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quarta-feira, 3 de novembro de 2021

O que há de cristão e humano na cremação dos corpos?

Guadium Press
Tornou-se comum mandar cremar os corpos dos defuntos. Qual a razão?

Redação (02/11/2021 10:40Gaudium Press) A cremação dos corpos é um dos processos mais antigos praticados pelo homem. Em algumas sociedades, este costume era considerado corriqueiro e fazia parte do cotidiano por se tratar de uma medida prática e higiênica.

Os gregos e os romanos utilizavam a cremação para rituais fúnebres. Nessas civilizações, como a cremação era considerada um destino nobre aos mortos, o sepultamento dos corpos era reservado aos criminosos, assassinos, suicidas.

No Japão, a cremação foi adotada com o advento do Budismo chinês em 552 D.C. Por possuir pouquíssimo espaço territorial, os japoneses incrementaram significativamente essa prática, passando a considerá-la normal e todas as religiões passaram a recomendá-la.

Como a Igreja vê tal costume?

A Congregação para a Doutrina da Fé, quando presidida pelo Cardeal Gerhard Müller, exarou um documento sobre o assunto, em outubro de 2016, estabelecendo normas e dando o parecer da Igreja.

O documento é uma instrução, com o título de “Ad resurgendum cum Christo”. Neste documento são citadas algumas práticas condenadas e proibidas aos católicos, como conservar as cinzas em casa, espalhá-las no mar (ou no espaço) ou mesmo usá-las para fazer recordações.

Com o último Concílio, o Código de Direito Canônico mudou as normas, estabelecendo o seguinte:

“A Igreja aconselha vivamente que se conserve o piedoso costume de sepultar o cadáver dos defuntos; sem embargo, não proíbe a cremação, a não ser que haja sido eleita por razões contrárias à doutrina cristã” (Código de Direito Canônico, cânon 1176 par. 3).

Portanto, mesmo do ponto de vista da lei natural, não há justificativa para tal ato, pois a própria natureza humana pede que se honre e se reverencie dignamente os falecidos, especialmente os que viveram em boa fama.

Onde guardar as cinzas?

A Igreja não condena a cremação, mas só a permite quando houver razões higiênicas, econômica ou social para fazê-la. A instrução “Ad resurgendum cum Christo”, acima referida, afirma que a “Igreja não vê motivos doutrinários para evitar esta prática, visto que a cremação do cadáver não toca a alma nem nega a doutrina cristã sobre a imortalidade da mesma e sobre a ressurreição do corpo”.

No entanto, a Igreja prefere e recomenda o sepultamento normal dos corpos, “porque mostra um maior apreço pelo falecido”.

No caso da cremação as cinzas devem ser guardadas em lugar sagrado, como num cemitério ou, se for o caso, numa igreja ou local especialmente dedicado a esse fim.

Contudo, as cinzas não podem ser guardadas em casa ou ser lançadas ao espaço ou no mar como fazem muitos, “para evitar qualquer mal-entendido panteísta, naturalista ou niilista, a dispersão das cinzas no ar, no solo ou na água ou de qualquer outra forma, ou a conversão das cinzas em lembranças comemorativas, em peças de bijuteria ou outros artigos, tendo-se em atenção que, para estes procedimentos, não se podem invocar razões de higiene, sociais ou econômicas que possam motivar a opção da cremação ”.

Por que essas proibições?

O Vaticano recorda que “o sepultamento é, em primeiro lugar, a forma mais adequada de expressar a fé e a esperança na ressurreição corporal”.

“Enterrando os corpos dos fiéis falecidos, a Igreja confirma sua fé na ressurreição da carne e destaca a elevada dignidade do corpo humano como parte integrante da pessoa com quem o corpo compartilhou sua história”.

A Igreja, portanto, adverte que “não pode permitir atitudes e rituais que impliquem conceitos errôneos de morte, considerados como uma anulação definitiva da pessoa, ou como um momento de fusão com a Mãe Natureza ou com o universo, ou como uma etapa no processo de reencarnação, ou como a libertação definitiva da ‘prisão’ do corpo”.

Contradição

Com efeito, há no mundo moderno uma contradição: as pessoas se ufanam de levar uma vida “ao natural”, apreciam e até veneram a ecologia, têm grande preocupação com uma alimentação natural e fogem da artificial; porém, quando morrem desejam que seu corpo seja descomposto não de forma natural, mas de forma artificial, num forno crematório.

Qual a razão dessa contradição?

É que as pessoas, em geral, detestam a morte e tudo o que a ela se relaciona, e querem se desfazer do cadáver o mais rápido possível. Esta pressa, talvez até mesmo sem o perceber, torna as pessoas desrespeitosas para com seus familiares falecidos. Em vez de deixar que os corpos se desfaçam naturalmente, da forma como nasceram e viveram, apressam o seu fim de uma forma artificial e antinatural.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF