O que médico que investigou DNA dos 'superidosos' descobriu sobre o 'segredo da longevidade'
Por Margarita Rodríguez
BBC News Mundo
7 julho 2025
BBC News Mundo - Além disso, você explica no livro que
várias das doenças que associamos à velhice podem levar décadas para se
desenvolver. É possível começar a preveni-las, ou pelo menos tentar
neutralizá-las e minimizar seu impacto, muito antes de aparecerem. É isso
mesmo?
Topol - Sim, e esse é um ponto-chave. Tínhamos a
noção de que essas doenças poderiam ocorrer rapidamente, em questão de meses,
até anos, mas não. Isso só acontece em raras ocasiões.
A verdade é que elas levam duas décadas ou mais, então temos
tempo mais do que suficiente para nos antecipar, mas não estamos fazendo isso.
Temos muita sorte de ter esse longo período de tempo para agir e, claro, quanto mais rápido agirmos, maior será a chance de preveni-las.
BBC News Mundo - Embora tenha mencionado a importância da
alimentação, de dormir o suficiente e das relações sociais no processo de
envelhecimento, você diz que "o exercício pode ser considerado a
intervenção médica mais eficaz que conhecemos". Por quê?
Topol - O exercício, e os dados confirmam isso,
é extraordinário. Se fosse um medicamento, seria o maior avanço farmacológico
que poderíamos ter.
E não se trata apenas de exercícios aeróbicos, como
caminhada acelerada ou andar de bicicleta, mas também treinamento de força e
equilíbrio. Ambos são muito importantes.
O fascinante é que o exercício ajuda a manter o sistema
imunológico muito saudável.
Sabíamos que o exercício ajuda a prevenir o Alzheimer, mas
também ajuda a prevenir o câncer e as doenças cardiovasculares.
E não precisa ser um exercício extremo, qualquer atividade
contínua é boa.
Todos nós deveríamos nos movimentar mais. É algo que nunca é
demais enfatizar: é grátis, é simples.
É uma questão de criar uma rotina e segui-la o máximo que
puder, idealmente todos os dias.
BBC News Mundo - E você enfatiza que nunca é tarde para
começar. Às vezes, podemos pensar que se não acostumamos nossos corpos a
rotinas de exercícios quando éramos jovens, quando se chega a uma certa idade,
começar a praticar não terá muito efeito.
Topol - Não, nunca é tarde demais. No livro,
falo sobre algumas destas pessoas que têm uma idade muito avançada, e se
tornaram campeãs mundiais*.
Você pode desenvolver uma nova força, uma nova capacidade
cardiovascular em qualquer idade e, mesmo depois dos 90 anos, pode se
revitalizar fisicamente.
*Em seu livro, o médico menciona Richard Morgan, de 93
anos, que quando era septuagenário começou a se exercitar regularmente pela
primeira vez na vida usando uma máquina de remo. "Ele ganhou quatro
campeonatos mundiais de remo indoor."
BBC News Mundo - Vou citar um fragmento do seu livro:
"São intrigantes os cérebros dos 'superidosos' que, aos 80 anos, têm a
memória de pessoas de 20 anos, ou 20 anos mais jovens". Como são os
cérebros dos "superidosos"?
Topol - O cérebro é incrivelmente saudável, e há
algo que precisamos ter em mente: a maioria destas pessoas, à medida que
envelhece — quando tem 90 anos ou mais — desenvolve as mesmas proteínas mal
dobradas, como amiloide e tau, em seus cérebros.
E você pensa: "(pelo acúmulo de) amiloide e tau, elas
deveriam ter Alzheimer, não deveriam ter uma capacidade cognitiva tão
grande."
Mas a verdade é que elas têm porque não desenvolvem
inflamação contra essas proteínas, elas se adaptam, e sua estrutura cerebral
parece intacta.
Isso é algo que chama atenção: como alguém pode manter uma
função cognitiva executiva tão bem preservada em uma idade avançada?
Eles desafiam as expectativas. A maioria das pessoas diz:
"Quando você tiver 90 anos, vai perder suas faculdades (mentais)",
mas isso não é verdade.
Temos muitas maneiras (de evitar a perda da capacidade
cognitiva), e uma das mais importantes é o sono.
Todas as noites, temos esses produtos residuais no nosso
cérebro, metabólitos que são realmente tóxicos e promotores de inflamação, que
precisamos eliminar por meio do chamado canal glinfático, que foi descoberto
nos últimos anos.
E acontece que, se não tivermos um sono profundo adequado, o
tipo de sono de ondas lentas que geralmente ocorre no início da noite, não
eliminamos esses produtos residuais e, basicamente, damos a eles a oportunidade
de inflamar nosso cérebro.
Portanto, precisamos melhorar o sono profundo para prevenir
doenças neurodegenerativas.
BBC News Mundo - Você acabou de mencionar um fator
essencial: dormir bem. O que mais podemos fazer para manter nosso cérebro
saudável?
Topol - Praticar exercícios, ter um sono
profundo e adotar uma alimentação que não promova a inflamação do corpo.
Que seja uma dieta baseada em grande parte em alimentos de
origem vegetal, como a mediterrânea. Isso tem sido demonstrado estudo após
estudo; esse tipo de alimentação ajuda a suprimir a inflamação no corpo,
diferentemente da dieta que inclui ultraprocessados,
carnes vermelhas e outros alimentos que são claramente pró-inflamatórios.
Uma alimentação mais saudável faz uma grande diferença,
assim como o exercício, o sono e as relações sociais que temos à medida que
envelhecemos. É realmente surpreendente o efeito que esses fatores têm.
E não podemos esquecer de estar ao ar livre, na natureza, em
espaços verdes. É realmente interessante ver como isso não apenas reduz o
estresse, a ansiedade e a depressão, como também tem um efeito muito marcante
na prevenção de doenças relacionadas à idade.
Há muitas coisas que podemos fazer, mas não estamos fazendo.
É mais provável que as façamos quando soubermos qual é o
nosso risco específico (para uma certa doença), o que vai acontecer em breve, e
vai se tornar rotineiro.
Significa dizer, por exemplo: "Margarita, você é muito
saudável, mas temos os relógios de todos os seus órgãos, todos os seus
biomarcadores, seus dados, e a inteligência artificial nos diz que esta é a
doença à qual você é vulnerável, então vamos preveni-la. Temos 15 ou 18 anos
pela frente antes que isso realmente aconteça."
É para isso que estamos caminhando, e é muito emocionante;
nunca tivemos essa capacidade antes.
BBC News Mundo - Você desenvolveu sua carreira como
médico, pesquisador, escritor e professor. E, no fim do livro, faz um
agradecimento emotivo a seus pacientes, alguns dos quais ainda atende. Quão
importantes eles são na sua vida?
Topol - Eles são minha inspiração. Sim, continuo
atendendo, e adoro vê-los. Alguns deles eu atendo há mais de 30 anos. Alguns
até vêm de outras cidades para as consultas.
A razão é que eu aprendo com eles. Eles me fazem ver o que
está faltando na medicina, em que precisamos trabalhar, e me ensinam isso o
tempo todo.
Embora eu tente ajudá-los, eles estão me ajudando, e isso me
faz sentir muito grato.
A senhora L.R., por exemplo, foi uma grande inspiração para
mim.
Fizemos o estudo Wellderly (uma fusão das
palavras "well", que significa bem, e "elderly",
que quer dizer "idoso"), o publicamos, e muitas pessoas usaram nossos
dados para conduzir suas próprias pesquisas e descobertas.
Deixei isso um pouco de lado, mas depois a vi e disse:
"Outra wellderly! Tenho que escrever um livro sobre isso
porque é incrível".
É incrível o quanto eles nos ensinam sem perceber,
justamente quando nós tentamos ajudá-los.
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