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quarta-feira, 14 de junho de 2023

Abadia do Monte Saint-Michel celebra mil anos

Monte Saint-Michel na Normandia, França. | Crédito: Stockbym/Shutterstock

PARIS, 14 Jun. 23 / 02:14 pm (ACI).-

Há exatamente um milênio foi colocada a primeira pedra da igreja da abadia do Monte Saint-Michel, na Normandia. O monumento tornou-se desde então um dos maiores símbolos da identidade católica da França e um dos locais de peregrinação mais importantes do mundo, com mais de 3 milhões de visitantes por ano.

Uma série de comemorações do milésimo aniversário se estenderão até novembro.

Erguendo-se num terreno relativamente inóspito, entronizado numa ilhota rochosa com menos de um quilômetro de diâmetro, rodeado por uma vasta planície arenosa sujeita aos caprichos das marés, a abadia resistiu ao teste do tempo, oferecendo-se como um espetáculo a ser visto por dezenas de gerações.

A história desse local de oração e peregrinação foi tão precária e tumultuada como o seu entorno.

Embora a construção da atual igreja da abadia remonte a 1023, uma primeira igreja dedicada a são Miguel Arcanjo teria sido construída em 708 d.C. no monte então conhecido como Mont-Tombe.

Segundo o “Revelatio”, o texto mais antigo sobre a construção da abadia, escrito por volta do início do século XI, santo Aubert, então bispo de Avranches, foi visitado três vezes em sonho pelo arcanjo, que o instruiu a construir um santuário em sua homenagem no cume do local, “para que aquele cuja venerável comemoração foi celebrada no monte Gargan, o primeiro grande santuário dedicado ao Líder do Exército Celestial, na Puglia, Itália, pudesse ser festejado com não menos fervor no meio do mar”.

Caminho que leva ao Monte Saint-Michel em Normandia, na França. Crédito da foto: Tsomchat/Shutterstock

Santo Aubert empreendeu a construção de uma primeira igreja com capacidade para cerca de cem pessoas, consagrada em outubro de 709, e recebeu o nome de Mont-Saint-Michel-au-péril-de-la-Mer. O prelado instalou ali 12 cônegos, encarregados de rezar o Ofício Divino e acolher os peregrinos locais.

Os cônegos foram substituídos no século X por monges beneditinos a mando de Ricardo I, duque da Normandia, que não gostava do estilo de vida opulento dos cônegos.

Em 1023, a ordem empreendeu a construção da igreja da abadia que hoje conhecemos, assentada em três criptas escavadas na rocha e na antiga capela. Este ambicioso projeto marcou um passo decisivo no alcance internacional do local, onde os milagres abundavam à medida que o fluxo de peregrinos de toda a cristandade se expandia.

Interior da igreja da abadia do Monte Saint-Michel. - Crédito da foto: Cynthia Liang/Shutterstock

“Este edifício é como a arca de Noé colocada sobre as criptas”, disse François Saint-James, guia e palestrante do monte Saint-Michel, em entrevista ao jornal Le Devoir. “Era uma época em que a França estava coberta com um manto branco de igrejas, como escreveu uma vez um monge de Cluny. Você tem que imaginar a escala gigantesca do trabalho. Os blocos de granito foram cortados nas ilhas Chausey, a 34 quilômetros daqui. Foi utilizada a pedra Caen, uma pedra macia e leve que é fácil de esculpir... Quando, no meio da Guerra dos Cem Anos, o coro em estilo românico desabou, foi reconstruído em estilo gótico flamejante”.

Enquanto a evolução arquitetônica da abadia continuou ininterrupta até o século XIX, um de seus pontos altos foi a construção de “La Merveille” (A Maravilha) no século XIII, uma joia da arte gótica normanda. É constituída por dois edifícios de três pisos, sustentados por altos contrafortes, com claustro e refeitório, 80 metros acima do nível do mar, abaixo dos quais foram construídos uma hospedaria, uma despensa e quartos de hóspedes.

Vista da baía do Monte Saint-Michel das muralhas. - Foto: Laurent Renault/Shutterstock

A fama do santuário começou a declinar no século XVII, quando parte da abadia foi transformada em prisão pelo rei da França. Tomado pelo governo central durante a revolução, tornou-se um centro de detenção para padres que se opunham ao terror jacobino.

No século XIX, o local, classificado como monumento histórico em 1874, foi gradualmente devolvido à vida monástica e à sua vocação original de santuário. A silhueta distinta da abadia foi reforçada por uma torre neogótica em 1897, encimada por uma estátua dourada do arcanjo.

Pináculo do Monte Saint-Michel. - Crédito da foto: Paul Eves/Shutterstock

Para marcar seu milésimo aniversário, uma homenagem especial está sendo prestada à abadia que muitos apelidaram de “Maravilha do Ocidente” com a exposição “ La Demeure de l'Archange ” (A Morada do Arcanjo) refazendo sua história gloriosa e tumultuada através cerca de 30 obras-primas, até 5 de novembro. Muitos desses itens, que incluem esculturas, maquetes, estátuas e talheres, serão exibidos aos visitantes da abadia pela primeira vez.

Claustro da abadia do Monte Saint-Michel. - Crédito da foto: Cynthia Liang/Shutterstock

Outro destaque das muitas celebrações que ocorrerão durante o verão e parte do outono francês será o “Solstício do Milênio”, um show de luzes projetado no Monte Saint-Michel de vários pontos da baía na noite de 23 de junho.

Fonte: https://www.acidigital.com/

“Antes da batina, Arcebispo era cientista e construía foguetes”

Dom Dimas Lara Barbosa | Foto: Marcos Maluf

“Antes Da Batina, Arcebispo Era Cientista E Construía Foguetes.”

Na manhã de 12/junho, Dom Dimas Lara Barbosa, Arcebispo Metropolitano de Campo Grande, foi entrevistado pelo jornal Campo Grande News – Lado B, sobre sua trajetória de vida até a decisão final pela consagração ao ministério sacerdotal.
O texto é da jornalista Mylena Fraiha e os créditos das fotos ao fotógrafo Marcos Maluf.

Arcebispo de Campo Grande, dom Dimas Barbosa, explica relação entre fé e ciência:
“Se ele criou a vida neste planeta, também poderia ter criado em outro”, explica de forma humorada o Arcebispo de Campo Grande, dom Dimas de Lara Barbosa, questionado se acreditava em vida fora do planeta Terra, uma vez que já foi um estudioso de foguetes e do espaço. “Como seria a história da salvação para lá, seria outra coisa”, reitera.

Antes de abraçar a vida religiosa, Dimas trilhou uma carreira promissora como engenheiro eletrônico formado pelo renomado ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), em São José dos Campos, no estado de São Paulo.

Em entrevista concedida ao Lado B, o arcebispo conta que até chegou a trabalhar na construção de foguetes no IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço) do DCTA (Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial). “Meu grupo trabalhava com materiais compostos. Nós trabalhávamos com fibra de vidro, de quartzo e de carbono. Nós fazíamos a ogiva, o corpo e o rabo do foguete. Era o projeto completo”, relembra.

Desde criança, o futuro arcebispo era estudioso e procurava ajudar os colegas em atividades de classe. “Com 11 anos eu comecei a dar aula de matemática para os meus colegas. Era um reforço que eu dava e até ganhava uns trocadinhos”.

Dom Dimas Lara Barbosa | Foto: Marcos Maluf

Dom Dimas explica que já participou da construção de foguetes (Foto: Marcos Maluf)
Nascido em Boa Esperança, interior de Minas Gerais, Dimas cresceu em uma família católica e teve suas primeiras experiências religiosas por meio do trabalho voluntário de seu pai e de sua experiência de coroinha. “Quando eu tinha sete anos, a minha mãe me colocou para estudar música. Ela sempre teve o sonho de ter um filho que tocasse na igreja. Também fui coroinha por uns sete anos”.

Mesmo tendo experimentado o ambiente da igreja, o jovem Dimas nunca pensou em se tornar padre. Seu interesse estava voltado para a engenharia, especialmente após descobrir o ITA, onde se encantou pelo curso e decidiu prestar vestibular. “Dois amigos me mostraram o curso e foi amor à primeira vista. Eu só queria prestar vestibular para lá, não queria saber de outro”, conta.

Decisão – A reviravolta veio durante seu segundo ano de faculdade. Naquela época, o futuro bispo participava de um grupo de alunos que se reuniam regularmente para meditação bíblica e oração. “Foi uma época em que comecei a sentir Deus muito mais próximo, mesmo tendo sido coroinha durante sete anos e ter trabalhado no coral da igreja”.

Turma de 1979 do ITA | Foto: Arquivo/ITA

Foto oficial da Turma de 1979 do ITA, tirada nos primeiros dias de aula de 1975 (Foto: Arquivo/ITA)
Entretanto, ainda incerto de sua decisão, ele decidiu continuar no ITA, onde concluiu em 1979 seu curso de graduação. Em sequência, o jovem engenheiro trabalhou durante três anos no IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço), onde participava da construção de foguetes.

Paralelamente, ele também concluiu seu mestrado em eletrônica, mas relata que sentia um chamado cada vez mais forte para se dedicar à igreja. “Em comparação a graduação, a pós-graduação foi mais tranquila, porque eu tentava estudar dentro do expediente e não levar serviço para casa. Então nessa época eu tinha um tempo de dedicação à igreja maior. Foi quando voltou a vontade de servir novamente”.

Em 1983, Dimas trabalhou na Ericsson, empresa sueca de tecnologia com filial no Brasil. Entretanto, decidiu abdicar do trabalho para ingressar no curso de Teologia no Instituto Teológico Sagrado Coração de Jesus, em Taubaté. “Eu não tive coragem de assumir de cara. Eu demorei oito anos para tomar essa decisão e mesmo na época do seminário eu me perguntava se queria de fato seguir essa vida”.

Nas viagens semanais que fazia Taubaté, era inevitável que Dom Dimas se deparasse com a fachada da Ericsson e do DCTA. Esses encontros serviam como um lembrete constante de outros caminhos que poderia ter escolhido.

“Uma série de questionamentos surgiam em minha mente: “Será que essa é realmente a minha escolha? Meus antigos colegas estão espalhados pela Suécia, NASA e Estados Unidos. Minha ex-namorada já se casou. Será que estou seguindo o caminho certo?”, relembra. Entretanto, Dimas reitera que a decisão pelo sacerdócio sempre falava mais alto.

Ciência e fé – Em 1996, já formado em Teologia e ordenado padre, Dimas foi convidado por um ex-professor para lecionar uma disciplina de Filosofia da Ciência no ITA. Mesmo relutante em assumir o curso, devido à sua formação teológica, o futuro arcebispo aceitou o desafio.

O curso reunia todos os alunos de todas as engenharias, de todas as pós-graduações, além de alguns professores que decidiram fazer o curso. Confesso que eu entrava naquela sala de aula com gastrite, com medo do que iria acontecer”, comenta Dimas, que posteriormente, lecionou durante quatro anos no ITA.

Dom Dimas Lara Barbosa | Foto: Marcos Maluf

Dom Dimas explica que a ciência é uma aliada da fé (Foto: Marcos Maluf)
Foi neste período que dom Dimas trouxe para sala de aula um diálogo entre ciência e fé. Para ele a ciência deve ser vista uma aliada na busca por uma compreensão mais profunda e fundamentada de sua crença.

Segundo ele, a própria Igreja Católica passou por momentos na história em que precisou repensar seus fundamentos teológicos. “A Teoria da Evolução trouxe uma dor de cabeça para a Igreja, mas Teilhard de Chardin e outros bons pensadores vieram e mostraram que não havia incompatibilidade entre a criação e a evolução”, pontua Dimas.

“A evolução é a maneira pela qual Deus cria, só isso. Então eu não vejo tanto problema entre a ciência e a fé”, explica dom Dimas.

Hoje em dia, já ocupando o cargo de Arcebispo de Campo Grande e com mais de 30 anos na carreira sacerdotal, ele reforça que a ciência desafia a fé de forma positiva, uma vez que a busca por argumentos mais sólidos. “A fé esclarecida deve questionar sim, mas questionar como amigo. Tenho direito de discutir com Deus como um amigo, que é diferente de alguém que critica por criticar”.

CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS

Fonte: https://arquidiocesedecampogrande.org.br/

Beata Nhá Chica (*1808 - †1895)

Beata Nhá Chica | Vatican News

Francisca de Paula de Jesus, “Mãe dos pobres” e “Santa de Baependi”.

Vatican News

Nhá Chica

Francisca de Paula de Jesus nasceu, em 1808, na "Porteira dos Vilellas", fazenda de Santo Antônio do Rio das Mortes, um pequeno povoado mineiro, a seis léguas de São João del-Rei, e batizada em 1810.

Junto com sua mãe, a escrava Izabel, e seu irmão mais velho, Theotônio, Francisca foi morar em Baependi (MG), na Rua das Cavalhadas, hoje Rua da Conceição. Dentre os poucos pertences, levaram consigo uma imagem de Nossa Senhora da Conceição.

Aos dez anos, Francisca e seu irmão ficaram órfãos de mãe, da qual receberam uma valiosa herança espiritual. As duas crianças cresceram sob os cuidados e a proteção de Nossa Senhora, Chica a chamava, carinhosamente, "Minha Sinhá", ou seja, "Minha Senhora".

Francisca era alta, morena e bonita, mas não se casou, preferindo viver uma vida casta, dedicada ao Senhor e ao próximo. Ainda muito jovem, era requisitada por muitos. Sua única companhia era o escravo liberto, Félix, que cuidava dos trabalhos e afazeres da sua Capela. A todos os que lhe pediam conselhos, orações e uma palavra amiga, atendia diariamente, exceto nas sextas-feiras, dia que dedicava aos trabalhos domésticos, à penitência e à oração incessante da Paixão e Morte de Cristo. Para tantas pessoas, ela já era considerada "santa"!

Igrejinha de Nhá Chica

Nhá Chica era analfabeta, mas desejava muito saber ler as Escrituras Sagradas. Por isso, alguém sempre lia algumas páginas para ela. Muito devota da Virgem Maria, Nhá Chica compôs uma Novena a Nossa Senhora da Conceição. Em 1865, mandou construir, em sua honra, ao lado da sua casa, uma igrejinha, para venerar a pequena imagem de terra cota, que pertencia à sua mãe. Esta imagem de Maria encontra-se, ainda hoje, na sala da casinha onde ela viveu, sobre o Altar da antiga Capela.

Em 1954, a igreja de Nhá Chica foi confiada à Congregação das Irmãs Franciscanas do Senhor. Ao lado da igrejinha nasceu uma obra de Assistência social para menores, hoje denominado Instituto Nhá Chica. Hoje, a "igrejinha de Nhá Chica", tornou-se "Santuário Nossa Senhora da Conceição".

“Mãe dos pobres”

Ainda jovem, Nhá Chica era conhecida como a “mãe dos pobres”: em determinado dia da semana, convidava os pobres e os moradores da redondeza para rezar à Virgem Mãe de Deus. A seguir, distribuía comida aos pobres e lhes dava as esmolas que recebia.

O pároco de Baependi a definiu assim: "Nhá Chica é uma pobre mulher simples e analfabeta, mas uma fiel serva de Deus cheia de fé!".

Falecimento de Nhá Chica

Nhá Chica faleceu no dia 14 de junho de 1895, aos 87 anos de idade e foi sepultada na mesma Capelinha que ela construiu. Durante seu velório, que durou quatro dias, os fiéis diziam sentir exalar um misterioso perfume de rosas do seu corpo. Tal perfume foi novamente sentido no dia 18 de junho de 1998, por ocasião da exumação do seu corpo, - 103 anos após a sua morte, - pelas Autoridades Eclesiásticas, os membros do Tribunal Eclesiástico da Causa de Beatificação de Nhá Chica e os fiéis presentes.

Os restos mortais da Beata Nhá Chica descansam no mesmo Santuário Nossa Senhora da Conceição, em Baependi, em uma Urna de acrílico, onde são venerados pelos fiéis.

Francisca de Paula de Jesus foi beatificada em Baependi, no dia 4 de maio de 2013.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 13 de junho de 2023

A armadilha dos círculos de afinidade na Igreja

By vectorfusionart | Shutterstock

Por Pe. José Eduardo

"...quando nos deixamos dominar pelas nossas carências e transformamos essas ramificações em tronco".

Comunidades são feitas de seres humanos. E estes sempre desenvolvem relacionamentos. Portanto, todo agrupamento se ramifica numa série de círculos de afinidade, em que as pessoas se aglutinam em torno das mesmas simpatias e antipatias, gerando, como consequência, consonâncias e dissonâncias.

A armadilha é quando nos deixamos dominar pelas nossas carências e transformamos essas ramificações em tronco.

A Igreja sempre é maior do que os seus grupos. Ela é a família de Deus, o Corpo de Cristo, em que todos têm o seu lugar e a sua importância.

Somos nós que não nos devemos deixar afetar tão seriamente pelas nossas afeições a ponto de que estas influenciem o nosso relacionamento de amor e serviço ao Senhor. Quando alguém não nos trata segundo a caridade, mas sempre prefere ou pretere de acordo com seus laços de afinidade, tal pessoa demonstra apenas imaturidade espiritual e incapacidade de transcender os sentimentos humanos para subir àquele nível de amor espiritual que enxerga a todos como irmãos em Cristo. Isso nos deve mover a orar por ele, ao invés de nos entregarmos à chateação.

Pessoas falham e falam, nós também falhamos e falamos. Tudo isso faz parte da precariedade de nossa condição, de modo que jamais nos devemos afastar em função de nossas vergonhas nem muito menos de nossas mágoas.

Apenas com essa consciência, seremos cristãos maduros, não reduzindo a Igreja a uma creche de indivíduos mimados que sempre fazem a sua própria vontade.

Pe. José Eduardo Oliveira, via Facebook

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Iraque, minha revolução, um livro de cada vez

Janan Shaker Elias, proprietária da livraria em Sreshka Foto: Mondo e Missione

A jovem yazidi Janan Shaker Elias abriu uma livraria numa aldeia da planície de Nínive que sofreu a invasão de Ísis: «Quando voltámos, pensei que a leitura estava entre as necessidades essenciais»

Nas prateleiras brancas, são exibidos volumes de livros de narrativas, história e biografias de pessoas famosas, textos filosóficos e publicações infantis. No meio da sala, alguns jovens estão sentados em uma grande mesa com a intenção de ler e estudar.

Seria uma livraria como muitas outras, se não fosse o fato de a Livraria Janan estar localizada em Sreshka, um vilarejo da Planície de Nínive, a antiga Mosul, que no verão de 2014 sofreu a devastadora invasão dos assassinos do "Estado Islâmico" que eles queriam apagar qualquer sinal de pluralismo para estabelecer uma sociedade sob a bandeira da visão mais obscurantista e distorcida da shari'a. Nesta área no norte do Iraque, historicamente lar de diferentes comunidades, incluindo muitos cristãos orientais, após a libertação e a lenta reconquista da área, ainda está lutando para encontrar uma difícil normalidade.

"Mas embora muitas coisas faltem aqui, os livros são essenciais para voltar a viver": Janan Shaker Elias não está sem dúvidas, uma jovem professora de uma escola do vilarejo - cerca de 5.000 habitantes no distrito de Tall Kayff - que, diante da chegada do ISIS (Estado Islâmico) foi forçado a fugir com sua família, junto com centenas de milhares de outros iraquianos, abandonando tudo. Yazidis como ela, membros de uma antiga comunidade considerada herética pelos fundamentalistas, foram os que pagaram o preço mais alto pela invasão: massacres, sequestros, escravidão.

"Minha família conseguiu sobreviver fugindo para a Turquia e depois para o Curdistão iraquiano", diz Janan, agora com 29 anos. “Durante anos ficamos longe de casa, acolhidos em campos de refugiados. Mas apesar do cansaço, material e também emocional, em Duhok continuei meus estudos universitários e me formei em física: um sucesso do qual me orgulho".

Enquanto isso, o exército iraquiano e as milícias curdas lutavam para expulsar os terroristas da planície de Nínive: no outono de 2016 vários centros foram libertados, embora a terrível batalha pela reconquista de Mosul durasse até o verão seguinte. "Quando finalmente voltamos ao vilarejo - recorda a menina, que vive com o pai depois da morte da mãe e dos irmãos casados ​​emigraram para o exterior - a principal preocupação era garantir a segurança e restabelecer os serviços essenciais, como a eletricidade e o acesso a água potável água.

Mas a ela, como muitos concidadãos, principalmente os jovens, também faltava outra coisa: “Em todo o distrito não havia lugar onde se pudesse consultar ou comprar livros, estávamos praticamente sem conhecimento”. À fúria dos fundamentalistas contra a cultura – na região de Mosul houve inúmeros casos de livrarias fechadas, bibliotecas de valor histórico destruídas, coleções de manuscritos antigos salvaguardados com ousadia para salvá-los de furto e devastação – em Sreshka somou-se o isolamento, que já antes da guerra levou Janan a obter alguns volumes com fadiga, encomendando-os pela internet (e esperando muito tempo pelas entregas). Assim, há quatro anos a jovem começou a partir daí, montando um sistema de venda de livros pela web, que deu sucesso.

"Para mim foi a enésima reconfirmação de que, mesmo nas nossas pequenas aldeias, havia um público ávido por ter acesso à leitura. Um público que queria aumentar, criar uma nova geração aberta à diversidade". Assim nasceu a Livraria Janan, quando a empreendedora, há um ano, decidiu passar do mundo virtual para o real, abrindo a primeira e única livraria nos bairros de Tall Kayff e Shaykh Han no centro do vilarejo. Um espaço pequeno, mas com atenção ao detalhe: desde os volumes pendurados do teto como "lâmpadas do saber" aos cartazes nas paredes que relatam a história do território e as biografias de intelectuais de todo o mundo que inspiraram a jovem proprietária. Um sinal de que mesmo deste canto remoto do Iraque é possível manter a mente aberta para a sabedoria universal.

"Na livraria, os clientes têm à disposição quase dois mil títulos, divididos por géneros e disciplinas, mas também podem reservar outros", explica Janan, mostrando o cantinho dedicado às narrativas, onde se encontram “1984”, de George Orwell, “O Pequeno Príncipe” de Saint-Exupéry, mas também várias obras da feminista egípcia Nawal al-Sa'dawi e, claro, muitos textos de romancistas iraquianos e árabes. “As pessoas gostaram muito da minha iniciativa, principalmente estudantes e jovens”, afirma. "Aqui podem não só comprar livros como também vir lê-los livremente, ou pedir emprestados. Frequentemente organizamos grupos de leitura, apresentações com autores, seminários de escritores e pesquisadores de literatura, filosofia e cultura em geral".

Foto: Mondo e Missione

Para a bibliotecária de Sreshka, o projeto representa também um contributo para a recomposição do tecido comunitário local, dilacerado por conflitos e impulsos sectários: "Quem lê desenvolve maior consciência e pode ter ferramentas para construir uma sociedade mais madura e preparada para enfrentar os desafios nossa difícil situação social e econômica”, afirma. Por seu lado, Janan está pessoalmente envolvida numa série de iniciativas que a nível local e nacional abordam o grande tema da reconciliação, a começar pelo compromisso com a ONG Peace and Freedom Organization, sediada em Erbil, que trabalha para a resolução de conflitos e a promoção do pluralismo, da tolerância e da cidadania ativa, inclusive por meio da publicação de livros.

"O Ísis causou destruição não só material, mas também social e eu, como cidadão que vivenciei essa tragédia em primeira mão, quero participar do movimento em andamento para recriar a integração". A jovem empresária, em especial, não esquece o genocídio sofrido por sua comunidade, os yazidis, acusados ​​por fundamentalistas de serem “adoradores do diabo”. Por isso, ao mesmo tempo em que atua na mobilização que reivindica o reconhecimento da violência sectária mesmo com compensações adequadas e formas de reinserção social, empenha-se, a seu modo, no combate aos estereótipos e na conscientização de seus correligionários sobre sua tradição: um recanto da Livraria Janan é reservada para títulos que contam a história e a religião dos Yazidis, e os líderes comunitários de autoridade costumam falar em reuniões organizadas na livraria.

"Em Sreshka somos todos yazidis, mas cristãos e muçulmanos sunitas vivem nas aldeias vizinhas", disse. “Hoje vivemos em paz nesta área e quando o Papa Francisco veio aqui para nos visitar, o recebemos com alegria”. A difícil situação socioeconómica representa, no entanto, um elemento constante de instabilidade: "São sobretudo os jovens são as vítimas do desemprego e da falta de oportunidades, quem pode emigra ao exterior. O Iraque não mudará até que a classe política fizer um avanço".

Enquanto isso, porém, a partir desta pequena aldeia na planície de Nínive, Janan iniciou sua pequena revolução pessoal, que começa com a leitura e o conhecimento. E dado o sucesso do projeto, com tantos clientes que visitam sua livraria todos os dias e a recente proposta de abrir uma filial também em Tall Kayff, o lema da jovem é de se acreditar: “Livros podem mudar vidas”.

Por Chiara Zappa, Mondo e Missione

Tradução e adaptação pela redação Mundo e Missão

Fonte: https://www.editoramundoemissao.com.br/

Por que a vigilância e o combate espiritual fazem parte da vida cristã?

Shutterstock I Jorm Sangsorn | #image_title

Por François-Marie Humann, O.praem

Refletindo sobre a vida religiosa, ouvindo o Evangelho de Marcos, o padre François-Marie Humann, Abade dos Premonstratenses de Mondaye (Calvados), revela o vínculo inseparável entre o caminho escolhido pelos religiosos e a vocação de todos os batizados. Em seu novo livro, ele mostra que um cristão no mundo também precisa viver seu batismo em pobreza, castidade e obediência a Cristo.

O compromisso com a vida religiosa é uma loucura para o mundo. Sejam eles “consagrados” ou “religiosos”, no sentido estrito do termo, aqueles que escolhem viver os “conselhos evangélicos” de maneira radical não são, de modo algum, cristãos atípicos ou separados. Para o padre François-Marie Humann, a dinâmica da conversão cristã é a mesma para todos, religiosos ou leigos. Ao explicar o significado da consagração a Deus, o premonstratense nos convida a descobrir que “toda pessoa batizada é chamada a seguir o Cristo pobre, casto e obediente”. Meditar sobre a escolha de vida do religioso ilumina e estimula a vida cristã de todos os batizados.

Aleteia: Como os “conselhos evangélicos” de pobreza, castidade e obediência se aplicam a todos os batizados, mesmo que nem todos sejam chamados a vivê-los de maneira radical?

Pe. François-Marie Humann: A profissão religiosa não é considerada na Igreja como um novo sacramento, ao contrário do matrimônio ou da ordenação. É um chamado particular do Senhor, mas que está enraizado na vida batismal. Portanto, ela lança luz sobre a vocação de todos os batizados. Além disso, os conselhos evangélicos são uma forma de combater a tentação da idolatria, que diz respeito a todos, não apenas aos religiosos. O voto de pobreza adverte contra a idolatria da acumulação de riquezas, que nos ameaça a todos em nossa sociedade de consumo excessivo. O voto de castidade adverte contra a idolatria do prazer, que também é uma forte tentação em uma sociedade que parece esquecer o valor da renúncia, do sacrifício e do compartilhamento justo dos bens. O voto de obediência adverte contra a idolatria da onipotência, que é desenfreada em um mundo onde a lei do mais forte permanece tão tenaz, seja no mundo político e econômico ou na ética, como vemos, por exemplo, com a tentação de assumir o controle da origem e do fim da vida humana.

Precisamos estar cientes de que a vigilância e o combate espiritual fazem parte da vida cristã. O martírio não é apenas uma coisa do passado; muitos cristãos no mundo de hoje são perseguidos por sua fé.

Para viver a pequenez e a humildade necessárias para entrar no reino de Deus, o senhor traça um paralelo entre o casamento e o celibato consagrado: como esses dois caminhos se comparam?

Enfatizo a ligação entre o matrimônio e o celibato consagrado precisamente nesse ponto de pequenez e humildade, o caminho da infância espiritual desenvolvido por Santa Teresa de Lisieux. Para levar uma vida conjugal de acordo com o coração de Deus, devemos aprender a deixar para trás uma lógica de dominação e sedução e entrar no caminho da confiança e do amor mútuos. Para fazer isso, precisamos reconhecer que somos pequenos diante de Deus e um do outro no casamento.

Ninguém pode escapar da batalha espiritual, que também nos permite nos abrir mais a Cristo para que ele possa vencer o mal em nós.

O celibato consagrado também implica aceitar uma forma de humildade e rebaixamento, a de não ter filhos, de não poder se estender às gerações seguintes. Em uma época em que o status social dos sacerdotes e religiosos é muito desvalorizado, o celibato consagrado representa uma vulnerabilidade real com a qual devemos concordar. Esse estado de vida implica uma grande confiança em Deus, uma atitude de humildade ao acreditar que Deus é grande o suficiente para dar à vida humana sua fecundidade e felicidade. No final, como muitas vezes experimentamos, os religiosos (ou sacerdotes) e os casais podem se apoiar mutuamente na fidelidade ao seu compromisso.

A vida de um cristão está exposta a ameaças e desvios dos quais somente a oração vigilante e a obediência a Cristo podem nos proteger: por quê?

As gerações mais jovens de cristãos estão experimentando isso por si mesmas: o mundo em que vivemos não as apoia em sua fé ou em sua vida moral. Pelo contrário, levar uma vida autenticamente cristã hoje em dia muitas vezes significa aceitar ir contra a maré da sociedade. Portanto, precisamos estar cientes de que a vigilância e o combate espiritual fazem parte da vida cristã. O martírio não é coisa do passado; muitos cristãos no mundo de hoje são perseguidos por sua fé.

Se quisermos ser testemunhas, devemos aceitar o fato de que sempre seremos surpreendidos pelo mistério que proclamamos.

Mais fundamentalmente ainda, a vida cristã está exposta à tentação e ao erro, assim como toda vida humana, por causa da ferida que atravessa toda existência e que chamamos de pecado original. Não nos voltamos espontaneamente para o bem; somos tentados pelo mal, que muitas vezes assume a aparência de bem. A fronteira entre o bem e o mal está em nosso próprio coração. Portanto, precisamos da salvação de Cristo, que nos oferece o perdão de nossos pecados, mas também a graça de combater o mal e de receber sua própria vida e santidade em nós. O Diabo luta contra todo ser humano que tende para o bem e procura derrubá-lo. Em resumo, ninguém pode escapar da guerra espiritual, que também nos permite estar mais abertos a Cristo para que ele possa vencer o mal em nós.

Um cristão que não está em missão não é cristão: de que forma a missão e a pobreza evangélica são duas realidades inseparáveis?

Ao meditar sobre o envio dos discípulos dois a dois por Jesus, nos escritos de São Marcos, fiquei mais consciente de até que ponto a pobreza à qual Cristo nos chama está realmente ligada à proclamação do Evangelho e ao testemunho que devemos dar de Cristo. Para sermos testemunhas, temos de aceitar que estamos sempre sobrecarregados pelo mistério que estamos proclamando. Mas se tivermos muito, corremos o risco de nos apoiarmos em nós mesmos, de pregarmos para nós mesmos, por assim dizer. Na vida religiosa, a vida comunitária é, por si só, evangelizadora, porque dá testemunho do Senhor que nos chamou, que nos mantém unidos uns aos outros, apesar das grandes diferenças entre nós. Os apóstolos, enviados dois a dois, sem nada para o caminho, experimentaram a Providência. Sua confiança em Deus não foi frustrada. A vida religiosa quer dar testemunho, no mundo de hoje e no coração da Igreja, dessa Esperança que não decepciona. A vida religiosa leva a sério a pergunta de Jesus: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?

Entrevista de Philippe de Saint-Germain

Fonte: https://pt.aleteia.org/

O Papa: os pobres são pessoas, têm rosto, uma história, coração e alma

"Delegar a outros é fácil; oferecer dinheiro para que outros pratiquem a caridade é um gesto generoso; envolver-se pessoalmente é a vocação de todo o cristão". Mensagem do Papa para o Dia Mundial dos Pobres (Vatican News)

Em sua mensagem para o 7° Dia Mundial dos Pobres, Francisco exorta a não desviar o olhar de quem está em dificuldade, como as crianças que vivem em zonas de guerra, os que não conseguem sobreviver, os que são explorados no trabalho e os jovens prisioneiros de uma cultura que o faz sentir falidos.

Vatican News

Foi divulgada, nesta terça-feira (13/06), a mensagem do Papa Francisco para o 7° Dia Mundial dos Pobres que será celebrado, em 19 de novembro próximo, 33° Domingo do Tempo Comum.

O Pontífice recorda que "O Dia Mundial dos Pobres, sinal fecundo da misericórdia do Pai", é "uma ocorrência que se está arraigando progressivamente na pastoral da Igreja, fazendo-a descobrir cada vez mais o conteúdo central do Evangelho".

«Nunca afastes de algum pobre o teu olhar» é o tema do Dia Mundial dos Pobres, deste ano, extraído do Capítulo 4, 7 do Livro de Tobias.

Segundo o Papa, "esta recomendação nos ajuda a compreender a essência do nosso testemunho". "Deter-se no Livro de Tobias, eloquente e cheio de sabedoria, nos ajuda a penetrar melhor no conteúdo que o autor sagrado deseja transmitir", escreve o Papa.

Sacudir de nós a indiferença

"Abre-se diante de nós uma cena de vida familiar: um pai, Tobit, despede-se do filho, Tobias, que está prestes a iniciar uma longa viagem. O velho Tobit teme não voltar a ver o filho e, por isso, deixa-lhe o seu «testamento espiritual». Foi deportado para Nínive e agora está cego; é, por conseguinte, duplamente pobre, mas sempre viveu com a certeza que o próprio nome exprime: «O Senhor foi o meu bem»."    

"Tobit, no período da provação, descobre a própria pobreza, que o torna capaz de reconhecer os pobres. É fiel à Lei de Deus e observa os mandamentos, mas para ele isto não basta. A solicitude operosa para com os pobres torna-se-lhe possível, porque experimentou a pobreza na própria pele. Por isso, as palavras que dirige ao filho Tobias constituem a sua verdadeira herança: «Nunca afastes de algum pobre o teu olhar». Enfim, quando nos deparamos com um pobre, não podemos virar o olhar para o lado oposto, porque impediríamos a nós mesmos de encontrar o rosto do Senhor Jesus. Notemos bem aquela expressão «de algum pobre», de todo o pobre. Cada um deles é nosso próximo. Não importa a cor da pele, a condição social, a proveniência. Se sou pobre, posso reconhecer de verdade quem é o irmão que precisa de mim. Somos chamados a ir ao encontro de todo o pobre e de todo o tipo de pobreza, sacudindo de nós mesmos a indiferença e a naturalidade com que defendemos um bem-estar ilusório", escreve Francisco.

Envolver-se pessoalmente é a vocação de todo o cristão

Segundo o Papa, "vivemos um momento histórico que não favorece a atenção aos mais pobres. O volume sonoro do apelo ao bem-estar é cada vez mais alto, enquanto se põe o silenciador relativamente às vozes de quem vive na pobreza. Tende-se a ignorar tudo o que não se enquadre nos modelos de vida pensados sobretudo para as gerações mais jovens, que são as mais frágeis perante a mudança cultural em andamento. Coloca-se entre parênteses aquilo que é desagradável e causa sofrimento, enquanto se exaltam as qualidades físicas como se fossem a meta principal a alcançar".

De acordo com Francisco, "a realidade virtual sobrepõe-se à vida real, e acontece cada vez mais facilmente confundirem-se os dois mundos.

“Os pobres tornam-se imagens que até podem comover por alguns momentos, mas quando os encontramos em carne e osso pela estrada, sobrevêm o incômodo e a marginalização. A pressa, companheira diária da vida, impede de parar, socorrer e cuidar do outro.”

A parábola do bom samaritano não é história do passado; desafia o presente de cada um de nós. Delegar a outros é fácil; oferecer dinheiro para que outros pratiquem a caridade é um gesto generoso; envolver-se pessoalmente é a vocação de todo o cristão".

Dedicação aos pobres e excluídos

A seguir, o Pontífice recorda que "há tantos homens e mulheres que vivem a dedicação aos pobres e excluídos e a partilha com eles; pessoas de todas as idades e condições sociais que praticam a hospitalidade e se empenham junto daqueles que se encontram em situações de marginalização e sofrimento. Não são super-homens, mas «vizinhos de casa» que encontramos cada dia e que, no silêncio, se fazem pobres com os pobres. Não se limitam a dar qualquer coisa: escutam, dialogam, procuram compreender a situação e as suas causas, para dar conselhos adequados e indicações justas. Estão atentos tanto à necessidade material como à espiritual, ou seja, à promoção integral da pessoa. O Reino de Deus torna-se presente e visível neste serviço generoso e gratuito; é realmente como a semente que caiu na boa terra da vida destas pessoas, e dá fruto. A gratidão a tantos voluntários deve fazer-se oração para que o seu testemunho possa ser fecundo".

Compromisso político e legislativo

O Papa ressalta a necessidade "de um sério e eficaz compromisso político e legislativo". Segundo ele,  "não obstante os limites e por vezes as lacunas da política para ver e servir o bem comum, possa desenvolver-se a solidariedade e a subsidiariedade de muitos cidadãos que acreditam no valor do compromisso voluntário de dedicação aos pobres. Isto, naturalmente sem deixar de estimular e fazer pressão para que as instituições públicas cumpram do melhor modo possível o seu dever. Mas não adianta ficar passivamente à espera de receber tudo «do alto». Quem vive em condição de pobreza, seja também envolvido e apoiado num processo de mudança e responsabilização".

Pobreza e cenários de guerra

Francisco recorda na mensagem as novas formas de pobreza, pensando em particular "nas populações que vivem em cenários de guerra, especialmente nas crianças privadas de um presente sereno e de um futuro digno. Ninguém poderá jamais habituar-se a esta situação; mantenhamos viva toda a tentativa para que a paz se afirme como dom do Senhor Ressuscitado e fruto do compromisso com a justiça e o diálogo".

Tratamento desumano reservado a muitos trabalhadores

O Pontífice lembra "as especulações, em vários setores, que levam a um aumento dramático dos preços, deixando muitas famílias numa indigência ainda maior", "o tratamento desumano reservado a muitos trabalhadores e trabalhadoras; a remuneração não equivalente ao trabalho realizado; o flagelo da precariedade; as demasiadas vítimas de acidentes, devidos muitas vezes à mentalidade que privilegia o lucro imediato em detrimento da segurança". Cita também "uma forma de mal-estar que aparece cada dia mais evidente e que atinge o mundo juvenil. Quantas vidas frustradas e até suicídios de jovens, iludidos por uma cultura que os leva a sentirem-se «inacabados» e «falidos»."

Agir com e pelos pobres

Segundo o Papa, "é fácil cair na retórica, quando se fala dos pobres. Tentação insidiosa é também parar nas estatísticas e nos números".

“Os pobres são pessoas, têm rosto, uma história, coração e alma. São irmãos e irmãs com os seus valores e defeitos, como todos, e é importante estabelecer uma relação pessoal com cada um deles.”

"O Livro de Tobias nos ensina a ser concretos no nosso agir com e pelos pobres. É uma questão de justiça que nos obriga a todos a procurar-nos e encontrar-nos reciprocamente, favorecendo a harmonia necessária para que uma comunidade se possa identificar como tal. Portanto, interessar-se pelos pobres não se esgota em esmolas apressadas; pede para restabelecer as justas relações interpessoais que foram afetadas pela pobreza. Assim «não afastar o olhar do pobre» leva a obter os benefícios da misericórdia, da caridade que dá sentido e valor a toda a vida cristã", conclui Francisco.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF