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quinta-feira, 10 de julho de 2025

Oito Séculos da Língua Portuguesa

Testamento do rei Afonso II. Torre do Tombo, Lisboa (Portugal). | Wikipedia.

Oito Séculos da Língua Portuguesa

Os países lusófonos – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste – e a cidade de Macau (China) festejam o ano comemorativo Oito Séculos da Língua Portuguesa. A celebração faz memória do testamento de dom Afonso II, escrito em 27 de junho de 1214, na corte do nascente reino de Portugal. O ano, iniciado em maio de 2014, estende-se a junho de 2015, com atos culturais que atingirão os 245 milhões de falantes do português.

O documento teve três cópias amanuenses originais e uma delas subsiste no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa (Portugal). Recentemente franqueado aos pesquisadores, o texto arcaico revelou a surpreendente evolução da grafia ao longo de 800 anos, sendo que uma diminuta parcela de palavras se conserva idêntica desde  as origens, seja na forma de escrita, seja na pronúncia. Uma das mais significativas dentre estas é o termo “paz”, que em nada mudou em oito séculos.

Formada na antiga província romana da Lusitânia, no extremo ocidental da Europa, região onde se encontram sinais de habitação humana desde a Era Neolítica, a língua portuguesa, de base latino-românica, surgiu da influência dos dialetos de povos fenícios, gregos, gálicos, celtas, suevos, visigodos e árabes. O cronista espanhol Isidoro Hispaliense, na História gotorum (História dos godos) do século 7º, menciona o porto fluvial Portucalis, próximo ao delta do Rio Douro no Oceano Atlântico. E documentos do século 10} tratam a região como Portugal. A língua portuguesa teve, portanto, mais de oito séculos de gestação entre a população descendente de diversas etnias, antes de ter sua certidão de nascimento no século 13. Originada de um dialeto portuário usado pela população local de Portucalis, hoje cidade do Porto, para se comunicar com marinheiros de todas as nações, expandiu-se depois para todo o território da antiga província romana da Lusitânia. A língua deu ao povo uma identidade que salvaguardou Portugal de ser anexado a Espanha nos séculos seguintes.

A grafia da palavra paz resistiu a todas as modificações desde o século 13 até o 16, quando a obra Os lusíadas, de Luis de Camões, inaugurou o português moderno, e até o estado atual da língua portuguesa. Por outro lado, a paz sonhada e registrada em testamento pelo rei Afonso II foi aviltada por muitas formas de colonialismo, conquista, escravização e destruição violenta nas relações históricas dos países lusófonos. Neste ano, porém, é inspiradora de um futuro que começa marcado por um novo documento, o Manifesto 2014.

Porto - Portugal - Foto: Frédérique Voisin-Demery/ Flickr | Frédérique Voisin-Demery

Manifesto 2014 – 800 anos da Língua Portuguesa

A língua que falamos não é apenas comunicação ou forma de fazer um negócio. Também é. Mas vai bem além. É uma forma de sentir e de lembrar, um registro, arca de muitas memórias; um modo de pensar, uma maneira de ser – e de dizer. É espaço de cultura, mar de muitas culturas, um traço de união, uma ligação. É passado, é futuro, é história. É poesia e discurso, sussurro e murmúrios, segredos, gritaria, declamação, conversa, bate-papo, discussão e debate, palestra, comércio, conto e romance, imagem, filosofia, ensaio, ciência, oração, música e canção, até silêncio. É um abraço. É raiz e é caminho. É horizonte, passado e destino.

Na era da globalização, falar português, uma das grandes línguas globais do planeta, que partilha e põe em comum culturas da Europa, Américas, África e Oceania, com centenas de milhões de falantes em todos os continentes, e um imenso patrimônio, um poderoso veículo de união e de progresso. Em 27 de junho de 2014, passam-se 800 anos sobre o mais antigo documento oficial conhecido em língua portuguesa, a nível de Estado – o mais antigo documento régio na nossa língua, o testamento do terceiro rei de Portugal, dom Afonso II. Neste dia, festejamos esses oito séculos da nossa língua, a língua do mar, a língua da gente, uma grande língua de globalização. Centrados neste dia e ao longo do ano, festejamos também com o mundo inteiro a terceira língua do Ocidente, uma língua em crescimento em todos os continentes, uma das mais faladas do mundo, a língua mais usada no Hemisfério Sul. Celebramos o futuro.

Em qualquer lugar onde se fala português, 27 de junho de 2014.

O Manifesto foi subscrito pelo embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, e pelo presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, do Senado Federal brasileiro, Cyro Miranda, ao lado de autoridades dos outros países lusófonos.

Fonte: Revista Diálogo, Ano XIX – nº 76 – Outubro/Dezembro de 2014 – Pags.: 53/55.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF