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terça-feira, 16 de janeiro de 2024

A formação do clero e a Música Sacra (2/2)

A formação do clero e a Música Sacra (Presbíteros)

A formação do clero e a Música Sacra

A celebração da Liturgia das Horas

Segundo a Ratio fundamentalis institutionis sacerdotalis, «à formação para o culto eucarístico deve estar intimamente unida a formação para o Ofício divino, mediante o qual os sacerdotes ‘rezam a Deus em nome da Igreja e em benefício de todo o povo que lhe está confiado, mais, em favor de todo o mundo’». Considero oportuno mencionar isto, porque na celebração da Liturgia das Horas é usado com frequência o canto e a música.

O Instrumentum laboris do VIII Sínodo dos Bispos sobre a formação dos sacerdotes, de 1990, afirmava: «A Liturgia das Horas é uma das maiores expressões da oração litúrgica. Através de uma iniciação gradual a esta oração das horas, o candidato aprenderá a dar um ritmo aos dias marcados por uma celebração na qual se exprime e se renova a sua fé. Saboreando os elementos de cada ‘hora’, ele poderá integrar progressivamente vida e oração a título pessoal e em nome da Igreja, para o povo que lhe está confiado e para todo o mundo».

Na formação seminarística, deve-se portanto evitar que na celebração da Liturgia das Horas, quer comunitária quer individual, se reduza esta oração à obrigação formal realizada mecanicamente como uma leitura rotineira e acelerada sem dedicar a atenção necessária ao significado do texto. Os seminaristas deveriam ser adequadamente introduzidos nela de maneira que se habituem a apreciar, a compreender e a amar cada vez mais as riquezas do Ofício e, ao mesmo tempo, aprendam a tirar dele um alimento para a oração pessoal e para a contemplação. O canto pode servir de ajuda (ou se for mal feito, de obstáculo) para a sua consecução.

Nos seminários devem ser habitualmente celebradas em comum, à hora correspondente, as Laudes, como oração da manhã, e as Vésperas, como oração da tarde. Também se pode celebrar a Hora média e as Completas. Na vigília das solenidades, por vezes pode-se celebrar o Ofício das leituras segundo o rito da «vigília prolongada». A celebração comum muitas vezes é louvavelmente cantada.

A formação litúrgica adequada

Em ligação com quanto expus, é preciso observar que o futuro sacerdote, através da participação na vida litúrgica no seminário durante os anos da sua formação inicial, recebe uma autêntica «educação litúrgica, no sentido pleno de uma inserção vital no mistério pascal de Jesus Cristo morto e ressuscitado, presente e atuante nos sacramentos da Igreja». Ele aprende progressivamente, por experiência, o que é a liturgia da Igreja, e deve ser ajudado para descobrir a riqueza dos ritos da Igreja, das orações dos livros litúrgicos, dos textos dos diversos leccionários. Deve ser apoiado no processo de aprender a apreciar a beleza das orações, do lugar de culto, dos paramentos, da qualidade da música e dos cantos.

Sob a direcção dos superiores e, particularmente, do responsável da liturgia, o aluno realiza alguns serviços, alguns ministérios – de leitor, de acólito, de diácono –, à medida que se aproxima da Ordenação sacerdotal. Existem também outros serviços litúrgicos, por exemplo o de cantor, de salmista, de mestre de coro, de organista.

Os seminaristas, em pequenas equipas – por exemplo. por uma semana –, são encarregados de preparar a liturgia da Missa e do Ofício divino, escolhendo alguns cantos, as melodias e algumas tonalidades para a salmodia, tendo em consideração a sua qualidade, os diversos tempos litúrgicos e o grau de solenidade da liturgia do dia.

Os programas de estudo incluem, de facto, um específico ensinamento litúrgico, em relação ao qual a Congregação para a Educação Católica deu algumas normas e indicações. Este ensino da liturgia é necessário, mas só será verdadeiramente frutuoso se for interiorizado pelo próprio seminarista. Por isso, insiste-se muito para que o futuro sacerdote adquira não só o conhecimento técnico dos sagrados ritos, mas sobretudo o seu profundo significado teológico e espiritual.

A formação musical

Além dos elementos acima expostos, que constituem um pressuposto substancial para a compreensão da música sacra como parte integrante da liturgia e não só como um elemento decorativo ou como um ornamento que se acrescentaria à ação litúrgica, o Magistério e a normativa da Igreja fornecem aos seminaristas e aos formadores dos Seminários indicações oportunas.

Formação específica nos seminários

Todos os documentos mencionados têm obviamente uma importância fundamental para uma boa formação musical dos seminaristas.

A Congregação para a Educação Católica emanou em 1979 uma Instrução sobre a formação litúrgica nos Seminários. Nela, entre outras coisas, lemos: «Considerando a importância da música sacra nas celebrações litúrgicas, os alunos devem receber de peritos aquela preparação musical, também prática, que será necessária no futuro ofício de presidentes e de moderadores das celebrações litúrgicas. Nesta preparação deve ter-se em consideração as qualidades naturais de cada um dos alunos, e servir-se dos novos meios hoje geralmente em uso nas escolas de música, para tornar mais fácil o aproveitamento dos alunos. Deve-se, sobretudo, procurar que aos alunos seja dada não só uma preparação na arte vocal e instrumental, mas também uma verdadeira e autêntica formação da mente e do coração, para que conheçam e apreciem as melhores obras musicais do passado e saibam escolher, na produção moderna, o que é sadio e reto» .

No campo prático, requer-se a aprendizagem dos diversos cantos usados na liturgia. Por conseguinte, os seminaristas deveriam participar regularmente nas lições de canto previstas pelo programa dos estudos.

Os seminaristas que são dotados de boas capacidades musicais podem ser convidados a desenvolver os seus talentos, por exemplo como organistas, ou para aprenderem a dirigir um coro ou uma assembleia. Para isso, pode-se também aproveitar de sessões de formação durante as férias.

Algumas festas do seminário podem ser assinaladas, além da celebração da liturgia, também pela execução de certas obras musicais: cantos polifónicos, concertos de órgão ou de música instrumental, haurindo do rico património musical da Igreja. Trata-se do património no qual é desejável que os seminaristas sejam introduzidos.

Participando no seminário numa liturgia de qualidade, na qual o canto e a música têm todo o seu lugar, e beneficiando de uma formação musical dada por pessoas competentes, o futuro sacerdote prepara-se progressivamente para a sua responsabilidade litúrgica como celebrante da Eucaristia e dos outros sacramentos, como pastor e guia da oração das comunidades das quais será encarregado. Ele aprende progressivamente a discernir o que é belo, o que convém ao culto divino, o que é conforme com o espírito da ação litúrgica, o que permite traduzir a verdade do mistério celebrado, o que contribui autenticamente para a glorificação de Deus e para a santificação dos fiéis, o que favorece a oração dos cristãos e a sua «participação plena, consciente e ativa» na liturgia. Graças a esta formação musical, o futuro sacerdote aprende a dar todo o seu lugar à música nas celebrações, «tendo em conta tanto o carácter próprio da liturgia como a sensibilidade do nosso tempo e as tradições musicais das diversas regiões do mundo».

Por Cardeal Zenon Grocholewski

Fonte: https://presbiteros.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF