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segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

A formação do clero e a Música Sacra (1/2)

A formação do clero e a Música Sacra (Presbíteros)

A formação do clero e a Música Sacra

Os postulados derivados da identidade sacerdotal

Para poder compreender a importância da formação relativa à música sacra dos candidatos ao sacerdócio ministerial, deve-se antes de tudo ter presentes alguns elementos da identidade do presbítero e da sua missão específica.

Na Exortação Apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis, sobre a formação dos sacerdotes nas circunstâncias atuais, de 25 de Março de 1992, João Paulo II, colocando as raízes da identidade sacerdotal no mistério da Santíssima Trindade e da comunhão da Igreja, observa: «O presbítero, […] em virtude da consagração que recebe pelo sacramento da Ordem, é enviado pelo Pai, através de Jesus Cristo, ao qual como Cabeça e Pastor do seu povo é configurado de modo especial para viver e atuar, na força do Espírito Santo, ao serviço da Igreja e para a salvação do mundo». Por conseguinte, o presbítero «encontra a verdade plena da sua identidade no facto de ser uma derivação, uma participação específica e uma continuação do próprio Cristo, sumo e único Sacerdote da nova e eterna Aliança: ele é uma imagem viva e transparente de Cristo Sacerdote».

Contudo, deve-se ter presente que Cristo realizou o seu sacerdócio plenamente no mistério da sua morte e ressurreição, e este mistério da morte e ressurreição «está de certo modo recolhido […] e ‘concentrado’ para sempre» na Eucaristia, na qual «Cristo entregou à Igreja a atualização perene do mistério pascal. Com ele, instituiu uma misteriosa ‘contemporaneidade’ entre [o Triduum Paschale] e o transcurso de todos os séculos». Por outras palavras, a Eucaristia «é o sacrifício da Cruz que se perpetua através dos séculos». Portanto, «quando a Igreja celebra a Eucaristia, […] este acontecimento central de salvação torna-se realmente presente e ‘realiza-se a obra da nossa redenção’».

Ora, a Eucaristia está estreitamente ligada ao sacramento da Ordem, aliás é «a principal e central razão de ser do sacramento do Sacerdócio, que nasceu efetivamente no momento da instituição da Eucaristia e juntamente com ela». Por conseguinte, os sacerdotes – como nos recorda o Concílio Vaticano II –, na sua qualidade de ministros das coisas sagradas, «são sobretudo os ministros do sacrifício da Missa» .

Há um vínculo estreito também entre toda a atividade e eficácia pastoral dos presbíteros e a Eucaristia. De facto, o Decreto conciliar sobre o ministério e a vida dos presbíteros, Presbyterorum ordinis, indica a caridade pastoral como «o vínculo de perfeição sacerdotal que reduzirá à unidade a sua vida e ação», acrescentando imediatamente que «a caridade pastoral brota sobretudo do Sacrifício Eucarístico».

Partindo destes elementos da identidade do sacerdote e da sua missão, não é difícil perceber a responsabilidade dos sacerdotes pela Eucaristia. Eles não são apenas ministros da Eucaristia, mas dependerá deles principalmente a forma como será também celebrada na realidade a Eucaristia, como será compreendida e vivida pelos fiéis. Dependerá deles a orientação da música e do canto sagrado nas nossas igrejas. Seria irrealista esperar a promoção da genuína música sacra na liturgia, sem uma adequada preparação de quantos devem desempenhar neste sector um papel predominante.

A Eucaristia e a Liturgia das Horas na formação sacerdotal

Das considerações feitas até agora resulta também que, quanto mais profundamente o sacerdote compreende e na realidade vive a Eucaristia – que é o centro de toda a liturgia –, tanto melhor poderá compreender e orientar a música sacra. De facto, o canto e a música sacra são «parte necessária e integral da liturgia solene», devem portanto estar intimamente harmonizados com a liturgia, participar eficazmente na sua finalidade, ou seja, devem expressar a fé, a oração, a admiração, o amor a Jesus presente na Eucaristia. Por isso, o Catecismo da Igreja Católica repete mais uma vez que o canto e a música sacra desempenham a sua função de sinais de maneira tanto mais significativa «quanto mais estreitamente estão unidos à ação litúrgica», e quanto mais exprimem a oração.

A Eucaristia

Por conseguinte, na nossa perspectiva, é também importante que os seminaristas:

a) Sejam educados para compreenderem a Eucaristia na sua plena dimensão e valor; se deem conta de que «na Santíssima Eucaristia está contido todo o bem espiritual da Igreja, isto é, o próprio Cristo, nossa Páscoa»; que Ela é «o vértice da oração cristã»; que é «fonte e ápice de toda a vida cristã» e «todos os sacramentos, assim como todos os ministérios eclesiásticos e as obras de apostolado, estão estreitamente unidos à sagrada Eucaristia e para ela estão ordenados» .

b) Se deem conta do seu papel em relação à Eucaristia, ou seja, que «na sua qualidade de ministros das coisas sagradas, são sobretudo os ministros do Sacrifício da Missa» e que, por conseguinte, «o seu papel é totalmente insubstituível, porque sem sacerdote não pode haver oferta Eucarística»; que se consciencializem também da sua tarefa no que se refere à compreensão e à promoção da Eucaristia na vida dos fiéis.

c) Recebam uma adequada educação litúrgica juntamente com a devida explicação do significado das normas litúrgicas.

d) Sejam introduzidos a viver intensamente e a amar a Eucaristia. A este propósito, o Código de Direito Canónico prescreve: «A celebração eucarística seja o centro de toda a vida do seminário, de forma que todos os dias os alunos, participando da própria caridade de Cristo, possam haurir sobretudo desta fonte abundantíssima as forças para o trabalho apostólico e para a sua vida espiritual». De igual modo, a Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis diz: «A celebração quotidiana da Eucaristia […] deve ser o centro de toda a vida do seminário, e os alunos devem participar nela com devoção».

A Exortação Apostólica Pastores dabo vobis, precisamente da relação entre a Ordem sagrada e o Sacrifício da Missa, deduz «a importância fundamental da Eucaristia na vida e no ministério sacerdotal e, por conseguinte, na formação espiritual dos candidatos ao sacerdócio». Aliás, João Paulo II, não só recomenda que a participação quotidiana dos seminaristas na Eucaristia se torne depois ‘regra da sua vida sacerdotal’, mas também que sejam educados a considerar a celebração eucarística como o momento essencial do seu dia a dia, no qual participarão ativamente, nunca se contentando com uma assistência meramente rotineira», que sejam «formados nas íntimas disposições que a Eucaristia promove: o reconhecimento pelos benefícios recebidos do alto, pois a Eucaristia é ação de graças; a atitude oblativa que os estimula a unir à oferta eucarística de Cristo a própria oferta pessoal; a caridade alimentada por um sacramento que é sinal de unidade e de partilha; o desejo de contemplação e de adoração diante de Cristo realmente presente sob as espécies eucarísticas».

Estou profundamente convencido de que a compreensão e a atitude correta e apaixonada para com a música sacra dependem do modo de compreender e de viver a liturgia, e especialmente a Eucaristia.

Por Cardeal Zenon Grocholewski

Fonte: https://presbiteros.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF