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domingo, 13 de novembro de 2022

33º Domingo do Tempo Comum – Ano C

iCatólica

Homilética: 33º Domingo do Tempo Comum - Ano C: "É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!".

Estamos no penúltimo domingo do Ano Litúrgico. A Palavra de Deus convida-nos a meditar no fim último do homem, no seu destino além da morte. A meta final, para onde Deus nos conduz, faz nascer em nós a esperança e a coragem para enfrentar as adversidades e lutar pelo Advento do Reino.

O Profeta Malaquias fala do juízo final, com acentos fortes: “Eis que virá o dia, abrasador como fornalha…” (Ml 3, 19)

O texto do Evangelho ( Lc 21, 5-19 ) é uma parte dos famosos discursos escatológicos de Jesus. Podemos interpretá-lo como anúncio de desventuras: aí se fala de guerras, revoluções, terremotos, carestias e pestes. Na realidade, ao invés, é um anúncio de paz. As desventuras – de acordo com o que o Evangelista Lucas diz à Igreja – continuarão a existir, porque fazem parte integral da história humana; não foi Jesus que as trouxe, o que Jesus trouxe foi, antes, a possibilidade de vencê-las mediante a fé em seu nome: “Mas vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça. É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” ( Lc21, 18-19 ).

O texto não pretende incutir medo, falando do “fim do mundo”, mas fortalecer a esperança em Deus para enfrentar os dramas da vida e da história; esperança que devemos ter ainda hoje, apesar do que vemos…

São Paulo (2Ts 3, 7-12) fala da comunidade de Tessalônica, perturbada por fanáticos que pregavam estar próximo o fim do mundo, por isso não valia a pena continuar trabalhando. Paulo diz: “Quem não quer trabalhar, também não deve comer…” (2Ts 3, 10). O Apóstolo ressalta a importância do trabalho para a vida do homem.

A vida é realmente muito curta e o encontro com Jesus está próximo. Isto ajuda-nos a desprender-nos dos bens que temos de utilizar e aproveitar o tempo; mas não nos exime de maneira nenhuma de dedicar-nos plenamente à nossa profissão no seio da sociedade. Mais ainda: é com os nossos afazeres terrenos, ajudados pela graça, que temos de ganhar o Céu.

Para imitar Cristo, que trabalhou como artesão a maior parte de sua vida, longe de descuidar as tarefas temporais, os cristãos “estão mais obrigados a cumpri-los, por causa da própria fé, de acordo com a vocação a que cada um foi chamado (GS, 43).

Durante séculos, muitos pensavam que, para serem bons cristãos, bastava-lhes uma vida de piedade sem conexão alguma com as suas ocupações profissionais no escritório, na fábrica, no campo, na Universidade… Muitos tinham, além disso, a convicção de que os afazeres temporais, os assuntos profanos em que o homem está imerso de uma forma ou de outra eram um obstáculo para o encontro com Deus e para uma vida plenamente cristã. A vida oculta de Jesus veio ensinar-nos o valor do trabalho, da unidade de vida, pois com o seu trabalho diário o Senhor estava também redimindo o mundo.

O fiel cristão não deve esquecer que, além de ser cidadão da Terra, também o é do Céu, e por isso deve comportar-se entre os outros de uma maneira digna da vocação a que foi chamado, sempre alegre, irrepreensível e simples, compreensivo com todos, bom trabalhador e bom amigo, aberto a todas as realidades autenticamente humanas (cf. Fl. 1, 27; 2, 3-4; 2, 15; 4,4).

É algo verdadeiramente humano e nobre: ninguém quer morrer, ninguém quer ser enganado. E porque tantas pessoas se empenharam em saber a data do fim do mundo? A curiosidade também é algo assaz humana. Viver e conhecer a verdade são dois grandes desejos que estão no coração de cada ser humano. Nisso se pode ver que o céu será a realização de tudo isso: viveremos para sempre conhecendo e amando a Verdade, que é Deus. Quando? Para cada um, logo após a sua morte haverá um juízo na qual já se decidirá a sua sorte eterna (cfr. Hb 9,27). Para todos, na consumação dos tempos, haverá um juízo universal que reafirmará a sentença do juízo particular tendo em conta as consequências das nossas ações (cfr. Mt 25,31-46). Ambos os eventos são desconhecidos quanto ao tempo de sua realização.

De todas as maneiras, e contra qualquer teoria que pretenda saber mais que os desígnios do Altíssimo, no Evangelho, Jesus nos deixa de sobreaviso: “vede que não sejais enganados. Muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu; e ainda: O tempo está próximo. Não sigais após eles” (Lc 21,8). É verdade: Jesus voltará, ressuscitaremos com os nossos corpos, seremos julgados, há prêmio (céu) e castigo (inferno), haverá um novo céu e uma nova terra. Essas são verdades da nossa fé. Mas, quando acontecerá? Em primeiro lugar, o Senhor nos diz que tenhamos cuidado para não sermos enganados e depois nos diz que não sigamos os falsificadores da verdade. Em outra passagem lemos: “vigiai, pois, porque não sabeis a hora em virá o Senhor. (…) Por isso, estai também vós de preparados porque o Filho do homem virá numa hora em que menos pensardes” (Mt 24,42-44). O importante é vigiar e estar preparado sempre, isto é, em graça de Deus e praticando as obras da fé.

Diante das catástrofes Jesus exorta à esperança: não ter medo… Esses sinais de desagregação do mundo velho não devem assustar, pelo contrário são anúncio de alegria e esperança, de que um mundo novo está por surgir. “Quando essas coisas começarem a acontecer, levantem-se, ergam a cabeça, porque a libertação está próxima” (Lc 21, 28). A vida do discípulo no mundo assume, de repente, um aspecto novo: é vida de espera, por isso de vigilância; é vida de peregrinos a caminho, não de domiciliados e de sedentários.

Quanto aos “presságios” do Novo Testamento sobre o fim – difusão do Evangelho, anticristo, conversão dos judeus –, parece que é preciso entendê-los como sinais enigmáticos presentes na história entre a primeira e a segunda vinda de Cristo que ajudam os cristãos a manter-se em estado de vigilância continua e a desejarem a vinda do Senhor. Há uma presença permanente de Cristo na história que se culminará com a sua Parusia gloriosa na consumação desses últimos tempos que estamos vivendo. Em efeito, já estamos nos últimos tempos desde a Encarnação do Filho de Deus: “Quando veio plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei” (Gl 4,4).

“É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida” (Lc 21, 19). Aproveitemos o tempo! Diante das dificuldades não nos deixemos levar pelo desânimo! Acreditemos na Vitória final do Reino de Cristo.

Comentários aos textos bíblicos

Leituras: Ml 3,19-20a; Sl 97; 2Ts 3,7-12; Lc 21,5-19

Meus caros irmãos e irmãs, estamos prestes a concluir o ano litúrgico e bem às portas do tempo do advento, no qual iremos nos preparar para o Natal do Senhor e também para a sua segunda vinda.  A primeira leitura (cf. Ml 3,19-20)  e o Evangelho (cf. Lc 21,5-19) incidem no tema escatológico propício destes últimos domingos.  A perícope evangélica nos oferece uma reflexão sobre o percurso que a Igreja é chamada a percorrer até à segunda vinda de Jesus. A missão dos discípulos em caminhada na história é comprometer-se na transformação do mundo, de forma que a antiga realidade desapareça e nasça um novo Reino. Esse caminho será percorrido com dificuldades e perseguições; mas os discípulos terão sempre a ajuda e a força de Deus.

O Evangelho nos traz uma profecia e uma promessa. A profecia é sobre o fim dos tempos. E a promessa é sobre como o Senhor recompensará todos aqueles que se mantiverem fiéis à sua Palavra.  O evangelista São Lucas revela aos cristãos os acontecimentos que surgirão: “Haverá grandes terremotos e, em diversos lugares, fome e epidemias; surgirão fenômenos espantosos e grandes sinais no céu”  (v. 11).  Estas palavras eram também usadas pelos pregadores populares da época de Jesus, para ressaltar a queda do velho mundo, ou seja, o mundo do pecado, do egoísmo, da exploração; e também para ressaltar o surgimento de um mundo novo. A questão é, portanto, esta, no tempo intermediário entre a queda de Jerusalém e a segunda vinda de Jesus, o Reino de Deus irá se manifestando e nascerá um mundo novo: um mundo de esperança e de felicidade.

No tempo de Jesus era bastante comum a ideia de que o mundo antigo já estava muito corrompido e deveria desaparecer, para que pudesse surgir um mundo novo.  Pensava-se que, na hora da passagem do mundo antigo para o novo, os homens seriam tomados por um grande pavor, os povos e as nações se envolveriam em tumultos, violências, doenças, calamidades e guerras.

Este modo de falar, estas imagens, chamadas de apocalípticas, eram comuns no tempo dos apóstolos. Também Jesus as usou para dizer aos seus discípulos que tinha chegado o tempo da passagem do mundo antigo para o mundo novo.  Trata-se de imagens que indicam ao mesmo tempo anúncio de alegria e de esperança. Por esta razão, Jesus exorta aos seus discípulos: “Não vos assusteis” (v. 9). E pouco depois recomenda: “Quando começarem a acontecer estas coisas, reanimai-vos e levantai as vossas cabeças; porque se aproxima a vossa libertação” (Lc 21,28).

Este discurso de Jesus é sempre atual, também para nós deve ecoar esta exortação: “Prestai atenção para não serdes enganados. Muitos virão em meu nome” (v. 8). Trata-se de um convite ao discernimento. Com efeito, também hoje existem falsos pregadores, que procuram substituir-se a Jesus; personagens que desejam atrair a si as mentes e os corações. Jesus alerta: “Não os sigais!” (v. 8).

Os cristãos são advertidos para as dificuldades e perseguições que marcarão a caminhada histórica da Igreja pelo tempo, até à segunda vinda de Jesus. Contudo, lembra que os fiéis não estarão sós, pois Deus estará sempre presente. Será com a força Divina que eles enfrentarão os adversários e resistirão à tortura, à prisão e à morte; será com a ajuda de Deus que eles poderão até resistir à dor pela traição de seus próprios familiares e amigos. As palavras de alento deixadas pelo evangelista São Lucas enfatizam a certeza de que Deus não abandona os seus filhos. É essa presença constante e amorosa do Senhor que lhes permitirá enfrentar as forças da morte. É essa força de Deus que levará os discípulos de Jesus a vencer o desânimo, a adversidade e o medo, permitindo renascer a esperança e a coragem para superar as adversidades do mundo presente.  É o percurso que todos nós somos chamados a percorrer, até a segunda vinda de Jesus Cristo.

No meio de todos os desastres e perseguições, Deus está conosco: “Nem um só cabelo cairá de vossas cabeças. Pela vossa perseverança é que haveis de salvar-vos” (v. 18).  Na alma verdadeiramente cristã jamais morre a esperança.  Mesmo quando tudo parece obscuro, temos a certeza da presença sábia e misericordiosa de Deus.

O evangelista São Lucas põe os cristãos de sobreaviso para as dificuldades e perseguições que marcarão a caminhada histórica da Igreja pelo tempo fora, até à segunda vinda de Jesus. Lucas lembra-lhes, contudo, que não estarão sós.  Quando Lucas escreve este texto, tem bem presente a experiência de uma Igreja que caminha e luta na história para tornar realidade o “Reino” e que, nessa luta, conhece os sofrimentos, as dificuldades, a perseguição e o martírio. As palavras de alento que ele aqui deixa – sobretudo a certeza de que Deus está presente e não abandona os seus filhos, devem constituir uma ajuda inestimável para esses cristãos a quem o Evangelho se destina.

O discurso escatológico do texto evangélico define, portanto, a missão da Igreja na história: dar testemunho da Boa Nova e construir o Reino. Os discípulos nada deverão temer: haverá dificuldades, mas eles terão sempre a ajuda e a força de Deus.

No texto do Evangelho encontramos ainda a admoestação do Senhor: “Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos alarmeis; é preciso que estas coisas sucedam primeiro, mas não será logo o fim” (v. 9). Como de fato, desde o início, a Igreja vive na expectativa orante da vinda do seu Senhor, perscrutando os sinais dos tempos e advertindo os fiéis de correntes religiosas, que cada vez anunciam a iminência do fim do mundo.  Mas o fim do mundo para cada um de nós pode ser também a hora da nossa morte.  Não falando quando isso acontecerá, Jesus queria ensinar que devemos estar sempre vigilantes e preparados.

Diante deste contexto podesurgir o perigo de um certo desânimo e a atividade diária do trabalho pode perder o sentido perante esta iminente segunda vinda do Senhor, por isto, alguns tessalonicenses estavam deixando o trabalho, para viver na ociosidade, “ocupados em não fazer nada” (2Ts 3,11), por esta razão adverte São Paulo na segunda leitura: “Quem não quer trabalhar, também não deve comer” (2Ts 3,10). São Paulo recorda o seu próprio exemplo de dedicação ao trabalho dia e noite, para não ser um peso para ninguém (cf. 2Cor 11,8).

O trabalho tem o seu valor e constitui uma participação da humanidade na ação criadora de Deus, a quem deve imitar, não só pelo trabalho em si, mas também pelo descanso, já que Deus apresentou ao homem a sua própria obra da criação sob a forma de trabalho e descanso (cf. Gn 2,2). E nisto encontramos um eco na oração do Pai Nosso e nas palavras de Jesus: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5,17).

Saibamos viver fielmente a nossa vocação cristã, não tenhamos medo de dar o bom testemunho de Cristo, para que possamos ser aprovados diante do juízo final. Nossa vida neste mundo é semente de eternidade. Que o Senhor nos conceda a graça de vivermos a santidade que nos fará ganhar o reino de Deus, e que a nossa vida esteja sempre cimentada sobre uma fé firme e perseverante.

Possamos também nós aceitar convite de Cristo a enfrentar os acontecimentos quotidianos confiando no seu amor providente. Que Ele seja a nossa força e o nosso sustento perante as guerras e as revoluções,  Não receemos o futuro, mesmo quando ele pode parecer de aspecto tenebroso.  Peçamos ao Senhor que nos conceda a graça de sermos portadores da esperança e que tenhamos sempre a coragem necessária para superarmos todas as dificuldades. Assim seja.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF