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quinta-feira, 10 de julho de 2025

O que médico que investigou DNA dos 'superidosos' descobriu sobre o 'segredo da longevidade' (Parte 2/2)

Topol recomenda tentar adotar uma rotina de exercícios e 'segui-la o máximo que puder, de preferência todos os dias' | Crédito,Getty Images

O que médico que investigou DNA dos 'superidosos' descobriu sobre o 'segredo da longevidade'

Por Margarita Rodríguez

BBC News Mundo

7 julho 2025

BBC News Mundo - Além disso, você explica no livro que várias das doenças que associamos à velhice podem levar décadas para se desenvolver. É possível começar a preveni-las, ou pelo menos tentar neutralizá-las e minimizar seu impacto, muito antes de aparecerem. É isso mesmo?

Topol - Sim, e esse é um ponto-chave. Tínhamos a noção de que essas doenças poderiam ocorrer rapidamente, em questão de meses, até anos, mas não. Isso só acontece em raras ocasiões.

A verdade é que elas levam duas décadas ou mais, então temos tempo mais do que suficiente para nos antecipar, mas não estamos fazendo isso.

Temos muita sorte de ter esse longo período de tempo para agir e, claro, quanto mais rápido agirmos, maior será a chance de preveni-las.

BBC News Mundo - Embora tenha mencionado a importância da alimentação, de dormir o suficiente e das relações sociais no processo de envelhecimento, você diz que "o exercício pode ser considerado a intervenção médica mais eficaz que conhecemos". Por quê?

Topol - O exercício, e os dados confirmam isso, é extraordinário. Se fosse um medicamento, seria o maior avanço farmacológico que poderíamos ter.

E não se trata apenas de exercícios aeróbicos, como caminhada acelerada ou andar de bicicleta, mas também treinamento de força e equilíbrio. Ambos são muito importantes.

O fascinante é que o exercício ajuda a manter o sistema imunológico muito saudável.

Sabíamos que o exercício ajuda a prevenir o Alzheimer, mas também ajuda a prevenir o câncer e as doenças cardiovasculares.

E não precisa ser um exercício extremo, qualquer atividade contínua é boa.

Todos nós deveríamos nos movimentar mais. É algo que nunca é demais enfatizar: é grátis, é simples.

É uma questão de criar uma rotina e segui-la o máximo que puder, idealmente todos os dias.

O exercício não precisa ser extremo — o importante, diz o médico, é não deixar de se movimentar | Crédito,Getty Images

BBC News Mundo - E você enfatiza que nunca é tarde para começar. Às vezes, podemos pensar que se não acostumamos nossos corpos a rotinas de exercícios quando éramos jovens, quando se chega a uma certa idade, começar a praticar não terá muito efeito.

Topol - Não, nunca é tarde demais. No livro, falo sobre algumas destas pessoas que têm uma idade muito avançada, e se tornaram campeãs mundiais*.

Você pode desenvolver uma nova força, uma nova capacidade cardiovascular em qualquer idade e, mesmo depois dos 90 anos, pode se revitalizar fisicamente.

*Em seu livro, o médico menciona Richard Morgan, de 93 anos, que quando era septuagenário começou a se exercitar regularmente pela primeira vez na vida usando uma máquina de remo. "Ele ganhou quatro campeonatos mundiais de remo indoor."

BBC News Mundo - Vou citar um fragmento do seu livro: "São intrigantes os cérebros dos 'superidosos' que, aos 80 anos, têm a memória de pessoas de 20 anos, ou 20 anos mais jovens". Como são os cérebros dos "superidosos"?

Topol - O cérebro é incrivelmente saudável, e há algo que precisamos ter em mente: a maioria destas pessoas, à medida que envelhece — quando tem 90 anos ou mais — desenvolve as mesmas proteínas mal dobradas, como amiloide e tau, em seus cérebros.

E você pensa: "(pelo acúmulo de) amiloide e tau, elas deveriam ter Alzheimer, não deveriam ter uma capacidade cognitiva tão grande."

Mas a verdade é que elas têm porque não desenvolvem inflamação contra essas proteínas, elas se adaptam, e sua estrutura cerebral parece intacta.

O sono profundo é importante no processo de envelhecimento saudável | Crédito,Getty Images

Isso é algo que chama atenção: como alguém pode manter uma função cognitiva executiva tão bem preservada em uma idade avançada?

Eles desafiam as expectativas. A maioria das pessoas diz: "Quando você tiver 90 anos, vai perder suas faculdades (mentais)", mas isso não é verdade.

Temos muitas maneiras (de evitar a perda da capacidade cognitiva), e uma das mais importantes é o sono.

Todas as noites, temos esses produtos residuais no nosso cérebro, metabólitos que são realmente tóxicos e promotores de inflamação, que precisamos eliminar por meio do chamado canal glinfático, que foi descoberto nos últimos anos.

E acontece que, se não tivermos um sono profundo adequado, o tipo de sono de ondas lentas que geralmente ocorre no início da noite, não eliminamos esses produtos residuais e, basicamente, damos a eles a oportunidade de inflamar nosso cérebro.

Portanto, precisamos melhorar o sono profundo para prevenir doenças neurodegenerativas.

BBC News Mundo - Você acabou de mencionar um fator essencial: dormir bem. O que mais podemos fazer para manter nosso cérebro saudável?

Topol - Praticar exercícios, ter um sono profundo e adotar uma alimentação que não promova a inflamação do corpo.

Que seja uma dieta baseada em grande parte em alimentos de origem vegetal, como a mediterrânea. Isso tem sido demonstrado estudo após estudo; esse tipo de alimentação ajuda a suprimir a inflamação no corpo, diferentemente da dieta que inclui ultraprocessados, carnes vermelhas e outros alimentos que são claramente pró-inflamatórios.

Uma alimentação balanceada, rica em legumes, verduras e frutas, é um dos segredos para envelhecer bem | Crédito,Getty Images

Uma alimentação mais saudável faz uma grande diferença, assim como o exercício, o sono e as relações sociais que temos à medida que envelhecemos. É realmente surpreendente o efeito que esses fatores têm.

E não podemos esquecer de estar ao ar livre, na natureza, em espaços verdes. É realmente interessante ver como isso não apenas reduz o estresse, a ansiedade e a depressão, como também tem um efeito muito marcante na prevenção de doenças relacionadas à idade.

Há muitas coisas que podemos fazer, mas não estamos fazendo.

É mais provável que as façamos quando soubermos qual é o nosso risco específico (para uma certa doença), o que vai acontecer em breve, e vai se tornar rotineiro.

Significa dizer, por exemplo: "Margarita, você é muito saudável, mas temos os relógios de todos os seus órgãos, todos os seus biomarcadores, seus dados, e a inteligência artificial nos diz que esta é a doença à qual você é vulnerável, então vamos preveni-la. Temos 15 ou 18 anos pela frente antes que isso realmente aconteça."

É para isso que estamos caminhando, e é muito emocionante; nunca tivemos essa capacidade antes.

BBC News Mundo - Você desenvolveu sua carreira como médico, pesquisador, escritor e professor. E, no fim do livro, faz um agradecimento emotivo a seus pacientes, alguns dos quais ainda atende. Quão importantes eles são na sua vida?

Topol - Eles são minha inspiração. Sim, continuo atendendo, e adoro vê-los. Alguns deles eu atendo há mais de 30 anos. Alguns até vêm de outras cidades para as consultas.

Topol tem uma vasta carreira na área de saúde nos EUA. Seu trabalho combina, entre outros campos, genômica com big data e inteligência artificial. Nesta foto de 2015, ele estava dando uma palestra | Crédito,Neilson Barnard/Getty Images para Klick Health

A razão é que eu aprendo com eles. Eles me fazem ver o que está faltando na medicina, em que precisamos trabalhar, e me ensinam isso o tempo todo.

Embora eu tente ajudá-los, eles estão me ajudando, e isso me faz sentir muito grato.

A senhora L.R., por exemplo, foi uma grande inspiração para mim.

Fizemos o estudo Wellderly (uma fusão das palavras "well", que significa bem, e "elderly", que quer dizer "idoso"), o publicamos, e muitas pessoas usaram nossos dados para conduzir suas próprias pesquisas e descobertas.

Deixei isso um pouco de lado, mas depois a vi e disse: "Outra wellderly! Tenho que escrever um livro sobre isso porque é incrível".

É incrível o quanto eles nos ensinam sem perceber, justamente quando nós tentamos ajudá-los.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/clym06ej50jo

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF