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quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

CATEQUESE: A sinceridade na oração

Oração (Cléofas)

A sinceridade na oração

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Para orar, é preciso ter sinceridade, a coragem de enfrentar a verdade no íntimo do coração. Vamos refletir agora sobre isso.

É interessante verificar que o primeiro conselho de Cristo sobre a oração, que se encontra no Evangelho, fala de sinceridade: “Quando orardes – diz Jesus -, não façais como os hipócritas” (Mt 6,5).

Que fazem os hipócritas? Vamos recordar o que Jesus nos diz acerca deles, e – ao vermos as máscaras que Cristo lhes arranca da alma – enxergaremos melhor a sinceridade que nos pede.

Primeira máscara: No meio da parábola do semeador, Nosso Senhor faz uma citação do profeta Isaías: O coração deste povo endureceu: taparam seus ouvidos e fecharam os seus olhos, para que seus olhos não vejam e seus ouvidos não ouçam, nem seu coração compreenda; para que não se convertam e eu os sare (Mt 13,15).

Como são claras e fortes essas palavras! O segredo está no final da frase: não querem se converter, ou seja, não estão dispostos a aceitar a graça de Deus, que os curaria dos seus erros passados e os levaria a mudar. Isso faz com que seu coração se “endureça”; e essa dureza de coração se manifesta na má vontade, que leva a não querer ouvir nem ver: tapar os ouvidos e fechar os olhos.

Que Deus nos livre dessa dureza de coração! Mas…, será que isso não acontece conosco? Às vezes, custa-nos abrir o coração com plena sinceridade diante de Deus, expor sem medo a nossa vida à luz das exigências do Evangelho, dispor-nos a acolher os conselhos de um bom confessor…, simplesmente porque não queremos mudar. “Não quero me complicar!”. O coração deixou de ser mando e flexível, e ganhou a dureza da pedra. Agir assim é a mesma coisa que expulsar Deus da alma, e dizer-lhe: “Não me toques, não mexas comigo, não me perturbes, fica longe de mim!”

Como é bela a sinceridade de uma alma que, quando vai orar, abre de par em par o coração, disposta a aceitar todas as luzes, inspirações, repreensões e exigências que Deus lhe quiser manifestar. Só ora bem uma alma transparente, uma alma corajosa, que está disposta a mudar.

Segunda máscara: a do fariseu da parábola. Sobe o templo, e ora no seu interior desta forma: Graças te dou, ó Deus, porque não sou como os outros homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali. Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros (Lc 18,9-14).

É a máscara do orgulho, do convencimento, da falsa bondade. Aparentando piedade, o fariseu, na realidade, se defende. Ele, no fundo, diz a Deus: “Veja, Deus, eu sou bom: não tenho pecado. Não falho nas minhas obrigações religiosas, e não me misturo com pecadores esse publicano aí… Portanto, estamos quites, o Senhor não tem nada que reclamar de mim, pode me deixar em paz”.

Você nunca conheceu cristãos assim? Dizem: “Não cometo pecados, não preciso me confessar, eu cumpro as minhas obrigações; rezo; vou à Missa sempre que posso”. Com essa mentalidade é impossível falar com Deus e ouvi-lo.

“O orgulho cega tremendamente”, dizia São Josemaria Escrivá. Cuidado! Porque esse orgulho que nos leva a justificar-nos, vai nos congelando, cristalizando no erro, no mal, na mediocridade. É natural que o Espírito Santo, quando encontra o nosso coração endurecido, nos recorde o que Jesus comentava acerca do fariseu: Não saiu do templo justiçado. Por quê? Porque Deus resiste aos soberbos e só dá a sua graça aos humildes (1Pd 5,5).

Entende-se assim o que diz o Catecismo da Igreja Católica: “O pedido do perdão é o primeiro movimento da oração…” (§2631), e que cite como exemplo a oração do publicano, ouvida e aceita por Deus: Tem piedade de mim, pecador (Lc 18,13).

Terceira máscara: Jesus também a arranca da alma de alguns hipócritas, quando afirma: nem todo aquele que me diz “Senhor, Senhor!”, entrará no Reino dos céus, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus (Mt 7,21).

Glosando estas palavras, são Josemaria falava da “oração dos filhos de Deus”, em contraste com o palavreado dos hipócritas: “Que o nosso clamar – Senhor! – se uma ao desenho eficaz de converter em realidade essas moções interiores que o Espírito Santo desperta na alma” (Amigos de Deus, n. 243).

A oração do egoísta sentimental, que gosta de rezar, que chora ao cantar na Igreja, que se emociona com um bom sermão…, mas que não procura captar nem realizar a Vontade de Deus, é a oração dos hipócritas, que têm duas vidas separadas: a “vida espiritual” e a vida pratica, real.

Quarta máscara: É a que nos mostra, com palavras brevíssimas, esta frase de Cristo: Quando vos puserdes de pé para orar, perdoai, se tiverdes algum ressentimento contra alguém, para que também o vosso Pai que está nos céus vos perdoe os vossos pecados (Mc 11,25).

Se – como acabamos de lembrar – o pedido de perdão é “o primeiro movimento da oração” (catecismo, §2631), com que sinceridade pode falar com Deus aquele que pede perdão, mas não perdoa? Poucas coisas existem que endureçam tanto a lama como o ressentimento. É uma barricada entre o Deus da misericórdia e o pecador, que somos nós. É lógico que, entre interlocutores tão díspares, não possa haver diálogo.

Retirado do livro: “Para Estar com Deus”. Pe. Francisco Faus. Editora Cléofas.

Fonte: https://cleofas.com.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF