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domingo, 2 de novembro de 2025

IGREJA: "A fé, na verdade, ilumina tudo com uma nova luz...(Parte 1/3)

São Pedro Apostólo em frente à Basílica (Fleepik)

IGREJA

Arquivo 30Dias nº 01 - 1998

"A fé, na verdade, ilumina tudo com uma nova luz... e, portanto, guia a inteligência em direção a soluções plenamente humanas."

Uma conversa com o Cardeal Pio Laghi, Prefeito da Congregação para a Educação Católica.

editado por Giovanni Cubeddu Um diálogo com o Cardeal Pio Laghi

Os Padres do último Concílio Ecumênico, em sua constituição pastoral Gaudium et Spes, declararam: " A fé ilumina tudo com uma nova luz... e assim guia a mente para soluções plenamente humanas". Quando faltam a simplicidade e a gratuidade da fé, a criatividade das mentes daqueles que ainda professam ser crentes também tende a faltar. Assim, acabamos falando demais e de forma muito genérica sobre cultura, de um jeito que é, no mínimo, enfadonho. Mas é raro encontrar evidências de intuição, pensamento e discernimento verdadeiramente criativos e inteligentes. Em suma, é como se Giacomo Leopardi, em vez de escrever poesia, tivesse apenas planejado obras poéticas...

Sobre esses temas, convidamos o Cardeal Pio Laghi, Prefeito da Congregação para a Educação Católica, para um diálogo franco e cordial com o 30Giorni. 

Teologia: muitos mestres, poucas testemunhas

30GIORNI: Após décadas de questionamento aberto aos dogmas e aos fatores fundamentais da instituição eclesiástica, parece que uma teologia e uma cultura formalmente ortodoxas são hegemônicas na Igreja (nos seminários, faculdades de teologia e universidades católicas). No entanto, parece-nos que, entre tantos professores e teólogos formalmente ortodoxos (e em carreiras eclesiásticas), é muito difícil – para não dizer impossível – encontrar pessoas que também testemunhem, em seu trabalho teológico e cultural, a simplicidade do amor a Jesus Cristo. Todos, evidentemente, falam de Cristo, mas, para usar as palavras de Charles Péguy, "o que é grave é o fato de ser uma tese". Não uma presença real à qual se possa, antes de tudo, dizer "Jesus" de joelhos, mas apenas uma tese teológica correta. 

Para nós, este parece ser o ponto de julgamento mais radical sobre a situação atual. Vocês não acham que esse perigo mortal está generalizado? Em uma entrevista anterior ao 30Giorni , discutimos o documento " Presença da Igreja na universidade e na cultura universitária" . Esse documento expressava a preocupação de que – em seu confronto com a ciência e a cultura – a Igreja pudesse se tornar uma academia, quando a presença da Igreja, precisamente, "deve oferecer a possibilidade efetiva de um encontro com Cristo"...

PIO LAGHI: A perspectiva indicada pela pergunta capta claramente um ponto-chave na verificação da autenticidade e adequação de qualquer iniciativa dentro da Igreja e, consequentemente, de toda a atividade realizada por seminários, faculdades de teologia e universidades católicas. Cada obra, cada gesto, cada palavra do crente individual, bem como da Igreja, deve encontrar sua justificação última, seu significado, unicamente em sua capacidade de "expressar" a presença de Jesus, de revelar Sua oferta de salvação. Nada na Igreja deve ir além do testemunho, além da voz da Esposa respondendo ao amor de seu Esposo. Contudo, embora este continue sendo um critério essencial de discernimento para estabelecer a validade do que os cristãos fazem, não é fácil torná-lo a base para um juízo sobre a capacidade real de indivíduos e instituições de expressar a simplicidade da fé. Não conhecemos as características da figura geral para podermos fazer afirmações seguras sobre traços individuais.

Dito isso, é certamente possível detectar uma tendência a se esconder atrás de uma teologia formalmente ortodoxa e de uma cultura cristã, mas, ao mesmo tempo, também se observam inúmeros sinais encorajadores apontando na direção oposta. Não se passaram muitos anos desde que Hans Urs von Balthasar denunciou a divisão artificial que surgiu no Ocidente entre teologia e santidade. Hoje, pode-se dizer que a necessidade de superar a oposição entre "teologia na escrivaninha" e "teologia de joelhos" — para usar a conhecida expressão do teólogo suíço — é percebida por muitos, especialmente pela geração mais jovem de seminaristas, professores e estudantes. É necessário levar isso em consideração e promover o desenvolvimento dessas sementes positivas. Não se pode tirar conclusões precipitadas. Isso corre o risco de fomentar uma espécie de suspeita em relação ao mundo acadêmico, à pesquisa rigorosa e paciente, à inteligência, como se estes não fossem mais capazes de serem permeados pela mensagem do Evangelho. Em vez disso, devemos continuar a trabalhar para que a universidade, permanecendo verdadeiramente uma universidade, ofereça a possibilidade real de um encontro com Cristo. 

Homologação Cultural

30 DIAS: Outro perigo que parece estar presente na atual situação eclesial é a tentativa de impor uma cultura única, a tentativa de hegemonia cultural a qualquer custo e, portanto, o perigo da homologação cultural. Em vez de estarmos unidos nas coisas necessárias, nos dogmas ( in necessariis unitas), …), e livres em empreendimentos culturais (em hipóteses e escolhas culturais), parece-nos que se busca uma uniformidade cultural. O que, portanto, não é cultura autêntica. A cultura, sendo a consciência crítica e sistemática de uma experiência, é por sua natureza fruto da criatividade pessoal. Enquanto isso, hoje, o que um escritor inteligente e atípico, Gianni Baget Bozzo, em seu livro O Futuro do Catolicismo: A Igreja depois do Papa Wojtyla (Casale Monferrato, Piemme, 1997), chama de "ideologia conciliar", em sua versão moderada, parece dominante. Essa ideologia é exatamente o oposto da letra e do espírito, por exemplo, das duas constituições dogmáticas do Concílio Ecumênico Vaticano II, Lumen Gentium Dei Verbum.

Paradoxalmente, poderíamos dizer que hoje é possível até mesmo colocar certos dogmas (como o pecado original) entre parênteses, desde que se seja culturalmente moderado.
Você não acha que essa falta de liberdade na cultura, essa tentativa de um projeto cultural uniforme, pode ser perigosa? (Estamos falando de uma falta de liberdade que não é teórica, mas prática.)

Você não acha que essa falta de liberdade (de pluralismo teológico e cultural legítimo) nas hipóteses e escolhas culturais representa um perigo para a própria fé, por que há uma tendência a confundir a unidade necessária no essencial com aquilo que é eminentemente livre e contingente?

LAGHI: Em uma cultura dominada pelo "politicamente correto", é bastante compreensível que haja tentativas, mesmo dentro da esfera eclesiástica, de impor um modelo cultural uniforme. Tentam fazer com que todos concordem com a seguinte questão: "Qual o sentido de se aproximar dos outros, buscar comunicação, diálogo?" Nesse sentido, poderíamos falar de uma espécie de "hegemonia cultural" para o nosso tempo. Em resposta, acredito que devemos cultivar a convicção de que essa visão "moderada", aparentemente favorável ao surgimento da liberdade, é na verdade sufocante. Criar uma sinfonia, onde as vozes individuais sejam simultaneamente autônomas e afinadas, exige o reconhecimento de um Centro que impulsiona a vida, um Coração pulsante. É este Centro que é indicado pelos dogmas da Igreja, e é a este Centro que devemos nos referir se quisermos nos tornar culturalmente fecundos, crescer em liberdade e desenvolver um pluralismo teológico saudável. É um horizonte sempre aberto, um chamado constante. O verdadeiro perigo, talvez, seja deixar de reconhecer que o risco que você destacou existe. 

Fonte: https://www.30giorni.it/

Papa no Dia de Finados: não ficar preso a lágrimas de nostalgia, mas alcançar Jesus com esperança

Papa Leão XIV, 02/11/2025 (Vatican Media)

Antes do Angelus, na Praça São Pedro, Leão XIV encorajou a "não ficar preso ao passado e às lágrimas de nostalgia", e nem "lacrados ao presente, como num túmulo", mas ao futuro que vem de Jesus, do "nosso estar com Cristo" que "ilumina o destino de cada um de nós": "Ele nos chama pelo nome, prepara-nos um lugar, liberta-nos do sentido da impotência com o qual corremos o risco de renunciar à vida". A própria visita ao cemitério precisa ser "um convite à memória e à esperança" na ressureição.

https://youtu.be/pzmLrIjhGVQ

Andressa Collet - Vatican News

Neste Dia de Finados, em que a Igreja recorda o fiéis já falecidos, o Papa Leão XIV encorajou os peregrinos presentes na Praça São Pedro para a oração mariana do Angelus a "não ficar preso ao passado e às lágrimas de nostalgia", e nem ao presente "como num túmulo", mas ao futuro que vem de Jesus, do "nosso estar com Cristo" e da esperança na ressureição, que "ilumina o destino de cada um de nós". E cada um "tem o seu lugar, brilhando em toda a sua unicidade", recordou o Pontífice por ocasião do mistério celebrado na Solenidade de Todos os Santos de sábado, 1º de novembro: "uma comunhão de diferenças que, por assim dizer, alarga a vida de Deus a todos os filhos e filhas que desejaram fazer parte dela".

Neste domingo, 2 de novembro, portanto, a Comemoração de todos os fiéis defuntos "nos aproxima ainda mais do mistério", continuou o Papa:

"Conhecemos interiormente a preocupação de Deus em não perder ninguém, sempre que a morte parece nos fazer perder para sempre uma voz, um rosto, um mundo inteiro. Na verdade, cada pessoa é um mundo inteiro. O dia de hoje, portanto, é um dia que desafia a memória humana, tão preciosa e tão frágil. Sem a memória de Jesus – da sua vida, morte e ressurreição – o imenso tesouro de cada vida fica sujeito ao esquecimento. Porém, na memória viva de Jesus, mesmo aqueles de quem ninguém se lembra, mesmo aqueles que a história parece ter apagado, emergem na sua dignidade infinita."

A oração mariana do Angelus na Praça São Pedro com o Papa Leão XIV   (@Vatican Media)

Leia aqui a íntegra das palavras do Papa Leão XIV

A esperança de Jesus nos liberta do passado de lágrimas

Por isso, disse Leão XIV, "os cristãos recordam desde sempre os defuntos em cada Eucaristia e, até ao dia de hoje, pedem que os seus entes queridos sejam mencionados na oração eucarística. Desse anúncio nasce a esperança de que ninguém se perderá". A própria visita ao cemitério, continuou o Papa, "onde o silêncio interrompe o frenesi de tantos afazeres", precisa ser "um convite à memória e à esperança", como todos nós professamos no Credo, de esperar "a ressurreição dos mortos e a vida do mundo que há de vir":

“Não fiquemos presos ao passado, às lágrimas da nostalgia. Nem tampouco estejamos lacrados ao presente, como num túmulo. Que a voz familiar de Jesus nos alcance, e alcance a todos, porque é a única que vem do futuro. Ele nos chama pelo nome, prepara-nos um lugar, liberta-nos do sentido da impotência com o qual corremos o risco de renunciar à vida.”

Os fiéis presentes na Praça São Pedro para rezar o Angelus com o Papa   (@Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Fiéis Defuntos

Fiéis Defuntos (A12)
Fiéis Defuntos

Para todos os povos da humanidade, seja qual for a origem, cultura e credo, a morte continua a ser o maior e mais profundo dos mistérios. Mas, para os católicos, tem o gosto da esperança. Esse é o mistério pascal de Cristo: morte e ressurreição. Ele nos garantiu que para quem crê, for batizado e seguir Seus ensinamentos, a morte é apenas a porta de entrada para desfrutar com Ele a vida eterna no Reino do Pai.

Enquanto para todos os homens a morte é a única certeza, para os católicos ela é a primeira de duas certezas. A segunda é a ressurreição que nos leva a aceitar o fim da vida terrena com compreensão e consolo. Para nós, a morte é um passo definitivo em direção à colheita dos frutos que plantamos aqui na Terra.

A Igreja nos ensina que as almas em purificação podem ser socorridas pelas orações dos fiéis. Assim, este dia é dedicado à memória dos nossos antepassados e entes que já partiram. Encontramos a celebração da missa pelos mortos desde o século V, com origem anterior, nos mosteiros beneditinos, por iniciativa de São Odilão abade.

Um dos mais belos Dogmas da Igreja é o da “Comunhão dos Santos”. Dessa maneira entendemos que os que estão no Céu, na feliz morada com Deus para sempre, os que se purificam no Purgatório, e nós, que ainda caminhamos pelas estradas deste mundo, formamos um só corpo. Por esse motivo, podemos e devemos rezar pelos que partiram, pois nossas orações são eficazes para ajudá-los a mais rapidamente chegarem à casa definitiva do Pai.

 A oração pelas almas do Purgatório é grande obra de caridade, pois elas já não podem, por si mesmas, nada mais fazer pela atenuação dos seus pecados; e os sofrimentos do Purgatório, como nos é ensinado pela Igreja, é maior do que qualquer provação espiritual e material desta vida. Estas almas têm o consolo de saberem que serão salvas, mas nossas orações podem abreviar suas penas. Uma vez no Céu, elas também rezarão por nós.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, C.Ss.R.
Revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A recordação dos fiéis defuntos nos projeta para o futuro. Nossa fé fala-nos de Esperança, a grande palavra-chave desse dia. Trata-se do anseio que todo homem tem de ter a verdadeira felicidade, a felicidade duradoura, sem máculas e sem fim. Essa felicidade só se pode dar no encontro definitivo com Deus, que é a essência do Amor e do Belo. A missão de Jesus, revelada nos Evangelhos, é de dar a vida eterna a todos os que creem em Seu nome.

Oração:

Eterno Pai, ofereço-Vos o Preciosíssimo Sangue de Vosso Divino Filho Jesus, em união com todas as Missas que hoje são celebradas em todo o mundo; por todas as Santas almas do Purgatório, pelos pecadores de todos os lugares, pelos pecadores de toda a Igreja, pelos de minha casa e de meus vizinhos. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

sábado, 1 de novembro de 2025

História de Santa Maria de Cléofas

Santa Maria de Cléofas (Cruz Terra Santa)

Santa Maria de Cléofas

Origens

Santa Maria de Cléofas é uma tia de Jesus citada nos Evangelhos. A forma como ela é chamada, Maria “de Cléofas” é uma referência ao seu marido chamado Cléofas. Em algumas versões ele é chamado de Cléopas ou de Clopas, mas trata-se da mesma pessoa. Cléofas Alfeu era irmão de São José e Maria de Cléofas era irmã da Virgem Maria segundo algumas tradições. Santa Maria de Cléofas acompanhou Jesus desde a gravidez da Virgem Maria até sua morte e ressurreição. É, portanto, uma testemunha ocular e preciosa dos fatos relativos à História da Salvação.

A confusão com os chamados “irmãos de Jesus”

Santa Maria de Cléofas e seu marido tiveram três filhos mencionados nos Evangelhos: Simão, Tiago Menor, José e Judas Tadeu. Eles foram muitas vezes confundidos como sendo “irmãos do Senhor”, mas, na realidade, eram primos. É que nas línguas semíticas não existe uma palavra para designar “primo” e outros graus de parentesco. Por isso, parentes como tios e primos são chamados de irmãos.

Testemunha

Santa Maria de Cléofas vivia em Nazaré com sua família e, provavelmente, tinha sua casa ao lado da casa de Nossa Senhora, como era o costume das famílias naquele tempo. Por isso, ela certamente acompanhou a Virgem Maria em todos os momentos do Mistério de Cristo. Como tia, carregou Jesus no colo, amparou-o, encantou-se com a bondade do sobrinho e alegrou-se ao ver seus filhos seguindo os passos de Jesus.

Presente nos Evangelhos

Os Evangelhos atestam Santa Maria de Cléofas acompanhando Jesus em várias passagens. Encontramo-la fiel no sofrimento, aos pés da cruz de Jesus, ao lado da Virgem Maria:

Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena". (Jo 19,25) São  Mateus confirma esta presença (Mateus 27, 56 e 61). Depois, na madrugada do domingo da ressurreição (Mt 28,1).

São Marcos relata a presença de Santa Maria de Cléofas aos pés da Cruz (Mc 15, 40 e 47) e também que Santa Maria de Cléofas foi uma das testemunhas da ressurreição de Cristo:

"E passado o sábado, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo (...) O mensageiro divino anunciou às piedosas mulheres: Por que procuram o vivo entre os mortos?" (Mc 16,1 e seguintes).

E depois, muito provavelmente, ela e seu marido Cléofas estiveram no Cenáculo no dia de Pentecostes quando o Senhor enviou o Espírito Santo, dando início à Igreja.

Apoio a Nossa Senhora

Santa Maria de Cléofas foi, sem dúvida, um apoio humano para a Virgem Maria. Na alegria e na tristeza ela é citada nos Evangelhos. Seus filhos certamente cresceram como irmãos de Jesus na pequena aldeia de Nazaré, que tinha, no máximo, 500 habitantes. É admirável sua fidelidade aos pés da cruz de seu sobrinho Jesus, e na alegria da ressurreição, quando ela e outras mulheres foram ao túmulo para ungir o corpo do Mestre e acabaram encontrando-o vivo, ressuscitado. Por tudo isso, Santa Maria de Cléofas pode ser chamada carinhosamente de padroeira das tias, pois ela foi tia amada e presente na vida de Jesus.

Oração a Santa Maria de Cléofas

Ó Deus, que destes a Santa Maria de Cléofas a graça de ser irmã de Nossa Senhora, cunhada de São José e tia de Jesus, presente em todos os momentos da vida dele, dai também a nós a graça de sermos presentes junto às nossas famílias, sejam as de laços consanguíneos, sejam as de laços afetivos. Por Cristo, nosso Senhor, amém. Santa Maria de Cléofas, intercedei por nós. Ajuda-nos na relação com nossas famílias e abençoe nossos entes queridos. Santa Maria de Cléofas, rogai por nós.”

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

Catequese por ocasião do 60º aniversário da Declaração conciliar Nostra aetate

Crédito: Opus Dei

Por ocasião do sexagésimo aniversário da declaração conciliar Nostra Aetate, o Papa Leão XIV nos lembra que "O verdadeiro diálogo está enraizado no amor, único fundamento da paz, da justiça e da reconciliação".

29/10/2025

Estimados irmãos e irmãs, peregrinos na fé e representantes das diferentes tradições religiosas! Bom dia, bem-vindos!

No centro da reflexão de hoje, nesta Audiência geral dedicada ao diálogo inter-religioso, desejo colocar as palavras do Senhor Jesus à samaritana: "Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade" (Jo 4, 24). No Evangelho, este encontro revela a essência do autêntico diálogo religioso: um intercâmbio que se estabelece quando as pessoas se abrem umas às outras com sinceridade, escuta atenta e enriquecimento recíproco. É um diálogo que nasce da sede: a sede de Deus pelo coração humano e a sede humana de Deus. No poço de Sicar, Jesus supera as barreiras de cultura, gênero e religião. Convida a samaritana a uma nova compreensão do culto, que não se limita a um lugar em particular – “nem nesta montanha, nem em Jerusalém” – mas que se realiza em Espírito e verdade. Este momento capta o núcleo do diálogo inter-religioso: a descoberta da presença de Deus, além de todas as fronteiras, e o convite a procurá-lo juntos com reverência e humildade.

Há sessenta anos, no dia 28 de outubro de 1965, o Concílio Vaticano II, com a promulgação da Declaração Nostra aetate, abriu um novo horizonte de encontro, respeito e hospitalidade espiritual. Este Documento luminoso ensina-nos a encontrar os seguidores de outras religiões não como estranhos, mas como companheiros de viagem no caminho da verdade; a honrar as diferenças, afirmando a nossa humanidade comum; e a discernir, em qualquer busca religiosa sincera, um reflexo do único Mistério divino que abraça toda a criação.

Em particular, não devemos esquecer que a primeira orientação da Nostra aetate foi para o mundo judaico, com o qual São João XXIII tencionava restabelecer a relação original. Assim, pela primeira vez na história da Igreja, devia adquirir forma um tratado doutrinal sobre as raízes judaicas do cristianismo que, nos planos bíblico e teológico, representasse um ponto de não retorno. "O povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à descendência de Abraão. Com efeito, a Igreja de Cristo reconhece que os primórdios da sua fé e eleição já se encontram, segundo o mistério divino da salvação, nos patriarcas, em Moisés e nos profetas" (NA, 4). Assim a Igreja, "lembrada do seu comum patrimônio com os judeus, e levada não por razões políticas, mas pela religiosa caridade evangélica, deplora todos os ódios, perseguições e manifestações de antissemitismo, seja qual for o tempo em que isto sucedeu e seja quem for a pessoa que isto promoveu contra os judeus" (ibid.). Desde então, todos os meus predecessores condenaram o antissemitismo com palavras claras. E assim também eu confirmo que a Igreja não tolera o antissemitismo e o combate, por causa do próprio Evangelho.

Hoje podemos olhar com gratidão para tudo o que foi realizado no diálogo judaico-católico nestas seis décadas. Isto não se deve apenas ao esforço humano, mas à assistência do nosso Deus que, segundo a convicção cristã, é em si mesmo diálogo. Não podemos negar que neste período houve também desentendimentos, dificuldades e conflitos que, no entanto, nunca impediram a continuação do diálogo. Também hoje não devemos permitir que as circunstâncias políticas e as injustiças de alguns nos desviem da amizade, sobretudo porque até agora conseguimos realizar muito.

O espírito da Nostra aetate continua iluminando o caminho da Igreja. Ela reconhece que todas as religiões podem refletir "um raio da verdade que ilumina todos os homens" (n. 2) e procuram respostas para os grandes mistérios da existência humana, de tal modo que o diálogo deve ser não apenas intelectual, mas profundamente espiritual. A Declaração convida todos os católicos – bispos, clero, pessoas consagradas e fiéis leigos – a participar sinceramente no diálogo e na colaboração com os seguidores de outras religiões, reconhecendo e promovendo tudo o que é bom, verdadeiro e santo nas suas tradições (cf. ibid.). Hoje isto é necessário em praticamente todas as cidades do mundo onde, devido à mobilidade humana, as nossas diversidades espirituais e de pertença são chamadas a encontrar-se e a conviver fraternalmente. A Nostra aetate recorda-nos que o verdadeiro diálogo afunda as suas raízes no amor, único fundamento da paz, da justiça e da reconciliação, ao mesmo tempo que rejeita com firmeza todas as formas de discriminação ou perseguição, afirmando a igual dignidade de todos os seres humanos (cf. NA, 5).

Portanto, caros irmãos e irmãs, sessenta anos após a Nostra aetate, podemos perguntar-nos: o que podemos fazer juntos? A resposta é simples: agir juntos. Mais do que nunca, o nosso mundo precisa da nossa unidade, amizade e colaboração. Cada uma das nossas religiões pode contribuir para aliviar o sofrimento humano e cuidar da nossa casa comum, o nosso planeta Terra. As nossas respectivas tradições ensinam a verdade, a compaixão, a reconciliação, a justiça e a paz. Devemos reafirmar o serviço à humanidade, em todos os momentos. Juntos, devemos vigiar contra o abuso do nome de Deus, da religião e do próprio diálogo, assim como contra os perigos representados pelo fundamentalismo religioso e pelo extremismo. Devemos abordar também o desenvolvimento responsável da inteligência artificial porque, se for concebida como alternativa ao humano, ela pode violar gravemente a sua dignidade infinita e neutralizar as suas responsabilidades fundamentais. As nossas tradições têm uma imensa contribuição a oferecer para a humanização da técnica e, por conseguinte, para inspirar a sua regulamentação, em defesa dos direitos humanos fundamentais.

Como todos nós sabemos, as nossas religiões ensinam que a paz começa no coração do homem. Neste sentido, a religião pode desempenhar um papel essencial. Devemos restituir a esperança à nossa vida pessoal, às nossas famílias, bairros, escolas, aldeias, países e ao nosso mundo. Esta esperança fundamenta-se nas nossas crenças religiosas, na convicção de que um mundo novo é possível.

Há sessenta anos, a Nostra aetate trouxe esperança ao mundo depois da segunda guerra mundial. Hoje somos chamados a refundamentar esta esperança no nosso mundo devastado pela guerra e no nosso ambiente natural degradado. Colaboremos, pois se estivermos unidos tudo é possível. Façamos com que nada nos divida. E, neste espírito, desejo manifestar mais uma vez a minha gratidão pela vossa presença e amizade. Transmitamos este espírito de amizade e colaboração também à geração futura, porque é o verdadeiro pilar do diálogo.

E agora, detenhamo-nos um momento em oração silenciosa: a oração tem o poder de transformar as nossas atitudes, pensamentos, palavras e ações.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/catequese-por-ocasiao-do-60o-aniversario-da-declaracao-conciliar-nostra-aetate/

A vida não obedece os nossos planos

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Reportagem local - publicado em 06/12/16 - atualizado em 31/10/25

Independentemente de qual seja a perda que você vivencia nesse momento, lembre-se deste valioso conselho.

Existe uma expressão que diz “Quando penso que sei todas as respostas, a vida vai e muda as perguntas”; e é assim mesmo, quando menos esperamos tudo muda e as coisas tomam rumo muito diferente. Assim o é quando nos deparamos com as perdas, afinal nunca contamos com elas, não é mesmo? Perda da saúde, de entes queridos por morte ou separação, de confiança, de emprego, de sossego… Isso em relação a nós mesmos como também às pessoas que convivem conosco. Acontecimentos assim burlam nossos planos e são capazes de provocar grande insegurança, tristeza e desarmonia.

Mas o fato é que não se pode fugir das intemperanças e todos passam por momentos assim; a vida não obedece aos nossos planos e, não raras vezes, precisamos nos adequar às novas realidades. Lidar com perdas é uma das grandes dificuldades do ser humano, no entanto elas estão sempre acontecendo, fazendo parte da vida de casa um. O mais sábio, pois, e encarar a superação como um desafio constante e poderoso, capaz de nos mostrar novas oportunidades e meios diferentes de reencontrar o equilíbrio de nossas emoções. Fazer dos reveses alavanca que nos faça abandonar a zona de conforto e ir ao encontro de possibilidades diferentes é o que promove amadurecimento e evolução.

Facilita encontrar a superação quando entendemos que nada é eterno, tudo é passageiro e momentâneo, exceto nossa alma. É primordial, pois, nos livrar do apego, do desejo de manter tudo e todos. É preciso encarar a realidade de que um dia as situações e, até mesmo as pessoas se transformam e, por mais doloroso que isso possa ser, precisamos aceitar e reformular nossas vidas a partir disso. A aceitação e consequente adaptação faz parte do entendimento de que não tem mais jeito, que ocorreu mesmo a perda e a vida precisa continuar. Não estou dizendo que seja simples, longe disso; estou afirmando que é possível e que essa é, ainda, a forma menos dolorosa de encarar os fatos.

Independentemente de qual seja a perda que você vivencia nesse momento, lembre-se de manter a serenidade, não permitindo que o abalo seja ainda maior, dominando a sua mente. Procure equilibrar suas emoções de forma a aceitar o que não pode mudar e seguir em frente levando o aprendizado que certamente o fará mais forte diante dos torvelinos da vida. Encare a doença, a separação, o fim e qualquer revés como oportunidade de reflexão e mudança; certamente isso fará de você uma pessoa mais madura e preparada para a vida em toda a sua complexidade. Afinal, existem muitas alegrias a serem vivenciadas que não podem ser desvalorizadas ou preteridas.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2016/12/06/a-vida-nao-obedece-os-nossos-planos/

Descartes

Cultura do descarte (ISCF)

DESCARTES

31/10/2025

Dom Juarez Albino Destro
Bispo Auxiliar de Porto Alegre (RS)

Não, não me refiro ao famoso René Descartes, mundialmente conhecido pela frase que, certamente, já escutamos em algum momento da vida: “Penso, logo existo” (em latim: Cogito, ergo sum). O filósofo e matemático francês viveu entre os anos 1596 e 1650. Autor do “Discurso sobre o Método”, publicado em 1637, seu pensamento deu origem à Filosofia Moderna. Evidência, análise, síntese, enumeração, racionalismo, conhecimento… 

Justamente no dia em que eu estava concluindo a leitura – agradável – da autobiografia do papa Francisco, Esperança, naquela parte onde faz referência à sua última Encíclica, a quarta de seu pontificado de 12 anos, com o título em latim: Dilexit nos, sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo, as notícias não paravam de chegar – desagradáveis – sobre as consequências da chamada “Operação Contenção”, em nossa querida e bela São Sebastião do Rio de Janeiro. “Ver avós chorarem sem que isso seja intolerável só pode ser sinal de um mundo sem coração”, afirmava o papa, referindo-se ao escândalo com o qual se confrontava “demasiadas vezes em demasiadas viagens, em demasiadas audiências, num mundo dilacerado por conflitos devastadores” (p. 348). Nas fotos estampadas no dia seguinte ao que ocorreu naquele conflito nos Complexos da Penha e do Alemão, impossível não se emocionar, sentir um “nó na garganta”, imaginando o choro daquela gente, pais, mães, avós, filhos… Intolerável! E os mortos? Anjos ou demônios? Certamente veremos “juízes” de ambos os lados! 

No sábado celebraremos a Solenidade de Todos os Santos, um dia para recordarmos nossa vocação, nosso chamado à santidade. Os santos e santas são os nossos numerosos intercessores. A eles costumamos pedir que interceda a Deus por nós. Como lemos no Apocalipse, um dos livros da Bíblia, trata-se de “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Quem são esses? São os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,9.13-14). A Igreja nos propõe os exemplos dos santos para chegarmos a Deus. Mas, por sermos seus filhos e filhas, somos todos chamados à santidade! Desde as primeiras páginas da Bíblia, de várias maneiras, percebemos este chamado: “Anda na minha presença e sê perfeito” (Gn 17,1); “Antes da fundação do mundo Deus nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1,4). E o Papa Francisco, falecido há pouco mais de seis meses, dentre tantos belos escritos deixados, presenteou-nos também com uma Exortação Apostólica sobre o chamado à santidade no mundo atual: Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e Exultai). Nesse documento ele nos recorda que não devemos pensar que os santos sejam apenas aquelas pessoas já beatificadas e canonizadas: “Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra” (GEx 14). E o Papa Francisco nos encoraja: “Não tenhas medo […] de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça” (GEx 34). Nessa frase ele acaba nos dando uma definição do que seja santidade: o encontro da nossa fragilidade com a força da graça de Deus! Em outras palavras, o encontro do humano com o divino! Isso nos dá um alento e nos estimula a praticar, no dia a dia, as bem-aventuranças proferidas por Jesus (cf. Mt 5,1-12): desapego, paciência, mansidão, misericórdia, pureza de coração, paz, justiça, alegria, ousadia, ardor… Desafios! 

No domingo faremos memória de todos aqueles que já passaram por essa vida e que estão vivos em outra dimensão. Alimentamos, claro, uma saudável saudade em relação aos nossos entes queridos que já não se encontram entre nós. No entanto, fazer memória dos falecidos é também ocasião para recordarmos que a morte é certa para todos e que podemos melhor projetar nossa vida, dando espaço para refletir sobre o autêntico sentido da vida. A morte, pois, ensina-nos a viver! E Deus é o Deus da vida, não é um Deus de mortos, mas de vivos, lemos em São Marcos (12,27). O Texto Conclusivo de Aparecida, a 5ª Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, de 2007, tratando dessa questão, afirmou que devemos “neutralizar a cultura da morte com a cultura cristã da solidariedade” (DAp 480), pois não queremos “andar pelas sombras da morte” (DAp 350), mas, sim, no caminho da vida, pois “a vida é presente gratuito de Deus, dom e tarefa que devemos cuidar desde a concepção, em todas as suas etapas, até a morte natural, sem relativismos” (DAp 464). O Dia de Finados, portanto, junto à memória de nossos entes queridos chamados à eternidade, nos ensina, mais uma vez, o valor da vida. E nos convoca a repudiar todo e qualquer sinal de morte em nossa vida. 

Na Exortação Apostólica do papa Leão XIV, Dilexi Te, sobre o amor para com os pobres, refletindo sobre as estruturas de pecado que criam pobreza e desigualdades extremas (n. 90-98), assim afirma: “Embora não faltem diversas teorias que tentam justificar o estado atual das coisas ou explicar que a racionalidade econômica nos exige esperar que as forças invisíveis do mercado resolvam tudo, a dignidade de cada pessoa humana deve ser respeitada já agora, não só amanhã, e a situação de miséria de tantas pessoas, a quem é negada esta dignidade, deve ser um apelo constante à nossa consciência” (n. 92). “A falta de equidade é a raiz dos males sociais. Com efeito, muitas vezes constata-se que, de fato, os direitos humanos não são iguais para todos” (n. 94). 

Certamente, mesmo sem ser mencionado ou compreendido, Descartes, o filósofo racionalista, com seus métodos de conhecimento, será bastante utilizado nas evidências análises, sínteses, enumerações do massacre histórico de São Sebastião do Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2025. Mas, o título deste singelo artigo quer fazer referência a um outro significado da palavra “descarte”, que nos foi aprofundada pelo saudoso papa Francisco, desde, ao menos, 2015, há 10 anos, com a sua primeira Encíclica, a Laudato Si’, sobre o cuidado da Casa Comum, a Ecologia Integral. Nas páginas finais do livro Esperança, sua autobiografia lançada no início deste ano, lemos: “Na era da inteligência artificial, não podemos esquecer que a poesia e o amor são essenciais para salvar a humanidade” (p. 349). E, querendo indicar um antídoto ou espécie de remédio para as pessoas que não amam, ou mantém um ódio inconsciente, Francisco afirma que “o oposto mais comum ao amor de Deus, à compaixão de Deus, à misericórdia de Deus é a indiferença. Para aniquilar um homem ou uma mulher, basta ignorá-los. A indiferença é uma agressão. A indiferença pode matar. O amor não tolera indiferença” (p. 357). 

A cultura do descarte, que diz respeito não apenas aos alimentos e aos bens de consumo, mas, antes de tudo, às pessoas que são marginalizadas por sistemas tecnoeconômicos em cujo centro, mesmo sem percebermos, muitas vezes não está mais a humanidade, mas seus produtos, essa cultura do descarte só pode ser superada pela educação à fraternidade e à solidariedade concreta, recorda Francisco (p. 358). 

Que não fiquemos indiferentes aos tantos descartes que fazemos em nosso dia a dia, uma cultura que, de modo urgente, deve mudar. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Leão XIV: Newman, Doutor da Igreja, luz para as novas gerações

Papa Leão XIV na Solenidade de Todos os Santos 2025 (Vatican Media)

Na Solenidade de Todos os Santos, o Papa Leão XIV inscreveu São John Henry Newman entre os Doutores da Igreja e, por ocasião do Jubileu do Mundo Educativo, o nomeou co-padroeiro, com Santo Tomás de Aquino, de todos os agentes que participam no processo educativo. A celebração foi realizada neste sábado, 1º de novembro, na Praça São Pedro.

Vatican News

Na manhã deste sábado, 1º de novembro, Solenidade de Todos os Santos, o Papa Leão XIV presidiu a celebração da Santa Missa na Praça São Pedro, na qual inscreveu São John Henry Newman entre os Doutores da Igreja e, ao mesmo tempo, por ocasião do Jubileu do Mundo Educativo, o nomeou co-padroeiro, com Santo Tomás de Aquino, de todos os agentes que participam no processo educativo. Até hoje os Doutores da Igreja são 37, entre os quais 4 mulheres, com São John Newman serão 38.

O mais novo Doutor da Igreja, São John Henry Newman   (@Vatican Media)

Inspirar as novas gerações

O Papa Leão apresentou o novo Doutor da Igreja afirmando: "a imponente estatura cultural e espiritual de Newman servirá de inspiração para as novas gerações com o coração sedento de infinito, disponíveis a realizar, através da pesquisa e do conhecimento, aquela viagem que, como diziam os antigos, nos faz passar per aspera ad astra, ou seja, através das dificuldades até aos astros".

Escolas: laboratórios de profecias

Depois de afirmar que a vida dos santos testemunha-nos que é possível viver com paixão na complexidade do tempo presente sem deixar de lado o mandato apostólico, dirigindo-se aos educadores e às instituições educativas disse: “o Jubileu é uma peregrinação na esperança e todos vós, no vasto campo da educação, sabeis bem o quanto a esperança é uma semente indispensável! Quando penso nas escolas e nas universidades, penso nelas como laboratórios de profecia, onde a esperança é vivida e continuamente narrada e reproposta”.

Evangelho das Bem-aventuranças

Leão falou em seguida sobre o sentido do Evangelho das Bem-aventuranças hoje proclamado. “As Bem-aventuranças trazem consigo uma nova interpretação da realidade. São o caminho e a mensagem de Jesus educador. À primeira vista, parece impossível declarar bem-aventurados os pobres, aqueles que têm fome e sede de justiça, os perseguidos ou os que promovem a paz. Mas o que parece inconcebível na gramática do mundo, enche-se de sentido e luz na proximidade do Reino de Deus”. Continuando sobre o tema disse ainda: “As Bem-aventuranças não são um ensinamento entre tantos: são o ensinamento por excelência. Da mesma forma, o Senhor Jesus não é um entre tantos mestres, é o Mestre por excelência. Mais ainda, é o Educador por excelência. Nós, seus discípulos, encontramo-nos na sua escola, aprendendo a descobrir na sua vida, ou seja, no caminho por Ele percorrido, um horizonte de sentido capaz de iluminar todas as formas de conhecimento”. 

Não ao pessimismo

“Os desafios atuais podem parecer, por vezes, superiores às nossas forças, mas não é assim”, afirmou o Santo Padre reiterando, “não permitamos que o pessimismo nos vença!”. Citando o Papa Francisco recordou suas palavras sobre o pessimismo quando afirmava que “devemos trabalhar juntos para libertar a humanidade da escuridão do niilismo que a rodeia e que é, talvez, a doença mais perigosa da cultura contemporânea, pois ameaça ‘anular’ a esperança”. A referência à noite que nos rodeia, disse o Papa, recorda-nos um dos textos mais conhecidos de São John Henry, o hino “Luz terna, suave, leva-me mais longe”. Nessa linda oração, percebemos que estamos longe de casa, que temos pés vacilantes, que não conseguimos decifrar claramente o horizonte. Mas nada disso nos detém, porque encontrámos o nosso Guia: Luz terna, suave, no meio da noite, leva-me mais longe”.

Tarefa da educação

É tarefa da educação oferecer esta Luz Terna àqueles que, de outra forma, poderiam permanecer aprisionados pelas particularmente insidiosas sombras do pessimismo e do medo” reiterou Leão. “Por isso, gostaria de vos dizer: desarmemos as falsas razões da resignação e da impotência e façamos circular no mundo contemporâneo as grandes razões da esperança”. Encorajando os presentes: “Encorajo-vos a fazer das escolas, das universidades e de todas as realidades educativas, mesmo informais e de rua, limiares de uma civilização de diálogo e paz”.

Percurso educativo

São John Henry escreveu: “Deus criou-me para lhe prestar um serviço específico. Confiou-me uma tarefa que não confiou a outros. Tenho uma missão: talvez não a chegue a conhecer nesta vida, mas ela ser-me-á revelada na vida futura”. “Nestas palavras”, disse o Papa, “encontramos expresso, de um modo esplêndido, o mistério da dignidade de cada pessoa humana e também o da variedade dos dons distribuídos por Deus” Explicando em seguida:

A vida ilumina-se não porque somos ricos, bonitos ou poderosos. Ela ilumina-se quando uma pessoa descobre dentro de si esta verdade: sou chamado por Deus, tenho uma vocação, tenho uma missão, a minha vida serve para algo maior que eu próprio!” (...) “Não o esqueçamos: no centro dos percursos educativos não devem estar indivíduos abstratos, mas pessoas de carne e osso, especialmente aquelas que parecem não render, segundo os parâmetros de uma economia que exclui e mata. Somos chamados a formar pessoas, para que brilhem como astros em toda a sua dignidade”. Concluindo em seguida: “Portanto, podemos afirmar que a educação, na perspectiva cristã, ajuda todos a tornarem-se santos. Nada menos do que isso”.

“Rezo para que a educação católica ajude cada um a descobrir a sua vocação à santidade. Santo Agostinho, que São John Henry Newman tanto apreciava, disse uma vez que todos nós somos companheiros de estudo com um único Mestre, cuja escola se encontra na terra, mas cuja cátedra está no céu.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 31 de outubro de 2025

LIVROS: Mestre e discípulo: ausentes da chamada (Parte 2/2)

As imagens deste artigo foram retiradas do livro Les doigts pleins d'encre, de Robert Doisneau e Cavanna | 30Giorni

LIVROS

Arquivo 30Dias nº 01/02 - 2006

Mestre e discípulo: ausentes da chamada

Giulio Ferroni discute o livro de Massimo Borghesi, "O Sujeito Ausente: Educação e Escola entre Memória e Niilismo". O livro "toca no cerne fundamental da educação, que deveria ser um diálogo aberto e concreto entre o professor, um guardião vigilante e sensível de uma tradição, e o aluno, consciente de seu próprio distanciamento dessa tradição, mas ansioso por se aproximar dela". Resenha

Por Giulio Ferroni

O "vento do abstrato"

Não me parece, contudo, que, como sugere o autor, as origens de tudo isso devam ser atribuídas ao Iluminismo, que foi algo muito mais aberto e contraditório, também permeado por um aguçado senso de concretude e experiência, e cujo legado é, em última análise, atacado e dissolvido precisamente pela desrealização e virtualização que reduzem a cultura a uma mercadoria e a um espelho publicitário. Para além das suas origens históricas, a reflexão de Borghesi visa, no entanto, destacar astutamente o "quadro teórico" no qual a deriva escolástica existe hoje; e traça os efeitos que esse quadro criou no próprio ensino, as formas como operou na própria prática das humanidades. 

A este respeito, parece-lhe claro que as tendências de ensino que prevaleceram desde a década de 1970, e que foram posteriormente promovidas de diversas maneiras pelas práticas de formação continuada e por várias reformas, espalharam um verdadeiro "vento de abstração" pelas escolas, distanciando as disciplinas históricas, literárias e filosóficas da sua relação com a concretude da vida, do horizonte da narrativa, do encontro e do diálogo. O uso que se faz das chamadas "ciências humanas" tem, de facto, dado um impulso fundamental a esta invasão da abstração: o conteúdo concreto tem sido contraposto por estruturas, a existência real por motivações subterrâneas e a narração de acontecimentos por projeções a longo prazo. 

As experiências transmitidas pelas humanidades, os seus dados vitais e existenciais, foram desconstruídos; E isso pesou particularmente sobre os manuais, que se expandiram cada vez mais e, ao mesmo tempo, se distanciaram de uma relação viva com os textos, privando-os de corpo e realidade, com a pretensão de desenterrar o que jaz sob sua realidade, chegando a um niilismo definitivo, à redução a mercadoria de todos os aspectos da experiência. 

A negação da tradição, sua redução a mero inventário, repertório e arquivo externo, resultou em uma desestruturação do sujeito, um distanciamento do eu e da experiência pessoal do cenário didático: com toda uma série de paradoxos que Borghesi destaca com grande clareza e que parecem culminar no fato de que, por um lado, a cultura transmitida pela escola, "fundamentada na abolição do eu, está em solidariedade com o niilismo predominante, em solidariedade com a ideia da mercantilização integral da vida", e, por outro, pede-se às escolas "que reajam à degradação, que ofereçam modelos positivos, que respondam às emergências sociais por meio de cursos sobre drogas, meio ambiente, educação sexual, segurança no trânsito, saúde, etc."»; em suma, acabamos por pedir «à escola uma consciência ética, “humanista”, precisamente no momento em que ela se torna o local de sepultamento dessa tradição».

Realismo e a Experiência da Positividade do Mundo

A resposta a essa situação, portanto, não reside em preencher a escola com tarefas incongruentes, em transformá-la numa espécie de agência social indefinida, que aceita e se submete a todas as demandas contraditórias da economia e da cultura de massa (como as mais diversas intervenções reformistas lhe impuseram e continuam a impor), mas num apelo para destacar a concretude da relação professor-aluno, para redescobrir o significado da tradição, que não representa simplesmente a persistência do passado, mas o “ lugar de atestação da realidade como digna de ser ”, um lugar de reconhecimento do valor da realidade e um instrumento da relação do sujeito com o mundo real. 

A abstração que domina a cultura contemporânea se contrapõe aqui a um realismo , num sentido forte, “dantesco”, como experiência da positividade do mundo, a atualização da memória na temporalidade da narrativa, a necessidade do encontro, um evento que, em sua manifestação, projeta a possibilidade de valorização e redenção . Esses termos são enquadrados e projetados dentro de uma perspectiva cristã, um cristianismo "cristão" que afirma a concretude da vida, que concebe a historicidade sob a égide do encontro com o outro e como um evento (e que encontra pontos de referência essenciais em pensadores tão diversos quanto Rosenzweig, Guardini, Ricoeur e nos ensinamentos de Luigi Giussani). Esse horizonte cristão também oferece insights essenciais para a cultura secular, para toda perspectiva marcada pela necessidade de autenticidade e concretude, pelo respeito à realidade e à vida, por um afastamento da abstração e do niilismo contemporâneos.

As imagens deste artigo foram retiradas do livro Les doigts pleins d'encre, de Robert Doisneau e Cavanna | 30Giorni

Quanto a mim, sinto que posso endossar muitas das observações específicas que emergem do quadro educacional delineado por Borghesi e que ele apresenta com grande coerência e clareza: como a da contradição entre uma historiografia inteiramente focada em estruturas de longo prazo (no modelo dos Annales ) para os séculos passados ​​e, em vez disso, totalmente confiada ao "estatuto 'tradicional' da história ético-política" para o século XX; ou a da semente de esperança contida na "memória aberta ao presente e ao futuro", que atua na direção da redenção , e não na direção enganosa da utopia ; ou ainda a da oposição entre a experiência autêntica e o experimentalismo de vanguarda, em que este último, a busca indefinida pelo novo, dá origem a "um processo exaustivo no qual o sujeito se nega e se persegue por trás de máscaras, de tempos em tempos, imaginadas". 

Todas as observações são perspicazes sobre as várias formas de niilismo contemporâneo, sobre os desastres que ele causa na educação, precisamente por negar a positividade das relações, o valor da realidade, a consistência do sujeito e o encontro entre sujeitos que constitui a autêntica relação educativa. Transitando entre ética, estética, hermenêutica e literatura, este livro aborda as questões críticas da condição contemporânea e sugere uma perspectiva cultural e humana que se opõe a muitas dessas questões. 

Mostra como as razões para a crise atual nas escolas devem ser buscadas em profundidade e como não é possível encontrar uma resposta na engenharia reformista, em abstrações pedagógicas ou em defesa programática — que, precisamente por sua natureza contraditória, acabam por amplificar a crise, tornando seus efeitos mais destrutivos e talvez incuráveis. Só podemos supor que a imagem "positiva" da relação educativa aqui sugerida se reflita atualmente apenas em contextos parciais, no trabalho de professores conscientes da sua missão, da sua tarefa humana e cultural, dotados de profunda cultura e sensibilidade, capazes de resistir até ao fim aos cantos de sereia da pós-modernidade. 

Mas as condições da sociedade e das escolas, a importância das tecnologias de virtualização e desrealização na atualidade, as formas como as gerações mais jovens são educadas, o domínio cada vez mais invasivo dos meios de comunicação e do panorama da publicidade televisiva, o atual colapso das universidades (e, dentro delas, dos cursos de licenciatura em humanidades), tornam particularmente difícil a formação e o desenvolvimento de tais consciências educativas num futuro próximo; receio que se justifique uma dose adicional de pessimismo.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Arcebispo Gänswein retoma alerta de Bento XVI sobre ditadura do relativismo

O arcebispo Georg Gänswein fala numa conferência sobre a Declaração de Šiluva em Šiluva, Lituânia, em 4 de setembro de 2024. | Juozas Kamenskas

Por Bryan Lawrence Gonsalves*

30 de out de 2025 às 09:31

Vinte anos depois de o então cardeal Joseph Ratzinger ter falado sobre uma “ditadura do relativismo” na véspera de sua eleição como papa Bento XVI, seu ex-secretário, o arcebispo Georg Gänswein, reafirmou esse alerta nem uma conferência recente na Lituânia.

Gänswein, que foi prefeito da Casa Pontifícia e secretário pessoal do papa Bento XVI por muitos anos, inspirou-se profundamente na filosofia do papa alemão ao fazer o discurso de abertura da conferência deste ano, que reuniu acadêmicos, líderes cívicos, intelectuais públicos e clérigos para discutir os princípios da Declaração de Šiluva, de 2021.

A declaração defende a proteção dos direitos humanos fundamentais, o fomento da virtude e a promoção do bem comum da sociedade. Ela reconhece a importância de uma sociedade construída sobre os pilares da verdade, dos valores familiares, da dignidade humana e da fé em Deus, e desde então tornou-se uma referência moral para pensadores sociais católicos na Lituânia.

A palestra de Gänswein ofereceu uma rica reflexão filosófica e teológica sobre fé, razão e relativismo, aspectos que ele disse ser um “tema constante na obra de Ratzinger”. O arcebispo, que agora é núncio nos Estados bálticos, disse que quando a fé ou a razão são enfraquecidas, isso inevitavelmente leva a “patologias e à desintegração da pessoa humana”.

Esta é a terceira conferência dedicada à reflexão sobre a Declaração de Šiluva, publicada em 12 de setembro de 2021, no festival mariano anual da cidade. Šiluva tem um santuário mariano dedicado a uma das primeiras aparições de Nossa Senhora reconhecidas na Europa.

O arcebispo de Kaunas, Lituânia, Kęstutis Kėvalas, fez o discurso de abertura da conferência, exortando à vigilância contra as tentações de fazer experimentos com a natureza e a dignidade humanas. Ele disse também às pessoas presentes que o santuário mariano em Šiluva simboliza a fidelidade à ordem divina na criação.

“O lugar sagrado de Šiluva convida ao respeito pela ordem que o Criador deu a este mundo”, disse ele.

Gänswein disse que, diante dos grandes desafios da atualidade, como o pensamento tecnológico e a globalização, o primeiro passo deve ser recuperar a plenitude da razão. Ele descreveu a verdadeira razão como inerentemente verídica, contrastando-a com o relativismo, que chamou de “uma expressão de pensamento fraco e limitado… baseado no falso orgulho de acreditar que os humanos não podem reconhecer a verdade e na falsa humildade de se recusar a aceitá-la”.

“A verdade nos liberta”, disse Gänswein, fazendo referência ao Evangelho de são João 8:32 e dizendo que a verdade serve como padrão pelo qual os seres humanos devem se medir e que abraçá-la requer humildade.

Gänswein concluiu dizendo que o relativismo — mentalidade que define a modernidade, que ele descreveu como “um veneno rastejante” — acaba minando a liberdade humana. Impulsionado pela autossuficiência e amplificado pelas redes sociais, o relativismo cega as pessoas para a verdade e para o seu propósito último.

O verdadeiro objetivo da humanidade, disse ele, é “chegar ao conhecimento da verdade, que é Deus, e assim alcançar a vida eterna”. Seu discurso foi recebido com aplausos prolongados.

A conferência também teve várias palestras instigantes sobre a identidade moral e política da Lituânia, os desafios da democracia liberal, as mudanças sociais pós-soviéticas e o papel da fé e da família na vida pública. A conferência foi encerrada com um painel de discussão sobre a direção moral da Europa, a liberdade de expressão e a renovação dos valores cristãos na sociedade.

O arcebispo de Vilnius, Lituânia, Gintaras Gruša, falou sobre as palavras do papa Leão XIV de que a Igreja “nunca pode ser eximida do dever de dizer a verdade sobre o homem e o mundo, usando, quando necessário, até mesmo uma linguagem dura que possa inicialmente causar mal-entendidos”. Ele enfatizou que todos os cristãos, inclusive aqueles na vida pública, têm o dever de defender a verdade, que ele descreveu como “não uma ideia abstrata, mas um caminho ao longo do qual uma pessoa descobre a verdadeira liberdade”.

A conferência foi organizada em conjunto pelo grupo cívico lituano Laisvos visuomenės institutas (Instituto de uma Sociedade Livre), pelo Sindicato dos Trabalhadores Cristãos da Lituânia e pela Faculdade de Teologia Católica da Universidade Vytautas Magnus.

*Bryan Lawrence Gonsalves é um apologista e ensaísta nascido nos Emirados Árabes Unidos, que atualmente vive na Lituânia. Seu trabalho se concentra na doutrina social católica, teologia, dignidade humana e questões sociais contemporâneas.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/65231/arcebispo-ganswein-retoma-alerta-de-bento-xvi-sobre-ditadura-do-relativismo

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF