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domingo, 5 de dezembro de 2021

ESPIRITUALIDADE: Amor sem limites (Parte 13/19)

Capa: Fragmento de um ícone de meados de
século XVII atribuído a Emanuel Lombardos.

Um Monge da Igreja do Oriente

AMOR SEM LIMITES

Tradução para o português:
Pe. André Sperandio

Ecclesia

27. Na fornalha

Filhos meus, queridos. Eu sei as dificuldades que suportais para conciliar o amor sem limites com a dor dos homens, com a dor do mundo.

Gostaria de ajudá-los a penetrar nesse mistério. O que eu quero dizer está nesta frase: o amor é um Deus que sofre. Vou falar-vos sobre o sofrimento do amor.

Deus sofre? Não imagináveis, nem por um instante, que ele pudesse ser diminuído ou vencido. Rejeitais qualquer concepção de um Deus limitado e finito. O amor sem limites não pode ser um Deus limitado.

Não deixeis de crer em minha omnipotência essencial. Só é necessário discernir melhor as condições sob as quais eu a exerço.

Não se trata, de modo algum, de um sofrimento imposto a Deus e que Deus o sofreria. Nadame pode ser imposto. Não posso sofrer nenhuma coerção externa.

Vosso Senhor-amor é um Deus vencedor.

Tomo sobre mim todo o sofrimento humano. Porém, assim o faço para superá-lo. Eu não sofro, senão, livremente, espontaneamente, assumo o sofrimento de uma maneira que me é própria.

Recusai a imagem de um Deus sentado num trono celestial que assiste impassível às lutas que ocorrem na Terra. Estou entre os que combatem, entre os que lutam. Tomo parte na luta contra a potência das trevas, contra o príncipe deste mundo, esta luta em que todo mal e sofrimento são episódios, eventos. Digo que eu luto; isto significa que eu não retiro dos homens da liberdade de escolher entre o amor ou contra o amor. O amor não terá que ser imposto pela força. Tenho minhas mãos atadas; as únicas armas que uso são a persuasão e graça.

Neste combate eu me firo; machucam-me toda vez que há uma negação ao amor. Mas, as feridas não me são infligidas como vítima passiva. Eu as enfrento. Não as recebo, antes, sou eu que vou "tomá-las" no sentido literal da palavra. Minha natureza divina não é afetada, mas sou atingido em meu contato, em minha união com a natureza humana. A tempestade se forma ao pé da montanha, mas seu topo continua cercado de luz.

Às vezes, acontece que, de acordo com as aparências, estou morto nessa ou naquela alma em que o amor está absolutamente ausente. Mas Deus não pode estar morto. A morte, este último inimigo, será derrotada, porque o amor é mais forte do que a morte e nem mesmo as mais caudalosas águas não poderiam afogá-la. A paixão e a ressurreição estão indissoluvelmente unidas. Quando disseres de todo o coração: "amo" e, acima de tudo: "amo o amor", já terás alcançado a experiência do que é eterno.

Mais precisamente: como é possível a mim entrar no sofrimento humano, se o sofrimento não entra em mim? Eu sou o ser, eu dou o ser, tudo o que o ser tem, o tem por mim. Tudo o que afeta o ser recebido, participado, seja lá o que for, também afeta - de outra forma, mas realmente - meu Ser. O Ser "conhece" tudo o que é. Não conhece a partir de fora, exteriormente, como nós conhecemos, mas conhece de dentro, interiormente. Não é suficiente afirmar tratar-se de um conhecimento por simpatia. É coincidência, identificação, vida com tudo o que ocorre, já que sou eu quem dá o fundamento para todas as coisas.

Conheço, pois, todo o sofrimento, mais intimamente, mais profundamente do que aquele que sofre. Conheço "vitalmente" o que cada ser experimenta, sem que, por isso, meu Ser sofra qualquer alteração. Nenhum aspecto de qualquer sofrimento me é estranho, nem está fora de mim. Eu sofro com todas as aflições dos homens, desposando-me ao máximo com elas, sem que isto afete a minha natureza, nem a diminua ou a corrompa. Toda aflição humana desencadeia em mim um novo impulso de amor que quisera arrastar em sua torrente tudo o que é negativo.

Mãe, que perdeste teu filho, esposa que perdeste teu marido, jovem que perdeeste tua namorada, pessoa enferma torturada pelocâncer, prisioneiro em um campo de concentração, dependente de álcool ou drogas ou de uma sexualidade egoísta... Eu me inclino sobre vossa miséria. Se soubésseis que eu não quiz isso, e que tudo é conseqüência das obras do inimigo, e que eu, invisivelmente, luto em vosso favor! Preparo-vos uma saída de luz. Agora é a hora e o poder da noite; o tempo de sua derrota ainda deve permanecer em segredo. Porém, meu amor vencerá as resistências e enchugará as lágrimas. O véu será retirado e então vereis claramente, compreendereis e elegereis.

Até chegaste a crer que o Deus-amor seria indiferente ao grito dos homens? Sabíeis tão pouco do vosso Deus! O amor veio até vós sob a forma de Servo sofredor, e sua vida entregue, imolada, expressava visivelmente o grande desejo divino. Muito antes de toda a eternidade, já havia aceitado e preparado um sacrifício em meu coração. Ainda hoje há uma paixão secreta e contínua do amor causada pela rejeição de suas inspirações, pela surdez ante suas iniciativas. A pequena pomba não encontra lugar para descansar em uma terra enlameada. Vosso Senhor-amor tem apenas um desejo: entregar constantemente a sua vida por todos os que ama. Não há amor maior...

A linguagem humana pode não ser capaz de bem expressar essas coisas. As realidades divinas excedem em muito as palavras dos homens. Os segredos do meu coração não são demonstrados. Podem, até certo ponto, ser captados por essas intuições, por essas revelações que alcançam aqueles que querem amar e servir ao amor. Não sofro humanamente, sofro "divinamente". Em vosso atual estado, não podeis oferecer precisão intelectual a esses termos. O que as palavras não conseguem é melhor sugerido por uma imagem ou um símbolo. Recordai aquele rei da Babilônia, que ordenou que fossem lançados em um forno ardente aqueles três jovens porque se recusaram a adorá-lo. O rei foi ver o que havia acontecido, e os encontrou caminhando na companhia de um outro jovem, um desconhecido, semelhante aos filhos dos deuses.

® NARCEA, S.A. EDIÇÕES
Dr. Federico Rubio e Galí, 9. 28039 - Madrid
® EDITIONS ET LIBRAIRIE DE CHEVETOGNE Bélgica
Título original: Amour sans limite
Tradução (para o espanhol): CARLOS CASTRO CUBELLS
Tradução para o português: Pe. André Sperandio
Capa: Fragmento de um ícone de meados de século XVII atribuída a Emanuel lombardos
ISBN: 84-277-0758-4
Depósito Legal: M-26455-1987
Impressão: Notigraf, S. A. San Dalmácio, 8. 28021 - Madrid

Algumas gotas de entusiasmo para viver bem o Advento

Foto: arqbrasilia

É comum, quando se inicia um novo tempo litúrgico, surgir o questionamento, no coração dos fiéis, de como eles podem viver bem aquele novo período de celebração. Certamente, a primeira resposta é debruçar-se sobre a Palavra de Deus, porque ela norteia a reflexão litúrgica da Igreja e, também, buscar os ensinamentos da Doutrina Católica que nos dão certeza de que aquele caminho é o verdadeiro e correto.

Se observarmos as leituras das celebrações, perceberemos que até o dia 16 de dezembro a temática estará centrada na segunda vinda de Cristo. Por isso, uma forma de viver bem esse período é crescer na virtude da vigilância, na pureza do coração e alimentar a vontade de unir-se ao Senhor, também, na vida eterna. Para isso, pode-se fazer um bom exame de consciência e uma boa confissão para se preparar espiritualmente para as celebrações natalinas, mas, sobretudo, estar em estado de graça para encontra-se com o Senhor, pois não sabemos nem o dia e nem a hora (cf. Mt 25, 13)

Família

A partir do dia 17, a liturgia já começa a relatar as profecias e a preparação do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo em Belém. A figura da Virgem Maria ganha destaque singular mostrando que a fé católica está centrada em Jesus Cristo e que sua encarnação é farol para a história, sendo, inclusive, divisor de águas no calendário da humanidade. Neste período, pode-se viver bem o Advento, além da meditação da Palavra, rezando a novena de Natal em família ou em comunidade, como também, meditando os mistérios do Rosário em família diante do presépio. O tempo do Natal tem um caráter predominantemente familiar, tendo em vista o lugar que a Sagrada Família de Nazaré ocupa na História da Salvação. Por isso, é um tempo propício para a reconciliação dentro de casa, de fortalecimento dos laços e de propósitos firmes de defesa da família.

Caridade

Um aspecto bastante importante, igualmente, é a vivência da prática da caridade. Lembremos que o Senhor teve que nascer entre os animais, em uma simples manjedoura. Certamente, mais pobre que a manjedoura de madeira que ele nasceu a mais de dois mil anos atrás ainda é mais rica do que a manjedoura do nosso coração. Contudo, em sua infinita misericórdia, Ele quer nascer todos os dias em nosso coração pequeno, pobre e pecador. Em vista disso, separar um tempo para a caridade, lembrando que também somos pobres, ajuda o nosso coração a colocar-se numa atitude de humildade. Ajudar os que precisam mais do que nós, suscita a certeza de que somos irmãos.

Portanto, “ao celebrar cada ano a Liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta espera do Messias, comungando com a longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo de sua Segunda vinda,” (CIC 524) Em função disso, vivamos bem o tempo do Advento e busquemos o máximo possível nos aproximar do Senhor.

“Ao celebrar cada ano a liturgia do Advento, a Igreja atualiza esta espera do Messias: comungando com a longa preparação da primeira vinda do Salvador, os fiéis renovam o ardente desejo de sua Segunda Vinda” cic 524.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

II DOM ADVENTO - Ano C

Dom Paulo Cezar | arqbrasilia

Dom Paulo Cezar Costa / Arcebispo de Brasília

Nossa vocação à liberdade

            No Advento, celebramos a vinda de Deus para nos salvar. A salvação é uma realidade que o homem já vai experimentando na história. Na primeira leitura da liturgia deste domingo (Br 5, 1-9), Israel experimenta a salvação, a libertação de Deus. Muitos povos migraram de suas terras, foram escravizados e libertados. Mas o povo de Israel vê e lê a sua história à luz da fé e, por isso, a libertação do exílio é obra de Deus. Deus é Aquele que tira da escravidão e conduz à libertação. Esta é a vocação de Israel: ser povo livre. O profeta Baruc descreve como um grande caminho processional, com beleza, a libertação: “Despe, Jerusalém, a veste da tua tristeza e desgraça, e reveste para sempre a beleza da glória que vem de Deus” (Br 5, 1). A vocação à liberdade é para todo homem e toda mulher. Mas o ser humano sempre viverá na história os condicionamentos e, por isso, nunca de sentirá totalmente livre. Somente Deus pode ir abrindo a história humana de cada pessoa à verdadeira liberdade, porque só Ele pode nos salvar e nos dar a verdadeira liberdade. O Advento relembra ao ser humano que não fomos criados para a escravidão, que a nossa vocação é para a liberdade, mas só Deus pode nos tornar verdadeiramente livres.

No Evangelho, na voz de João Batista, todo homem é vocacionado à verdadeira liberdade, à salvação: “E todo homem verá a salvação de Deus”. João Batista é o homem do deserto, é lá que a palavra de Deus o encontra. O Evangelho vai dos grandes acontecimentos históricos da época, da força do poder de Tibério César em Roma, de Pôncio Pilatos na Judéia até o deserto da Judéia. É uma forma de situar um fato na história, mas, também, é um modo de dizer que a ação de Deus se dá com absoluta liberdade, pois, é no deserto, lugar sem vida, lugar da aridez, que Deus dirige a Sua palavra a um homem chamado Yohânân (João). Seu nome é uma missão: Deus é misericordioso. Deus escolhe o caminho da pequenez, da insignificância, para atingir o coração dos homens e as estruturas. João percorre toda a região do Jordão. A palavra de Deus o coloca em ação, deve caminhar anunciando a Palavra de Deus. Ele proclama um batismo de arrependimento para a remissão dos pecados. João proclama uma boa notícia, um kêrussein (kerygma), um batismo para a conversão (metanoia) dos pecados.

Conversão significa mudança de rota, de caminho, de vida. A mudança é uma realidade constante na nossa vida. O ser humano é um ser que se encontra nesta dinâmica de transformação, e talvez a palavra ‘mudança’ expresse bem a nossa época. Também na nossa vida de fé, na nossa interioridade, é preciso mudança: mudança de mentalidade, de atitudes etc. João Batista é o profeta que nos desestabiliza e nos coloca em movimento rumo ao Messias. Em Jesus Cristo, a salvação será para todo homem, toda mulher, para todo ser humano: “(…)e todo homem verá a salvação que vem de Deus” (Lc 3, 6).

Que a misericórdia de Deus, que o próprio nome ‘João’ anuncia, ajude cada um de nós a nos colocarmos numa atitude de mudança, direcionando a nossa liberdade para Deus, deixando que Ele a cure e nos torne verdadeiramente livres.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Na Grécia, papa Francisco lamenta recuo da democracia no mundo

Papa Francisco discursa a autoridades civis da Grécia / Vatican Media

REDAÇÃO CENTRAL, 04 dez. 21 / 10:15 am (ACI).- O papa Francisco lamentou um “recuo global da democracia” em um discurso no sábado em Atenas, o berço da civilização ocidental. O papa falava a líderes políticos, representantes da sociedade civil e membros do corpo diplomático no palácio presidencial em 3 de dezembro, horas depois de chegar do Chipre.

“Aqui nasceu a democracia. Esse berço, milhares de anos depois, viria a ser uma casa, uma grande casa de povos democráticos. Estou falando da União Européia e do sonho de paz e fraternidade que ela representa para tantos povos”, disse o papa. “No entanto, não podemos deixar de notar com preocupação como hoje, e não apenas na Europa, estamos testemunhando um retrocesso da democracia.”

O papa chegou à Grécia depois de uma visita de dois dias a Chipre, uma ilha no leste do mar Mediterrâneo. Com uma agenda lotada, ele encontrou autoridades cipriotas, bispos ortodoxos, católicos locais e migrantes, e celebrou missa no maior estádio do país.

Os três dias do papa de 84 anos na Grécia serão igualmente frenéticos, com encontros programados com líderes ortodoxos, a comunidade católica, jesuítas locais, migrantes na ilha de Lesbos e jovens.

O papa Francisco fez uma visita de um dia a Lesbos em 16 de abril de 2016, após o qual levou 12 refugiados ao Vaticano.

Antes de Francisco, são João Paulo II se tornou o primeiro papa a visitar a Grécia em 1.291 anos, em maio de 2001.

A Grécia, oficialmente conhecida como República Helênica, é um país predominantemente cristão ortodoxo de 10,7 milhões de habitantes, em que cerca de 50 mil habitantes são católicos.

Depois de uma cerimônia de despedida no Aeroporto Internacional de Larnaca, em Chipre, o papa partiu para Atenas. Após uma recepção oficial no aeroporto, ele foi ao palácio presidencial da cidade, onde fez uma visita de cortesia à presidente grega Katerina Sakellaropoulou. Depois ele se encontrou com o primeiro-ministro grego Kyriakos Mitsotakis.

Em seu discurso ao vivo, que falou dos filósofos gregos Sócrates e Aristóteles, o papa enfatizou que a democracia requer a participação de todos os cidadãos.

“É complexo, enquanto o autoritarismo é peremptório e as respostas fáceis do populismo parecem atraentes”, disse ele.

“Em algumas sociedades, preocupadas com a segurança e entorpecidas pelo consumismo, o cansaço e o descontentamento podem levar a uma espécie de ceticismo em relação à democracia.”

“No entanto, a participação universal é algo essencial; não apenas para atingir objetivos comuns, mas também porque corresponde ao que somos: seres sociais, ao mesmo tempo únicos e interdependentes”.

O papa disse que outro aspecto do ceticismo sobre a democracia é a perda de fé nas instituições.

“O remédio não está na busca obsessiva de popularidade, na sede de visibilidade, na enxurrada de promessas irrealistas ou na adesão a formas de colonização ideológica, mas na boa política”, afirmou.

“Pois a política é, e deve ser na prática, um bem, como responsabilidade suprema dos cidadãos e como arte do bem comum. Para que o bem seja verdadeiramente compartilhado, uma atenção particular, eu diria mesmo prioritária, deve ser dada às camadas mais frágeis da sociedade. Esta é a direção a seguir”.

O papa citou Alcide De Gasperi, um dos fundadores da União Europeia, que disse em 1949: “Fala-se muito de quem se move para a esquerda ou para a direita, mas o decisivo é avançar, e avançar significa avançar em direção à justiça social.”

O papa comentou: “Aqui, uma mudança de direção é necessária, mesmo que medos e teorias, amplificados pela comunicação virtual, se espalhem diariamente para criar divisões”.

“Em vez disso, ajudemo-nos uns aos outros para passar do partidarismo à participação; do compromisso de apoiar apenas o nosso partido até o envolvimento ativo na promoção de todos”.

A Grécia tem uma longa costa ao sul ao longo do Mar Mediterrâneo e é um destino de migrantes que tentam entrar na União Europeia, um bloco político e econômico de 27 estados membros.

Em seu discurso, o papa reconheceu que a migração trouxe novas pressões para a população local, especialmente nas ilhas da Grécia.

“Este país, naturalmente acolhedor, viu em algumas de suas ilhas a chegada de um número de nossos irmãos e irmãs migrantes maior do que o de seus habitantes nativos; isso aumentou as dificuldades ainda sentidas no rescaldo da crise econômica”, disse ele.

“No entanto, a Europa também continua a contemporizar: a Comunidade Europeia, presa por formas de interesse próprio nacionalista, em vez de ser um motor de solidariedade, parece às vezes bloqueada e descoordenada.”

Ele continuou: “No passado, os conflitos ideológicos impediram a construção de pontes entre a Europa Oriental e Ocidental; hoje, a questão da migração também leva a violações entre o Sul e o Norte”.

“Gostaria de encorajar mais uma vez uma visão global e comunitária no que diz respeito à questão da migração e instar a que se dê atenção aos mais necessitados, para que, na proporção dos recursos de cada país, sejam acolhidos, protegidos, promovidos e integrados, com todo o respeito por seus direitos humanos e sua dignidade.”

Fonte: https://www.acidigital.com/

Etapa ecumênica em Atenas: cristãos e ortodoxos vivam novo Pentecostes

Papa visita Sua Beatitude Ieronymos II | Vatican News

Venho como peregrino, disse o Papa à Sua Beatitude Ieronymos II, “com grande respeito e humildade, para renovar a comunhão apostólica e alimentar a caridade fraterna”.

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

“Graça e paz (…) da parte de Deus”! Com as palavras do apóstolo Paulo, o Papa Francisco saudou Sua Beatitude Ieronymos II, arcebispo de Atenas e de toda a Grécia, no Arcebispado Ortodoxo da capital.

Trata-se da máxima autoridade religiosa do país, considerando que o país é de maioria ortodoxa e os católicos constituem cerca de 10% da população.

Não é a primeira vez que Francisco e Ieronymos se reúnem na Grécia: cinco anos atrás, o encontro foi realizado na ilha de Lesbos e o motivo foi a “emergência de um dos maiores dramas do nosso tempo”, isto é, a migração.

Hoje, o encontro se realiza “para partilhar a alegria da fraternidade e contemplar o Mediterrâneo que nos circunda não só como lugar que preocupa e divide, mas também como mar que une”. Venho como peregrino, disse o Papa, “com grande respeito e humildade, para renovar a comunhão apostólica e alimentar a caridade fraterna”.

O pedido de perdão

Com os passar dos séculos, a comunhão foi envenenada pelo mundanismo e pela cizânia, foi murchada por ações e opções que pouco ou nada têm a ver com Jesus e com o Evangelho.

“A história tem o seu peso e, hoje, sinto a necessidade de renovar aqui o pedido de perdão a Deus e aos irmãos pelos erros cometidos por tantos católicos.”

Como símbolo desta comunhão a ser alimentada, o Pontífice propõe o azeite, fruto final da oliveira, que abunda em solo grego. O azeite, explicou o Papa, faz pensar no Espírito Santo, que deu à luz a Igreja. “Só Ele, com o seu esplendor sem ocaso, pode dissipar as trevas e iluminar os passos do nosso caminho.”

A exortação de Francisco é para não ter medo uns dos outros, mas ajudar-se mutuamente a adorar a Deus e a servir o próximo, sem fazer proselitismo e respeitando plenamente a liberdade alheia.

O anúncio na divisão?

Aliás, questiona o Papa, como se pode testemunhar ao mundo a concórdia do Evangelho se nós, cristãos, estivermos ainda separados? Como se pode anunciar o amor de Cristo que congrega os povos, se não estivermos unidos entre nós?

Por isso, o Espírito é também azeite de sabedoria: ungiu Cristo e deseja inspirar os cristãos. Francisco agradeceu e encorajou o trabalho de todas as comissões conjuntas que unem católicos e ortodoxos.

Por fim, o Espírito é ainda azeite de consolação, que impele os cristãos dos mais frágeis, sobretudo neste tempo de pandemia:

“Desenvolvamos, juntos, formas de cooperação na caridade, abramo-nos e colaboremos em questões de caráter ético e social para servir as pessoas do nosso tempo e levar-lhes a consolação do Evangelho.”

Mas uma vez, a exortação do Papa é para não se deixar paralisar pelas coisas negativas e os preconceitos de outrora, mas a olhar a realidade com olhos novos.

“Que o Espírito Se derrame sobre nós num novo Pentecostes”, concluiu Francisco.

Fonte: https://www.vaticannews.va/

São Sabas

São Sabas | arquisp
05 de dezembro

São Sabas

Os bárbaros godos são conhecidos, na história, por suas guerras de conquista contra terras e nações cristãs. Pagãos, perseguiram e executaram milhares de católicos, mas não puderam impedir a conversão de várias famílias. Foi numa dessas que nasceu Sabas, no ano 439.

Nascido na Capadócia, Sabas teve uma infância difícil. A disputa dos parentes por sua herança o levou a procurar ajuda num mosteiro, onde foi acolhido apesar de ser ainda uma criança. Apesar de pouca instrução, tornou-se um sábio na doutrina cristã.

Desde então, transcorreu sua longa vida entre os mosteiros da Palestina. Experimentou a vida monástica cenobítica, ou seja, comunitária; depois passou para o mosteiro dos anacoretas, onde os monges se nutrem na solidão, preferindo esta última. Dividiu tudo o que herdou entre os cristãos pobres e doentes. Trabalhou na conversão de seus conterrâneos e ajudando os cristãos perseguidos em sua pátria. Era, antes de tudo, um caridoso e valente.

Naquela época, havia o decreto de que cristãos, para serem poupados, deveriam comer a carne dos animais mortos aos deuses pagãos. Muitos se utilizavam da estratégia de enganar os guardas, dando de comer aos familiares carnes comuns, e não as desses sacrifícios, salvando os familiares do martírio. Mas Sabas se recusava a mentir, chegando a protestar em público contra tal prática.

Quando as perseguições se acentuaram, Sabas já gozava de muito prestígio, pois tinha fundado uma grande comunidade de monges anacoretas no vale de Cedron, na Palestina, chamada de "grande Laura". Ela começou naturalmente, com os eremitas ocupando as cavernas ao redor daquela em que vivia, isolado com os animais, e construíram um oratório. Foi assim que surgiu o que seria no futuro o Mosteiro de São Sabas.

A fama dos prodígios que alcançava através das orações e também a grande sabedoria sobre a doutrina de Cristo, que tão bem defendia, fizeram essa comunidade crescer muito.A ele se atribui o fim de uma longa e calamitosa seca. Ocupava uma posição de liderança importante dentro da sociedade e do clero. A eloqüência da sua pregação do Evangelho atraía cada vez mais os pagãos à conversão. Sabas, então, já incomodava o poder pagão como autoridade cristã.

Interferiu junto ao imperador, em Constantinopla, a favor dos mais pobres, contra os impostos. Organizou e liderou um verdadeiro e próprio exercito de monges anacoretas para dar apoio ao papa contra a heresia monofisista que agitou a Igreja do Oriente.

Morreu em 5 de dezembro de 532, na Palestina, aos noventa e três anos de idade. São Sabas está presente na relação dos grandes sacerdotes fundadores do monaquismo da Palestina. A festa em sua honra ocorre no dia de sua morte.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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sábado, 4 de dezembro de 2021

Advento: estar pronto para acolher o Senhor que vem

Alex Neu | Shutterstock

Saiba como preparar o seu coração para este encontro precioso.

O que você faria se soubesse que teria apenas mais alguns minutos de vida?

Muitos se desesperam com a ideia de morrer – somos cada vez mais materialistas, e a morte é vista como um vazio, uma perda, e não como um encontro com Deus. Mas, a morte não é a nossa única certeza nessa vida?

Muitos tentam responder a essa pergunta inventando e multiplicando coisas para fazer.  

Fizeram essa mesma pergunta a um jovem da Sardenha, na Itália, chamado Domingos Sávio, muito próximo de Dom Bosco, fundador dos salesianos. Naquele momento o jovem Domingos estava jogando bola com seus colegas de escola. A resposta dele foi muito simples: “eu continuaria a jogar bola com meus amigos”.

Devemos concluir então que para Domingos Sávio era mais importante se divertir do que se preparar para a própria morte, ou para o fim dos tempos?

De jeito nenhum! Pouco antes de fazer a 1ª Comunhão, ele escreveu:

“Propósitos feitos por mim, Domingos Sávio, no ano de 1849, na idade de sete anos:

1º. Confessar-me-ei com frequência e receberei a Comunhão todas as vezes que o confessor me permitir.

2º. Santificarei os dias de preceito.

3º. Meus amigos serão Jesus e Maria.

4º. Antes morrer que pecar.”

Sete anos depois dessa data tão importante, muito doente, ele escreveu a Dom Bosco:

“Quero dizer-vos que sinto um desejo e uma necessidade de fazer-me santo. Nunca teria imaginado que alguém pode chegar a ser santo com tanta facilidade; mas agora que vi que alguém pode muito bem chegar a ser santo estando sempre alegre, quero absolutamente e tenho absoluta necessidade de ser santo.”

No dia 9 de março de 1857, com 14 anos, poucos momentos antes de sua morte, “Domenico” disse ao pai: “Papai, cá estamos! É hora de rezar para mim as ladainhas da boa morte”. E completou: “Adeus. Que maravilha estou vendo!”

Tempo para tudo

Entenderam? Domingos Sávio não preferiu se divertir a rezar e se confessar. 

Ele entendeu que há um tempo para orar, para estudar, para se divertir e para dormir. Respondeu que continuaria jogando bola, ainda que soubesse que fosse morrer, simplesmente porque aquele era o momento de jogar bola, e não de fazer outra coisa.

Domingos queria santificar cada coisa que fazia: sabia que Deus estava com ele o tempo todo e queria fazer a vontade de Deus em tudo e o tempo todo… por isso estava pronto para morrer a qualquer momento.

O Advento

Domingos Sávio encarna e resume os textos bíblicos que a Igreja nos propõe para começarmos o Advento: 

“Senhor, tu és nosso pai, nós somos barro; tu, nosso oleiro, e nós todos, obra de tuas mãos” (Is 63,7).

“[O Pai] vos dará perseverança em vosso procedimento irrepreensível, até ao fim, até ao dia de nosso Senhor, Jesus Cristo” (1 Co 1,8).

“Ficai atentos, porque não sabeis quando chegará o momento. Vigiai!” (Mc 13,33.37).

São Domingos Sávio nos ensina a viver cada dia como se fosse nosso último dia na terra. Ele estava preparado para o encontro com Deus. Quanto a mim, será que eu também estou? 

Para preparar o coração para esse encontro precioso, a rede social de oração Hozana oferece dois belos itinerários para esse tempo do Advento:

– Retiro de Advento, os 4 degraus do Amor. Ao longo deste Advento, convidamos você a percorrer os quatro degraus do amor, baseados nos ensinamentos de São Bernardo de Claraval: amar si mesmo, amar a Deus para se amar, amar a Deus por Ele mesmo, amar-se para amar a Deus. Descobrir os quatro degraus do amor significa avançar numa rota precisa, subir os vários degraus de uma escada para elevar-se, para chegar mais perto de Deus. Clique aqui para participar.

– Caminhada de Advento em casal. Este retiro oferece aos casais uma caminhada de Advento para se prepararem para acolher a alegria do Natal, a alegria de um Amor que sempre quer nascer e renascer em nossos corações. Ao se inscrever neste itinerário, você receberá, cada dia, uma imagem inspiradora, uma Palavra de Deus, uma breve meditação e um desafio para viver um amor cada vez mais belo e mais verdadeiro. 

Que nosso coração esteja sempre pronto para acolher e ser acolhido por Jesus na Casa Eterna.

Bom Advento!

Padre André Favoretti, pelo Hozana

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Meditação natalina atípica

Guadium Press
Dezembro é um mês especial sobre o qual as graças do Advento e do Natal chovem como o orvalho suave. Pena que o paganismo invasor embotou o brilho das celebrações familiares e religiosas que outrora encantavam a todos.

Redação (03/12/2021 16:48, Gaudium Press) Apesar de serem muito apreciáveis e válidas as reflexões clássicas que normalmente traziam os devocionários de outrora, penso que os tempos não estão para meditações convencionais. Por isso, convido o leitor a seguir-me em um itinerário ‘sui generis’ navegando por águas agitadas. Chegaremos a bom porto.

O que é mais vital e preocupante, o chamado ‘aquecimento global’, cujo conceito divide a comunidade científica, ou a ‘frieza generalizada’ que se espalha entre os católicos em relação à sua Fé? Enquanto líderes mundiais nos alertam sobre o ecossistema ameaçado com graus desiguais de sinceridade, os fiéis vão se desinteressando do credo que assumiram em seu Batismo. Se aponta para o tal ‘aquecimento’ silenciando outras urgências.

Não confundamos nem minimizemos os assuntos. Uma coisa são os problemas ambientais aos quais temos que dar uma solução, ainda que sem aquele afã que concebe a tarefa como um culto idolátrico rendido à natureza. Outra coisa é a “temperatura” das almas na qual se refere aos seus deveres para com o Criador… situação que repercute na obra da criação, porque no universo há uma solidariedade e harmonia latente entre todos os seres que o pecado, suprema desordem, lastima.

Afirmo que a frieza generalizada aos deveres da religião está na origem dos males que afligem o planeta. Poderá não ser a causa exclusiva ou imediata, mas não é estranha à gênese das convulsões que assolam o globo: os desastres naturais que se multiplicam por todas partes, a pandemia com suas variantes e sequelas, a tensão bélica mundial, a economia que periclita, etc. Acrescente a isso o naufrágio geral dos costumes e se pergunte o que está faltando para uma regeneração salvífica ou para o colapso final.

Em nossos dias, falamos de “pecados sociais”, expressão que se presta a atenuar o compromisso pessoal dos indivíduos, como se estes fossem apenas vítimas e nunca culpados de seus próprios erros ou dos outros; a verdade é que é quase simpático fugir das responsabilidades em relação a Deus, à criação ou à própria consciência. O “aquecimento global” seria consequência de um “pecado social”.

Em todo caso, os tais “pecados sociais” devem necessariamente resultar de pecados individuais, porque para que haja falta são necessárias consciência e vontade, coisas que não existem difundidas no meio ambiente…

Santo Agostinho ensina que as sociedades recebem seu prêmio ou castigo na terra, uma vez que não são eternamente salvas ou condenadas como tais. As almas, por outro lado, são premiadas ou castigadas ‘post mortem’. Os “pecados sociais” são pagos, então, nesta vida.

Alguns dirão: “Mas Deus não castiga!” Grave equívoco. Por ter mérito ou culpa, a pessoa é capaz de prêmio ou castigo, pois não se glorifica a Deus sem receber a merecida recompensa nem se ofende impunemente. Como negar que uma lição às vezes não seja saudável, inclusive necessária?

Sobre isto, vejamos algo do que nos diz a Sagrada Escritura: “Se (…) abandonarem a minha lei e não seguirem os meus mandamentos, se violarem os meus preceitos e não guardarem os meus mandamentos, castigarei os seus pecados com a vara e suas culpas com chicotadas. Mas não lhes retirarei meu favor, não violarei minha aliança nem mudarei minhas promessas” (Salmo 89). Ou este outro trecho “Quem não usa a vara odeia o seu filho, quem o ama o corrige a tempo” (Prov. 13, 24).

“Ah, isso é coisa do Antigo Testamento!”, replicará o objetante imaginário, tentando justificar seu ponto de vista. “Raça de víboras, quem te ensinou a escapar do castigo iminente?”, disse Jesus aos fariseus e saduceus (Mt, 3, 7). E São Paulo escreveu aos efésios: “(…) estas coisas são as que atraem o castigo de Deus sobre os rebeldes” (Ef 5, 6). São citações do Novo Testamento.

Convenhamos nesta verdade essencial: Deus é amor, quer que todos sejam salvos, deseja perdoar o pecador, não nega a sua graça a ninguém e espera pacientemente que os corações se voltem para Ele; e porque nos ama, costuma mandar sinais para corrigir as más condutas. Bendito seja o castigo que “corrige a tempo” e não “anula a aliança nem muda suas promessas”!

É seguro que a escassa consideração para com o Sacramento do Altar é um dos principais males que produziu essa frieza generalizada da qual estamos tratando, sendo também uma das causas, próximas ou remotas, do desequilíbrio que sofre a própria natureza. “Na Eucaristia Cristo está realmente presente e a Santa Missa é um memorial vivo da sua Páscoa. O Santíssimo Sacramento é o centro qualitativo do cosmos e da história”. (Bento XVI aos estudantes universitários em Roma 14/12/2006).

Se assim for – e claro que é – entende-se que subestimar esta verdade pode levar a consequências terríveis. Por isso, regressar à Eucaristia, redescobrir o valor da Missa e colocar a Presença Real do Senhor no seu devido pedestal, será um fator decisivo de ordem pessoal, social e ambiental! Como as coisas seriam diferentes no mundo se os corações desejassem se iluminar e inflamar pelo sol eucarístico!

Dezembro é um mês especial sobre o qual as graças do Advento e do Natal chovem como o orvalho suave. Pena que o paganismo invasor embotou o brilho das celebrações familiares e religiosas que outrora encantavam a todos, principalmente as crianças.

Peçamos ao divino Infante, através de sua Santa Mãe e de São José, poder encontrá-lo com frequência na Eucaristia desde agora e durante todo o ano de 2022, que se mostra tão incerto. Imitemos os anjos, os pastores, os magos; corramos ao encontro do Pão da Vida… que vem até nós. Não fechemos a porta para ele como fizeram os habitantes de Belém.

A gruta é um sacrário, o presépio um altar, o Menino Jesus, manjar celestial e Maria Santíssima, o modelo insuperável de como se deve adorar e comungar.

Mairiporã, São Paulo, dezembro de 2021

Por Padre Rafael Ibarguren EP – Assistente Eclesiástico das Obras Eucarísticas da Igreja.

Traduzido por Emílio Portugal Coutinho

ESPIRITUALIDADE: Amor sem limites (Parte 12/19)

Capa: Fragmento de um ícone de meados de
século XVII atribuído a Emanuel Lombardos.

Um Monge da Igreja do Oriente

AMOR SEM LIMITES

Tradução para o português:
Pe. André Sperandio

Ecclesia

24. O estrangeiro

Chegou ao cair da noite a um dos grandes conglomerados dos arredores. Alugou um quarto por alguns dias.

Aos olhos de todos, parecia sorridente, à vontade, familiar, sem abandono. A todos com quem falava, dava a impressão de que lhe conhecia há muito tempo, de que realmente existia para ele, e que aquela pessoa com quem falava lhe era de suma importância. Sua palavra ia diretamente ao que havia em cada um de mais profundo, de mais secreto. Suas perguntas inesperadas comoviam, às vezes, como um choque. Pareciam, ao mesmo tempo, perturbadoras e desejadas.

Uma mulher lhe perguntou:

— Diga-me francamente: que lhe pareço?

— Não és justa contigo mesma.

— O que quer dizer?

— Diga-me; por que tanto vermelho nos lábios e tanto rímel nos cílios?

— É que o tempo passa e eu gosto de parecer bela.

— Se soubesses o quanto és bela, não irias recorrer a esses meios. Existe em ti, escondida, uma beleza possível que não fazes ideia. A consciência dessa beleza não despertou ainda em ti. Não pode traduzir-se em teu rosto. Deixe que essa beleza interior se imponha. Se fará transparente através dos olhos. Tu serás de uma beleza irradiante.

A um servo, um humilde refugiado, disse-lhe:

— Pareces tão solitário.

— Não tenho ninguém. Sequer conheci meus pais.

— O que? Sim, ele te conheceu.

— Eles não me conhecem, em absoluto. Mas eu os conheci sem ser visto. Nunca os perdi de vista. Tens ouvido a meu respeito?

— Na casa de meu Pai perguntam sempre por ti.

— Mas, sou uma pessoa tímida. Não sei nem onde nasci.

— Sabes que Deus nasceu em uma manjedoura? Pouco importa onde se nasce.

— Mas, eu nunca estou seguro de ter um abrigo. Nesta casa de teu Pai, haveria um lugar para mim?

— Sim, Na casa de meu Pai há muitas moradas.

— Onde moras?

— Vem e verás.

Para uma mulher muito respeitada que se dirigia a um lugar de oração portando em sua mão o livro sagrado, disse:

— Sabes como usar este livro? Ele tem um bom lugar em tua vida! Tu o abres para encontrar nele respostas às tuas perguntas, esperança em tuas ansiedades, consolo em tuas dores. E isso é bom, mas esta não é a principal razão de sua existência. Ele não existe para responder às tuas perguntas. É ele, o livro, que irá te perguntar sobre ti mesma e te oferecer uma palavra, provavelmente inesperada. Não questione muito se o livro te escuta, mas esforça-te para escutar o livro, do mesmo modo como se ouve a voz daquele que clama no deserto.

A uma jovem mulher que acolhia a todas as solicitações sem encontrar felicidade dizia:

— Teu erro não está em amar demasiado; pelo contrário, não amas o suficiente. Pensas que estás liberada de todas os limites e não amas mais que nos limites, indo de um ao outro. Toda vez que pensas que amas, te isolas, te fechas em uma prisão para dois, como se estivessem sozinhos. Interrompes assim a grande corrente de amor que deve animar todas as almas; sufoca-te. Abra tuas janelas e ama em dependência do amor absoluto, em comunhão com amor infinito, com Deus.

Depois de alguns dias, o estrangeiro disse que iria partir. Aqueles que conversaram com ele estavam tristes. Alguém lhe perguntou:

— Porque te vás?

— Porque terminei o que devia fazer aqui. Agora, preciso fazer o mesmo em outros lugares.

— Mas, por que vieste aqui?

— Eu vim aqui para amar. Nada mais.

— Estamos nos sentindo unidos a ti. Algo mudou por aqui. Vamos sentir muito a tua falta.

— Eu não vou embora. Não estarei ausente. Vocês não ficarão sem mim.

— O que isso quer dizer?

— Se pensarem e agirem com o mesmo espírito que eu, sempre me encontrarão.

— Mas quem és?

— Não direi meu nome agora. Aos que querem viver em minha memória, somente a estes se lhes dará a saber quem Eu Sou.

25. Graça proveniente, exigente

Senhor-amor, não vá tão depressa! Eu não posso acompanhar-te! Estás indo rápido demais. Espere por mim, deixa-me te alcançar. Mas, Senhor, não paraste nem reduziste a tua marcha. Senhor, vejo que tomas o caminho para minha casa. Senhor, não faça qualquer esforço para ir aonde eu vivo. Eu me apresso em tua direção. Poderíamos conversar pelo caminho, parar um pouco. Seria menos cansativo para mim, e eu me sentiria menos confuso. Porém, já estás entrando em meu jardim. Senhor, eu sou muito indigno para te receber sob sob o meu teto! Mas Tu já abres a porta e vás entrando. Senhor, minha casa está em desordem, não está pronta para te receber! Porém, o amor sem limites já alcançou a minha sala e diz: "Ponha a mesa, esta noite, eu quero cear contigo".

26. Amiga do Bem-amado

Move-se sem qualquer ruído e rapidamente, graciosamente, em meio aos tumultos. Às vezes, rompe o silêncio, porém, sempre parece envolta no silêncio. Está neste mundo, mas parece pertencer por inteira ao mundo da graça. Sua figura está docemente iluminada pela luz invisível e se faz resplandecente para aqueles que a contemplam. Com mão forte e ligeira, toca, maneja tudo o que tocamos. Vê o que não vemos. Ouve o que não ouvimos. Nunca se recolhe. Cuida das feridas. Serve a mesa. Seus gestos são justos e precisos. Permanece de pé entre aqueles que estão sentados. Segue também de pé entre aqueles que se afastam. Seu coração vela durante a noite para aqueles que dormem. Vela. E desperta. Desperta o amor entre aqueles que estão ali sem amor. Transmite amor aos que tocam com o olhar a sua mão. Bebe incessantemente da fonte. Entrega-se com atenção apaixonada.

® NARCEA, S.A. EDIÇÕES
Dr. Federico Rubio e Galí, 9. 28039 - Madrid
® EDITIONS ET LIBRAIRIE DE CHEVETOGNE Bélgica
Título original: Amour sans limite
Tradução (para o espanhol): CARLOS CASTRO CUBELLS
Tradução para o português: Pe. André Sperandio
Capa: Fragmento de um ícone de meados de século XVII atribuída a Emanuel lombardos
ISBN: 84-277-0758-4
Depósito Legal: M-26455-1987
Impressão: Notigraf, S. A. San Dalmácio, 8. 28021 - Madrid

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF