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sexta-feira, 18 de novembro de 2022

Aos pais que se culpam quando os filhos adultos se desviam

Shutterstock/kei907
Por Cerith Gardiner

É muito difícil para uma mãe ou um pai ver os filhos influenciados negativamente.

Tive de amparar, recentemente, uma amiga que estava à beira do desespero por não saber o que fazer com uma filha de 26 anos, cujo comportamento a deixava tão frustrada e ansiosa que, entre lágrimas, ela me perguntava: “O que foi que eu fiz de errado? Eu não criei a minha filha para ser assim”.

Ouço cada vez mais esse tipo de reflexão, vinda de outros pais de jovens adultos; pais que estão preocupados porque os filhos demonstram falta de direção, de dinamismo e de ética sólida de trabalho.

A minha amiga – vamos chamá-la de Liz – trabalha o dia todo desde os 18 anos. Ela dedica tempo a cuidar da família, incluindo uma tia idosa que está doente. Ela irradia bondade e generosidade. É fervorosa na sua fé, que tem sido a pedra angular da sua vida.

Mas a filha abandonou os estudos, não tem emprego e anda viajando de carro pelo sul da França, sem preocupações com a vida, já que herdou muito dinheiro do falecido pai. Quando Liz pergunta à filha quais são os seus planos, ela se irrita e responde à mãe que não é da conta dela (embora dependa bastante da mãe).

É uma situação complicada, e Liz e eu já conversamos longamente sobre ela. É fácil dizer: “Ela é adulta, deixe que ela se vire”. Mas Liz ainda se sente responsável pela filha e acredita que tem culpa pelo comportamento dela.

É fácil dizer que a filha vai amadurecer e encontrar o seu rumo. Afinal, acredito que os jovens só começam a ser independentes e responsáveis na vida depois de precisarem enfrentar as realidades do mundo adulto.

Mas a filha de Liz está adiando este momento o máximo possível. E quando Liz questiona o que fez de errado como mãe, eu sugiro que ela olhe para o que fez de bom – afinal de contas, a filha tem muitos traços positivos.

Influências externas negativas

Salientei também que a sociedade de hoje é muito diferente das gerações anteriores, e muito mais afastada das realidades da nossa própria infância. Quando estávamos crescendo, os nossos pais podiam contar com três instituições sólidas para influenciar positivamente os filhos: a Igreja, a família e o sistema escolar.

As mães e os pais podiam determinar o ambiente escolar e a educação religiosa que queriam dar aos filhos, e isto ajudava a proporcionar fundamentos morais sólidos e dar às crianças a orientação de que elas precisavam para chegar mais preparadas à vida adulta. Décadas mais tarde, essas instituições exercem muito mais influência do que os pais imaginam.

O crescimento e a popularização da internet facilitou o acesso dos nossos filhos a coisas que nunca poderíamos ter imaginado. Eles recebem um fluxo constante de opiniões agressivas fluindo pelas telas dos seus telefones e computadores. Eles também têm acesso permanente a notícias de todos os cantos do mundo com inúmeros vieses e pontos de vista diferentes. Esse fluxo arrasador pode ter efeito prejudicial na saúde mental de um jovem.

Os jovens adultos de hoje também fazem parte da geração dos “influenciadores” – quase “gurus” das mídias sociais que reúnem milhões de seguidores e tentam direcionar comportamentos de compra, escolhas de lazer, aparência física e muito mais.

Se um jovem adulto está perdido ou apático, ele não precisa procurar muito para encontrar alguém que justifique as escolhas dele; algum “influenciador” que o incentive a continuar fazendo o que ele está fazendo – ou no caso da filha de Liz, a continuar não fazendo. Poderíamos descrever este fenômeno como semelhante a uma seita.

As crianças do passado eram influenciadas por tecnologias como o rádio e depois a TV, mas a internet facilita a exposição a influências muito mais invasivas e insidiosas.
Pessoas podem esconder-se atrás de perfis para compartilhar ideias e opiniões que podem ser altamente enganadoras. É um território de risco para os nossos filhos, e, à medida que eles crescem, o controle dos pais se torna impossível.

Não tenho uma solução para Liz, mas acho importante que ela perceba que fez e continua fazendo muito bem à filha ao longo dos anos. Ela pode sentir-se reconfortada por ter conseguido exercer uma influência positiva na vida dela.

Liz também pode recorrer à poderosa intercessão dos santos em prol da sua filha, assim como manter um diálogo aberto com ela. Ela parou de criticar a filha pelas suas escolhas e está se concentrando em conversas positivas sobre questões isentas de conflitos.

Espero que ela consiga consolidar essa postura e, muito gentilmente, inspirar a sua filha a voltar a uma vida rica de significado.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF