandonados, desesperados, destinados a uma vida de miséria e exclusão, Dom Bosco traçou o caminho para um futuro de dignidade e esperança. Ele lhes forneceu os instrumentos intelectuais e espirituais para superar os obstáculos e valorizar suas vidas.", afirmou o Papa.

"Pensemos neste grande santo"

O Papa Francisco tem elogiado o santo italiano diversas vezes, inclusive quando esteve em Turim em 2015 para o 200º aniversário do nascimento de Dom Bosco. "E convosco dou graças ao Senhor por ter oferecido à sua Igreja este santo que, juntamente com inúmeros outros santos e santas desta região, constituem uma honra e uma bênção para a Igreja [...] e para o mundo inteiro,  de maneira particular em virtude da atenção que ele prestou aos jovens pobres e marginalizados", afirmou o Papa aos seguidores de São João Bosco.

O Papa também mencionou, na introdução a um livro sobre São João Bosco lançado em 2019, que cursou a sexta série em uma escola salesiana na Argentina e elogiou o carisma dessa congregação. “Os Salesianos me formaram na beleza, no trabalho e a ser muito alegre”, escreveu ele.

Durante a oração do Ângelus de domingo, em 31 de janeiro de 2022, o Papa também recordou São João Bosco em sua festa, com palavras que seguem sendo atuais. “Pensemos neste grande santo, sacerdote e mestre da juventude. Ele não se fechou na sacristia, não se fechou nas suas coisas. Saiu às ruas à procura de jovens, com a criatividade que foi a sua característica.”

Persistência em um contexto difícil

São João Bosco nasceu em 1815 na região do Piemonte, no norte da Itália. Crescendo em uma família pobre, com pouca educação, ao tornar-se sacerdote em 1841, decidiu dedicar sua vida ao auxílio de meninos de origens desfavorecidas por meio de atividades recreativas, educativas e catequéticas. Fundou a Sociedade de São Francisco de Sales (conhecida como Salesianos de Dom Bosco) e as Filhas de Nossa Senhora Auxiliadora (as Irmãs Salesianas de Dom Bosco).

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/01/30/o-afeto-do-papa-francisco-por-sao-joao-bosco

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

Qual é a idade certa para as redes sociais?

Maria Surtu | Shutterstock

Isabella H. de Carvalho - Bérengère de Portzamparc - publicado em 27/01/25

No Brasil, o governo passou recentemente uma lei que proíbe uso de celulares nas escolas. A Austrália proibiu o acesso às redes sociais para menores de 16 anos. Após os pais e cientistas, será que chegou a vez dos políticos finalmente se envolverem com o assunto?

Uma primeira na história das redes sociais. No dia 28 de novembro, o Parlamento australiano aprovou uma lei obrigatória para proibir as redes sociais para menores de 16 anos. O texto obteve amplo apoio entre os diversos partidos, o que mostra um consenso sobre os danos causados por plataformas como Instagram, X e TikTok entre os mais jovens. Por isso, o acesso a essas redes será agora proibido para menores de 16 anos, e as plataformas poderão ser severamente multadas, com multas de até 50 milhões de dólares australianos (cerca de 186 milhões de reais) caso não cumpram a lei.

Para os Australianos as redes sociais são fontes de ansiedade, favorecem a pressão social e, o mais grave, podem ser ferramentas para predadores online. O primeiro-ministro, Anthony Albanese, deseja “que os jovens voltem a frequentar os campos de futebol, críquete ou qualquer outro esporte”, em vez de passarem o tempo nas telas. Para ele, “uma maneira de alcançar isso é restringir o acesso às redes sociais”. Embora essa proibição seja, até o momento, a mais rigorosa do mundo, ainda faltam detalhes concretos sobre sua aplicação. Os decretos que irão detalhar a lei deverão ser conhecidos até o final de 2025, e já se sabe que o WhatsApp e o YouTube deverão ser isentos, pois são muito utilizados pelos alunos.

No Brasil

Embora a implementação ainda enfrente desafios, a questão tem ganhado relevância política, e o debate sobre os impactos das redes sociais na juventude se expandiu globalmente. A conscientização está claramente presente: as redes sociais são reconhecidas como prejudiciais ou até perigosas para os jovens.

No Brasil, há um projeto de lei sendo avaliado que propõe estabelecer 12 anos como a idade mínima para o acesso às redes sociais. Além disso, foi sancionada no início de janeiro pelo presidente Lula uma lei que proíbe o uso de celulares por estudantes nas escolas, mostrando uma conscientização sobre o assunto. Embora alguns estados já tenham adotado leis sobre o uso de celulares nas escolas, o governo planeja implementar a restrição em todo o país a partir do ano letivo de 2025.

Segundo o TIC Kids Online Brasil 2024, pesquisa realizada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação, 93% da população brasileira de 9 a 17 anos usa a Internet, e 76% desses utilizam redes sociais.

Espanha, China, França

Outros países também estão se interessando por esse tema, e outras leis estão sendo preparadas, como na Espanha, onde o Conselho de Ministros aprovou em junho de 2024 um projeto de lei que define 16 anos como idade mínima para o acesso às redes sociais. Um sistema de identificação para bloquear o acesso dos menores está em fase de desenvolvimento.

Na China, o acesso de menores às redes sociais é proibido, e desde 2023, além da existência de um verdadeiro toque de recolher digital, os menores não podem acessar a Internet entre as 22h e as 6h da manhã. A versão chinesa do TikTok também é limitada a 40 minutos por dia. Quanto aos Estados Unidos, a ameaça de proibição do TikTok está mais ligada a questões de proteção de dados americanos e segurança interna do que à proteção dos menores. No entanto, alguns estados americanos já estão tentando proibir o acesso às redes sociais para menores de 16 anos, como na Flórida, onde uma lei deverá entrar em vigor no início de 2025.

Na França, o acesso às redes sociais é proibido antes dos 13 anos, mas, na prática, essa proibição é pouco respeitada. Uma lei aprovada em 7 de julho de 2023 estabeleceu a maioridade digital aos 15 anos.

As redes sociais terão que implementar uma solução técnica para verificar a idade de seus usuários e depois de promulgada, a lei dará um ano para as plataformas encontrarem soluções técnicas, mas, por enquanto, ela ainda não entrou em vigor.

Os perigos das redes sociais

Apesar do início de algumas iniciativas políticas, a realidade ainda está longe de ser segura no que diz respeito ao uso de telas entre os jovens, especialmente as redes sociais. Muitos cientistas já alertaram sobre os efeitos negativos, e até prejudiciais, das telas no desenvolvimento cognitivo das crianças: transtornos de atenção, dificuldades de aprendizagem e de concentração, os danos causados pelo tempo passado sem controle ou supervisão, etc. 

Sabine Duflo, psicóloga clínica e terapeuta familiar francesa, especialista em telas e fundadora do coletivo "exposição excessiva de telas" (CoSE), observa isso no dia a dia. Em entrevista à Aleteia, ela faz uma lista de várias patologias diagnosticadas em jovens que acompanhou, especialmente em uma unidade psiquiátrica fechada. A terapeuta enfatiza a importância da conscientização, tanto dos jovens e dos pais quanto dos políticos. “Todos nós conhecemos o slogan 'Se beber não dirija'. Para as telas, poderíamos adotar este: 'Assistir à tela ou educar um filho, é preciso escolher'", conclui ela.

O uso das redes sociais entre os jovens também é particularmente problemático. Segundo um estudo da Organização Mundial de Saúde, publicado em 25 de setembro de 2024, 11% dos adolescentes apresentaram sinais de uso problemático das redes sociais em 2022, enquanto eram apenas 7% em 2018. “São comportamentos de vício e uso excessivo. Eu atendo jovens que ficam 10 a 15 horas por dia nas redes sociais! Isso compromete qualquer outra atividade, qualquer socialização, que é essencial nesta fase, em que o jovem precisa aprender a sair de casa, a se afastar dos pais para passar tempo com os amigos. Isso afeta também o sono, que é fundamental nessa fase para um bom desenvolvimento”, explica a psicóloga.

Então, qual a idade certa para as redes sociais?

Se o diagnóstico dos profissionais é claro e científico, basta perguntar aos pais para ver o impacto diário das telas sobre seus filhos. Nos Estados Unidos, um grupo de pais começou em 2017 a iniciativa "Wait until 8th" ("esperar até a oitava série"), onde se comprometem, assinando uma “promessa digital”, a não dar um smartphone ao filho antes dos 14 anos. O grupo já conta com quase 75 mil famílias.

Então, qual a idade para as redes sociais? Não antes dos 15 ou 16 anos, parece ser a resposta hoje de pais, profissionais e até alguns políticos que começam a tratar seriamente o tema. A conscientização está crescendo e é cada vez mais evidente que este é um verdadeiro desafio social e sanitário a ser enfrentado. Agora, resta aos políticos encontrar maneiras de implementar ferramentas reais de controle para proteger as novas gerações das redes sociais.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/01/27/qual-e-a-idade-certa-para-as-redes-sociais

IGREJA: A fé, de fato, ilumina tudo com uma luz nova (III)

Fé e a Verdade: A Compreensão que Transforma (Catequizar)

Arquivo 30Giorni nº. 01 - 1998

«A fé, de fato, ilumina tudo com uma luz nova... e, portanto, orienta a inteligência para soluções plenamente humanas»

Um diálogo com o cardeal Pio Laghi, prefeito da Congregação para a Educação Católica.

Editado por Giovanni Cubeddu Um diálogo com o Cardeal Pio Laghi

Igreja e mundo 

30GIORNI : O senhor foi o representante pontifício na Terra Santa há vinte e cinco anos. Naquela região, assim como em todo o mundo árabe, a comunidade cristã é uma minoria. Que significado têm as instituições teológicas e culturais católicas neste contexto?

LAGHI: Muitas coisas mudaram nos últimos vinte e cinco anos. Foram estabelecidas relações diplomáticas oficiais entre a Santa Sé e o Estado de Israel e, recentemente, as autoridades israelitas reconheceram a personalidade jurídica das instituições católicas presentes nesses territórios. Além disso, porém, parece-me que podemos sublinhar um duplo sentido da presença de centros culturais católicos na Terra Santa. Por um lado, há de facto cristãos que vivem e trabalham ali. É verdade que se trata de pequenas comunidades. Isto não significa que possam prescindir de ferramentas culturais que respondam às suas necessidades de aprofundamento da fé e de formação a vários níveis. Por outro lado, porém, não há dúvida de que esses locais têm uma relevância especial para três das principais tradições religiosas do mundo. É, portanto, importante que neste contexto não faltem aqueles que refletem sobre este facto desde um ponto de vista propriamente católico. É verdadeiramente uma oportunidade única para implementar um esforço de compreensão mútua a partir do vínculo particular que cada um percebe com aquela terra abençoada e, ao mesmo tempo, tão conturbada.

Deve-se acrescentar então que as escolas católicas desempenham uma missão muito particular, não só na Terra Santa, mas em todo o Médio Oriente e no mundo árabe. Muitas vezes constituem um dos poucos lugares de diálogo onde os estudantes cristãos e muçulmanos podem crescer juntos no respeito mútuo e num clima de fraternidade. Isto acontece também ao nível do corpo docente, que pode ver consagrados e consagradas, católicos, cristãos de outras confissões e não cristãos, trabalhando no mesmo projeto educativo, num clima de colaboração e estima. Finalmente, é necessário recordar que em alguns casos a escola católica é a única oportunidade dada para uma presença significativa da Igreja e para o testemunho evangélico.

30GIORNI : Nestes tempos de globalização do mercado, o senhor não acha que mesmo os círculos acadêmicos católicos são condescendentes ao defender teorias econômicas ultraliberais?

Por se tratarem de hipóteses culturais, aplica-se o princípio da liberdade. Nos juízos económicos e políticos, a legítima pluralidade de opções dos fiéis leigos é afirmada, com intuição verdadeiramente profética, pela carta apostólica Octogesima adveniens de Paulo VI. Mas assim como ele foi apropriadamente advertido contra a exploração do Santo Evangelho para lutas revolucionárias, então você não acha que seria igualmente apropriado alertar tais filósofos e/ou políticos que se declaram abertamente católicos, contra a exploração da Santa Igreja para o seu louvor de capitalismo prevalecente?

LAGHI: Parece-me que não faltam os princípios para tal alerta no campo económico. A partir de Leão XIII aparecem explicitamente no Magistério. João Paulo II, especialmente na encíclica Centesimus annus , reiterou-as com força. Sem prejuízo da legítima pluralidade de opções dentro das hipóteses culturais, a doutrina social da Igreja não pode apoiar nenhum sistema económico particular. Na constituição apostólica Ex Corde Ecclesiae , relativa às universidades católicas, são relatadas outras palavras do Papa que deveriam orientar também a investigação no campo económico: «É essencial que nos convençamos da prioridade do ético sobre o técnico, do primado da pessoa sobre as coisas, da superioridade do espírito sobre a matéria. A causa do homem só será servida se o conhecimento estiver unido à consciência. Os homens de ciência só ajudarão verdadeiramente a humanidade se preservarem o sentido da transcendência do homem sobre o mundo e de Deus sobre o homem» (n. 18). Isto deveria ser suficiente para compreender que quando algum estudioso católico se pronuncia a favor de um ou outro sistema económico particular, fá-lo em nome de uma escolha pessoal, de uma responsabilidade pessoal, que não está autorizado a cobrir com qualquer pronunciamento. oficial da Igreja.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Jesus Cristo é a luz do mundo nos padres da Igreja

Jesus Cristo é a luz do mundo (CNBB Norte 2)

Jesus Cristo é a luz do mundo nos padres da Igreja

por Dom Vital Corbellini
Bispo da Diocese de Marabá

O evangelista São João coloca Jesus, luz do mundo, no debate com os judeus (cf. Jo 8,12). Ele veio até a realidade humana para nos revelar o amor infinito de Deus para com a humanidade, para nos libertar das trevas do pecado e levar-nos à comunhão com Deus. Nós somos chamados a viver a luz de Cristo em meio às ações boas, caritativas e problemáticas humanas, às mudanças climáticas, e a testemunhar as graças, os louvores a Deus Uno e Trino e à sua Igreja. O bom testemunho leva as pessoas ao contato com o Senhor, para a verdadeira luz, Jesus Cristo. Vejamos a seguir esta concepção nos santos padres, os primeiros escritores cristãos.

O significado da Luz, Jesus Cristo

Santo Ambrósio, bispo de Milão, no século IV disse ao público fiel, cristão de seu tempo, concepções essenciais sobre Jesus Cristo, como luz do mundo. O autor tinha presente a Palavra de Deus, que Jesus é o esplendor da glória do Pai (cf. Hb 1,3). Ele sendo Deus extrai a luz da luz (Jo 1,9). Ele veio do Pai, de modo que tudo o que o Filho tem é do Pai e tudo o que é do Pai é também do Filho. Jesus é a fonte da luminosidade, do brilho, dia que nunca termina[1].

O sol que ilumina

Santo Ambrósio também afirmou que Jesus é o verdadeiro sol, uma palavra profética presente em Malaquias (cf. Ml 3,20) que brilha com esplendor eterno. O Senhor é desde sempre junto com o Pai e com o Espírito Santo. Um pedido é feito do fundo do coração é para que Ele venha, infunda nos nossos corações e naqueles das pessoas da humanidade, a luz radiosa do Espírito Santo[2].

O dia seja na normalidade

Santo Ambrósio, pela oração dirigida ao Senhor pediu para que transcorra alegre o dia, na sua normalidade, que a modéstia seja como a luz do amanhecer. A pessoa faz o bem durante o dia de modo que o Senhor olhe para ela com fé com amor. A fé seja uma força para carregar com alegria os desafios diversos, o ânimo não conheça as trevas do pecado[3].

A aurora no seu caminho

Santo Ambrósio pediu ainda ao Senhor no seu hino de louvor ao Cristo como luz do mundo que a aurora prossiga no seu caminho, mostrando a luz que seguirá a aurora. O Filho está todo no Pai e todo o Pai está no Filho[4]. É a unidade perfeita na qual o Filho conhece o Pai, o revela para o mundo e às criaturas, sobretudo ao ser humano. Ele é de fato a luz do mundo que brilha nas trevas, levando as pessoas e os povos à luz divina, à luz do Deus Uno e Trino.

A ação das pessoas cristãs

A Carta a Diogneto, escrito do século II colocou a ação das pessoas cristãs no mundo, por causa de seu seguimento a Jesus Cristo, como luz do mundo: “Os cristãos, de fato, não se distinguem dos outros homens, nem por sua terra, nem por sua língua ou costumes”[5]. A Carta reforçou o dado que os cristãos não possuíam cidades próprias, nem tinham uma língua estranha, nem tinham algum modo especial de viver e de vida. A sua doutrina não dizia respeito à invenção própria, nem professavam algum ensinamento humano[6].

Os costumes do lugar e do estrangeiro

Os cristãos estando em cidades gregas e bárbaras, adaptavam-se aos costumes do lugar em relação à roupa, ao alimento, e testemunhavam um modo de vida social muito admirável[7]. Na continuidade da vivência dos cristãos na forma de sua descrição, eram percebidos como pessoas que participavam de tudo mas sabendo que um dia passarão desta terra. “Vivem na sua pátria, mas como forasteiros: participam de tudo como cristãos e suportam tudo como estrangeiros. Toda pátria estrangeira é pátria deles, e cada pátria é estrangeira”[8]

A vida familiar

O seguimento a Jesus, como luz do mundo apontou também à vida familiar, de todo o fiel que segue o Senhor. As pessoas casavam-se como todas e geravam filhos, filhas, de modo que não abandonavam os recém-nascidos[9]. As autoridades romanas não aceitavam o abandono dos filhos nas praças. Muitos cristãos adotavam esses filhos e filhas para a convivência familiar, como forma de caridade. A carta também dizia que os cristãos estavam na carne, mas não viviam segundo a carne. Eles estavam na terra, mas carregavam a esperança de uma cidadania no céu[10].

As leis estabelecidas e as perseguições

A Carta a Diogneto tinha presentes que os cristãos obedeciam às leis estabelecidas, mas com os seus testemunhos ultrapassavam as leis. Eles amavam a todas as pessoas, e eram perseguidos, desconhecidos, mas sofriam condenações, eram mortos e tinham consciência de que eles receberão a vida. Eles eram pobres, mas enriqueciam a muitas pessoas, eram desprezados, mas eles tornavam-se glorificados, amaldiçoados, mas serão proclamados justos[11].

A importância da caridade

O Senhor colocou-nos como mandamento maior, o amor. “Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todo o teu entendimento”. Esse é o maior e o primeiro mandamento!. Ora, o segundo lhe é semelhante: “Amarás teu próximo como a ti mesmo”. Toda a Lei e os Profetas dependem desses dois mandamentos (Mt 22,37-40). São Leão Magno, bispo de Roma no século V teve presentes este mandamento aludindo à piedade e à caridade cristãs, em vista de ser verdade o amor a Deus e ao próximo como a si mesmo, e também à toda a humanidade, na qual nós temos em comum a natureza seja as pessoas amigas, seja as inimigas. O Bispo de Roma afirmou que o mesmo Criador que nos plasmou é o mesmo Redentor que nos deu a vida[12]

Jesus Cristo é a luz do mundo. Com Ele nós sigamos o caminho da verdade, da vida e do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. A missão nos leva a viver a luz do Senhor no mundo de hoje, marcado por violências, mortes, guerras, mas nós carregamos a esperança de um mundo melhor, mais fraterno, mais humano na unidade com o Senhor Jesus e à Igreja.

[1] Cfr. Cfr. Ambrósio di Milano, Inno2,1-2;7-8. In: Ogni giorno con i Padri della Chiesa. Milano, Paoline, 1996, pg. 21.

[2] Cfr. Idem, pg. 21.

[3] Cfr. Ibidem.

[4] Cfr. Ibidem.

[5] Carta a Diogneto, 5,1. In: Padres Apologistas. São Paulo: Paulus, 1995, pg. 22.

[6] Cfr. Idem, 5,2-3,  pg. 22.

[7] Cfr. Ibidem, 5,4, pg. 22.

[8] Ibidem, 5,5, pgs. 22=23.

[9] Cfr. Ibidem5,6, pg. 23.

[10] Cfr. Ibidem5, 8-9, pg. 23.

[11] Cfr. Ibidem5, 10-14, pg. 23.

[12] Cfr. Leone Magno. Sermone 12,2. In: In: Ogni giorno con i Padri della Chiesa., pg. 31.

Fonte: https://cnbbn2.com.br/jesus-cristo-e-a-luz-do-mundo-nos-padres-da-igreja/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF