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segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Milagre que aconteceu no Brasil levará amigo de Dom Bosco à canonização

Beato José Allamano | Agata Stele / ALETEIA

Ricardo Sanches - publicado em 06/10/23

O milagre atribuído ao Beato José Allamano envolveu a cura de um indígena e foi reconhecido pelo Vaticano.

Os Missionários e Missionárias da Consolata estão em festa, assim como a Diocese de Roraima, no Brasil. No dia 13 de setembro de 2023, todos souberam que um milagre atribuído à intercessão do Beato José Allamano (fundador da Consolata), foi reconhecido pelo Vaticano. Como resultado, ele deverá ser canonizado em breve.  

O milagre em questão ocorreu na diocese de Roraima e envolveu a cura do indígena Sorino Yanomami.

"Gratidão ao Beato José Allamano pela intercessão, pelo carinho com que nos acompanha e, sobretudo, gratidão a todos vocês. Sabendo que este é o dia que o Senhor fez para nós, doado à nossa igreja de Roraima e à igreja católica como um todo, mais um santo, mais um irmão que foi reconhecido", afirmou o padre Lúcio Nicoletto, Vigário Geral da diocese de Roraima, ao saber que o milagre havia sido reconhecido.

O milagre

O site da diocese de Roraima, lembra que, em 1996, Sorino, de 40 anos, foi atacado por uma onça e teve graves ferimentos no cérebro. Ele foi socorrido por enfermeiras que faziam parte da congregação da Consolata.

Uma das enfermeiras notou que Sorino estava com uma parte do cérebro para fora da cabeça. Após os primeiros socorros, ela pediu um avião para levá-lo ao hospital.

Os médicos disseram que as chances de sobrevivência do Yanomami eram muito baixas. Foi aí que os missionários e as missionárias que acompanhavam o caso pediram a intercessão do Bem-aventurado José Allamano, acreditando que apenas um milagre poderia salvar a vida daquele homem.

E o milagre aconteceu! Sorino Yanomami recuperou-se completamente das graves lesões e, pouco tempo depois, conseguiu levar uma vida normal em sua comunidade em Catrimani, na Terra Indígena Yanomami.

Tal milagre, finalmente reconhecido pela Igreja, é apenas um dos muitos casos extraordinários atribuídos à intercessão do Bem-aventurado José Allamano.

Quem foi José Allamano

José Allamano nasceu em Castelnuovo d'Asti, Itália, em 21 de janeiro de 1851. Durante a juventude, frequentou o Oratório de São João Bosco. No final dos estudos, sentiu-se chamado ao sacerdócio diocesano e, com apenas 29 anos, tornou-se reitor da Basílica da Consolata, em Turim. Em 1926 fundou duas Congregações dos Missionários da Consolata, uma para homens e outra para mulheres, sacerdotes e leigos que trabalhavam principalmente na África.

Ao longo de sua vida, permaneceu próximo de seu amigo Dom Bosco. Faleceu em Turim, em 16 de fevereiro de 1926. Seu corpo está preservado na Casa Mãe dos Missionários da Consolata, em Turim. Após o reconhecimento de um milagre devido à sua intercessão, foi beatificado por João Paulo II em 1990. O reconhecimento deste segundo milagre o levará à canonização.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2023/10/06/milagre-que-aconteceu-no-brasil-levara-amigo-de-dom-bosco-a-canonizacao/

domingo, 26 de outubro de 2025

Angelus: não seremos salvos ostentanto méritos, mas pedindo perdão pelos pecados

Angelus, 26/10/2025 - Papa Leão XIV (Vatican Media)

"Não tenhamos medo de reconhecer os nossos erros, de os expor, assumindo a responsabilidade por eles e confiando-os à misericórdia de Deus", foi a exortação do Papa no Angelus dominical, ao comentar o Evangelho do dia.

https://youtu.be/X_BvQUILUYE

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

 Após a celebração da missa na Basílica Vaticana, o Papa rezou o Angelus da janela de seu escritório com os milhares de fiéis reunidos na Praça São Pedro.  Antes de oração mariana, comentou o Evangelho deste 30º Domingo do Tempo Comum (cf. Lc 18, 9-14), que apresenta dois personagens que rezam no Templo, um fariseu e um publicano.

Ouça a reportagem completa com a voz do Papa Leão

O primeiro ostenta uma longa lista de méritos. As boas obras que realiza são muitas e, por isso, considera-se melhor do que os outros, a quem julga com desdém. A sua atitude é claramente presunçosa: observa rigorosamente a Lei, mas é pobre em amor e misericórdia.

O publicano também reza, mas de forma diferente. Há muito nele a ser perdoado, pois é um cobrador de impostos ao serviço do Império Romano. No entanto, no final da parábola, Jesus diz que, entre os dois, é ele quem volta para casa “justificado”, ou seja, perdoado e renovado pelo encontro com Deus. 

A multidão na Praça São Pedro para o Angelus dominical   (@VATICAN MEDIA)

Não tenhamos medo de reconhecer nossos erros!

O Papa Leão explicou que isso acontece, em primeiro lugar, porque o publicano tem a coragem e a humildade de se apresentar diante de Deus não obstante os olhares severos e os julgamentos mordazes. Coloca-se diante do Senhor, pronunciando poucas palavras: "Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador".

“Assim, Jesus transmite-nos uma mensagem poderosa: não é ostentando os nossos méritos que nos salvamos, nem escondendo os nossos erros, mas apresentando-nos tal como somos, honestamente, diante de Deus, de nós mesmos e dos outros, pedindo perdão e confiando na graça do Senhor.”

A exortação do Pontífice é para que façamos o mesmo: "Não tenhamos medo de reconhecer os nossos erros, de os expor, assumindo a responsabilidade por eles e confiando-os à misericórdia de Deus. Deste modo, poderá crescer, em nós e à nossa volta, o seu Reino, que não pertence aos soberbos, mas aos humildes. (...) Peçamos a Maria, modelo de santidade, que nos ajude a crescer nessas virtudes".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/

Depressão: O que faz a vida parecer tão sem sentido?

By Alexandr23/Shutterstock

Aleteia Brasil - publicado em 20/09/19 - atualizado em 24/10/25

Muitos de nós consideramos a depressão um tempo sombrio, uma página vergonhosa de nossa história, uma doença que aleija a alma.

O que faz a vida parecer tão frequentemente sem sentido a uma pessoa?” Esta é uma pergunta que você já pode ter se feito durante algum tempo, ou que esteja se fazendo agora. O que para os pássaros é a muda – época em que trocam de plumagem, os tempos difíceis –, a depressão é para os seres humanos.

Uma visão diferenciada

Talvez tenhamos um conceito muito negativo desta que se tornou a doença dos últimos tempos. Por isso, gostaria de propor-lhes uma visão diferenciada, um outro modo de encarar o que para nós possa ser sinônimo apenas de fracasso. Acredito que muitos frutos podem ser colhidos nesse tempo; lembro-me agora de algumas frutas próprias do inverno e de como alegram os dias chuvosos e sombrios. Passada essa época, permanece a lembrança, não das chuvas e do frio, mas dos frutos da estação.

Porém, antes de falarmos mais sobre este assunto, é imprescindível estabelecer a diferença entre a depressão de caráter endógeno e a depressão decorrente de lutas e angústias, que também podemos chamar de psico-espiritual. Esta definição é necessária, pois o nosso objetivo é tratar apenas desta.

Depressão endógena X Depressão psico-espiritual

As depressões endógenas podem ser desencadeadas por um fator psicológico, mas são condicionadas bioquimicamente e até hereditariamente alicerçadas. Nesse caso, é preciso uma farmacoterapia adequada e acompanhamento médico. Pode acontecer, inclusive, que esse tipo de depressão não esteja vinculado a nenhuma crise pessoal ou estressor social. Por exemplo, uma pessoa depressiva que traz em sua história familiar a depressão em gerações anteriores, ou que apresenta um déficit de serotonina, quando está livre da crise, consegue dedicar-se ao seu sentido de vida. Mas existem também os casos em que os dois tipos de depressão vêm juntos.

Vejamos agora o que é a depressão psico-espiritual, que tem acometido tantas pessoas, independentemente de faixa etária, nível socioeconômico, profissional e religioso. Segundo Victor Frankl, psicoterapeuta existencialista, essa depressão é causada por um vazio existencial, decorrente de uma falta de sentido de vida, podendo ser encontrado por trás de uma vida profissional excessiva, no refúgio de uma atividade desportiva, na fuga para o mundo dos romances ou televisão, nos fenômenos psicológicos de massa, no decaimento psicofísico dos aposentados, na necessidade de nunca se deixar descansar ou na febre de novas ações e novas experiências.

Esse vazio não chega a ser uma enfermidade, salvo quando acompanhado por sintomas na dimensão psicofísica, mas provoca um quadro depressivo – apatia, desânimo generalizado, desinteresse por tudo ao redor, podendo causar inclusive o suicídio –; adição – desespero frente ao tempo, corre-se atrás de um relógio, sem nunca parar, com receio de enfrentar seu próprio vazio –; e agressividade – pode ser explícita, como a que vemos tomar as manchetes de jornais de todo o mundo, e implícita, presente nos relacionamentos, nas discussões no trânsito etc.).

O Inverno e os frutos

Pronto! agora que você já sabe do que se trata a depressão, podemos voltar a falar de um assunto mais interessante: do inverno e dos frutos, dos pássaros e suas plumagens… Você já havia pensado na depressão como algo assim? Olhando-a desta maneira, não nos parece tão terrível, não é mesmo?!

Muitos de nós consideramos a depressão um tempo sombrio, uma página vergonhosa de nossa história, uma doença que aleija a alma. Difícil considerá-la um tempo de crescimento, de maturidade, de transformação… Será por causa da pergunta que se faz? Aquela acerca do sentido da vida? Afinal, reconhecer-se confuso, admitir que o mundo não lhe satisfaz, que a felicidade é simples, que o trabalho não lhe preenche, não é lá muito fácil! É preferível não mexer nisso, vestir o luto e ver no que vai dar. Sim ou não?! Não.

Vejamos o porquê: a depressão enquanto condição humana, se bem orientada, deve conduzir o ser humano à tomada de consciência da sua própria vida e do seu sentido último (nada de fugir de si mesmo!). Quando isso acontece, estamos falando de maturidade espiritual, uma vez que é reconhecida a necessidade de orientar-se para Alguém que o transcende – para quem fomos criados, para uma missão a realizar e/ou uma pessoa a conhecer e amar. Isso é próprio do ser humano, é uma lei inscrita em seu coração, não dá para negar esta verdade. Temos desejo de Deus.

Consideremos, então, a depressão uma prova que o Senhor nos envia. Não são todos os que o Senhor decide provar desta maneira, mas, permito-me dizer, que os escolhidos por Ele são dotados de muita coragem, pois a crise consiste em admitir que se está vazio e que é preciso encher-se; que se tem sede e precisa-se de água, e para isso é preciso romper com muitas coisas, como fez a samaritana. “Deus tem sede que tenhamos sede dele”, já dizia Santo Agostinho.

O motivo está dentro

Se conseguirmos entender a depressão desta forma, aceitaremos este meio que o Senhor escolheu para nos amar, e todo o vazio será ocupado por Sua presença que se encarregará de dar sentido à nossa vida. Mas, se buscamos um motivo fora de nós para tamanha tristeza e melancolia, muito pouco Deus poderá fazer por nós, uma vez que nos recusamos aceitar que temos sede Dele. Termino com uma citação de Santa Teresinha, intercedendo a Deus por você, que passa hoje por esta dor. Não esqueça: Ele não nos prova acima de nossas forças.

“É preciso que Deus nos ame com um amor todo particular para provar-nos desta maneira. Não percamos a provação que o Senhor nos envia, ela é uma mina de ouro a ser explorada, será que vamos perder a ocasião?”

Fonte: https://pt.aleteia.org/2019/09/20/depressao-o-que-faz-a-vida-parecer-tao-sem-sentido/

MEMÓRIAS: O Jesuíta do Cinema

Padre Angelo Arpa | 30Giorni.

MEMÓRIAS

Arquivo 30Dias nº 12 - 2003

O Jesuíta do Cinema

Padre Angelo Arpa. Interessado por tudo e por todos, revelava, em suas conversas e escritos, um espírito livre que nunca o colocava em contradição com o hábito que vestia.

por Gian Luigi Rondi

O cinema, mas também a cultura, devem muito ao Padre Angelo Arpa, o padre jesuíta que morreu recentemente aos 94 anos.

Conheci-o na década de 1950, quando lecionava cursos de cinema para estudantes eclesiásticos na Universidade Gregoriana, continuando-os com exibições e debates no escolasticado jesuíta da Piazza del Gesù. Culto, profundo e interessado por tudo e por todos, revelava, nas suas conversas e escritos, um espírito livre que nunca o colocava em conflito com os hábitos que usava ou com as regras que lhe foram dadas pela Companhia de Jesus, à qual ingressara aos vinte anos.

Viveu e trabalhou em Génova, onde lecionou filosofia no Instituto Arecco e onde foi um dos primeiros a apoiar e promover a experiência do cineclube iniciada em Roma pelo padre dominicano Morlion, e que eu, como presidente, continuei durante esse mesmo período. De 1960 a 1965, vi-o organizar um festival na Ligúria inteiramente dedicado ao cinema latino-americano, o primeiro do género em Itália. Logo em seguida, deu continuidade a uma de suas principais iniciativas, a criação da Fundação Columbianum, por meio da qual, além de continuar a abordar as questões culturais e sociais da América Latina, estendeu seu escopo à África, que descreveu como "abandonada em vergonhoso abandono".

Enquanto isso, porém, meu irmão Brunello, que, como eu, o admirava e respeitava, teve a oportunidade de apresentá-lo a Federico Fellini, com cuja obra ele colaborava. A partir daquele dia, em 1954, desenvolveu-se entre ele e Fellini um vínculo, rompido apenas com a morte deste. Um vínculo, aliás, que logo confirmou o quanto o cinema, e especialmente o de Fellini, devia ao Padre Arpa. Muito já se sabe sobre essa relação, especialmente dadas as circunstâncias que levaram o Padre Arpa a defender Fellini e seus filmes, mesmo quando muitos se opunham a eles. Ele era muito respeitado pelo Cardeal Siri, então Arcebispo de Gênova e Presidente da Conferência Episcopal Italiana, e não hesitou em recorrer a ele em diversas ocasiões para apoiar um autor de quem não só se tornara amigo, mas a quem muito respeitava. A primeira vez foi em 1957, com Noites de Cabíria , que também foi alvo de críticas em muitos círculos católicos. Após uma exibição muito reservada no palácio do arcebispo, o cardeal tranquilizou o Padre Arpa, que, por sua vez, tranquilizou Fellini, e depois disso tudo correu bem.

Padre Angelo Arpa retratado em uma charge de Federico Fellini | 30Giorni.

Uma tarefa mais difícil veio três anos depois, quando Fellini, com La Dolce Vita , se viu no olho do furacão, criticado pelo Osservatore Romano e atacado pela direita. Desta vez, também, o Cardeal Siri defendeu o filme, e alguns escritores jesuítas (Padre Nazzareno Taddei em Letture ) ofereceram elogios ponderados e ponderados, mas levou tempo para que o clamor e as muitas reservas oficiais diminuíssem. Leia o contexto desse episódio no último livro do Padre Arpa, publicado em 1996, L'arpa di Fellini . Junto com outros tópicos ("Fellini, a Pessoa e o Caráter", "Sexo e Sexualidade em Fellini"), há um capítulo intitulado "La Dolce Vita: Crônica de uma Paixão", que o Padre Arpa, com secreta ironia, subintitulou "O Pandemônio Político, Religioso e Cultural que a Criatura de Fellini Desencadeou em Roma nos Anos 60". Muitos mal-entendidos serão esclarecidos.

Além disso, há muitos livros do Padre Arpa que deveriam ser lidos por todos, especialmente agora que a Europa está sendo discutida com tanta intensidade: Papas e o Papado no Terceiro Milênio da Era Cristã, por exemplo; e também o Projeto Europa ( um projeto filosófico operacional sobre a história da Europa cultural ). Antes de sua morte, em 27 de março deste ano, o Padre Arpa doou todos os direitos desses livros à Fundação Inter-regional Europa e Comunidade Mundial, que ele havia desejado intensamente e posteriormente alimentado com ideias sempre novas.

Devemos a essa Fundação o fato de toda a sua trajetória cultural e operacional ter sido publicada, desde seus primeiros dias até seu trabalho consistentemente frutífero, mesmo em seus últimos anos. O texto, para o qual muitos de seus admiradores e amigos contribuíram, será intitulado alegoricamente " Eu Sou Minha Invenção" e também conterá numerosos testemunhos confiáveis ​​de figuras próximas a ele, mesmo que apenas em teoria. Li aquele escrito em Jerusalém pelo Cardeal Martini. Ela resume perfeitamente os mesmos sentimentos que aqueles de nós que tivemos a providencial sorte de ser amigos do Padre Arpa, o jesuíta do cinema, ainda sentimos.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Charles de Foucauld: A Missão no Deserto de Hoje (Parte 2/2)

O deserto de Tamanrasset na Argélia | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 01/02 - 2005

Charles de Foucauld: A Missão no Deserto de Hoje

Entrevista com o Cardeal Walter Kasper sobre o cristão que, sozinho, no início do século XX, construiu tabernáculos para "transportar" Jesus para o deserto argelino.

por Gianni Valente

Os chamados à missão estão longe de ser raros. No entanto, muitas vezes soam abstratos, se não mesmo exaustivos.
KASPER: Nós, cristãos, também somos filhos do nosso tempo; queremos planejar, fazer, organizar, monitorar resultados... Charles de Foucauld sugere uma abordagem diferente: imitar e viver a vida de Jesus em Nazaré. Pode-se perguntar: Jesus, trinta anos de vida oculta em Nazaré, dos trinta e três, será que isso foi uma perda de tempo? Na realidade, a própria realidade cotidiana, a realidade ordinária, é o verdadeiro espaço público onde se manifesta o dom da vida cristã. A esse respeito, podemos recordar uma passagem importante da constituição dogmática sobre a Igreja, Lumen Gentium , no parágrafo 31, onde o Concílio fala da missão dos leigos e diz que os leigos são fiéis que vivem no mundo, isto é, em condições ordinárias como o trabalho e outras atividades cotidianas. "Ali, nas condições ordinárias de sua vida cotidiana, eles tornam Cristo visível com o esplendor da fé, da esperança e da caridade." Às vezes, temos a ideia equivocada de que, para ser um leigo engajado na missão, é preciso ser um funcionário da Igreja, participando o máximo possível das funções do padre, tornando-se ativamente visível na liturgia, e assim por diante. Mas o mais importante é viver o Evangelho na vida cotidiana, na oração, na caridade, na paciência, no sofrimento, ser irmão de todos e estar convencido – como diz São Paulo – de que a própria Palavra de Deus, se acolhida e vivida por nós, é penetrante e convincente.

Muitos reconhecem que os cristãos se tornaram uma minoria. Mas dizem que, precisamente por isso, precisamos nos ocupar, ser criativos e revitalizar nosso trabalho. Essa abordagem o convence
? KASPER: Sim e não. Sim, se os cristãos despertarem, tomando consciência de sua condição, dos novos desafios e de sua missão. Não podemos nos contentar com o status quo e continuar como se nada tivesse acontecido. Isso é especialmente verdadeiro para a Europa Ocidental, que está passando por uma profunda crise de identidade, enquanto antes era claramente marcada pelo cristianismo. A Europa deve despertar de sua indiferença, que é uma falsa tolerância. Mas, por outro lado, existe o risco de nos comportarmos como propagandistas de uma minoria ou de um lobby sectário. Nesse sentido, não.ao fanatismo militante que encontramos em muitas seitas antigas e novas, que se tornaram um novo desafio em todo o mundo hoje. Especialmente desde o Concílio Vaticano II, é necessária uma abordagem baseada no diálogo, isto é, uma atitude de respeito mesmo para com aqueles que são considerados distantes, que talvez mantenham um vínculo tênue, mas duradouro, com a Igreja, e uma atitude de respeito para com a cultura moderna, cuja legítima autonomia é reconhecida pelo próprio Concílio. Não queremos e não podemos impor a fé, que por sua própria natureza não pode ser imposta; queremos — como afirma o Concílio Vaticano II na constituição pastoral Gaudium et Spes , parágrafo 1 — compartilhar as alegrias e esperanças, as tristezas e angústias da humanidade, especialmente dos pobres e de todos aqueles que sofrem, e, por meio dessa vida de partilha, dar testemunho da nossa fé.

Charles de Foucauld me pareceu interessante como modelo para realizar a missão do cristão e da Igreja não apenas no deserto de Tamanrasset, mas também no deserto do mundo moderno: a missão através da simples presença cristã, na oração com Deus e na amizade com os homens.

E de Foucauld tem algo a ver com isso?
KASPER: Essa atitude era típica de Charles de Foucauld. Basta pensar em sua amizade com os tuaregues, especialmente com seu líder Musa ag Amastan. Ele não fez nada para convencer ou proselitismo. O máximo que pôde fazer foi tornar o próprio Cristo acessível, carregando o tabernáculo para o deserto. Mas ele não elaborou estratégias elaboradas. Ele simplesmente viveu sua vida de oração e trabalho. Somente após sua morte ele encontrou seguidores, seguidores que hoje vivem entre os mais pobres, compartilhando suas experiências cotidianas.

Recentemente, em discussões sobre as raízes cristãs da Europa, até mesmo alguns pensadores seculares criticaram a Igreja por sua timidez em defender e propor verdades e valores. Como o senhor vê essas acusações? E o que diria de Foucauld?
KASPER: A acusação frequentemente feita contra a Igreja como um todo é certamente infundada; o Papa e muitos episcopados europeus se manifestaram clara e energicamente em favor da identidade cristã na Europa. Mas, ao mesmo tempo, é verdade que em algumas áreas e círculos dentro da Igreja existe uma certa timidez e fraqueza na defesa e na proposição da verdade e dos valores cristãos. Essa atitude muitas vezes decorre de uma fé frágil que perdeu suas certezas, sua determinação, que confunde tolerância com indiferença. Charles de Foucauld não declamava grandes slogans: seu comportamento nasceu de uma convicção completamente diferente. Ele começou com uma fé sólida e vivida, que em si mesma, mesmo sem grandes palavras, era um testemunho forte e corajoso, porém humilde, da mensagem cristã e de seus valores. Sem pretensões de propriedade, sem atitudes desafiadoras. No final de 1910, ele escreveu: "Jesus basta. Onde Ele está, nada falta. Quem nele confia é forte em sua força invencível." Tal testemunho pode levar outros à reflexão, a questionar, pode inspirar admiração e, se Deus nos conceder a graça, até mesmo o desejo de compartilhar esta vida de acordo com os valores cristãos. De fato, nossa defesa da identidade cristã da Europa só será convincente se vivermos os valores que defendemos. Não são as palavras, é a vida que convence. Seu mestre espiritual, o Padre Henri Huvelin, escreveu a de Foucauld em uma carta datada de 18 de julho de 1899: "Fazemos o bem com o que somos, muito mais do que com o que dizemos... Fazemos o bem quando pertencemos a Deus, pertencemos a Ele!" E quando isso acontece, não há necessidade de inventar mais nada. Basta "ficar onde está, deixar que as graças de Deus penetrem, cresçam e se consolidem em sua alma, e defender-se da agitação".

Até mesmo pedidos de perdão por pecados passados ​​foram vistos por alguns como uma expressão de fraqueza. O que o senhor diz sobre isso, à luz de de Foucauld?
KASPER: Charles de Foucauld estava certo em pedir perdão por sua vida desperdiçada antes de sua conversão. Ele nos mostra que um novo começo é sempre possível, pela graça divina. Nós também iniciamos cada celebração eucarística com um ato de penitência; isso seria completamente impensável em um comício político, uma reunião empresarial ou qualquer outra associação. Ao fazê-lo, expressamos nossa fraqueza, que é um ato de sinceridade, mas ao mesmo tempo manifestamos a força da mensagem cristã de misericórdia e perdão, isto é, a possibilidade de que Deus pode trazer mudança e dar um novo começo até mesmo a uma história humanamente sem esperança e sem saída. De Foucauld escreve em uma de suas meditações: "Não há pecador tão grande, nenhum criminoso tão endurecido, a quem não ofereçais em voz alta o Paraíso, como o destes ao bom ladrão, pelo preço de um momento de boa vontade." Pedir perdão, portanto, não é uma fraqueza, mas uma força; É a expressão de uma esperança que não esquece, nega ou renega o passado e, ao mesmo tempo, não se sente acorrentada a ele e pode olhar para o futuro. Pedir perdão é uma expressão da liberdade cristã, uma liberdade que conhecemos em Cristo. Pedir perdão não é um ato politicamente correto, mas está enraizado na natureza da Igreja e na sua mensagem.

De Foucauld com alguns tuaregues no deserto de Tamanrasset | 30Giorni.

O que os tuaregues da Argélia têm em comum conosco, moradores urbanos?
KASPER: De Foucauld leva Jesus Cristo "àqueles que não o buscam". Não é errado dizer que, em alguns aspectos, a situação dos tuaregues da Argélia é semelhante à de nossos contemporâneos urbanos, ou seja, à nossa própria situação, mesmo que exteriormente a diferença seja marcante; para eles é a pobreza material, para nós é a pobreza espiritual. O deserto é certamente diferente. Mas o ponto em comum é que nem eles nem nós estamos verdadeiramente "em casa" em lugar nenhum; estamos em movimento, somos nômades. Também compartilhamos uma certa letargia. Muitas vezes vagamos sem um destino claro ou uma esperança sólida. Somos, portanto, um povo entre o qual a pregação do Evangelho e a conversão são difíceis. Nessa situação, Charles de Foucauld nos oferece uma resposta profética, mas também exigente, em última análise, a única resposta possível: uma vida evangélica que manifeste a alternativa profética do Evangelho, tornando-a interessante e atraente novamente. Assim, Charles de Foucauld é uma figura luminosa e pode ser também um contrapeso válido ao perigo do aburguesamento e de uma banalização tediosa da Igreja.

Para de Foucauld, os pobres são os destinatários preferenciais da promessa de Cristo. O senhor não acha que a percepção da predileção pelos pobres se dissipou?
KASPER: Segundo Jesus, os pobres e os pequenos são os prediletos de Deus e os destinatários preferenciais da sua evangelização. São Paulo também nos diz que nas comunidades primitivas havia poucos ricos, poucos sábios, poucos poderosos e poucos nobres. O Concílio Vaticano II redescobriu e reafirmou este aspecto; depois do Concílio, falou-se muito da opção preferencial pelos pobres. A Teologia da Libertação inspirou-se nesta mensagem, mas por vezes explorou-a para fins ideológicos; ao fazê-lo, tornou-se ambígua. Isto não significa, contudo, que a mensagem já não seja válida e atual. Pelo contrário. A vasta maioria da humanidade vive atualmente abaixo da linha da pobreza, especialmente na África, onde Charles de Foucauld viveu entre os pobres. Esperamos, portanto, que sua beatificação reafirme, num sentido completamente não ideológico, a urgência de enfrentar o desafio da pobreza, tanto material quanto espiritual, e nos mostre a resposta evangélica, que ele viveu de forma exemplar, que o mundo de hoje deve oferecer.

Fonte: https://www.30giorni.it/

“Não temas, pequeno rebanho”. Evangelizar em uma época de mudanças (1) (Parte 3/3)

Combate, proximidade e missão (Opus Dei)

“Não temas, pequeno rebanho”. Evangelizar em uma época de mudanças (1)

É hora de mudar o olhar, de passar da nostalgia à audácia, de uma fé em posição defensiva a uma fé que propõe com confiança uma visão do mundo e da vida.

23/10/2025

Uma fé que procura mil modos de ser anunciada

E então? Então é a hora de ter outro olhar, de passar da nostalgia à audácia, de uma fé defensiva a uma fé que propõe com confiança uma visão do mundo e da vida. Diante deste mundo tão prometedor, mas aparentemente cheio de gigantes – tecnológicos, financeiros, culturais, mediáticos – somos chamados a confiar em Deus e a tomar uma decisão. Podemos idealizar com nostalgia os “bons tempos passados”: é tão fácil pensar, agora, que antes tudo era mais fácil... No entanto, além de que não era bem assim, nem sequer em toda parte, tal olhar bloqueia o apóstolo que observa com apreensão este mundo pós-cristão, e espera que melhore sozinho. A confiança em Deus, pelo contrário, leva-nos a olhar à frente e a enfrentar com assombro juvenil um mundo que tem às vezes muito mais de pré-cristão, porque deve descobrir, quase outra vez, a novidade de Cristo.

“Quem é esta que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol?” (Ct. 6, 10). Nesta passagem bíblica, São Gregório Magno descobre a Igreja como o verdadeiro amanhecer do mundo, embora este amanhecer esteja a caminho até o final dos tempos. O novo dia não está atrás de nós, e sim na frente: “Nós, que nesta vida vamos seguindo a verdade somos como o alvorecer ou o amanhecer, porque já atuamos em parte segundo a luz, mas, em parte conservamos também restos de trevas (...). A santa Igreja dos eleitos será pleno dia quando já não tiver mistura alguma da sombra do pecado”[8].

Este olhar, que não é simplesmente um bonito ponto de vista, permite que nos enchamos de esperança e aceitemos o desafio que São João Paulo II lançou-nos quando começou a falar de uma “nova evangelização”[9]: uma renovada ação apostólica que requer cada vez mais iniciativa e criatividade pessoal. Se é verdade que hoje a Igreja já não pode contar com o vento a favor da cultura dominante, do “espírito dos tempos”, continua tendo, no entanto, um vento muito mais poderoso, o Espírito da verdade que, também nesta nova era de missão apostólica nos ensinará e nos recordará tudo (cfr. Jo 14, 26), para que possamos levar a todas as partes a vitalidade renovadora do Evangelho.

Hoje podemos reconhecer novamente em nossa própria pele – por nossa fragilidade, tanto numérica como pessoal – essa experiência de São Paulo: “Levamos um tesouro em vasos de barro” (2 Cor 4, 7). E talvez, precisamente agora, neste tempo que nos põe à prova, Deus nos convide a uma atitude mais missionária, criativa, pessoal, como a dos apóstolos e dos primeiros discípulos. Com uma fé que não se limita a defender-se, mas que procura mil modos de ser anunciada. “Impelidos pela força da esperança, (...) redescobriremos o mundo numa perspectiva feliz, porque o mundo saiu belo e limpo das mãos de Deus, e é assim, com essa beleza, que o havemos de restituir a Ele”[10].

“Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12, 32). Assim confortava Jesus o pequeno grupo de discípulos desorientados e cheios de dúvidas que o rodeava. E Ele o repete hoje a nós. Quando a fé é viva, é contagiosa. E essa vitalidade a torna perdurável. Os primeiros cristãos não tinham poder, nem estruturas, nem números. No entanto, um a um, com o fogo de Cristo que levavam no coração[11], transformaram o coração de muitos. Nós, cristãos de hoje, somos chamados a viver mais uma vez a parábola de Jesus que também descreve a Igreja das primeiras gerações: o levedo é pouco, mas fermenta toda a massa (cfr. Mt 13, 33).


[8] São Gregório Magno, Tratados morais sobre Jó 29, 2-4 (PL 76, 478-480).

[9] São João Paulo II usou pela primeira vez esta expressão em uma homilia na Polônia, no dia 9/06/1979 e repetiu de um modo jamais programático no Haiti no dia 9-03-1983; nessa ocasião falou de “uma evangelização nova. Nova em seu ardor, em seus métodos, em sua expressão”. Cfr. também Christifideles laici (1988), nn. 34-35, Redemptoris Missio (1990) nn. 33-34 e Novo Millennio ineunte (2001) n. 40.

[10] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 219.

[11] Cfr. Caminho, n. 1.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/nao-temas-pequeno-rebanho-evangelizar-em-uma-epoca-de-mudancas-1/

Reflexão para o 30º Domingo do Tempo Comum (C)

Evangelho do domingo  (@ BAV Vat. lat. 39, f. 67v)

Jesus não quer que sejamos soberbos e nem tenhamos posicionamentos egocêntricos, colocando o acento em Nós e não no Pai. Se somos bons, se cumprimos os mandamentos e fazemos o que nos pede o Evangelho, é porque Deus nos deu sua graça.

Vatican News

A parábola que o Senhor nos relata neste domingo fala de dois homens que vão rezar no Templo de Jerusalém. Os dois são filhos de Deus e os dois sentiram um apelo à oração, por isso podemos dizer que foram chamados a se encontrar com Ele.

Mas quem são esses homens? Um é fariseu, pessoa voltada ao cumprimento da Lei, a fazer um enorme esforço para sempre estar de acordo com o que Deus pedia. O outro, um publicano, alguém pertencente a um grupo de má fama, um homem de má fama.

O primeiro era uma pessoa honesta e íntegra. Fazia até mais do que era prescrito. Contudo, isso lhe provocava um certo orgulho, uma certa vaidade e, ao mesmo tempo, um desprezo pelos pecadores.

O segundo, o publicano, era um esperto cobrador de impostos, oprimia os pobres e, para se redimir, deveria pagar uma soma exagerada, praticamente impossível.

No entanto, o Senhor diz que a oração do publicano foi ouvida e a do fariseu, não. Por quê?

Com esta parábola, o Senhor não deseja dar lição de moral, de mostrar quem está certo ou errado, mas o Mestre quer nos instruir no relacionamento com Deus

A grande falha do fariseu foi atribuir sua vida honesta e seus atos corretos a si mesmo, como mérito seu, e apresentá-los como dignos de justificação. Deus não deveria fazer nada mais do que elogiar os atos do fariseu e lhe dar o prêmio merecido com sua atitude de homem do bem. Era esse o pensamento do fariseu. Ele não pede a Deus uma justificação, uma redenção, mas um reconhecimento. Ele se esqueceu que foi Deus quem o conduziu pelo bom caminho e lhe proporcionou fazer o bem e viver com dignidade.

Quanto ao publicano, ele se apresenta de modo humilde, sabendo de suas imperfeições e confiando na misericórdia e na graça de Deus. Ele não se desculpa, mas sabe que Deus tem um coração enorme, que é Pai, que é Amor.

Jesus deseja que nós purifiquemos nossa visão de Deus. Ele não é um contador bancário e nem um entregador de prêmios.

Jesus não quer que sejamos soberbos e nem tenhamos posicionamentos egocêntricos, colocando o acento em Nós e não no Pai. Se somos bons, se cumprimos os mandamentos  e fazemos o que nos pede o Evangelho, é porque Deus nos deu sua graça.

Jesus é contra o grupo dos bons verso o grupo dos maus. Ele morreu por todos e não lhe agrada que nos sintamos especiais e desprezemos os outros. E por falar na morte de Jesus, ele escolheu morrer entre dois ladrões. Um ciente de ser pecador e culpado de seus crimes, se reconheceu em débito com Deus, mas absolutamente confiante na misericórdia divina. O outro, não só não estava arrependido, mas desafiou Jesus a largar a cruz e salvá-los.

Tenhamos sempre a atitude humilde de saber que, por mais que nos esforcemos, jamais seremos perfeitos e tudo o que fizermos de bom será realizado com a ajuda da graça de Deus.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Santo Evaristo

Santo Evaristo (A12)
26 de outubro
Santo Evaristo

No atual Anuário dos Papas encontramos Evaristo em pleno comando da Igreja católica, como quarto sucessor de Pedro, no ano 97. Era o início da era cristã e poucos são os registros sobre ele. Somente encontramos algumas indicações sobre sua vida nas obras de Irineu e Eusébio, escritores dos inícios do cristianismo.

Evaristo era grego e foi formado na Antioquia. Em Roma ocupou o cargo de papa como sucessor de Clemente. Ele governou a Igreja durante nove anos, nos quais incentivou o crescimento das lideranças nas comunidades, ordenando pessoalmente muitos padres, bispos e diáconos.

Atribui-se a Evaristo a divisão de Roma em “títulos” ou paróquias com um padre encarregado delas. Esses títulos são o embrião dos futuros títulos dos cardeais-presbíteros ou padres. Também teria ordenado que os bispos pregassem sempre na presença de diáconos, náo só pela solenidade, mas para ter quem pudesse atestar sobre o que o bispo tinha pregado.

Papa Evaristo morreu em 107. Uma tradição muito antiga afirma que ele teria sido mártir da fé durante a perseguição imposta pelo imperador Adriano, e que depois seu corpo teria sido abandonado perto do túmulo do apóstolo Pedro.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR

Reflexão:

Muitos dos papas da Igreja foram exemplos de santidade e respeito pelo povo de Deus. Evaristo destacou-se pelo carinho com que dirigiu as primeiras comunidades cristãs, sendo ele próprio um pastor zeloso e preocupado pessoalmente com a evangelização do fiéis. Rezemos também hoje por nosso atual pontífice.

Oração:

Ó Deus, que concedestes ao Papa Santo Evaristo a graça do Magistério Romano, permiti que, pela sua intercessão, sejamos sempre fiéis ao papa e aos Bispos a ele unidos. Por Cristo, nosso Senhor. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 25 de outubro de 2025

O Papa: uma Igreja sinodal remove os obstáculos culturais que são fonte de discriminação

Jubileu das Equipes Sinodais, 24/10/2025 - Papa Leão XIV (Vatican Media)

Na Sala Paulo VI, Leão XIV manteve uma conversa improvisada com os participantes do Jubileu das equipes sinodais e dos órgãos de participação, respondendo a sete perguntas de delegados de todos os continentes. Ele exaltou a vocação missionária da Igreja, que deve "escutar o clamor da terra" e trabalhar para garantir que os carismas de todos sejam respeitados. Ele encorajou a ser "uma ponte entre culturas e religiões", construtores de paz e comunhão. Temos muito a aprender com a Ásia e a África.

https://youtu.be/CG6jOa40FM4

Antonella Palermo - Vatican News

Aprender. Esta foi uma das palavras mais recorrentes nas respostas que Leão XIV deu esta tarde de sexta-feira, 24 de outubro, aos representantes das equipes sinodais e órgãos de participação, que atualmente celebram seu jubileu. Eles representaram sete regiões geográficas, que apresentaram ao Papa seu trabalho de implementação da sinodalidade em seus respectivos contextos eclesiais. Moderou este momento de diálogo entre os delegados e Leão XIV, na Sala Paulo VI, a irmã Nathalie Becquart, subsecretária do Sínodo dos Bispos, organismo que este ano celebrou seu sexagésimo aniversário. Recordando a afirmação de Paulo VI de que a primazia e a colegialidade não podem ser vividas sem a sinodalidade com todos os batizados, a religiosa iniciou o encontro de modo que seja restituída uma síntese dos frutos do processo sinodal em nível continental (que se realizou de outubro de 2021 a outubro de 2024). Ao lado do Papa estavam o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, e dom Luis Marín De San Martín, O.S.A., subsecretário da Secretaria Geral do Sínodo.

A Igreja na África tem muito a oferecer a todos

Um panorama do caminho sinodal na África foi oferecido pelo padre Rafael Simbine Junior, sacerdote da Diocese de Xai-Xai, em Moçambique, e secretário-geral do Simpósio das Conferências Episcopais da África e Madagascar (SCEAM-SECAM). Um percurso que deu grandes passos, afirmou, e que se abriu em todas as paróquias porque "a sinodalidade não é uma campanha com prazo, mas um modo de ser Igreja que deve ser aprendido, praticado e transmitido". Os espaços de encontro com outros movimentos religiosos e até mesmo na esfera pública se multiplicaram, porque o contato com a sociedade, junto com a escuta e a formação, é o princípio norteador: "É o movimento de saída de uma Igreja que escuta. Discernimos juntos e depois caminhamos com a sociedade para o bem comum". Ele enfatizou ao Papa que "o dom da África para o caminho sinodal é um sentido vivo de família, resiliência e esperança". A pergunta feita ao Pontífice foi: como as Igrejas locais, particularmente na África, podem realizar o discernimento que não seja condicionado pela imposição de "modelos uniformes" que correm o risco de enfraquecer sua iniciativa?

A mesa do Papa com os delegados e os líderes da secretaria do Sínodo dos Bispos, na Sala Paulo VI   (@Vatican Media)

Desde o início, o Papa retomou a palavra "missão", inspirado em sua própria experiência como missionário. Ele recordou a ênfase do Papa Francisco na importância, no processo sinodal, de levar o Evangelho a todas as partes do mundo, até os confins da Terra. "Acredito que a Igreja na África tem muito a oferecer a todos nós", explicou o Papa, especialmente porque "a Igreja pode ser uma ponte". Ele prosseguiu, destacando como, graças aos jovens e às famílias, ela pode ser "um instrumento para construir a paz e oferecer modelos tanto dentro da África, entre os países africanos, mas também entre os diferentes países e continentes do mundo". Em seguida, ele nos convidou a sermos claros: "Não buscamos um modelo uniforme, e não apresentaremos um modelo padrão que todos, em todos os países, dirão: 'É assim que se faz'. Trata-se, antes, de uma conversão ao Espírito de ser Igreja e missionários e de construir, neste sentido, a família de Deus". A seguir, acrescentou:

Especialmente em culturas onde nós, cristãos, não somos a maioria, muitas vezes com membros de outras religiões, tanto regionais quanto globais, como o islamismo, os desafios existentes também são grandes oportunidades. Creio que o que a maioria de nós vivemos nos últimos anos, em preparação para o Sínodo e no início deste novo processo de implementação, é precisamente que a sinodalidade, para usar suas palavras, não é uma campanha. É um modo de ser e um modo de ser Igreja. É uma maneira de promover uma atitude que começa com o aprendizado da escuta recíproca. E o dom da escuta é algo que creio que todos reconhecemos, mas que muitas vezes se perdeu em alguns setores da Igreja, e algo cujo valor acredito que devemos continuar a descobrir, começando pela escuta da Palavra de Deus, pela escuta recíproca, pela escuta da sabedoria que encontramos nos homens e mulheres, nos membros da Igreja e naqueles que buscam, mas que talvez ainda não são e talvez nunca serão membros da Igreja, mas que estão realmente buscando a verdade.

Jubileu das Equipes Sinodais, 24/10/2025 - Papa Leão XIV

https://youtu.be/OQi0QbukNx8

O Papa com os participantes do Jubileu das equipes sinodais e dos órgãos de participação

Escutar o grito de quem sofre

Em viagem para Fiji, Susan Sela, representando a Federação das Conferências Episcopais Católicas da Oceania (FCBCO) e diretora do Instituto de Educação Técnica e Continuada do Pacífico no arquipélago, relatou o trabalho da Igreja no continente, que, segundo ela, viaja em velocidades diferentes, em meio à fragilidade ecológica e à riqueza cultural. Aqui, o caminho sinodal é entendido principalmente como "conversão espiritual". Austrália, Nova Zelândia, Papua-Nova Guiné e Ilhas Salomão, nações do Pacífico e Igrejas Católicas Orientais, formam uma rede na qual a sinodalidade também se torna também aceitação da cultura indígena, inclusão de pessoas com deficiência e integração cultural. Duas experiências dignas de nota: em Fiji, uma equipe de 57 membros encarna a Igreja como uma "tenda ampliada", garantindo que as vozes das periferias sejam centrais; na Austrália, o impulso pós-Concílio Plenário deu origem a sínodos diocesanos desde fevereiro de 2023, apoiados pela coordenação nacional. Aqui, a pergunta ao Papa diz respeito à organização eclesial e ao possível crescimento futuro do papel dos agrupamentos (no âmbito das Conferências Episcopais Continentais, Conferências Episcopais nacionais ou regionais e Províncias Eclesiásticas).

A Sala Paulo VI durante o encontro desta tarde entre o Papa e as equipes sinodais e órgãos de participação   (@Vatican Media)

A resposta é "sim". Ele espera que as Igrejas cresçam na comunhão por meio do exercício da sinodalidade. Ele se lembrou de ter encontrado recentemente um bispo desta mesma região, muito preocupado com as consequências das mudanças climáticas, que podem ameaçar a própria sobrevivência da região.

Apreciamos o luxo de sentar em espaços muito confortáveis ​​e refletir sobre coisas que às vezes podem parecer muito teóricas. Mas quando ouvimos o grito urgente de pessoas em diferentes partes do mundo, seja devido à pobreza ou à injustiça, ou por causa das mudanças climáticas ou talvez por uma série de outras causas, percebemos que não estamos apenas refletindo sobre questões teóricas e que uma resposta urgente é necessária. Este é um caso específico em que espero que todos levemos muito a sério o apelo que o Papa Francisco fez a toda a Igreja e ao mundo há dez anos na Laudato si', dizendo que isso também faz parte da nossa resposta de fé ao que está acontecendo em nosso mundo. Não podemos ser passivos. Portanto, espero fervorosamente que, por meio das conferências episcopais, das províncias eclesiásticas e das conferências continentais, possamos abordar algumas dessas questões muito específicas e fazer a diferença. Acredito que a Igreja tem voz, e devemos ter a coragem de levantar nossa voz para mudar o mundo, para torná-lo um lugar melhor.

Outra imagem do Sala Paulo VI   (@Vatican Media)

Sem formação sempre haverá resistência e medo

Da América do Norte, dom Alain Faubert, bispo de Valleyfield (Canadá), membro do Conselho Ordinário do Sínodo, apresenta um continente multiforme que ele chama de "uma tapeçaria eclesial", na qual a pobreza e a realidade das comunidades migrantes impactam as Igrejas locais nos Estados Unidos e no Canadá. Embora essa diversidade seja uma oportunidade de crescimento, permanece a necessidade contínua de promover a verdadeira comunhão e acolhimento para quem chega de outros países. É necessário um maior comprometimento para estabelecer uma comunicação eclesial colaborativa mais sólida com a América Latina, particularmente com o México. Alguns, observou o prelado, temem uma incompreensão da sinodalidade que possa exacerbar as tensões existentes. Um comitê nacional ad hoc foi criado para acompanhar, apoiar e coordenar os esforços para implementar a sinodalidade em toda a Igreja no Canadá. Leão XIV foi questionado sobre a preocupação daquele segmento de bispos e clero que olha a sinodalidade como uma fonte de enfraquecimento da autoridade dos pastores. Pede-se orientação para promover melhor a corresponsabilidade, a prestação de contas e a transparência nas dioceses e paróquias.

O Papa Leão refletiu sobre o Canadá e os Estados Unidos, que ele vê como dois países que já foram aliados, mas agora estão em processo de separação. Em relação a essa tendência, ele enfatizou a importância da sinodalidade, que, segundo ele, deve ser implementada concretamente. Ele convidou todos a refletirem sobre a questão, "os sacerdotes, ainda mais do que os bispos", a abrirem seus corações e participarem desses processos. Ele acrescentou que a resistência muitas vezes decorre do medo ou da falta de conhecimento e, por isso, enfatizou a educação, sem a qual "haverá resistência e incompreensão". Em seguida, o Papa retornou à questão do "ritmo":

Precisamos entender que nem todos corremos na mesma velocidade e que, às vezes, precisamos ser pacientes uns com os outros. E, em vez de ter poucas pessoas que correm na frente e deixando muitos outros para trás, o que poderia até causar uma fratura na experiência eclesial, precisamos buscar maneiras, às vezes muito concretas, de entender o que está acontecendo em cada lugar, quais são as resistências ou de onde elas vêm, e o que podemos fazer para fomentar cada vez mais a experiência de comunhão nesta Igreja, que é sinodal. Portanto, acredito que na realidade concreta, compreendida dentro da cultura norte americana, dos Estados Unidos, onde muitas estruturas existentes têm, de fato, grande potencial para serem sinodais, e encontrar maneiras de continuar transformando-as em experiências mais inclusivas, seja nos conselhos pastorais ou outras estruturas diocesanas ou encontro, a inclusão de pessoas — homens e mulheres, leigos e clérigos, religiosos, etc, que todos possam  participar e experimentar um forte senso de pertença, liderança e responsabilidade na vida da Igreja.

Redescobrir o entusiasmo da fé para levar reconciliação

O Conselho dos Patriarcas Católicos do Oriente (CPCO) foi representado por dom Mounir Khairallah, bispo de Batrum, presidente do Comitê Patriarcal Maronita para o Acompanhamento do Sínodo. Sua mensagem também pretende ser um clamor por justiça "em nome de nossos povos oprimidos e sem voz, mensageiros de esperança e construtores de paz". No âmbito da Igreja Maronita, a sinodalidade foi proposta como tema para a formação permanente dos sacerdotes e, nas diversas dioceses do Líbano, país que o Papa visitará no início de novembro, foram organizadas sessões para bispos, párocos, delegados de dioceses e ordens religiosas e movimentos eclesiais, enfatizando o valor do diálogo. Neste caso, a pergunta feita ao Sucessor de Pedro foi: quais mudanças "urgentes" as Igrejas Orientais são chamadas a colocar a sinodalidade em prática também no âmbito dos seminários, noviciados e formação dos leigos?

Duas salvas de palmas da assembleia sublinharam as palavras do Papa em resposta ao testemunho de um lugar que hoje, ressaltou Leão XIV, "precisa de sinais de esperança". Ele indicou na busca do dom do entusiasmo, nas Igrejas do Oriente Médio e também entre os cristãos da diáspora, um grande e essencial sinal de esperança. Na terra onde Jesus nasceu, onde viveu, onde foi martirizado e onde ressuscitou dos mortos, este, disse Leão XIV, é "o sinal supremo de toda a nossa esperança". E, com base nisso, ele nos convidou "a ser verdadeiros promotores do perdão e da reconciliação, tão necessários, a aprender que, perdoando e trabalhando pela reconciliação, podemos verdadeiramente construir uma maior unidade entre todos os povos". Seguiu-se um novo apelo à unidade:

Como Igreja, devemos estar unidos e nos unir para sermos esse autêntico sinal de esperança, mas também uma expressão muito real da caridade cristã, do amor fraterno e do cuidado mútuo, especialmente para com aqueles que perderam tudo devido à destruição da guerra, devido à existência do ódio entre nós. Acredito que os desafios que as Igrejas Orientais continuaram a enfrentar e continuam a enfrentar no Oriente Médio são algo que nós, ocidentais, precisamos entender melhor, por assim dizer, e que, observando os processos sinodais, devemos entender que também existem diferenças significativas entre a Igreja Latina e as Igrejas Orientais. Devemos respeitar essas diferenças. Acredito que este é o primeiro passo em qualquer comunidade, em qualquer organização humana: se não nos respeitarmos, nunca começaremos a nos conhecer e a nos aproximar.

A mesa do Papa durante o encontro com as equipes sinodais   (@Vatican Media)

Construir percursos de inclusão

O relatório sobre o progresso da América Latina e do Caribe foi confiado a Nicolás Meyer, membro da equipe sinodal do CELAM e coordenador da Conferência Regional da Cáritas. Todos os países desta região estão trabalhando com grupos ou comissões episcopais nacionais, e alguns já identificaram caminhos imediatos: da reforma da estrutura das Conferências Episcopais ao aprimoramento dos processos de escuta, da formação de agentes pastorais à renovação dos processos de evangelização. O Grupo de Reflexão Teológica do CELAM está trabalhando em um livro sobre a "sinodalização" das estruturas eclesiais, enquanto a oferta de cursos e catequese on-line foi ampliada. Também foi lançada a iniciativa "Juntos", com o objetivo de desenvolver uma rede de redes teológico-pastorais na região pan-americana que integre múltiplos esforços em direção à sinodalidade. Um grupo de trabalho foi encarregado de explorar as questões de transparência, prestação de contas e avaliação em todos os processos pastorais, adotando-as como prática e estilo eclesiais — um tema ainda pouco desenvolvido no continente. Um site para reunir as experiências de uma Igreja que cresce em comunhão e participação. Aqui, o Papa foi convidado a responder como o processo sinodal pode encorajar e inspirar sociedades mais inclusivas, justas e construtoras da paz.

O Pontífice expressou gratidão por tudo o que está sendo realizado na América Latina, onde ele aprendeu muito em sua missão. Exaltou o espírito de comunhão que tradicionalmente faz parte da própria cultura desses povos. Eles nos ensinam a praticar a fraternidade, observou o Papa, e também a continuar um caminho autenticamente sinodal que nasce da escuta da Palavra. Em seguida, enfatizou o entusiasmo, ingrediente necessário que leva ao contágio da fé para que "outros queiram se unir a nós e ser construtores de paz e comunhão". E acrescentou:

Raramente me inspirei em um processo; sinto-me inspirado por pessoas que vivem sua fé com entusiasmo. E viver esse espírito — e estamos falando de espiritualidade — de sinodalidade, mas é a espiritualidade do Evangelho, de comunhão, de querer ser Igreja. Esses são aspectos que podem realmente nos inspirar a continuar sendo Igreja e a construir caminhos de inclusão, convidando muitos outros — todos — a nos acompanhar, a caminhar conosco.

A Igreja pode transformar culturas que discriminam as mulheres

Klára Antonia Csiszár, membro da equipe sinodal do Conselho das Conferências Episcopais Europeias (CCEE) e professora de Teologia Pastoral na Universidade Católica de Linz, Áustria, oferece uma perspectiva europeia, com foco tanto na interação entre patrimônio das Igrejas Ortodoxas Orientais, fonte de enriquecimento, e do Ocidente, quanto na questão das mulheres. Nesse sentido, a professora observou uma disparidade de abordagens e sensibilidades, que vão desde uma abertura marcante até formas de resistência, ceticismo ou medo quanto à possibilidade de promover a liderança feminina. Ela explicou, por exemplo, que em regiões pós-comunistas ou novas democracias, os bispos sinceramente engajados em processos sinodais ainda são a exceção, e não a norma; onde, no entanto, existem tradições federais sólidas e governança participativa, caminhos naturais para um estilo de vida sinodal se desenvolveram: cooperação ecumênica, estruturas colaborativas e órgãos consultivos fazem com que a sinodalidade pareça orgânica, não imposta. Csiszár acrescentou que, quando as expectativas são repetidamente frustradas, a resignação se instala. Ela também observou que uma base acadêmica sólida vem de faculdades e universidades teológicas como Leuven, com seu Centro de Modelos de Liderança Sinodal e Consultoria Internacional, e Linz, com seu Departamento de Sinodalidade, que promove pesquisa e formação inovadoras no campo da sinodalidade. As perguntas feitas foram: Que esperanças as mulheres podem legitimamente nutrir numa Igreja sinodal? Acredita que uma verdadeira mudança cultural está em andamento na Igreja, para que a igualdade entre mulheres e homens na Igreja possa se tornar uma realidade no vivida?

Aplausos dos participantes do Jubileu das equipes sinodais   (@Vatican Media)

Em sua resposta, o Papa recordou duas lembranças pessoais. A primeira dizia respeito à sua vida em uma família católica, com pais muito ativos na paróquia. Era a década de 1970, e, voltando-se para sua mãe, perguntou-lhe se ela queria ser igual aos homens, ao que ela respondeu, sem brincadeira: "Não, porque já somos melhores!" A outra experiência, do Peru, dizia respeito a uma congregação de religiosas consagradas cujo carisma é trabalhar onde não há sacerdotes. "Elas podem batizar; são testemunhas oficiais em casamentos; fazem um trabalho missionário maravilhoso, que é verdadeiramente um 'testemunho' também para muitos sacerdotes. Essa é a coragem necessária", afirmou Leão, "para anunciar o Evangelho, e são as mulheres que o fazem!" Adiando sua resposta a "perguntas mais difíceis que fazem parte de um grupo de estudo que está sendo apresentado", o Pontífice esclareceu que o problema não é a falta de oportunidades, mas sim a existência de "obstáculos culturais" que efetivamente impedem as mulheres de exercer "o que poderia muito bem ser o seu papel", fazendo-as sentir-se em segunda classe. Ele mencionou os preconceitos e discriminações que ainda existem em alguns países, "que vão claramente contra o Evangelho, e muitas vezes somos impotentes diante dessas realidades". Há muito a ser feito, está convencido o Papa Leão. "Creio que a Igreja já oferece oportunidades para iniciar e continuar esse caminho, e devemos, também aqui, ser corajosos e acompanhar para que, aos poucos, talvez algumas mudanças possam ser introduzidas." Para que, desejou o Papa, "o carisma de cada pessoa seja verdadeiramente respeitado e valorizado".

Há um desafio para a Igreja e para todos nós: ver como podemos promover conjuntamente o respeito pelos direitos de todos; como podemos fomentar uma cultura em que essas coisas se tornem não apenas possíveis, mas uma realidade na coparticipação de todos, cada um segundo sua vocação, onde possam exercer — digamos — um papel de responsabilidade na Igreja. Vimos muitos exemplos práticos. Mas a realidade é que, culturalmente, nem todos — digamos — os países estão no mesmo lugar que a Europa ou os Estados Unidos, e não podemos simplesmente presumir que, ao nomear uma mulher aqui ou ali para isso ou aquilo, ela será respeitada, porque existem fortes diferenças culturais que criam problemas. E, portanto, precisamos falar sobre como a Igreja pode ser uma força de conversão, de transformação das culturas de acordo com os valores do Evangelho. Infelizmente, muitas vezes a maneira como vivemos nossa fé é mais determinada por nossa cultura e menos por nossos valores evangélicos. É aí que todos nós podemos ser uma força, uma inspiração, um convite para que nossas nações, nossas comunidades, nossas culturas reflitam sobre as diferenças que existem, e não apenas entre homem e mulher.

O Papa e o cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo dos Bispos   (@Vatican Media)

Promover a igualdade, a justiça e a partilha

Por fim, o testemunho asiático do padre Clarence Sandanaraj Devadassan, da Malásia, apontou para um caminho sinodal que "encontrou terreno fértil" num continente marcado pelo pluralismo religioso, diversidade cultural e realidades sociopolíticas complexas. Membro da equipe sinodal da Federação das Conferências Episcopais Asiáticas — criada há meio século — da Arquidiocese de Kuala Lumpur, onde dirige o Centro Católico de Pesquisa, o padre enfatizou que o caminho sinodal encorajou um maior comprometimento com a promoção da harmonia entre os povos e credos, e das mulheres e dos fiéis leigos nos processos de tomada de decisão. Em muitas dioceses, houve um despertar espiritual; as plataformas digitais tornaram-se ferramentas essenciais para consulta e construção de comunidade, especialmente entre os jovens. O padre não escondeu o fato de que alguns sacerdotes percebem a sinodalidade como uma ameaça à autoridade tradicional e apontou que há áreas onde o extremismo religioso ou vínculos políticos limitam as expressões públicas de sinodalidade. As dioceses estão desenvolvendo planos pastorais de longo prazo inspirados em princípios sinodais, como a Missão 2033 e os Peregrinos da Esperança na Índia.

A imagem que Leão XIV ofereceu nesta resposta final foi muito evocativa: "Devemos nos curvar e respeitar o solo sagrado que representa a Ásia". Ele fala do senso de mistério que aqui abre as portas para vários tipos de diálogo inter-religioso, um tesouro no continente com o qual devemos aprender. Ele mencionou o elemento místico e contemplativo, que deve ser continuamente descoberto, disse ele, fascinado por uma Ásia que pode oferecer tanta esperança.

Há, é claro, grandes desafios. As realidades estruturais e econômicas que vocês enfrentam e a dificuldade de até mesmo promover a comunicação em larga escala devido às limitações das Igrejas locais são realidades que acredito que nós também devemos compartilhar. Penso que esse tipo de experiência de uma Igreja sinodal que constrói comunhão deve inspirar em todos nós, por assim dizer, mais generosidade na partilha de recursos, para que possamos talvez alcançar mais igualdade, mais justiça, até mesmo em termos de partilhar com os outros os bens e as bênçãos materiais que tantas Igrejas têm à sua disposição. Obviamente, fazer isso acarreta grandes desafios. É claro que grandes esforços já foram feitos nessa direção, o que deve ser reconhecido. É um processo em andamento.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Charles de Foucauld: A Missão no Deserto de Hoje (Parte 1/2)

Padre Charles de Foucauld em 1902 | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 01/02 - 2005

Charles de Foucauld: A Missão no Deserto de Hoje

Entrevista com o Cardeal Walter Kasper sobre o cristão que, sozinho, no início do século XX, construiu tabernáculos para "transportar" Jesus para o deserto argelino.

por Gianni Valente

No início do século XX, um francês, amante da literatura e da aventura, e renomado explorador, vivenciou uma das aventuras cristãs mais evocativas do século passado. Charles de Foucauld, o monge que construiu sozinho tabernáculos no deserto argelino para "transportar" Jesus entre aqueles que não o conheciam nem o procuravam, e que foi assassinado pelos mesmos tuaregues entre os quais escolhera viver, em silêncio e oração, sem ter conquistado nenhum novo cristão entre eles, será beatificado pela Igreja ainda este ano.

Entre as fileiras cada vez maiores de santos canonizados, de Foucauld pode, à primeira vista, parecer pertencer à categoria dos santos extremos, aqueles que presidem as fronteiras da aventura cristã no mundo. No entanto, sua história singular oferece um presente de alívio e conforto. 30Giorni conversou sobre esse mesmo tema com o Cardeal Walter Kasper, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos. Que, entre outras coisas, é um velho amigo de Charles de Foucauld. 

Este ano, de Foucauld será declarado beato. Em 1905, exatamente cem anos atrás, ele chegou a Tamanrasset, seu destino final, no deserto argelino. Sei que a figura de de Foucauld lhe é querida e ocupa um lugar especial em sua vida como cristão e sacerdote. Como o conheceu? WALTER KASPER: Quando eu era professor de teologia na Universidade de Tübingen, frequentemente encontrava um grupo de sacerdotes que eram membros e amigos da comunidade "Jesus Caritas", sacerdotes que seguiam a espiritualidade de Charles de Foucauld. Eu participava regularmente de suas reuniões mensais, que incluíam vários momentos: uma revisão de vida , leitura e meditação da Sagrada Escritura, celebração e adoração eucarística e, finalmente, um jantar fraterno. Fascinado pela figura de Charles de Foucauld, viajei também para a Argélia, para as montanhas Hoggar, onde ele havia vivido, e lá, em uma cabana simples na solidão da montanha, fiz meus exercícios espirituais. Lembro-me de que todas as noites um ratinho de olhos brilhantes me visitava para comer um pedaço do meu pão. Lá em Tamanrasset, mas também em outros lugares, por exemplo em Nazaré ou aqui em Roma, sempre me impressionou a vida das Pequenas Irmãs de Charles de Foucauld, sua vida de pobreza evangélica entre os pobres e sua vida de adoração eucarística. Para melhor compreender a espiritualidade de Charles de Foucauld, os escritos de René Voillaume foram de grande ajuda; alguns aspectos dessa espiritualidade também apareceram em meu livro " Jesus, o Cristo" . 

Naqueles anos, quando você frequentava as reuniões dos grupos "Jesus Caritas", o que o impressionou em Charles de Foucauld? Por que você achou a história dele interessante e oportuna?
KASPER: Conheci esse grupo de padres em uma casa de freiras franciscanas nos arredores de Tübingen, em uma região muito bonita. Fiquei comovido com sua autêntica espiritualidade evangélica, a espiritualidade de Nazaré, a espiritualidade do silêncio, da escuta da Palavra de Deus, da adoração eucarística, da simplicidade de vida e do intercâmbio fraterno. Mais tarde, compreendi a relevância e a exemplaridade do testemunho de Charles de Foucauld para os cristãos e o cristianismo no mundo de hoje. Charles de Foucauld me pareceu interessante como um modelo para a realização da missão do cristão e da Igreja não apenas no deserto de Tamanrasset, mas também no deserto do mundo moderno: missão por meio da simples presença cristã, na oração com Deus e na amizade com os outros.

A julgar por seus resultados imediatos, de Foucauld parece um perdedor. Durante sua vida no deserto, não houve conversões ao cristianismo entre os tuaregues. O que o renascimento de sua história sugere agora?

Cardeal Walter Kasper| 30Giorni.

KASPER: O filósofo e teólogo judeu Martin Buber disse que "sucesso" não é um dos nomes de Deus. Nem mesmo Jesus Cristo foi "bem-sucedido" em sua vida terrena; no final, ele morreu na cruz, e seus discípulos, exceto João e sua mãe, Maria, o abandonaram. Humanamente falando, a Sexta-Feira Santa foi um fracasso. A experiência da Sexta-Feira Santa faz parte da vida de todo santo e de todo cristão. Esta observação pode ser um conforto para muitos padres que sofrem com a falta de sucesso imediato, porque em nosso mundo ocidental, apesar de todos os esforços pastorais, as igrejas estão cada vez mais vazias aos domingos e a sociedade está mais descristianizada. Muitos sentem que estão pregando para ouvidos moucos. Nesta situação difícil, o exemplo de Charles de Foucauld pode ser de grande ajuda para muitos padres.

Como essa ajuda se expressa?
KASPER: Podemos aprender que não se trata da nossa missão, ou, por assim dizer, do nosso empreendimento missionário, de uma hegemonia cultural ou da expansão de um império eclesiástico com estratégias sofisticadas e refinadas de pedagogia, psicologia, organização ou qualquer outro método. É claro que devemos fazer o que pudermos, e podemos até mesmo fazer uso de métodos modernos. Mas, em última análise, trata-se da missão de Deus por meio de Jesus Cristo no Espírito Santo. Somos apenas o vaso e o instrumento por meio dos quais Deus quer estar presente; em última análise, é Ele quem deve tocar o coração dos outros; somente Ele pode converter o coração e abrir os olhos e os ouvidos. Assim, na presença, na oração, na vida simples, no serviço e na amizade humana, como aquela experimentada por Charles de Foucauld com os Tuaregues, o próprio Senhor está presente e ativo. Devemos confiar-nos a Ele e deixar a Ele a escolha de como, quando e onde Ele quer convencer os outros e reunir o Seu povo.

Foi isso que de Foucauld viu acontecer em sua própria experiência pessoal.
KASPER: Numa meditação de novembro de 1897, ele escreveu: "Tudo isto foi obra tua, Senhor, e somente tua... Tu, meu Jesus, meu Salvador, fizeste tudo, dentro e fora de mim. Atraíste-me para a virtude com a beleza de uma alma na qual a virtude parecia tão bela que cativou irrevogavelmente o meu coração... Atraíste-me para a verdade com a beleza dessa mesma alma." Certamente, não podemos fazer de Carlos de Foucauld o único modelo de missão para todas as situações; há também outros santos exemplares, como Francisco Xavier, Daniel Comboni e muitos outros, que representam outro tipo e outro carisma missionário. As situações missionárias são variadas, assim como os desafios e as respostas. No entanto, Carlos de Foucauld parece-me ser um modelo de missão não apenas no deserto entre os muçulmanos, mas também no deserto moderno. É emblemático que Teresa de Lisieux tenha sido proclamada padroeira das missões, ela, uma jovem freira carmelita, que nunca havia saído do Carmelo e nunca havia estado em um país de missão; mas ela prometeu deixar uma chuva de rosas cair do céu após sua morte.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF