Os Padres da Igreja (III)
Por Susana Costa Coutinho
OS CONCÍLIOS E AS HERESIAS
Muitos “pais” da Igreja
tiveram que enfrentar as heresias em seus tempos. Alguns, inclusive,
coordenaram concílios que tiveram como objetivo exatamente refletir sobre as concepções
errôneas que foram levantadas sobre a fé cristã. Com suas palavras, buscando o
fundamento da Palavra de Deus, os “pais” da Igreja procuraram defender as
verdades da fé. Eles buscaram mostrar os erros
e orientaram a comunidade cristã a não seguir os “falsos profetas”. No
período da patrística, foram realizados quatro concílios que visavam a
consertar as heresias de suas épocas. Os concílios eram reuniões de bispos ,
presididas pelo bispo de Roma, o papa. Lembramos que os nomes dos concílios são
referentes aos lugares onde foram realizados.
- O Concílio de
Niceia, em 325, refletiu sobre a divindade de Cristo e teve a participação
importante de Atanásio, defendia que Jesus não teve um “começo”, sendo gerado
pelo Pai a partir de seu próprio ser (“gerado, não criado, consubstancial ao
Pai”). De outro lado, Ario defendia que
Jesus teve começo e foi criado do nada. Como sabemos, a tese defendida por Atanásio
e Alexandre foi assumida pela Igreja e, como Ário não abriu mão de sua
ideia, saiu do concílio com seu grupo, deixando também a unidade da Igreja. Seu
movimento ficou conhecido como arianismo.
- O Concílio de
Constantinopla, em 381, teve como tema central a divindade do Espírito
Santo. É que um grupo de cristãos da Macedônia defendia que o Espírito Santo
não era divino. O concílio concluiu que a segunda pessoa da Santíssima Trindade
“é o Senhor, o Doador da vida que procede do Pai, com o Pai e o Filho é adorado
e glorificado”. Foi nesse concílio, contemplando o que já havia sido concluído
em Niceia, que se formou o Credo Niceno-constantinopolitano, e que se condenou
o arianismo. Importante foi a presença de Gregório Nazianzeno.
Em 431, foi realizado o Concílio
de Éfeso. É que, entre outras coisas, naquele momento, o patriarca de
Constantinopla Nestório estava divulgando seus ensinamentos sobre Cristo e
Maria. Para ele, Cristo não seria uma pessoa única, havendo nele, de forma
distinta, as duas naturezas, a humana e a divina. Maria deveria ser chamada de Christotokos
(portadora de Cristo). Essas concepções ficaram conhecidas como nestorianismo.
Mas o concílio chegou a outra conclusão. Defendida por Cirilo de Alexandria,
a de que, em Jesus, há a união perfeita e inseparável das naturezas divina e
humana e, portanto, Maria é a Mãe de Deus, Theotokos (em grego).
Em 451, o Concílio de
Calcedônia refletiu sobre as duas naturezas na única pessoa de Cristo.
Parecia haver entendimentos de que a natureza humana seria “enfraquecida”
diante da divina. Ao final, o Concílio de Calcedônia afirmou que Jesus é
“perfeito tanto na divindade quanto na humanidade; esse mesmo é, na verdade,
Deus e realmente homem”. Entre trocas de acusações de um grupo e outro, de
Alexandria e Constantinopla, e outras questões, infelizmente, a Igreja se
dividiu, o que se conhece como cisma: de um lado, a sede de Jerusalém (Oriente)
e de outro, a de Constantinopla (Ocidente).
Outra frente de
“combate” nessa época, foi a busca pela unidade da Igreja. Com tantas
concepções divergentes e com interesses pessoais e de grupos em liderar a
Igreja, havia também as tendências cismáticas (separação). Mas, isso não foi
novidade para as comunidades cristãs. As diferenças de concepções sobre a
Igreja, por exemplo, existiram desde a época dos Apóstolos. Como sempre, o
importante aqui é como se busca a comunhão entre cristãos e cristãs. Buscava-se
o discernimento entre o que poderia ser diferente, sem a quebra da unidade, e o
que poderia, de fato, quebrar a unidade cristã. Daí a famosa frase atribuída a Santo
Agostinho: “No essencial, unidade; no não essencial, liberdade”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário