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terça-feira, 4 de novembro de 2025

Nota doutrinal sobre os títulos marianos: Mãe do povo fiel, não Corredentora

Dicastério para a Doutrina da Fé (Vatican Media)

O documento do Dicastério para a Doutrina da Fé, aprovado por Leão XIV, esclarece os títulos a serem usados para Nossa Senhora. Pede-se também atenção especial para o título de "Medianeira de todas as graças".

Vatican News

"Mater populi fidelis" é o título da Nota doutrinária publicada esta terça-feira, 4 de novembro, pelo Dicastério para a Doutrina da Fé. Assinada pelo Prefeito, cardeal Víctor Manuel Fernández, e pelo secretário da seção doutrinária, monsenhor Armando Matteo, a Nota foi aprovada pelo Papa em 7 de outubro passado. É fruto de um longo e articulado trabalho colegiado. Trata-se de um documento doutrinal sobre a devoção mariana, com foco na figura de Maria, associada à obra de Cristo como Mãe dos fiéis. A Nota fornece um importante fundamento bíblico para a devoção a Maria, além de reunir diversas contribuições dos Padres, dos Doutores da Igreja, dos elementos da tradição oriental e do pensamento dos últimos Pontífices.

Dentro desse quadro positivo, o texto doutrinal analisa diversos títulos marianos, valorizando alguns deles e alertando para o uso de outros. Títulos como Mãe dos fiéisMãe espiritual e Mãe do povo fiel são particularmente apreciados pela Nota. O título de Corredentora, por sua vez, é considerado impróprio e inadequado. O título de Medianeira é considerado inaceitável quando assume um significado que é exclusivo de Jesus Cristo, mas é considerado precioso quando expressa uma mediação inclusiva e participativa que glorifica o poder de Cristo. Os títulos de Mãe da graça e Medianeira de todas as graças são considerados aceitáveis ​​em alguns sentidos muito específicos, mas uma explicação particularmente ampla é oferecida em relação aos significados que podem apresentar riscos.

Essencialmente, a Nota reafirma a doutrina católica, que sempre enfatizou como tudo em Maria é direcionado para a centralidade de Cristo e sua ação salvífica. Portanto, embora alguns títulos marianos possam ser explicados por meio de uma exegese correta, considera-se preferível evitá-los. Em sua apresentação, o cardeal Fernández valoriza a devoção popular, mas adverte contra grupos e publicações que propõem um desenvolvimento dogmático particular e levantam dúvidas entre os fiéis, inclusive por meio das redes sociais. O principal problema, na interpretação desses títulos aplicados à Virgem Maria, diz respeito à forma de compreender a associação de Maria na obra da redenção de Cristo (3).

Corredentora

Em relação ao título “Corredentora”, a Nota recorda que alguns Pontífices “utilizaram este título sem se deterem demasiado em explicá-lo. Geralmente, apresentaram-no de duas maneiras diversas: em relação à maternidade divina e em referência à união de Maria com Cristo junto à Cruz redentora. O Concílio Vaticano II decidiu não usar este título “por razões dogmáticas, pastorais e ecumênicas”. São João Paulo II “utilizou-o, ao menos em sete ocasiões, relacionando-o especialmente com o valor salvífico da nossa dor oferecida junto à de Cristo, ao qual se une Maria sobretudo na Cruz” (18).

O documento cita uma discussão interna na então Congregação para a Doutrina da Fé, que em fevereiro de 1996 discutiu o pedido para proclamar um novo dogma sobre Maria como “Corredentora ou Medianeira de todas as graças”. O parecer de Ratzinger era contrário: “O significado preciso dos títulos não é claro e a doutrina neles contida não está madura… Desta maneira, não se vê em modo claro como a doutrina expressa nos títulos esteja presente na Escritura e na tradição apostólica”. Posteriormente, em 2002, o futuro Bento XVI também se expressou publicamente da mesma forma: “A fórmula ‘Corredentora’ distancia-se em demasia da linguagem da Escritura e da Patrística e, portanto, provoca mal-entendidos… Tudo procede d'Ele, como dizem sobretudo as Cartas aos Efésios e aos Colossenses. Maria é o que é graças a Ele.” A palavra “Corredentora” obscureceria essa origem”. O cardeal Ratzinger, esclarece a Nota, “não negava que houvesse na proposta de uso deste título boas intenções e aspectos válidos, porém sustentava que era um “vocábulo equívoco” (19).

O Papa Francisco expressou sua posição claramente contra o uso do título Corredentora pelo menos três vezes. O documento doutrinal a esse respeito conclui: “É sempre inoportuno o uso o título de Corredentora para definir a cooperação de Maria. Este título corre o risco de obscurecer a mediação salvífica única de Cristo e, portanto, pode gerar confusão e desequilíbrio na harmonia das verdades da fé cristã… Quando uma expressão requer muitas e constantes explicações, para evitar que se desvie do significado correto, não presta um bom serviço à fé do Povo de Deus e torna-se inconveniente” (22).

Medianeira

A Nota enfatiza que a expressão bíblica referente à mediação exclusiva de Cristo "é peremptória". Cristo é o único Mediador (24). Por outro lado, destaca o "uso muito comum da palavra 'mediação' nos mais âmbitos da vida social, onde é entendido simplesmente como cooperação, ajuda, intercessão. Por consequência, é inevitável que se aplique a Maria no sentido subordinado e de nenhum modo pretende acrescentar alguma eficácia, ou potência, à única mediação de Jesus Cristo" (25). Além disso – reconhece o documento –, "é evidente que houve um modo real de mediação de Maria para tornar possível a verdadeira encarnação do Filho de Deus na nossa humanidade" (26).

Mãe dos fiéis e Medianeira de todas as graças

A função materna de Maria "de modo algum ofusca ou diminui" esta única mediação de Cristo, "manifesta antes a sua eficácia". Assim entendida, "a maternidade de Maria não pretende debilitar a única adoração que se deve somente a Cristo, mas estimulá-la". Por isso, devem-se evitar, afirma a Nota, os “títulos e expressões referidas a Maria que a apresentem como uma espécie de 'para-raios' diante da justiça do Senhor, como se Maria fosse uma alternativa necessária da insuficiente misericórdia de Deus” (37, b). O título de “Mãe dos fiéis” permite falar de “uma ação de Maria também em relação à nossa vida da graça” (45).

Devemos, no entanto, ter cuidado com expressões que possam transmitir “conteúdos menos aceitáveis” (45). O cardeal Ratzinger expressou que o título de Maria medianeira de todas as graças não era claramente fundado na Revelação, e em sintonia com essa convicção – explica o documento – podemos reconhecer as dificuldades que este título implica tanto na reflexão teológica como na espiritualidade” (45). De fato, “Nenhuma pessoa humana, nem sequer os apóstolos ou a Santíssima Virgem, pode atuar como dispensadora universal da graça. Apenas Deus pode conceder a graça e fá-lo por meio da humanidade de Cristo” (53). Títulos como Medianeira de todas as graças têm, portanto, “limites que não facilitam a correta compreensão do lugar único de Maria. Com efeito, ela, a primeira redimida, não pode ter sido a medianeira da graça que ela mesma recebeu” (67). Contudo, reconhece por fim o documento, “a expressão ‘graças’, referida à materna ajuda de Maria, em distintos momentos da vida, pode ter um sentido aceitável”. O plural, de fato, expressa “todos os auxílios, também materiais, que o Senhor pode dar-nos escutando as intercessões da Mãe” (68).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Carlos Borromeu

São Carlos Borromeu (A12)
04 de novembro
São Carlos Borromeu

Carlos nasceu em Arona, próximo de Milão, a 2 de outubro de 1538. O pai era o conde Gilberto Borromeu e a mãe era Margarida de Médicis, a mesma casa da nobreza de grande influência na sociedade e na Igreja.

Carlos era o segundo filho do casal, e aos doze anos a família o entregou para servir a Deus, como era hábito na época. Diplomou-se aos vinte e um anos de idade em Direito Canônico, e aos vinte e quatro anos recebeu as ordens do sacerdócio e do episcopado, levando a partir de então uma conduta acentuadamente piedosa e ascética. Como Bispo de Milão, colocou em prática, de forma admirável e exemplar, os decretos do Concílio de Trento (1545) visando a reforma da Igreja que, naquela época (e também hoje em dia), devia começar pelos próprios bispos e padres, desorientados pelas seduções mundanas.

Assim destacou-se pela sua missão pastoral, assombrosa na sua vastidão e profundidade: promoveu vários sínodos diocesanos e concílios provinciais, visitou as mais de mil paróquias da sua diocese, foi visitador apostólico nas 15 dioceses sufragâneas de Milão, visitou regiões da Suíça ameaçadas por heresias; incentivou o dever da residência dos vigários, foi o primeiro Bispo a fundar, segundo o Concílio, seminários para a formação de sacerdotes; favoreceu a criação de escolas, a boa imprensa e, sobretudo, a formação catequética dos fiéis, bem como a elevação moral dos costumes.

Destacou-se também na extraordinária caridade, especialmente durante a peste de 1576 que duramente assolou Milão. Faleceu aos 46 anos, esgotado pelas fadigas das suas incansáveis atividades pastorais.

Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, C.Ss.R.
Revisão e acréscimos: José Duarte de Barros Filho

Reflexão:

A obra de São Borromeu, um dos santos mais importantes e mais queridos da Igreja, poderia ser resumida em duas palavras: dedicação e trabalho. Oriundo da nobreza, Carlos Borromeu utilizou a inteligência notável, a cultura e o acesso às altas elites de Roma para velar pela moralidade e formação verdadeiramente católicas de toda a sua diocese (e cristandade), começando pelo próprio clero e alcançando todas as faixas sociais.

Oração:

Deus, nosso Pai, a exemplo de São Carlos Borromeu, ajuda-nos a abrir a nossa mente e o nosso coração ao Vosso Espírito de Amor. Que nos deixemos converter pela Vossa Palavra de amor e obediência, para podermos experimentar a Vossa ternura e bondade, mediante uma vida dedicada aos irmãos e fundamentada no Vosso Evangelho. Por Cristo nosso Senhor. Amém.

Fonte: https://www.a12.com/

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

O que significa ser um doutor da Igreja

Basílica de São Pedro. | cinemavision/Shutterstock

Por Francesca Pollio Fenton* , Jonah McKeown*

3 de nov de 2025 às 11:00

A Santa Sé concedeu a são João Henrique Newman o título de doutor da Igreja no sábado (1). O santo ex-pastor da Igreja da Inglaterra que se converteu ao catolicismo no século XIX juntou-se a outros 37 santos que receberam a mesma honra.

Nascido em Londres e batizado na Igreja da Inglaterra em 1801, Newman era um pastor, teólogo e escritor respeitado entre seus pares antes de sua conversão ao catolicismo em 1845. Ele foi ordenado sacerdote católico em 1847 e posteriormente nomeado cardeal pelo papa Leão XIII em 1879.

Como católico, Newman aprofundou e contribuiu para a doutrina da Igreja, graças ao seu amplo conhecimento de teologia e à sua aguda percepção dos tempos modernos, fundamentada no Evangelho. Ele escreveu 40 livros e cerca de 20 mil cartas.

Ele morreu em Edgbaston, Inglaterra, em 1890. Foi beatificado pelo papa Bento XVI em 19 de setembro de 2010 e canonizado pelo Papa Francisco em 13 de outubro de 2019.

O que é um 'doutor da Igreja'?

O título “doutor da Igreja” reconhece os homens e mulheres canonizados que tinham conhecimento profundo, eram professores excepcionais e contribuíram significativamente para a teologia da Igreja.

Tradicionalmente, o título tem sido concedido com base em três requisitos: a santidade manifesta do candidato, confirmada por sua canonização; a eminência doutrinária da pessoa, demonstrada pelo legado de ensinamentos que contribuíram de modo significativo e duradouro para a vida da Igreja; e uma declaração formal da Igreja, geralmente feita por um papa.

Embora os ensinamentos deles não sejam considerados infalíveis, ser declarado "doutor" significa que eles contribuíram para a formulação da doutrina cristã em pelo menos uma área significativa, e esse ensinamento teve impacto em gerações posteriores.

Cerca de metade dos santos venerados como doutores na Igreja também são honrados na Igreja ortodoxa, visto que viveram antes do Grande Cisma de 1054.

O mais recente doutor da Igreja a ser nomeado foi santo Irineu de Lyon, com o título de doutor unitatis (doutor da unidade), em 2022. O papa Francisco já havia nomeado, em 2015, são Gregório de Narek doutor da Igreja. O sacerdote, monge, místico e poeta do século X era muito querido entre os cristãos armênios.

Outros santos notáveis ​​que são doutores da Igreja são: santo Agostinho, santo Ambrósio, santa Catarina de Sena, santo Tomás de Aquino, santo Antônio de Pádua, santa Teresa de Ávila, são Francisco de Sales, santa Teresa de Lisieux.

*Francesca é gerente de mídia social da Catholic News Agency (CNA) formada em Comunicação com ênfase em Mídia Digital pela Universidade do Colorado em Denver, nos EUA.

*Jonah McKeown é jornalista e produtor de podcasts de Catholic News Agency. Tem um mestrado na Escola de Jornalismo da Universidade de Missouri e trabalhou como escritor, produtor radial e camarógrafo.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/65277/o-que-significa-ser-um-doutor-da-igreja

Como evitar comer microplásticos presentes na nossa comida (Parte 1/2)

Crédito: Getty Images

Como evitar comer microplásticos presentes na nossa comida

Autor: Ally Hirschlag e Martha Henriques

De BBC Future

29 setembro 2025

Você não consegue vê-las, mas elas estão ali: centenas de minúsculas partículas de plástico se escondem no seu bife.

Assim que você acende o fogo, esses convidados indesejados se liquidificam e se misturam na carne, voltando ao estado sólido quando o bife esfria no seu prato.

O plástico não está presente apenas na carne. Na verdade, nós o ingerimos sem saber o tempo todo.

Esses intrusos que invadem nossa comida são os microplásticos e nanoplásticos — partículas de menos de 5 mm ou entre 1 e 1 mil nanômetros, respectivamente.

Mas como eles chegam aos nossos alimentos? E, em um mundo mergulhado em plástico, o que podemos fazer para reduzir sua presença no nosso prato?

A presença física dos microplásticos no corpo é de grande interesse, devido à sua enorme prevalência. Um estudo recente descobriu que existe até uma colherada de plástico no cérebro humano médio.

Se você olhar com mais atenção para a sua cozinha, começará a identificar de onde vêm os microplásticos que entram na nossa refeição: da espátula que você usa para cozinhar, da garrafa d'água que você coloca na mochila do seu filho, da xícara de chá que vai à mesa.

E eles também estão infiltrados profundamente nos alimentos que comemos, do hambúrguer até o mel.

Quando você começa a procurar, a quantidade de pontos de exposição aos microplásticos pode rapidamente se tornar assustadora. Mas é importante saber que é possível tomar medidas para reduzir a quantidade de microplásticos na nossa cozinha.

"Existem muitas soluções simples em casa, realmente fáceis de adotar", explica a professora de pediatria e ciências da saúde ambiental e ocupacional Sheela Sathyanarayana, da Universidade de Washington e do Instituto de Pesquisas Infantis de Seattle, nos Estados Unidos.

"Realmente acho que isso oferece às pessoas uma sensação de controle sobre suas próprias vidas e, de fato, temos um pouco mais de controle do que imaginamos."

Comida

Os microplásticos estão presentes nas frutas, legumes, verduras, mel, pão, laticínios, peixe e carne de vaca e frango. E também estão dentro das gemas (e das claras) dos ovos.

Um estudo realizado em 109 países concluiu que a quantidade de plástico normalmente consumida pelas pessoas em 2018 aumentou em mais de seis vezes, em relação a 1990.

Os microplásticos podem chegar aos nossos alimentos quando são absorvidos pelas raízes das plantas ou consumidos pelos animais na sua ração.

"Se você cultivar um pedaço de terra que, antes, tinha uso industrial e o solo está contaminado, [existe o] potencial de acúmulo dos contaminantes do solo nas plantas", explica Sathyanarayana.

Após a colheita, existem muitas outras oportunidades de contaminação durante o processamento. "As fábricas usam uma enorme quantidade de plástico para aumentar a eficiência e o rendimento dos produtos."

No caso de certos alimentos, é possível nos livrarmos de parte dos microplásticos antes de ingeri-los.

Um estudo realizado na Austrália concluiu que as pessoas consomem tipicamente 3 a 4 mg de plástico por porção de arroz cozido em casa e até 13 mg por porção de arroz pré-cozido. Foram encontrados microplásticos em arroz embalado em papel e em sacos plásticos.

Mas os pesquisadores descobriram que enxaguar o arroz reduz os microplásticos servidos em 20 a 40%. E lavar a carne e o peixe também pode reduzir os microplásticos, mas não eliminá-los completamente.

Estudos recentes demonstram que a água engarrafada contém mais partículas de microplástico do que se pensava (Crédito: Getty Images)

Existem alimentos que não podem ser enxaguados. O sal, por exemplo, costuma conter microplásticos devido à contaminação dos pontos de mineração e processamento.

Um estudo de 2018 concluiu que 36 dentre 39 marcas de sal analisadas continham microplásticos.

O sal marinho continha os níveis mais altos de microplásticos, provavelmente devido aos altos níveis de poluição causada por plástico nos oceanosrioslagos e reservatórios de água do planeta.

Sathyanarayana e Annelise Adrian, responsável por programas da equipe científica de materiais e plástico do WWF, propõem passar a consumir alimentos frescos e integrais ou, pelo menos, evitar ultraprocessados sempre que possível.

"Quanto mais um alimento for ultraprocessado, mais provavelmente ele terá sofrido alta contaminação por plástico, pois existem muitos pontos de contato nas fábricas produtoras de alimentos", explica Sathyanarayana.

Reduzir a quantidade de plástico na cadeia alimentar exigirá muito mais do que as simples mudanças na nossa cozinha doméstica.

Globalmente falando, se a quantidade de fragmentos de plástico que polui o ambiente fosse reduzida em 90%, poderíamos reduzir pela metade a quantidade de plástico consumida pelas pessoas nos países mais afetados.

"O plástico é um ótimo material e é barato", afirma a bióloga marinha Vilde Snekkevik, pesquisadora de microplásticos do Instituto Norueguês para Pesquisas da Água.

"O problema é que, simplesmente, nós o usamos demais. Ele está em toda parte."

Água

Seja da torneira ou da garrafa, a água é outro ponto notável de exposição aos microplásticos.

Um estudo concluiu que o simples ato de abrir e fechar a tampa de uma garrafa plástica aumenta drasticamente a quantidade de microplásticos encontrada na água dentro dela. Cada abertura e fechamento gera 553 partículas de microplástico por litro de água.

"Estão surgindo estudos que demonstram que existem muito mais micro e nanoplásticos na água engarrafada do que se pensava anteriormente", segundo Adrian.

Os microplásticos também são presença comum na água da torneira. Um estudo realizado no Reino Unido encontrou partículas em todas as 177 amostras analisadas de água da torneira, sem diferença considerável de concentração com a água engarrafada.

Conclusões similares no continente europeu, na China, Japão, Arábia Saudita e Estados Unidos sugerem que este é um problema mundial.

Mas, se analisarmos as opções, beber água da torneira pode ser uma forma melhor de reduzir a exposição aos microplásticos, se a fonte da água for segura.

Adrian afirma que investir em um filtro de boa qualidade faz diferença considerável. Um simples filtro de carvão pode retirar até 90% dos microplásticos.

Mas, mesmo se a sua água contiver baixo teor de microplásticos e você for usar um saquinho de chá que contenha plástico na sua composição, saiba que ele pode liberar cerca de 11,6 bilhões de partículas de microplástico e 3,1 bilhões de pedaços de nanoplástico na sua xícara.

O plástico é frequentemente empregado em pequenas quantidades para ajudar a vedar os saquinhos de papel. Mas existem fabricantes que passaram a usar saquinhos sem plástico na sua composição.

Embalagens e recipientes

Existe também o plástico que embala grande parte da nossa comida.

"Os alimentos embalados em plástico, inevitavelmente, conterão microplásticos", explica Adrian. "Isso pode também incluir as latas de alumínio revestidas com plástico, como as de feijão."

O simples ato de abrir embalagens plásticas libera uma grande quantidade de microplásticos.

Seja usando uma tesoura, rasgando o pacote com as mãos, cortando com uma faca ou torcendo a tampa até retirá-la, você irá liberar até 250 pedaços de microplástico por centímetro, segundo um estudo australiano.

"É desnecessário lembrar que os processos repetidos de abertura na mesma posição são similares ao uso de uma serra, destinado a gerar fragmentos", destacam os autores do estudo.

A idade de um recipiente de plástico também pode fazer diferença.

Um estudo realizado na Malásia examinou tigelas reutilizáveis de melamina e concluiu que, após 100 lavagens, a liberação de microplásticos era uma ordem de magnitude maior do que na primeira vez em que a tigela era lavada.

Outros materiais, como o silicone, podem se comportar de forma diferente à medida que envelhecem.

Mesmo se o alimento ficar no recipiente por curto período, a possibilidade de contaminação ainda é grande.

Um estudo de microplásticos em diversos tipos de recipientes usados para delivery de alimentos na China estimou que as pessoas que consomem este tipo de refeição cinco a 10 vezes por mês podem consumir entre 145 e 5.520 pedaços de microplástico, provenientes dos recipientes que embalam esses alimentos.

Continua...

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Earth.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cqxzqyq5558o

IGREJA: "A fé, na verdade, ilumina tudo com uma nova luz...(Parte 2/3)

São Pedro Apóstolo em frente a Basílica (Fleepik)

IGREJA

Arquivo 30Dias nº 01 - 1998

"A fé, na verdade, ilumina tudo com uma nova luz... e, portanto, guia a inteligência em direção a soluções plenamente humanas."

Uma conversa com o Cardeal Pio Laghi, Prefeito da Congregação para a Educação Católica.

editado por Giovanni Cubeddu Um diálogo com o Cardeal Pio Laghi

Escolas públicas e privadas 

30 DIAS: A questão do conflito entre escolas públicas e privadas desencadeou uma batalha política em nosso país. Recentemente, em 25 de outubro, o Papa defendeu as necessidades das escolas privadas, apelando para a "implementação imediata" de seus direitos legais e financeiros. Qual a sua opinião sobre o assunto? Quais são as suas sugestões? Em relação ao financiamento estatal de escolas privadas, que exemplos internacionais o senhor tem que considera aplicáveis ​​ao nosso país?

LAGHI: Creio que falar em escolas privadas e públicas não é totalmente correto ao abordar a questão. Em vez disso, deveríamos falar mais apropriadamente em escolas públicas estatais e não estatais, uma vez que mesmo as instituições de ensino não administradas pelo Estado prestam um serviço público. As intervenções de João Paulo II partem precisamente dessa premissa. As escolas não estatais, como as escolas católicas, "prestam um serviço público aberto a todas as classes sociais" (Convenção Eclesial de Palermo, 1995). Daí a necessidade de um sistema escolar integrado. 

A questão da igualdade deve, portanto, ser vista dentro do contexto mais amplo de uma aplicação genuína do princípio da liberdade de escolha educacional. De fato, é a família que detém a primazia na educação. Essa primazia se traduz concretamente na liberdade de escolher o currículo escolar que melhor corresponda à educação que se pretende transmitir e às crenças morais e religiosas da instituição. Em consonância com o direito de escolha dos pais, desenvolve-se a visão moderna da liberdade de ensino e de aprendizagem, que coloca o Estado não como educador, mas como garantidor do acesso e do direito à educação. 

A esse respeito, gostaria de lembrar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos , cujo quinquagésimo aniversário estamos nos preparando para celebrar, afirma claramente, em seu artigo 26, o direito dos pais de escolher o tipo de educação que desejam dar a seus filhos e o dever dos Estados de garantir o acesso à educação para todos e o acesso gratuito, pelo menos, à educação básica. No âmbito da União Europeia, quase toda a legislação nacional implementa os princípios da Resolução do Parlamento Europeu de março de 1984, que reconhece os direitos dos pais e dos alunos quanto à escolha da escola (artigo 7) e a obrigação dos Estados-Membros de tornar essa escolha possível, inclusive financeiramente, sem qualquer discriminação contra gestores, famílias e os próprios alunos (artigo 9).

Não se trata, portanto, de exigir qualquer tratamento preferencial para as escolas católicas, mas sim de ver finalmente implementados os princípios da liberdade e da igualdade, garantidos, entre outros, pelos artigos 33 e 34 da Constituição italiana, mas que ainda carecem de uma expressão concreta adequada. Assim, não pode haver plena igualdade jurídica para as escolas não estatais sem uma verdadeira igualdade económica, que não só reconheça os direitos das famílias, como também lhes permita exercê-los.

Existem vários modelos de financiamento para escolas não estatais na Europa e no mundo; não me cabe entrar no mérito de cada um, e não tenho, pessoalmente, preferências. Quero simplesmente salientar que vários países, mesmo aqueles com longa tradição laica, como a França, a Bélgica e os Países Baixos, implementaram com sucesso sistemas escolares integrados que garantem verdadeira igualdade jurídica e económica, respeitando, ao mesmo tempo, o projeto educativo de cada escola. Traduzindo para números, isto significa que, em França, cerca de 20% dos alunos estão matriculados em escolas católicas, enquanto nos Países Baixos, mais de 70% dos alunos frequentam escolas privadas e, na Bélgica, a percentagem é de 65%. Na Itália, porém, 115 escolas católicas fecharam nos últimos três anos, e o número de alunos diminuiu em mais de 50.000. 

Educação Católica

30GIORNI: Algumas intervenções recentes da sua Congregação, visando a suspensão de alguns cursos de formação teológica em institutos inter-religiosos no México, por serem muito próximos da Teologia da Libertação, são bem conhecidas. Este é o único problema que justificou medidas restritivas? Que outros erros a Congregação enfrenta? 

LAGHI: Sim, alguns centros teológicos no México foram suspensos. Mas precisamos entender completamente as razões que levaram a Congregação para a Educação Católica a tomar essas medidas.

Essas medidas foram elaboradas com muito esforço. Neste caso específico, a razão foi a constatação do uso da Teologia da Libertação em um sentido radicalizado e sociologizado, contrário à valorização dessa teologia, como emerge nos documentos emitidos pela Congregação para a Doutrina da Fé, Libertatis nuntius Libertatis conscientia.

Não se tratava de suprimir institutos, mas de corrigir uma abordagem educacional e doutrinal que não estava totalmente em consonância com as disposições do Concílio Vaticano II e com os recentes documentos magisteriais referentes à formação religiosa e sacerdotal. Um instituto de estudos teológicos não pode dar espaço a uma formação que enfatize apenas as dimensões puramente terrenas da mensagem do Evangelho e que corra o risco de formar assistentes sociais em vez de evangelizadores.

Essa concepção mina a própria identidade da formação para a vida religiosa e sacerdotal. Daí a necessidade de intervir para conscientizar os responsáveis ​​sobre a necessidade de reorientar a formação. Acrescentaria que qualquer intervenção nesse sentido não deve ser considerada injusta ou desproporcional, especialmente considerando o propósito específico da formação de candidatos à vida consagrada.

Evidentemente, existem outros perigos também para os seminários. A Congregação tem promovido a visitação canônica aos seminários em praticamente todo o mundo. As deficiências encontradas na Europa, América e outros continentes não podem ser definidas como "erros", mas sim como uma maior ou menor adesão aos objetivos que a Igreja estabelece para a formação humana, espiritual, intelectual e pastoral dos candidatos ao sacerdócio. Por vezes, há uma ênfase diferente nos vários aspectos da formação.

De particular importância nos seminários maiores é a introdução do "curso propedêutico", uma ferramenta especialmente eficaz para preparar os seminaristas para ingressarem no seminário maior com maior preparo espiritual e cultural.

Estamos também convencidos de que a formação dos candidatos ao sacerdócio depende muito da formação dos formadores. Por esta razão, a Congregação não só apoia iniciativas para a formação de formadores, como também promove diretamente algumas delas.

30GIORNI: A psicologia, a "avaliação de aptidão" para a vocação, é agora também utilizada na formação de sacerdotes. Podemos dizer que isto tem produzido bons resultados?

Você não acha que o abandono do sacerdócio por jovens sacerdotes, precisamente nos primeiros anos após a ordenação, exige a recuperação – antes e além da psicologia – das ferramentas essenciais da fidelidade cristã, como a oração e os sacramentos (em particular, a confissão, segundo todas as características da tradição que a Igreja estabeleceu dogmaticamente: por exemplo, a confissão integral e sincera dos pecados mortais)?

LAGHI: De fato, este tema tem sido estudado pela Congregação para a Educação Católica há muito tempo. Recentemente, tornou-se mais relevante, especialmente nos países anglo-saxões, onde o uso de testes psicológicos é obrigatório em quase todas as dioceses. Quando usados ​​corretamente, e sempre com o livre consentimento do candidato, esses testes podem ser de grande auxílio no discernimento vocacional. Aliás, em alguns casos, eles se mostram necessários, como está previsto, inclusive, na Ratio fundamentalis , n.º 39. 

Infelizmente, podem ocorrer abusos nessa área, mesmo quando realizados com as melhores intenções. Por vezes, o valor dos testes psicológicos tem sido superestimado. Hoje, acredita-se que dois aspectos devem ser equilibrados: a manutenção do direito individual à privacidade (cf. cânon 220) e a salvaguarda do bem da Igreja. Sim, alguns jovens sacerdotes abandonam o ministério imediatamente após a ordenação, mas não vamos exagerar. Contudo, não devemos esquecer que as razões para isso geralmente estão enraizadas na cultura predominante, que influencia profundamente seu comportamento. 

A Igreja deve, sem dúvida, reconhecer esta situação e adaptar o percurso da formação sacerdotal em conformidade. Certamente, deve haver a devida atenção à formação espiritual dos futuros sacerdotes, à sua preparação para uma vida de oração numa relação completamente pessoal com Jesus Cristo, e nesta relação, os sacramentos desempenham um papel insubstituível. A necessidade de uma confissão regular e plena dos pecados tem sido negligenciada com demasiada facilidade nos últimos tempos. Não há dúvida de que um regresso a esta prática prestaria um serviço insubstituível aos seminaristas. Contudo, a formação sacerdotal tem muitas outras vertentes: humana, intelectual e pastoral. 

O Papa, na encíclica Pastores Dabo Vobis , é muito claro quanto à necessidade de uma união harmoniosa de todos estes elementos e, em particular, o Santo Padre sublinha a necessidade de fundamentos sólidos sobre os quais construir. É precisamente aqui que a cultura atual se mostra deficiente em comparação com a do passado. Como já dissemos, muitos jovens não estão suficientemente preparados para as exigências da vida no seminário. 

Fonte: https://www.30giorni.it/

Leão XIV: a esperança cristã não olha para o horizonte terreno, mas para além, para Deus

Santa Missa, 03/11/225 - Papa Leão XIV (Vatican Medi)

"Caríssimos, o amado Papa Francisco e nossos irmãos cardeais e bispos, por quem hoje oferecemos o Sacrifício Eucarístico, viveram, testemunharam e ensinaram esta esperança nova, pascal", disse Leão XIV em sua homilia na missa em sufrágio do Papa Francisco e dos cardeais e bispos falecidos ao longo do ano.

https://youtu.be/jAe3nGtgkW0

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Leão XIV presidiu, na Basílica de São Pedro, na manhã desta segunda-feira (03/11), a missa em sufrágio do Papa Francisco e dos cardeais e bispos falecidos ao longo do ano, no âmbito da Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos.  

"Com grande afeto, a oferecemos pela alma eleita do Papa Francisco, que faleceu após abrir a Porta Santa e conceder a Bênção Pascal a Roma e ao mundo. Graças ao Jubileu, esta celebração — para mim, a primeira — adquire um sabor especial: o sabor da esperança cristã", disse Leão XIV no início de sua homilia.

"A Palavra de Deus que ouvimos nos ilumina", sublinhou o Papa, ressaltando que ela "o faz com um grande ícone bíblico que, poderíamos dizer, resume o significado de todo este Ano Santo: a história dos discípulos de Emaús, em Lucas".

"Ela representa vividamente a peregrinação da esperança, que passa pelo encontro com o Cristo ressuscitado. O ponto de partida é a experiência da morte, e em sua pior forma: a morte violenta que mata o inocente" e deixa os discípulos "desanimados, desencorajados e desesperados". "Quantas pessoas, quantas crianças, ainda hoje sofrem o trauma dessa morte terrível, porque ela é desfigurada pelo pecado", disse ainda o Papa.

Uma nova esperança

Segundo Leão XIV, "a essa morte não podemos e não devemos dizer "Laudato si'", porque Deus Pai não a quer e enviou seu próprio Filho ao mundo para nos libertar dela. Está escrito: Cristo precisava sofrer essas coisas para entrar na sua glória e nos dar a vida eterna. Só Ele pode suportar esta morte corrupta sobre si e dentro de si sem ser corrompido por ela. Só Ele possui palavras de vida eterna". "Confessamos isso com tremor aqui perto do túmulo de São Pedro, e essas palavras têm o poder de reacender a fé e a esperança em nossos corações", sublinhou.

“Quando Jesus toma o pão com suas mãos que tinham sido pregadas na cruz, pronuncia a bênção, parte-o e o oferece, os olhos dos discípulos se abrem, a fé floresce em seus corações e, com a fé, uma nova esperança. Sim! Não é mais a esperança que tinham antes e que haviam perdido. É uma nova realidade, um dom, uma graça do Ressuscitado: é a esperança pascal.”

Uma esperança que olha para além

"Assim como a vida de Jesus ressuscitado não é mais a mesma de antes, mas absolutamente nova, criada pelo Pai com o poder do Espírito, também a esperança do cristão não é uma esperança humana, não é nem a dos gregos nem a dos judeus; não se baseia na sabedoria dos filósofos nem na justiça derivada da lei, mas única e exclusivamente no fato de que o Crucificado ressuscitou e apareceu a Simão, às mulheres e aos outros discípulos", disse ainda o Papa. "É uma esperança que não olha para o horizonte terreno, mas para além, para Deus, para àquela altura e profundidade de onde o Sol se elevou para iluminar aqueles que jazem nas trevas e na sombra da morte", sublinhou. "Então, sim, podemos cantar: “Louvado sejas, meu Senhor, por nossa irmã morte corporal”. O amor de Cristo, crucificado e ressuscitado, transfigurou a morte: de inimiga, tornou-a irmã, a suavizou. E diante da morte, não nos entristecemos como aqueles que não têm esperança", disse Leão XIV, acrescentando:

“É claro que ficamos tristes quando uma pessoa querida nos deixa. Ficamos chocados quando um ser humano, especialmente uma criança, um “pequenino”, um ser frágil, é arrancado da vida por uma doença ou, pior, pela violência humana. Como cristãos, somos chamados a carregar o peso dessas cruzes com Cristo. Mas não estamos tristes como aqueles que não têm esperança, porque nem mesmo a morte mais trágica pode impedir nosso Senhor de acolher em seus braços nossa alma e transformar nosso corpo mortal, mesmo o mais desfigurado, à imagem de seu corpo glorioso.”

O Papa Francisco testemunhou esta esperança nova

O Papa disse ainda que "por essa razão, os cristãos não chamam os locais de sepultamento de "necrópoles", isto é, "cidades dos mortos", mas de "cemitérios", que significa literalmente "dormitórios", lugares onde se repousa, aguardando a ressurreição".

“Caríssimos, o amado Papa Francisco e nossos irmãos cardeais e bispos, por quem hoje oferecemos o Sacrifício Eucarístico, viveram, testemunharam e ensinaram esta esperança nova, pascal. O Senhor os chamou e os designou como pastores de sua Igreja, e por meio de seu ministério — para usar a linguagem do Livro de Daniel — eles “conduziram muitos à justiça”, ou seja, os guiaram no caminho do Evangelho com a sabedoria que vem de Cristo, que se tornou para nós sabedoria, justiça, santificação e redenção.”

"Que suas almas sejam purificadas de toda mancha e que brilhem como estrelas no céu. Que a nós, ainda peregrinos na terra, chegue, no silêncio da oração, o seu encorajamento espiritual", concluiu o Papa Leão.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Martinho de Porres

São Martinho de Porres (Templário de Maria)

03 de novembro

São Martinho de Porres
Religioso (1579-1639)

São Martinho de Porres: “Martinho da Caridade”

Misto de fidalgo e homem do povo, ele nos mostra uma singular via para alcançar a santidade, amando a Deus com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente, e ao próximo como a nós mesmos.

 As vastidões do Novo Mundo deslumbravam o homem europeu no longínquo despontar do século XVI. Terras férteis, abundantes riquezas naturais e a esperança de um futuro promissor tornaram-se em pouco tempo uma atração irresistível para os fidalgos ibéricos, que viam nas Américas uma oportunidade de expandir a Igreja de Deus, os domínios do Rei e abrilhantar a honra da sua estirpe.

O entusiasmo que os animava não carecia de fundamento, pois Deus parecia sorrir aos bravos expedicionários, soprando vento favorável nas velas de suas frágeis naus e coroando com o êxito temerárias empresas, movidas muitas vezes pelo desejo de conquistar almas para Cristo, mas muitas outras também por motivos bem menos elevados.

O que reservava a Providência para essas terras infindas, habitadas por povos das mais diversas índoles? O que desejava Ela para aqueles nativos, ora pacíficos, ora belicosos, ora de temperamento selvagem, ora dotados de cultura e técnicas muito desenvolvidas? Algo mais elevado que qualquer consideração política ou sociológica: dar-lhes o tesouro da Fé, a Celebração Eucarística, a graça santificante infundida através dos Sacramentos.

Fruto da heroica ação dos missionários, logo começaram a surgir no Novo Continente Santos dos mais ilustres, que perfumavam com o bom odor de Jesus Cristo os novos domínios e faziam expandir neles, pela oração ou pelo apostolado, as sementes do Reino. Pensemos, por exemplo, na Lima quinhentista. Nela conviviam Santa Rosa, terciária dominicana, hoje padroeira da América Latina, São João Macías, evangelizador infatigável, ou esse modelo de Pastor que foi São Turíbio de Mongrovejo.

Contemporâneo de todos eles, superando-os no dom dos milagres e em manifestações sobrenaturais, brilhou no convento dominicano do Santo Rosário um humilde irmão leigo chamado Martinho de Porres. “Misto de fidalgo e homem do povo, suas virtudes esplendentes contribuíram para conferir à civilização peruana do seu tempo uma beleza e uma ordenação católicas até hoje insuperáveis”. 

São Martinho de Porres (Templário de Maria)

Desejo de servir, à imitação do próprio Cristo

Nasceu ele a 9 de dezembro de 1579 na florescente Lima do tempo colonial, capital do vice-reinado do Peru, filho natural de João de Porres, cavaleiro espanhol, e Ana Velázquez, panamenha livre, de origem africana.

Em sua infância, experimentou ora as larguezas e as exigências da vida nobre ao lado do pai, em Guayaquil – atual Equador -, ora a simplicidade e o trabalho junto à mãe, em Lima, sem apegar-se a um modo de vida nem reclamar do outro. Mas tanto em uma quanto em outra circunstância ele se sentia atraído pela vida de piedade, servindo como coroinha nas Missas paroquiais ou passando noites em claro, de joelhos, rezando diante de Jesus Crucificado.

Contando apenas 14 anos dirigiu-se ao Convento do Rosário e fez um pedido ao provincial dos Pregadores, Frei João de Lorenzana. Que deseja ele ao bater à porta daquela casa de Deus? Tornar-se um servidor dos frades, na qualidade de “doado”, como então eram designados aqueles que se dedicavam às tarefas domésticas e se hospedavam nas dependências dos dominicanos. O superior, discernindo nele um chamado autêntico, recebeu-o de bom grado.

Doravante suas funções seriam varrer salões e claustros, a enfermaria, o coro e a igreja da grande propriedade, que abrigava por volta de 200 religiosos, entre noviços, irmãos leigos e doutos sacerdotes. De maneira alguma Frei Martinho se envergonhava dessa condição. Sua visão sobrenatural das coisas fazia-o compreender bem a glória que há em servir, à imitação do próprio Cristo Jesus, que Se encarnou para nos dar exemplo de completa submissão.

Após dois anos no exercício dessas árduas tarefas, vinculado à comunidade apenas como terciário, um irmão o chama à portaria. Ali estão à sua espera o superior e seu pai que, regressando de um longo período a serviço do vice-rei, no Panamá, quer reencontrar o filho.

Indignado por vê-lo ocupando posição tão humilde, o fidalgo exige do provincial que promova seu filho pelo menos a irmão leigo. O prior acede, mas os olhos de Frei Martinho, em lugar de se iluminarem de contentamento, ficam umedecidos por lágrimas. Era a sua humildade que falava mais alto, levando-o a implorar ao superior que não o privasse
da alegria de poder dedicar-se à comunidade como vinha fazendo até então.

Vocação de remediar os males alheios

No dia 2 de junho de 1603 ele faz a profissão solene dos votos religiosos, recebendo, além das funções de sineiro, barbeiro e encarregado da rouparia, o cuidado da enfermaria. Ali exerce também, à falta de médico, o ofício de cirurgião, cujos rudimentos aprendera antes de ingressar no convento.

Frei João de Lorenzana, quadro do Mosteiro de São Domingos, Lima. O superior, discernindo nele um chamado autêntico para a vida religiosa, recebeu-o de bom grado.

Seus diagnósticos certeiros sobre o verdadeiro estado dos doentes logo começam a se comprovar pelos fatos, muitas vezes contra as aparências. Por exemplo, a um enfermo que todos consideram já às portas da morte anuncia que dessa vez não morrerá; e de fato, em poucos dias encontrava-se curado. Em outra ocasião, vendo Frei Lourenço de Pareja caminhando pelo claustro, comunica-lhe que em breve deixará seu corpo mortal e chama um sacerdote para administrar-lhe os Sacramentos. Instantes depois de recebê-los, o frade expira em seu leito.

Incontáveis curas milagrosas por ele realizadas fazem sua fama ultrapassar os muros do Convento do Rosário. Pequenos e grandes, espanhóis e índios, ricos e pobres vêm pedir auxílio ao santo enfermeiro.

Começa assim a manifestar-se a vocação de Martinho, que “parece ter sido a de remediar os males alheios”,2 não poupando esforços para dar-lhes bom exemplo, conforto físico e espiritual no exercício de suas funções.

“Desculpava as faltas dos outros; perdoava duras injúrias, convencido de que era digno de penas maiores por seus pecados; procurava com todas as suas forças trazer para o bom caminho os pecadores; assistia comprazido os enfermos; proporcionava alimento, vestuário e remédios aos fracos; favorecia com todas as suas forças os camponeses, os negros, os mestiços que naquele tempo desempenhavam os mais humildes ofícios, de tal maneira que foi chamado pela voz popular Martinho da Caridade”.

Frequentes manifestações sobrenaturais

De onde vinham estas qualidades incomuns? Sem dúvida, de uma intensa espiritualidade, pois “uma vida como a de Martinho, consagrada por inteiro ao serviço do próximo, com perfeito esquecimento de si, não se explica sem uma intensa vida interior, sem o estímulo da caridade que, […] mesmo sob o peso da fadiga, não chega a sentir cansaço”.

São Martinho de Porres (Templário de Maria)

Uma noite, quando a hora já ia avançada, o cirurgião Marcelo Rivera, hóspede do convento, o procura sem conseguir encontrar. Pergunta a este, pergunta àquele, mas ninguém o vira. Acha-o, por fim, na sala capitular, “suspenso no ar, com os braços em cruz, com suas mãos coladas às de um Santo Cristo crucificado, que está num altar. E mantinha todo o corpo junto ao do Santo Crucifixo, como que O abraçando. Estava elevado a cerca de três metros do solo”.

Incontáveis testemunhas presenciaram fatos semelhantes. Assim, por exemplo, numa noite em que poucos conseguiam conciliar o sono no prédio do noviciado, devido a uma epidemia que prostrava com altas febres a maioria dos frades, ouve-se de uma das celas:

– Ó, Frei Martinho! Gostaria de ter uma túnica para trocar-me!

É Frei Vicente que, revolvendo-se no leito, entre os suores da febre, clama pelo enfermeiro, sem esperança de ser atendido, pois as portas daquele prédio já estavam trancadas e Frei Martinho vivia fora do mesmo. Mas, mal termina de falar, vê o irmão enfermeiro junto a ele, trazendo nas mãos uma camisa limpa e bem passada. Assustado, pergunta-lhe como fizera para entrar.

– Não cabe a vós saber isso – responde com bondade Frei Martinho, fazendo com o dedo sinal de silêncio.

Não longe dali o mestre de noviços, Frei André de Lisón, ouve a voz de Frei Martinho e coloca-se no corredor para verificar por onde entrara. Passa-se o tempo, e nada! Resolve então abrir a porta da cela do doente: estava sozinho e dormia um sono profundo… A admiração estende-se por todo o convento.

Frei Francisco Velasco, Frei João de Requena e Frei João de Guia também recebem visitas semelhantes. Em outra ocasião, um frade, caminhando pelo claustro, vê passar pelos ares um facho luminoso, fixa as vistas e discerne Frei Martinho voando envolto em luz.

Certa madrugada, ao toque do sino, toda a comunidade se reúne na igreja, como de costume, para cantar Matinas. De súbito, um clarão vindo do fundo ilumina todo o recinto sagrado. Voltam-se para trás os religiosos e descobrem o foco de tão intensa luminosidade: o rosto de Frei Martinho que, tendo descido para ajudar o sacristão, ali estava ouvindo o cântico sacro.

“Deus seja louvado por utilizar tão vil instrumento”

Fatos como estes ocorrem em quantidade e tornam-se públicos e notórios. Aos poucos a fama do Santo se espalha por toda Lima, chegando inclusive até o vice-rei e o Arcebispo. Nada disso, contudo, perturba sua humildade. De maneira alguma consente em perder o convívio com o sobrenatural, voltando-se para si mesmo a fim de desfrutar uma glória humana que passa “como um sonho da manhã” (Sl 89, 5).

Em certa ocasião ele vai visitar a esposa de seu antigo mestre de barbearia, a qual padecia de grave enfermidade. Convidando-o a sentar-se aos pés de seu leito, ela estica discretamente o braço até tocar com a mão na ponta do hábito do Santo. No mesmo instante, sente-se curada e exclama, pervadida de admiração:

– Tão grande servo de Deus sois, Frei Martinho, que até vossas vestes têm poder de curar! Com a esperteza própria à humildade, responde o Santo:

– Aqui está a mão de Deus, senhora. Ele a curou, através do hábito de nosso pai, São Domingos. Deus seja louvado por utilizar tão vil instrumento para operar tamanha maravilha, e porque o hábito de nosso pai não perde seu valor e devoção, mesmo vestido por tão grande pecador como eu.

“Não sou digno de estar na casa de Deus”

Outro episódio, desta vez ocorrido dentro dos muros do convento, atesta a mansidão de Frei Martinho em suportar as fraquezas que por vezes seus irmãos de hábito manifestavam. Ele as sofria com excepcional cordura, tomando-as sempre como merecidas e úteis para a expiação de seus pecados.

Três séculos após a sua morte, o exemplo de São Martinho de Porres faz elevarem-se aos Céus os nossos pensamentos.
Túmulo de São Martinho de Porres, na capela erigida no local da antiga enfermaria – Convento de São Domingos, Lima

Aconteceu que um antigo religioso acamado mandou chamá-lo na enfermaria, mas como Frei Martinho estivesse ocupado num assunto urgente, demorou um pouco a chegar. Enquanto escoavam-se os minutos o doente tomou-se de impaciência e começou a deblaterar contra o Santo, dizendo toda espécie de injúrias, externando queixas descabidas, fruto do egoísmo.

Logo acudiu ele e pediu desculpas, mas teve de ouvir uma nova catilinária, desta vez pronunciada em alta voz, de modo que os outros frades também escutaram. Preocupados, alguns irmãos se aproximaram e um deles, ao ver Frei Martinho ajoelhado junto ao doente, perguntou-lhe o que estava acontecendo.

– Padre – respondeu o humilde Irmão -, estou recebendo cinzas sem ser a quarta-feira delas. Este padre me ofereceu o pó de minha baixeza e me pôs a cinza de minhas culpas diante de mim, e eu, agradecido por tão importante lembrança, não lhe beijo as mãos porque não sou digno de colocar nelas os meus lábios, mas fico aos seus pés de sacerdote. E, creia-me, este dia foi proveitoso para mim porque dei-me conta de que não sou digno de estar na casa de Deus e entre os seus servos.

Numa fase de privação pela qual passava a comunidade, o padre prior encontrava-se muito aflito por não dispor da quantia necessária para sanar as dívidas da casa, que eram numerosas. Frei Martinho então perguntou-lhe se não queria vendê-lo como escravo, pois devia valer um preço considerável e se sentiria muito honrado por ser útil ao convento.

O sacerdote, comovido com esta atitude heroica de amor à Ordem, respondeu-lhe:

– Que Deus te pague, Frei Martinho, mas o Senhor, que te trouxe até aqui, Se encarregará de resolver o problema.

O caminho que Cristo nos ensina

A vida do despretensioso irmão transcorria serena, consumindo-se em longas vigílias de oração junto ao crucifixo e serviços na aparência muito comuns, mas sempre feitos com a intenção de glorificar a Deus, sendo amiúde coroados por milagres. Faltando um mês para completar 60 anos, uma febre violenta e frequentes desmaios o obrigaram a guardar repouso. Tudo indicava aproximar-se o fim de seu estado de prova.

A notícia se espalhou pela cidade e sua cela logo se tornou objeto de contínua peregrinação. Nessa mesma noite ele entrou em agonia. Os circunstantes o viam debater-se com gestos violentos e, estreitando em seu peito o crucifixo, increpar o maligno:

– Vai embora, maldito! Não me hão de vencer tuas ameaças!

Três dias depois, a 3 de novembro de 1639, diante dos seus irmãos de vocação que junto dele recitavam o Credo, nasceu São Martinho de Porres para a verdadeira vida, deixando atrás de si um rastro luminoso que ainda hoje suscita a veneração de incontáveis fiéis.

“Este santo varão que, com seu exemplo de virtude, atraiu tantos à Religião, agora também, três séculos após sua morte, faz elevarem-se aos Céus nossos pensamentos”, lembrou o Beato João XXIII ao canonizá-lo.9 Pois, com o exemplo de sua vida ele nos demonstra ser possível alcançar a santidade pelo caminho que Cristo nos ensina: amando a Deus, em primeiro lugar, com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente; e, em segundo, ao próximo como a nós mesmos. (Revista Arautos do Evangelho, Novembro/2013, n. 143, p. 33 à 37)

Fonte: https://templariodemaria.com/

domingo, 2 de novembro de 2025

Quando a dor apaga quem somos

mrmohock | Shutterstock

Talita Rodrigues - publicado em 30/09/25

Quando a vida apaga o brilho: redescobrindo a centelha que resiste.

Avida tem um jeito cruel de nos testar. No começo, somos cheios de brilho, sonhos e esperança. Mas, conforme os anos passam, algumas dores se acumulam. Decepções, perdas, traições, ciclos que se repetem. Cada ferida deixa uma marca, cada golpe tira um pedaço. E sem perceber, algo dentro de nós, vai morrendo.

A alegria se torna um eco distante. O que antes fazia o coração vibrar agora já não faz diferença. O riso é raro, os olhos já não brilham como antes. Você se olha no espelho e não se reconhece. Onde foi parar aquela pessoa cheia de vida? O que sobrou de quem você era?

A essência, aquela centelha única que nos torna quem somos, parece ter se apagado. Você se acostuma a sobreviver, mas não a viver. Aprende a carregar o peso dos dias, a vestir um sorriso vazio, a dizer “está tudo bem” quando, na verdade, nada está.

E o mais doloroso é perceber que ninguém realmente vê. O mundo segue o seu curso enquanto você se perde dentro de si mesma. O silêncio vira o seu refúgio, porque explicar a dor parece impossível.

Mas mesmo na escuridão, há uma esperança silenciosa. Porque se um dia você brilhou, essa luz ainda existe em algum lugar. Talvez fraca, talvez escondida, mas sempre viva. E quem sabe, um dia, depois de tantas quedas, você encontre força para reacendê-la.

A esperança como semente de renascimento:

A dor tem a capacidade de nos transformar profundamente, mas não de nos definir para sempre. Muitas vezes, acreditamos que nossa luz se apagou, quando, na verdade, ela apenas se escondeu atrás das sombras das experiências difíceis. Assim como a semente precisa ser enterrada na escuridão da terra antes de florescer, nós também, em meio às perdas e quedas, podemos reencontrar uma nova forma de existir.

No silêncio da alma, quando tudo parece vazio, uma voz suave insiste em nos chamar para o alto. É a lembrança de que a vida não se limita à dor, mas é atravessada por um sentido maior. Essa esperança, que muitas vezes se confunde com fé, nos lembra que não caminhamos sozinhos, e que há uma Presença que continua acreditando em nós, mesmo quando já não acreditamos mais.

Talvez essa seja a verdade mais difícil de aceitar: a vida pode apagar o nosso brilho por um tempo, mas nunca consegue destruí-lo por completo. Ele continua ali, como uma chama pequena, aguardando o sopro certo para voltar a arder. E, quando esse momento chega, não é mais o mesmo brilho inocente do começo — é uma luz amadurecida, marcada pela dor, mas também pela resistência.

É nessa luz renovada que descobrimos que a vida tem um propósito maior do que imaginávamos. Que cada queda pode nos aproximar de algo mais profundo, mais verdadeiro, mais eterno. E assim, mesmo depois da noite mais escura, podemos reencontrar a claridade. Porque, no fim, o brilho não vem apenas de nós — mas da força que nos sustenta e nunca nos abandona.

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Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/09/30/quando-a-dor-apaga-quem-somos/

Na missa pelos mortos pede-se a salvação da alma de quem morreu, diz padre

Padre Anderson Alves | Facebook Seminário Diocesano de Petrópolis (ACI Digital)

Por Natalia Zimbrão

2 de nov de 2025 às 07:30

A Igreja Católica comemora hoje (2), da de finados, todos os fiéis defuntos. Rezar e celebrar missas por quem já morreu é uma tradição da Igreja. Na missa pelos mortos, o fiel “deve buscar acima de tudo a salvação da alma do fiel falecido” e, “com confiança, entregar aquela alma à misericórdia de Deus, suplicar o perdão dos seus pecados, o alívio das penas devidas às suas faltas”, disse à ACI Digital, em 2023, o padre Anderson Alves, da diocese de Petrópolis (RJ). Portanto, não se trata apenas de agradecer pela vida da pessoa que morreu ou consolar os entes queridos que ficaram.

“Quem o faz com fé, já tem o consolo da mesma fé. Os sacerdotes buscam, nesse momento, fortalecer a fé pascal dos fiéis. Certamente podem agradecer a Deus pelas boas obras do fiel. Mas devem também suplicar o perdão das suas falhas e pecados, confiantes na misericórdia divina”, acrescentou o sacerdote, que é diretor espiritual do seminário diocesano Nossa Senhora do Amor Divino e professor de Filosofia e Teologia Moral na Universidade Católica de Petrópolis (UCP).

O padre Alves destacou que “a Igreja é um mistério de comunhão” e a missa pelos mortos “pretende fortalecer a comunhão”, pois, por ela, “os falecidos necessitados de purificação são auxiliados; e os seus amigos e parentes vivos são confortados, são fortalecidos na fé no mistério pascal de Cristo, que ilumina o mistério da morte do cristão”. “O cristão acredita nas palavras de Jesus: ‘Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; e quem vive e crê em mim, não morrerá eternamente’ (Jo 11, 25-26). A vitória de Cristo sobre a morte é o início da vida eterna do cristão”, acrescentou.

Segundo o sacerdote, rezar pelos mortos “supõe, evidentemente, a crença católica no juízo particular, que ocorre logo após a morte do fiel”. “A morte é a separação de corpo e alma. O corpo vai para o sepulcro e a alma sobrevive, por graça de Deus, independentemente do corpo. Essa alma é julgada pela verdade divina. As almas que estiverem na perfeição da caridade, alcançam imediatamente a comunhão com Deus, chamado então de Céu. As que morrerem com uma caridade imperfeita, ou seja, com alguns apegos ao pecado e às realidades terrestres, precisarão de uma última purificação, num estágio chamado então de ‘purgatório’. As nossas orações e o sacrifício da missa ajudam a purificar esses nossos irmãos”, disse.

O Catecismo da Igreja Católica diz em seu parágrafo 1.051 que, “ao morrer: cada homem recebe, na sua alma imortal, a sua retribuição eterna, num juízo particular feito por Cristo, Juiz dos vivos e dos mortos”. Portanto, disse o padre Alves, “é melhor evitar a afirmação de que o fiel falecido ‘já está no céu’”.

Para ele, pode ser que quem faça esta afirmação tenha “o intuito de consolar maior do que o de recordar a doutrina completa da Igreja”. “Talvez esteja movido pelos sentimentos da ocasião, ou talvez não tenha recebido um conhecimento exato da doutrina católica. A Escatologia é uma disciplina teológica que estuda esses temas e foi muito descuidada nos últimos anos, infelizmente, nas faculdades e seminários católicos”, disse.

O sacerdote destacou que “só podemos dizer” que o morto “já está no céu” em relação aos “santos canonizados pela Igreja”. “É certo que no início da Igreja, por um período, o santo era declarado como tal por aclamação popular. E um fiel pode ter a convicção de que algum falecido já esteja no céu. Muitos tiveram essa crença, por exemplo, durante o funeral de João Paulo II e Bento XVI e declaravam ‘santo súbito’. Mas só podemos ter a certeza de que um irmão esteja mesmo no Céu quando a Igreja declara a sua santidade, após um processo de canonização, algo que já ocorreu com João Paulo II e esperamos ocorrer logo com Bento XVI”, disse.

O padre Anderson Alves disse ainda que “é fato que a alma não perde a sua memória, não fica adormecida, sem consciência”. Por isso, “se um fiel falece em santidade”, ele “pode encontrar-se com outros santos, inclusive seus parentes, no Céu”; e, “se falece e vai para o purgatório, pode se recordar de outros fiéis vivos e falecidos”.

“O fato é que nós esperamos que todos se salvem, embora saibamos por fé que nem todos se salvem. A Igreja nos dá a certeza dos santos, mas não tem um catálogo dos condenados. Podemos esperar, portanto, encontrar nossos parentes e falecidos no céu e, enquanto vivemos, podemos rezar por isso e trabalhar pela salvação deles, para que esse desejo se realize. Se será realizado, só Deus o sabe”, disse.

Falta uma catequese sobre a morte

Para o padre Anderson Alves, atualmente, “falta uma catequese, uma meditação, uma reflexão maior sobre o tema dos chamados novíssimos (que falam das realidades últimas): a morte, o juízo particular, o inferno, o céu e o purgatório”.

“Infelizmente o discurso eclesial se secularizou muito nos últimos anos; tendemos a falar de política, de questões sociais, de meio ambiente, de violências, ofensas e mortes, de tantos temas nas nossas assembleias, que praticamente nos esquecemos de falar da nossa maior certeza: que todos morreremos um dia”, disse.

Ele lembrou que, “depois da morte, seremos julgados e receberemos o que tivermos buscado na nossa vida: uma vida eterna com Deus, um uma vida eterna sem Deus”. “Não há meio termo, esses são os dois únicos destinos eternos do homem”, porque “o purgatório é um estado provisório”, ressaltou.

“A cada momento, em cada ato humano, escolhemos livremente o nosso destino eterno. Isso não deve nos aterrorizar, mas deve nos tornar muito conscientes, muito responsáveis e zelosos para com o nosso tempo, com a nossa alma, com a caridade, que cobre uma multidão de pecados”, declarou.

O padre recordou as palavras de santo Tomás de Aquino, que definiu o pecado como “‘aversio a Deo et conversio ad creaturas’ (aversão a Deus e conversão às criaturas)”. “Em cada ato humano estamos escolhendo: se nos convertemos a Deus ou às criaturas. E como não podemos servir a dois senhores, se nos convertemos a Deus, não teremos criaturas como o nosso fim último. Se nos convertemos às criaturas e abandonamos a Deus, corremos o risco de nos perdermos para sempre. Devemos então nos recordar das palavras de Jesus: ‘O que adiante um homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?’ (Mc 8, 36)”, disse.

Respondendo se a Igreja mudou sua posição sobre a morte e passou a valorizar mais a manutenção e a promoção da vida do que a preparação para a vida eterna, o padre disse que não. “Pode ter ocorrido certa mudança circunstancial no discurso eclesial, como citei anteriormente, que pode dar a entender tal mudança. Mas não é possível manter a vida para sempre. Nossa maior certeza, é que somos mortais, que o nosso tempo está se esgotando, que o mais importante é decidirmos por Deus, afastando-nos do amor idolátrico pelas criaturas”.

“Evidentemente, o homem é composto de corpo e alma e temos o dever moral de cuidar do nosso corpo e da nossa alma. Devemos buscar cuidar da nossa vida, da nossa saúde, para podermos servir a Deus por muitos anos sobre essa vida, colaborando com a salvação de muitos. Também devemos ter caridade e cuidar da vida dos nossos irmãos”, disse.

Ao mesmo tempo, destacou o padre, “o nosso grande desejo deve ser o de ver a Deus, com o nosso corpo”. “A Igreja não poderá jamais deixar de promover a vida da alma. Como santo Tomás de Aquino dizia, seguindo santo Agostinho: ‘Como a alma é a vida do corpo, a caridade é a vida da alma’. E disse também são João da Cruz: ‘Ao entardecer da vida, seremos julgados pelo amor’. É isso o único que realmente conta”, concluiu.

*Natalia Zimbrão é formada em Jornalismo pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. É jornalista da ACI Digital desde 2015. Tem experiência anterior em revista, rádio e jornalismo on-line.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/56615/na-missa-pelos-mortos-pede-se-a-salvacao-da-alma-de-quem-morreu-diz-padre

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF