Translate

sábado, 24 de junho de 2023

“Jamais poderia imaginar o que seria ser mãe de nove filhos”

Família de Lurdes e Ricardo Funari | Arquivo Familiar

Por Reportagem local

Uma inspiradora entrevista com Lurdes Funari sobre uma grande família criada à luz dos valores cristãos.

Maria de Lurdes Saraiva Hime Funari, ou apenas Lurdes, como é chamada pela família e pelos amigos, é mãe de nove filhos – e criou a todos à luz dos valores cristãos e da fé católica, juntamente com o esposo Ricardo Funari.

A entrevista que reproduzimos a seguir foi concedida por Lurdes ao boletim do Comitê de Desenvolvimento Humano da empresa Synchro, da qual Ricardo é um dos sócios fundadores.

Aleteia já publicou um artigo sobre como a Synchro incorporou formalmente à sua identidade empresarial valores inspirados no testemunho de vida de Nossa Senhora. De fato, o propósito explicitamente declarado da Synchro é “ser, como Maria, um sinal de Deus na sociedade”. Na estrutura da empresa, o Comitê de Desenvolvimento Humano é formado por colaboradores que ajudam a promover iniciativas voltadas ao aprimoramento integral das pessoas que compõem a família corporativa, levando em consideração a sua unidade de corpo, mente e espírito.

Feita esta contextualização, Aleteia compartilha a entrevista de Lurdes ao boletim da Synchro e agradece a ela e a Ricardo pela gentil autorização para esta reprodução.

“Gravidezes imensamente festejadas”

Synchro – Ter e criar nove filhos deve ter sido um grande desafio, certamente entremeado de muitas preocupações, noites sem dormir e dificuldades. Hoje, muitas mulheres desistem ou têm medo de ter um segundo filho, depois da experiência, às vezes traumática, com o primeiro filho. Fale-nos um pouco destas dificuldades. A senhora teve algum receio de ter o segundo, o terceiro, o quarto…, enfim o próximo filho?

LURDES – Certamente, as dificuldades existem. Aliás, as dificuldades fazem parte da vida, tenhamos ou não tenhamos filhos. O que posso dizer é que a Providência e graças divinas, para as famílias abertas às vidas que Deus possa lhes confiar, aumentam e superam, em muito, as dificuldades. Eu e Ricardo podemos testemunhar isto. Jamais poderia imaginar a priori o que seria ter nove filhos, mas nos foi uma surpresa, ainda maior, a força e ajuda dadas por Deus para sustentá-los e educá-los.

Poderia citar inúmeros exemplos. A própria Synchro foi um presente da Providência para nós. Tivemos cinco filhos antes da Synchro (1985 a 1990) e cinco filhos, contando aquele que Deus levou para Si antes de nascer, depois da Synchro (1992 a 1998). A Synchro foi nossa principal fonte de sustento todos estes anos, desde sua fundação, quando nosso filho mais velho, o Francisco, tinha 6 anos e estava no primeiro ano da escola. E quantas outras famílias a Synchro sustentou e continua sustentando? Outro exemplo de ajuda foi o fato de termos tido bolsa integral, durante muitos anos, para todos os filhos, num dos melhores colégios católicos de São Paulo. O Ricardo pode dar mais detalhes sobre como isto literalmente “caiu do Céu”.

Sobre o receio de ter o próximo filho, tive a graça de NUNCA ter tido. Deus deu-me a graça da fertilidade (foram 3 gravidezes gemelares) e deu-me também, desde nova, o desejo de ser mãe. Vibrei muito com a vinda do meu irmão caçula, para vocês “Hime”, para mim “Zé”. Com somente cinco anos, talvez tenha tido, com a chegada dele, um despertar para a maternidade. Já Ricardo era mais preocupado mas não posso dizer que teve medo. Todas as gravidezes foram imensamente festejadas por nós dois.

Reportagem da revista Família Cristã, em 1997, sobre a família de Ricardo e Maria de Lurdes Funari
Reportagem da revista Família Cristã, em 1997, sobre a família de Maria de Lurdes e Ricardo Funari

Synchro – Tivemos a oportunidade de ler uma entrevista sua concedida à revista Família Cristã em abril de 1997, quando tinham “somente” 8 filhos. Os dois últimos ainda não haviam sido gerados. Nesta entrevista a senhora afirmou “o que nos difere de outras famílias da nossa classe social é o padrão de consumo: roupa de grife não entra em casa, os mcdonalds da vida de vez em quando, televisão é uma só, vídeo game não temos, nossos filhos não conhecem a Disneyworld, mas crescem saudáveis e felizes sem estas coisas”. Depois de passados mais de 25 anos, já os tendo criado, a senhora continua pensando que a ausência destes “mimos” não fizeram falta aos seus filhos?

LURDES – Não tenho dúvida, não fazem a mínima falta. Ao contrário, podem atrapalhar. O que de mais importante podemos e devemos dar a nossos filhos é a fé em Deus. Depois da fé, eu citaria os irmãos. Que enorme presente para um filho é um irmão e, melhor ainda, vários irmãos! E que alegria para os pais vê-los crescidos e unidos, ajudando-se mutuamente.

Nossos filhos são muito unidos e generosos. Tenho certeza de que esta graça foi fruto da nossa escolha em ter uma grande família. Mas o mais importante não é ter 2, 3, 4 ou mais filhos (até porque é Deus quem nos confia, ou não, uma vida). O mais importante é estar aberto à vontade divina. Maria teve um só Filho porque assim foi da vontade de Deus. Seu mérito e exemplo estão no cumprimento, de forma perfeita, da vontade de Deus e não no número de seus filhos.

Graças extraordinárias

Família de Lurdes e Ricardo Funari
Uma infância feliz em família

Synchro – Deus age, na imensa maioria das vezes, nos acontecimentos ordinários de nossas vidas. A Sra. já citou alguns e, tenho certeza, poderia citar vários outros destes acontecimentos. Mas pergunto se, nestes quase 40 anos de casados, foram alvo de alguma graça extraordinária, mais explicitamente de algum milagre?

LURDES – Penso que mais de uma vez. Vou relatar 3 curas que, para não chamar de milagrosas, chamaria de inexplicáveis, por nós e pelos médicos:

  1. Minha filha Elisa, atualmente grávida do meu quinto neto, foi alvo, aos 4 anos, de nódulos extremamente agressivos. Embora benignos, estes nódulos cresciam rapidamente, ligados às cartilagens dos dedos das mãos, comprometendo seus movimentos. Foram três cirurgias seguidas para a extração dos nódulos porque cresciam muito rapidamente nas duas mãos. Era de cortar o coração ver suas mãozinhas retalhadas e enfaixadas. Depois muita oração nossa, e principalmente das avós, e quando estávamos próximos da quarta cirurgia, os tumores começaram a diminuir e misteriosamente desapareceram para não mais voltar. Glória a Deus!
  2. Meu filho Lucas, gêmeo do Paulo, desenvolveu artrite reumatóide que, segundo o diagnóstico médico, teria que carregar pelo resto da vida. Também era de cortar o coração vê-lo chorando, quase sem andar de dor, e sem conseguir jogar futebol, esporte que, tanto ele, quanto o gêmeo Paulo, muito gostavam. Mais uma doença que desapareceu misteriosamente. Pôde jogar muito futebol com o irmão durante toda sua vida e ainda pode, agora com os sobrinhos, e espero, muito em breve, também com os filhos (hoje está casado com minha nora Tici).
  3. Meu terceiro filho, o Marcos, fez uma viagem à Bolivia, aos 20 anos, com alguns amigos. Andando de moto no deserto do Atacama, sofreu uma queda e rompeu o baço. Levado a um hospital da cidade de Sucre, um exame de ultrassom apontou a necessidade urgente de uma cirurgia para tirar-lhe o baço, já sangrando internamente (hemorragia). Foi colocado num quarto de hospital à espera do transporte ao centro cirúrgico. Diante de uma demora que lhe parecia eterna, e morrendo de dores, seu amigo resolveu fugir do hospital e correr para o aeroporto. Chegaram ao aeroporto de noite, quando não havia mais vôo para o Brasil. E não tinham dinheiro para comprar uma passagem no primeiro vôo do dia seguinte. Por graça de Deus, consegui comprar uma passagem para o Marcos, com cartão de crédito aqui do Brasil, no primeiro vôo com destino a São Paulo, na manhã do dia seguinte. Ele e o amigo passaram a noite em frente ao guichê do checkin, num aeroporto deserto, e eu passei a mesma noite acordada, rezando o rosário. Marcos conta que, com uma dor insuportável e aos vômitos, durante a madrugada, uma mulher aproximou-se dele e ofereceu-lhe um comprimido. Tomou o comprimido e apagou, ao lado do colega, acordando somente no dia seguinte, quando já começava o checkin para o vôo. Ter embarcado no vôo sozinho (o colega ficou), e naquele estado (não estava somente com dor intensa mas sujo e todo esfolado pela queda), sem que ninguém o barrasse, foi outro milagre. Ricardo pegou-o em Guarulhos depois de quatro horas de vôo (havia escalas). De lá foi levado diretamente ao hospital Oswaldo Cruz. O médico do hospital confirmou a necessidade de intervenção cirúrgica. Resolvemos pedir a opinião de um médico externo, recomendado por meu cunhado, também médico, que trocou a cirurgia por repouso e observação, esperando que a hemorragia estancasse. Depois de quase duas semanas de repouso e espera, na iminência de alta, o baço voltou a sangrar, fato que exigiu mais uma semana de internação e repouso. Para resumir a história, Marcos tem, até hoje, o baço e, absolutamente, nenhuma sequela.
  4. Tem a história do Paulo que caiu de uma altura de 4 metros sem sofrer qualquer arranhão, da queda do cavalo da Elisa, do atropelamento do André correndo atrás de uma bola, mas estas ficam para uma próxima entrevista.

Maria como modelo

Synchro – Se Maria é um modelo para a Synchro, que é uma empresa, deve ser ainda mais modelo para as mães, cujo dia (segundo domingo do mês) está bem próximo. É difícil imitar Maria? O que a Sra. acha difícil imitar em Maria?

LURDES – Penso que nós mulheres temos o chamado universal da maternidade, ainda que não tenhamos filhos biológicos. Quantas mulheres são verdadeiras mães de filhos adotivos, sobrinhos, afilhados e até dos próprios pais? Muitas, não é? Imitar Maria neste caso é mais natural.

Mas acho que não conseguiria ver um filho sofrer e morrer como aconteceu com Maria. Talvez não tivesse força para aceitar a vontade de Deus. Precisaria de muita ajuda, da própria Maria, em aceitar a entrega de um de meus filhos. Deus levou um de nossos filhos ao Céu muito delicadamente. Morreu no meu ventre e foi absorvido por meu organismo, sem dor e sem sangue. E, mesmo assim, senti muito esta perda.

Boletim do Comitê de Desenvolvimento Humano da Synchro
Boletim do Comitê de Desenvolvimento Humano da Synchro

“Não tenham medo de ter filhos”

Synchro – E, para terminar este delicioso bate-papo, que conselho a Sra. daria às mães da Synchro. Saiba que, a cada ano, nascem na Synchro cerca de 30 crianças. Temos recém-casadas pensando em ser mãe, mães de primeira viagem e mães de até quatro filhos, trabalhando conosco. O que diria a elas?

LURDES – O primeiro conselho é “não tenham medo de ter filhos”, o mais cedo possível (e claro, depois de casar). Deus sabe o melhor momento pra enviar-nos uma nova vida e sempre dará as condições necessárias à família que acolhe uma vida e recorre a Ele. O segundo conselho é “eduquem seus filhos para Deus”, principalmente através do exemplo. Até Jesus, que é Deus, foi educado na fé por seus pais, Maria e José. Que cada lar seja uma pequena igreja doméstica. Todo o resto vem por consequência. Uma das maiores dores de uma mãe que crê é ver seus filhos distantes de Deus. Maria não teve esta dor com Jesus (Dele vieram outras cruzes) mas tem com inúmeros de seus filhos, dentre os milhões e milhões de filhos de Deus que estão ou que passaram por este mundo.

“Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria. Não se afaste Maria da tua boca, não se afaste do teu coração; e, para conseguires a sua ajuda intercessora, não te afastes tu dos exemplos da sua virtude. Não te extraviarás se a segues, não desesperarás se a invocas, não te perderás se nela pensas. Se Ela te sustiver entre as suas mãos, não cairás; se te proteger, nada terás a recear; não te fatigarás se Ela for o teu guia. Chegarás felizmente ao porto, se Ela te amparar.” (São Bernardo)

 Fonte: https://pt.aleteia.org/

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF