Oito Séculos da Língua Portuguesa
Os países lusófonos – Angola, Brasil, Cabo
Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste –
e a cidade de Macau (China) festejam o ano comemorativo Oito Séculos da Língua
Portuguesa. A celebração faz memória do testamento de dom Afonso II, escrito em
27 de junho de 1214, na corte do nascente reino de Portugal. O ano, iniciado em
maio de 2014, estende-se a junho de 2015, com atos culturais que atingirão os
245 milhões de falantes do português.
O documento teve três cópias amanuenses originais e uma delas subsiste no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa (Portugal). Recentemente franqueado aos pesquisadores, o texto arcaico revelou a surpreendente evolução da grafia ao longo de 800 anos, sendo que uma diminuta parcela de palavras se conserva idêntica desde as origens, seja na forma de escrita, seja na pronúncia. Uma das mais significativas dentre estas é o termo “paz”, que em nada mudou em oito séculos.
Formada
na antiga província romana da Lusitânia, no extremo ocidental da Europa, região
onde se encontram sinais de habitação humana desde a Era Neolítica, a língua
portuguesa, de base latino-românica, surgiu da influência dos dialetos de povos
fenícios, gregos, gálicos, celtas, suevos, visigodos e árabes. O cronista
espanhol Isidoro Hispaliense, na História gotorum (História dos godos)
do século 7º, menciona o porto fluvial Portucalis, próximo ao delta do
Rio Douro no Oceano Atlântico. E documentos do século 10} tratam a região como
Portugal. A língua portuguesa teve, portanto, mais de oito séculos de gestação
entre a população descendente de diversas etnias, antes de ter sua certidão de
nascimento no século 13. Originada de um dialeto portuário usado pela população
local de Portucalis, hoje cidade do Porto, para se comunicar com
marinheiros de todas as nações, expandiu-se depois para todo o território da
antiga província romana da Lusitânia. A língua deu ao povo uma identidade que
salvaguardou Portugal de ser anexado a Espanha nos séculos seguintes.
A
grafia da palavra paz resistiu a todas as modificações desde o século 13 até o
16, quando a obra Os lusíadas, de Luis de Camões, inaugurou o português
moderno, e até o estado atual da língua portuguesa. Por outro lado, a paz
sonhada e registrada em testamento pelo rei Afonso II foi aviltada por muitas
formas de colonialismo, conquista, escravização e destruição violenta nas
relações históricas dos países lusófonos. Neste ano, porém, é inspiradora de um
futuro que começa marcado por um novo documento, o Manifesto 2014.
Manifesto 2014 – 800 anos da Língua Portuguesa
A
língua que falamos não é apenas comunicação ou forma de fazer um negócio.
Também é. Mas vai bem além. É uma forma de sentir e de lembrar, um registro,
arca de muitas memórias; um modo de pensar, uma maneira de ser – e de dizer. É
espaço de cultura, mar de muitas culturas, um traço de união, uma ligação. É
passado, é futuro, é história. É poesia e discurso, sussurro e murmúrios,
segredos, gritaria, declamação, conversa, bate-papo, discussão e debate,
palestra, comércio, conto e romance, imagem, filosofia, ensaio, ciência, oração,
música e canção, até silêncio. É um abraço. É raiz e é caminho. É horizonte,
passado e destino.
Na
era da globalização, falar português, uma das grandes línguas globais do
planeta, que partilha e põe em comum culturas da Europa, Américas, África e
Oceania, com centenas de milhões de falantes em todos os continentes, e um
imenso patrimônio, um poderoso veículo de união e de progresso. Em 27 de junho
de 2014, passam-se 800 anos sobre o mais antigo documento oficial conhecido em
língua portuguesa, a nível de Estado – o mais antigo documento régio na nossa
língua, o testamento do terceiro rei de Portugal, dom Afonso II. Neste dia, festejamos
esses oito séculos da nossa língua, a língua do mar, a língua da gente, uma grande
língua de globalização. Centrados neste dia e ao longo do ano, festejamos
também com o mundo inteiro a terceira língua do Ocidente, uma língua em
crescimento em todos os continentes, uma das mais faladas do mundo, a língua
mais usada no Hemisfério Sul. Celebramos o futuro.
Em qualquer lugar onde se
fala português, 27 de junho de 2014.
O
Manifesto foi subscrito pelo embaixador do Brasil em Portugal, Mário Vilalva, e
pelo presidente da Comissão de Educação, Cultura e Esporte, do Senado Federal
brasileiro, Cyro Miranda, ao lado de autoridades dos outros países lusófonos.
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