Translate

terça-feira, 12 de abril de 2022

Meditação sobre a paz

A Paz! | Opus Dei

Neste texto refletimos sobre a paz a partir destes temas: bem-aventurados os pacíficos, ajudar com o realismo da oração e forjar a paz começando pela família.

“VENDO AQUELAS multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele. Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo: (...)Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!” (Mt 5,1-2.9).

No Evangelho de São Mateus, o Senhor, antes de confirmar as suas palavras com prodígios, ensina com as bem-aventuranças o caminho da felicidade na terra e no céu. O caminho, ainda que surpreenda, não é mais do que ser pobre de espírito, preocupar-se com a dor dos outros, buscar a justiça, ter um coração puro, não retribuir o mal com o mal... E, também, ser uma pessoa que constrói a paz.

São Paulo VI, na metade dos anos 1970, dizia que: “infelizmente, enquanto pouco a pouco, à medida que a trágica experiência da última guerra mundial declina na esfera das recordações, se verifica uma recrudescência de espírito contencioso entre as Nações”[1]. São João Paulo II, constatando um ambiente similar, no final de 1989, apontou que “a memória vigilante do passado deve conscientizar nossos contemporâneos dos abusos sempre possíveis no uso da liberdade, que a geração deste tempo conquistou à custa de tantos sacrifícios. O frágil equilíbrio da paz – prosseguia – poderá ficar comprometido se nas consciências se despertassem males como o ódio racial, o desprezo pelos estrangeiros, a segregação dos doentes ou idosos, a exclusão dos pobres ou o recurso à violência privada e coletiva”[2]. E já nos nossos dias, o Papa Francisco, tendo em mente tanto os conflitos em diversos lugares do mundo, como a interdependência sempre crescente entre países, afirmou que se poderia falar de uma “guerra mundial aos pedaços”[3].Neste contexto, como dar vida àquelas palavras de paz que Jesus dirigiu aos seus discípulos? Como podemos ser pessoas pacíficas que buscam alcançar a bem-aventurança?

“Como são belos sobre as montanhas os pés do mensageiro que anuncia a paz” (Is 52,7), diz o profeta Isaías referindo-se a Cristo e, nele, a todos nós que queremos seguir o seu caminho. Diante da impotência e da incompreensão que a violência pode gerar, somos chamados a ser semeadores de esperança. “A realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma úni­ca família humana (...). A paz não é um sonho, nem uma utopia; a paz é possível”[4], animava Bento XVI. Em seu discurso das bem-aventuranças, Jesus une a paz com a filiação comum. “Ou somos irmãos ou tudo se desmorona”[5], afirmava o Papa Francisco.

“PAZ, VERDADE, unidade, justiça. Que difícil parece às vezes a tarefa de transpor as barreiras que impedem a convivência humana! – dizia São Josemaria. E, não obstante, nós, cristãos, somos chamados a realizar esse grande milagre da fraternidade”[6]. Deus, desde os primeiros tempos, quis nos revelar a tristeza que surge da violência entre seus filhos. “Onde está teu irmão?”(Gen 4,9), pergunta a Caim no livro do Gênesis. Trata-se de um interrogante que ressoa ao longo dos séculos, lembrando-nos a tarefa de cuidar de quem nos acompanha nesta terra. Esse “milagre da fraternidade” espera a nossa colaboração, o nosso empenho positivo, já que todos podemos ajudar de alguma maneira. Em primeiro lugar, Deus conta com as nossas orações. Se repararmos bem, nas orações da Missa incessantemente pedimos a paz.

É lógico que, sabendo que somos filhos do mesmo Pai, nos interessemos pelas coisas que acontecem em qualquer lugar do planeta. Viver a comunhão dos santos nos faz considerar nosso o destino de muitas outras pessoas. Em um mundo interconectado e quase imediato, é compreensível querer sempre saber o que está acontecendo, estar atento às mídias que nos aproximam desses lugares. No entanto, “a velocidade da informação pode superar a nossa capacidade de reflexão e de discernimento (...). O ambiente de comunicação pode ajudar-nos a crescer ou, pelo contrário, desorientar-nos”[7]. Nesse contexto, enquanto se impõe uma responsabilidade pessoal de aprender a estar bem-informado e não apenas superficialmente, sem violentar a realidade, também pode ser bom estar atento a uma possível desordem ao querer saber tudo, em tempo real, ou querer ter o máximo de detalhes possível. O prelado do Opus Dei, referindo-se à profissão da comunicação, destacou que só “um comunicador sereno poderá infundir o sentido cristão no fluxo inevitavelmente rápido da opinião pública”[8]. Da mesma forma, apenas um consumidor de notícias sereno será capaz de assimilar a informação com um sentido cristão.

“A compreensão começa quando procuramos ver pessoas concretas (e não "massas") no centro de cada relacionamento comunicativo, mesmo que essas pessoas não estejam fisicamente presentes. Nós não as vemos, mas elas estão lá, com toda a sua dignidade, especialmente quando são mais vulneráveis”[9]. Podemos alcançar esse equilíbrio para nos informar sobre os conflitos se vivermos o realismo que nos dá uma vida de oração e caridade com os mais próximos; um realismo forjado no silêncio e na vida concreta, que impulsiona o nosso desejo de servir, aqui e agora, no meio da nossa família e da nossa profissão. A vida contemplativa nos leva a cuidar do que realmente podemos mudar: primeiro em nós mesmos e depois no ambiente que nos cerca, para encher tudo de paz.

“NÃO PAGUEIS a ninguém o mal com o mal – diz São Paulo aos romanos. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens. Se for possível, quanto depender de vós, vivei em paz com todos os homens” (Rom 12, 17-18). Nosso desejo de que a paz chegue a tantos lugares do mundo pode ser um bom impulso para fazer o mesmo em nosso ambiente. Talvez também nós vivamos as nossas pequenas batalhas domésticas, ou inimizades com pessoas que vemos todos os dias. A sabedoria do povo judeu recolhia uma máxima que dizia: “É uma glória para o homem abster-se de contendas; o tolo, porém, é o único que as procura” (Prov 20,3), e isso acontece tanto em nível político como no doméstico. São João Paulo II, que foi chamado o Papa da família, viu que é precisamente nesse ambiente onde um futuro de paz para o mundo pode ser semeado: “As crianças aprendem muito cedo a conhecer a vida. Observam e imitam o modo de agir dos adultos. Aprendem rapidamente o amor e o respeito pelos outros, mas assimilam, com a mesma prontidão, o veneno da violência e do ódio. A experiência tida em família influenciará intensamente os comportamentos que assumirão quando adultos. Portanto, se a família é o primeiro lugar onde se abrem ao mundo, ela deve ser para elas a primeira escola de paz”[10].

“Tanto a paz como a guerra estão dentro de nós”[11], escreveu São Josemaria. “Se a origem de onde brota a violência é o coração humano, então é fundamental começar por percorrer a senda da não-violência dentro da família (...). Esta constitui o cadinho indispensável no qual cônjuges, pais e filhos, irmãos e irmãs aprendem a comunicar e a cuidar uns dos outros desinteressadamente e onde os atritos, ou mesmo os conflitos, devem ser superados, não pela força, mas com o diálogo, o respeito, a busca do bem do outro, a misericórdia e o perdão. A partir da família, a alegria do amor propaga-se pelo mundo, irradiando para toda a sociedade”[12]. O fundador do Opus Dei, em sua busca pela paz, recorreu a Maria; nela podemos encontrar, em primeiro lugar, a nossa paz interior e, sucessivamente, a paz no nosso ambiente, no nosso trabalho, na nossa cidade. “Santa Maria é – assim a invoca a Igreja – a Rainha da paz. Por isso, quando se conturba a tua alma, ou o ambiente familiar ou profissional, ou a convivência na sociedade ou entre os povos, não cesses de aclamá-la com esse título: ‘Regina pacis, ora pro nobis!’ - Rainha da paz, rogai por nós! Experimentaste fazê-lo, ao menos, quando perdes a tranquilidade?... - Ficarás surpreso com a sua eficácia imediata[13].

[1] São Paulo VI, Mensagem, 1/01/1974.

[2] São João Paulo II, Carta Apostólica, 27/08/1989.

[3] Francisco, Fratelli tutti, n. 259.

[4] Bento XVI, Mensagem, 1/01/2013

[5] Francisco, Vídeo-mensagem, 4/02/2022

[6] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 157.

[7] Francisco, Mensagem, 1/06/2014.

[8] Mons. Fernando Ocáriz, Discurso, 19/04/2018.

[9] Ibid.

[10] São João Paulo II, Mensagem, 1/01/1996.

[11] São Josemaria, Sulco, n. 852.

[12] Francisco, Mensagem, 1-I-2017.

[13] São Josemaria, Sulco, n. 874.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF