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domingo, 5 de dezembro de 2021

ESPIRITUALIDADE: Amor sem limites (Parte 13/19)

Capa: Fragmento de um ícone de meados de
século XVII atribuído a Emanuel Lombardos.

Um Monge da Igreja do Oriente

AMOR SEM LIMITES

Tradução para o português:
Pe. André Sperandio

Ecclesia

27. Na fornalha

Filhos meus, queridos. Eu sei as dificuldades que suportais para conciliar o amor sem limites com a dor dos homens, com a dor do mundo.

Gostaria de ajudá-los a penetrar nesse mistério. O que eu quero dizer está nesta frase: o amor é um Deus que sofre. Vou falar-vos sobre o sofrimento do amor.

Deus sofre? Não imagináveis, nem por um instante, que ele pudesse ser diminuído ou vencido. Rejeitais qualquer concepção de um Deus limitado e finito. O amor sem limites não pode ser um Deus limitado.

Não deixeis de crer em minha omnipotência essencial. Só é necessário discernir melhor as condições sob as quais eu a exerço.

Não se trata, de modo algum, de um sofrimento imposto a Deus e que Deus o sofreria. Nadame pode ser imposto. Não posso sofrer nenhuma coerção externa.

Vosso Senhor-amor é um Deus vencedor.

Tomo sobre mim todo o sofrimento humano. Porém, assim o faço para superá-lo. Eu não sofro, senão, livremente, espontaneamente, assumo o sofrimento de uma maneira que me é própria.

Recusai a imagem de um Deus sentado num trono celestial que assiste impassível às lutas que ocorrem na Terra. Estou entre os que combatem, entre os que lutam. Tomo parte na luta contra a potência das trevas, contra o príncipe deste mundo, esta luta em que todo mal e sofrimento são episódios, eventos. Digo que eu luto; isto significa que eu não retiro dos homens da liberdade de escolher entre o amor ou contra o amor. O amor não terá que ser imposto pela força. Tenho minhas mãos atadas; as únicas armas que uso são a persuasão e graça.

Neste combate eu me firo; machucam-me toda vez que há uma negação ao amor. Mas, as feridas não me são infligidas como vítima passiva. Eu as enfrento. Não as recebo, antes, sou eu que vou "tomá-las" no sentido literal da palavra. Minha natureza divina não é afetada, mas sou atingido em meu contato, em minha união com a natureza humana. A tempestade se forma ao pé da montanha, mas seu topo continua cercado de luz.

Às vezes, acontece que, de acordo com as aparências, estou morto nessa ou naquela alma em que o amor está absolutamente ausente. Mas Deus não pode estar morto. A morte, este último inimigo, será derrotada, porque o amor é mais forte do que a morte e nem mesmo as mais caudalosas águas não poderiam afogá-la. A paixão e a ressurreição estão indissoluvelmente unidas. Quando disseres de todo o coração: "amo" e, acima de tudo: "amo o amor", já terás alcançado a experiência do que é eterno.

Mais precisamente: como é possível a mim entrar no sofrimento humano, se o sofrimento não entra em mim? Eu sou o ser, eu dou o ser, tudo o que o ser tem, o tem por mim. Tudo o que afeta o ser recebido, participado, seja lá o que for, também afeta - de outra forma, mas realmente - meu Ser. O Ser "conhece" tudo o que é. Não conhece a partir de fora, exteriormente, como nós conhecemos, mas conhece de dentro, interiormente. Não é suficiente afirmar tratar-se de um conhecimento por simpatia. É coincidência, identificação, vida com tudo o que ocorre, já que sou eu quem dá o fundamento para todas as coisas.

Conheço, pois, todo o sofrimento, mais intimamente, mais profundamente do que aquele que sofre. Conheço "vitalmente" o que cada ser experimenta, sem que, por isso, meu Ser sofra qualquer alteração. Nenhum aspecto de qualquer sofrimento me é estranho, nem está fora de mim. Eu sofro com todas as aflições dos homens, desposando-me ao máximo com elas, sem que isto afete a minha natureza, nem a diminua ou a corrompa. Toda aflição humana desencadeia em mim um novo impulso de amor que quisera arrastar em sua torrente tudo o que é negativo.

Mãe, que perdeste teu filho, esposa que perdeste teu marido, jovem que perdeeste tua namorada, pessoa enferma torturada pelocâncer, prisioneiro em um campo de concentração, dependente de álcool ou drogas ou de uma sexualidade egoísta... Eu me inclino sobre vossa miséria. Se soubésseis que eu não quiz isso, e que tudo é conseqüência das obras do inimigo, e que eu, invisivelmente, luto em vosso favor! Preparo-vos uma saída de luz. Agora é a hora e o poder da noite; o tempo de sua derrota ainda deve permanecer em segredo. Porém, meu amor vencerá as resistências e enchugará as lágrimas. O véu será retirado e então vereis claramente, compreendereis e elegereis.

Até chegaste a crer que o Deus-amor seria indiferente ao grito dos homens? Sabíeis tão pouco do vosso Deus! O amor veio até vós sob a forma de Servo sofredor, e sua vida entregue, imolada, expressava visivelmente o grande desejo divino. Muito antes de toda a eternidade, já havia aceitado e preparado um sacrifício em meu coração. Ainda hoje há uma paixão secreta e contínua do amor causada pela rejeição de suas inspirações, pela surdez ante suas iniciativas. A pequena pomba não encontra lugar para descansar em uma terra enlameada. Vosso Senhor-amor tem apenas um desejo: entregar constantemente a sua vida por todos os que ama. Não há amor maior...

A linguagem humana pode não ser capaz de bem expressar essas coisas. As realidades divinas excedem em muito as palavras dos homens. Os segredos do meu coração não são demonstrados. Podem, até certo ponto, ser captados por essas intuições, por essas revelações que alcançam aqueles que querem amar e servir ao amor. Não sofro humanamente, sofro "divinamente". Em vosso atual estado, não podeis oferecer precisão intelectual a esses termos. O que as palavras não conseguem é melhor sugerido por uma imagem ou um símbolo. Recordai aquele rei da Babilônia, que ordenou que fossem lançados em um forno ardente aqueles três jovens porque se recusaram a adorá-lo. O rei foi ver o que havia acontecido, e os encontrou caminhando na companhia de um outro jovem, um desconhecido, semelhante aos filhos dos deuses.

® NARCEA, S.A. EDIÇÕES
Dr. Federico Rubio e Galí, 9. 28039 - Madrid
® EDITIONS ET LIBRAIRIE DE CHEVETOGNE Bélgica
Título original: Amour sans limite
Tradução (para o espanhol): CARLOS CASTRO CUBELLS
Tradução para o português: Pe. André Sperandio
Capa: Fragmento de um ícone de meados de século XVII atribuída a Emanuel lombardos
ISBN: 84-277-0758-4
Depósito Legal: M-26455-1987
Impressão: Notigraf, S. A. San Dalmácio, 8. 28021 - Madrid

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF