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terça-feira, 3 de novembro de 2020

“Avós-babás”: devemos limitar os favores que fazemos aos nossos filhos?

Monkey Business Images - shutterstock

Os pais podem ter dificuldade em encontrar um sistema adequado para cuidar de seus filhos, por razões financeiras ou mera escolha pessoal. Alguns decidem usar seus avós como babás. Um favor comum que se faz com prazer, mas não sob qualquer condição.

“Quando minha filha teve que voltar a trabalhar após a licença de maternidade, ela não tinha conseguido vaga numa creche nem tinha guarda compartilhada. Então ela me pediu para cuidar do bebê”, conta Patricia. Por sua vez, Geniviève ofereceu espontaneamente à sua filha para cuidar do neto todas às quintas-feiras à tarde. Quanto a Yolaine, ela cuidou de suas duas netas todas as quartas-feiras durante anos até elas entrarem no ensino médio. Com a falta de vagas em creches, o custo das babás e o aumento do número de pais solteiros, a geração mais velha é hoje muito mais procurada.

Que os nossos pais ou sogros cuidem dos nossos filhos é tão reconfortante como confortável: os filhos os conhecem bem, eles respeitam melhor o seu ritmo, os cuidados vão muito bem mesmo em caso de doença e as relações baseiam-se na confiança mútua.

Uma solução prática, sem dúvida, mas que tem vantagens e desvantagens. Para que funcione da melhor forma possível, é importante considerar os prós e os contras e definir as regras para cada um desde o início.

Ter um tempo para estar sós e tempo para estar com o cônjuge

Geneviève começa seu segundo ano cuidando de seu neto: “Fico feliz em ajudar minha filha e meu genro. Isso fortalece o relacionamento com minha filha: a gente se encontra quando ela vem deixar ele e ela pode ficar um pouco para conversar quando vem buscar ele. Tenho momentos lindos também com o Igor e fico feliz em estreitar nossos laços. Leio contos para ele, brinco com ele, faço mimos à ele, falo-lhe do Bom Deus também, tudo isso é cansativo, é verdade, mas traz tantas alegrias!”.

Os avós de hoje em dia são jovens. Mas um terço deles ainda trabalham. Muitos deles ainda carregam a carga dos seus próprios pais. A maioria está muito ocupada. E se estamos em ótima forma aos 55 anos, estamos menos aos 65 anos, inclusive se eles querem ajudar aos seus filhos, tornar-se uma babá no dia a dia não é fácil.

A conselheira matrimonial Christiane Behaghel recomenda refletir bem antes de começar essa idéia de ajuda aos filhos: “Além dos limites físicos (o neto ou neta tomar banho, por exemplo, é muito cansativo), é preciso levar em consideração as condições materiais do cuidado: há um jardim próximo ou moram num apartamento na cidade? Devemos usar o carro?” Para ela, também é fundamental que os dois avós concordem. O avô pode querer aproveitar seu tempo com sua esposa, para viajar, para organizar seu tempo como quiser, em vez de ser limitado por um compromisso regular. Por outro lado, os avós devem ter uma vida além dos seus netos e poder sair juntos para fazer qualquer coisa, com a condição, é claro, de avisar com antecedência. É importante que eles façam isto também, para não ficarem deprimidos quando eles são menos necessários. “Presto muita atenção em ter tempo livre para minhas atividades e compromissos pessoais”, explica Geneviève. “Minha filha sabe disso e respeita isso”. Por todas essas razões, o cuidado regular dos netos deve ser limitado no tempo, de acordo com Christiane Behaghel.

Esclarecer as expectativas de um lado e do outro

Depois de estar confirmado esse acordo desse cuidado habitual, como ele será realizado concretamente? Uma coisa é ser um “avô das férias” e outra ser um “avô do dia a dia”. Embora nas férias seja permitida uma certa flexibilidade na educação, nos horários ou na alimentação, durante o ano deve-se respeitar o ritmo da criança. Você também não deve ceder aos caprichos, sob a pena de ser oprimido. Os avós, em casa, farão o que quiserem, mas não devem ser substitutos dos pais, os primeiros educadores dos filhos. Os pais também podem ter desejos, como fazer com que o filho coma comida caseira, não levá-lo ao parque ou até mesmo não assistir televisão.

Para que exista confiança nas relações, Christiane Behaghel aconselha a deixar claras as expectativas de um lado e do outro: “Não é preciso dar por certo determinadas coisas pelo fato de estar com sua família”. Para não criar conflitos, os pais expressarão seus desejos, enquanto os avós estabelecerão suas limitações. É perfeitamente possível ouvir a necessidade de segurança de uma avó que está mais calma quando a criancinha está no parque. Por que não pedir com educação que deixe a criança pular livremente num quarto fechado por uma barreira? Por sua vez, Yolaine lembra: “Quando me pediram para alimentar minhas netas com comida caseira, salientei que preferia usar o tempo que estive na cozinha para brincar com elas. Por isso, minha nora era quem fazia as refeições. Quanto à televisão, afirmei que precisava de uma folga no dia, por isso combinamos que as crianças assistissem um filminho no tablet por meia hora”. Embora os relacionamentos entre mãe e filha sejam fluidos, talvez o sejam menos com uma nora. De acordo com Christiane Behaghel, “neste caso específico, parece-me que o vínculo deve ser nutrido com cuidado, por exemplo, avaliando regularmente o desenvolvimento dos cuidados”.

Esse serviço de babá parece tão natural que raramente é pago, por isso, é mais uma razão para os pais compensarem as despesas de gasolina, a compra e o abastecimento de produtos ou mantimentos e que sejam agradecidos. Uma forma de reconhecimento pelo belo gesto de amor oferecido pelos “avós-babás”.

Aleteia

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF