Educar o coração
Os
sentimentos formam-se especialmente durante a infância. Aprende-se a amar desde
pequeno e os principais mestres são os pais, como se salienta neste artigo
sobre a família.
21/08/2012
UM CORAÇÃO
À MEDIDA DE CRISTO
Em resumo,
a educação das emoções procura fomentar nos filhos um coração grande, capaz de
amar verdadeiramente Deus e os homens, capaz de sentir as
preocupações dos que nos rodeiam, saber perdoar e compreender: sacrificar-se,
com Jesus Cristo, por todas as almas[6]. Uma atmosfera de serenidade e
exigência contribui, como que por osmose, para dar confiança e estabilidade ao
complexo mundo dos sentimentos. Se os filhos se sentem queridos
incondicionalmente, se verificam que agir bem é motivo de alegria para os pais
e que os seus erros não levam a perda da sua confiança, se se lhes facilita a
sinceridade e que manifestem as suas emoções… crescem com um clima interior
habitual de ordem e sossego, onde predominam os sentimentos positivos
(compreensão, alegria, confiança), enquanto que o que tira a paz (zanga, birra,
inveja) é entendido como um convite para ações concretas como pedir desculpa,
perdoar, ou ter algum gesto de carinho.
São
precisos corações apaixonados pelas coisas que valem realmente a pena;
apaixonados, sobretudo, por Deus[7]. Nada ajuda mais a que os afetos amadureçam
do que deixar o coração no Senhor e no cumprimento da Sua vontade; para isso,
como ensinava S. Josemaria, há que lhe pôr sete trancas, uma para
cada pecado capital[8]: porque em todo o coração há afetos que são só
para serem entregues a Deus e a consciência perde a paz quando os dirige para
outras coisas. A verdadeira pureza da alma passa por fechar as portas a tudo o
que implique dar às criaturas, ou ao próprio eu, o que pertence a Cristo; passa
por “assegurar” que a capacidade da pessoa para amar e querer esteja ajustada e
não desarticulada. Por isso, a imagem das sete trancas vai além da moderação da
concupiscência, ou da preocupação excessiva pelos bens materiais; recorda-nos
que é preciso lutar contra a vaidade, controlar a imaginação, purificar a
memória, moderar o apetite nas refeições, fomentar a convivência amável com
quem nos irrita… O paradoxo está em que, quando se põem “grilhões” ao coração,
aumenta-se a sua liberdade para amar com todas as suas forças inalteradas.
A
humanidade Santíssima do Senhor é o cadinho em que melhor se pode afinar o
coração e os seus afetos. Ensinar os filhos desde pequenos a tratar Jesus e Sua
Mãe com o mesmo coração e manifestações de carinho com que amam os pais na
terra favorece, na medida da sua idade, que descubram a verdadeira grandeza dos
seus afetos e que o Senhor se introduza nas suas almas. Um coração que guarda a
sua integridade para Deus, possui-se inteiramente e é capaz de se dar
totalmente.
Nesta
perspectiva, o coração converte-se num símbolo de profunda riqueza
antropológica: é o centro da pessoa, o lugar em que as potências mais íntimas e
elevadas do homem convergem e onde a pessoa encontra as energias para agir. Um
motor que deve ser educado – cuidado, moderado, afinado – para que oriente toda
a sua potência na direção certa. Para educar assim, para poder amar e ensinar a
amar com essa força, é preciso que cada um expulse da sua vida tudo
o que estorva a Vida de Cristo em nós: o apego à nossa comodidade, a tentação
do egoísmo, a tendência à exaltação pessoal. Só reproduzindo em nós a Vida de
Cristo, poderemos transmiti-la aos outros[9]. Com a correspondência à
graça e a luta pessoal, a alma vai-se endeusando e, pouco a pouco, o coração
torna-se magnânimo, capaz de dedicar os seus melhores esforços na execução de
causas nobres e grandes, na realização do que se apercebe como a vontade de
Deus.
Em alguns
momentos, o homem velho procurará recuperar os foros perdidos; mas a maturidade
afetiva – uma maturidade que, em parte, é independente da idade – faz com que o
homem olhe além das suas paixões para descobrir o que as desencadeou e como
deve reagir diante dessa realidade. E contará sempre com o refúgio que o Senhor
e Sua Mãe lhe oferecem. Acostuma-te a pôr o teu pobre coração no
Doce e Imaculado Coração de Maria, para que to purifique de tanta escória e te
leve ao Coração Sacratíssimo e Misericordioso de Jesus[10].
J.M. Martín, J. Verdiá
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[6] S.
Josemaria, É Cristo que passa, n. 158.
[7] Cfr. S.
Josemaria, Sulco, n. 795.
[8] S.
Josemaria, Tertúlia em La Lloma (Valência), 7-01-1975, em P. Rodríguez
(ed.), Camino. Edición crítico-histórica, Rialp, Madri
2002, pág. 384; cfr. S. Josemaria, Caminho, n. 188.
[9] S.
Josemaria, È Cristo que passa, n. 158.
[10] S. Josemaria, Sulco,
n. 830.
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