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quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

Cadernos do Concílio - Volume 5

Cadernos do Concílio  (CNBB)

CADERNOS DO CONCÍLIO - VOLUME 5

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
 

“A Sagrada Escritura na vida da Igreja” 

Dando continuidade ao compêndio de livros sobre o Concílio Ecumênico Vaticano II, em preparação ao jubileu que a Igreja viverá no próximo ano e dos sessenta anos de encerramento do Concílio, hoje nos debruçaremos sobre o volume 5 dessa coleção que tem como tema: “A Sagrada Escritura na vida da Igreja”.  

A Sagrada Escritura sempre foi uma preocupação da Igreja, sobretudo ao longo do Concílio Ecumênico Vaticano II. Ao longo do Concílio foi discutido como o anúncio da Palavra de Deus pode chegar a todas as pessoas. “A Palavra se fez carne e habitou entre nós”, Jesus é a Palavra encarnada do Pai, Ele veio para ensinar aos homens o caminho do amor, da fraternidade e da paz.  

Após a ressurreição, no dia de Pentecostes, Jesus sopra sobre os discípulos o Espírito Santo e os envia em missão aos quatro cantos da terra para que anunciassem a Palavra de Deus. Os discípulos dariam continuidade a tudo aquilo que Jesus pregou, e dessa forma daria início a Igreja primitiva. Jesus não estaria mais presente fisicamente, mas por meio do anúncio da Palavra, Ele estaria presente espiritualmente. Depois dos discípulos, os padres da Igreja continuaram o anúncio da Palavra, até os dias de hoje.  

A Palavra de Deus é parte integrante da celebração Eucarística nos dias de hoje, ao longo da missa participamos de duas grandes mesas: A da Palavra e a da Eucaristia, primeiro nos alimentamos da Palavra para depois nos alimentarmos da mesa Eucarística. Podemos pegar como exemplo os discípulos de Emaús, que compreenderam tudo aquilo que aconteceu com Jesus após Ele lhes explicar as escrituras, e os olhos deles se abriram e reconheceram Jesus ao partir o pão. Por isso, temos que entender bem a Palavra que foi proclamada e explicada na homilia pelo sacerdote para que alimentados pela Palavra possamos comungar do Corpo e Sangue de Cristo.  

O Concílio Ecumênico Vaticano II discutiu bastante sobre a importância da Palavra de Deus na vida da Igreja, inclusive através da reforma litúrgica, considerando o anúncio da Palavra como parte integrante da missa, como dissemos acima. Inclusive ao longo do Concílio Ecumênico Vaticano II e como tratamos no volume 4 dessa coleção, os padres conciliares publicaram um documento chamado “Dei Verbum”, que tratava sobre a Palavra de Deus. Em 2010, quarenta e cinco anos depois, o Papa Bento XVI publicou o documento chamado “Verbum Domini”, em comemoração aos quarenta e cinco anos da publicação da “Dei Verbum”. Podemos dizer que a “Verbum Domini” é uma continuação da “Dei Verbum”, e o Papa Bento XVI quis ressaltar a importância da Palavra de Deus na vida da Igreja.  

Ao longo da “Verbum Domini” o saudoso Papa Bento XVI ressalta a importância da Palavra de Deus na liturgia e na vida da Igreja, inclusive reiterando que a Palavra de Deus é parte integrante na liturgia. O Papa diz que os fiéis devem escutar atentamente a Palavra proclamada e que a homilia do sacerdote deve focar nas leituras que foram proclamadas e deve ter um cunho catequético, para que os olhos de todos se abram e possam comungar da Eucaristia.  

O capítulo VI da “Dei Verbum” inspira o tema do volume 5 da coleção cadernos do Concílio: “A Sagrada Escritura na Vida Igreja”, o documento vai dizer que a Igreja venera as Sagradas Escrituras do mesmo modo que venera o próprio Corpo do Senhor. Reforça ainda a importância da Palavra de Deus na Sagrada Liturgia, conforme já dissemos, ao longo da celebração da missa participamos de duas grandes mesas: Palavra e o Corpo do Senhor, e temos que participar atentamente de cada uma.  

O Espírito Santo fala em nós e ajuda a abrir os olhos e o nosso coração para compreender aquilo que está dito nas Sagradas Escrituras. Por isso, antes de ler e meditar a Palavra é preciso pedir a luz e a sabedoria do Espírito Santo para o melhor entendimento dos textos Sagrados, pois ao lermos a Sagrada Escritura não estamos lendo qualquer livro, mas a Palavra de Deus revelada. Para anunciar a Palavra é preciso também pedir a luz e a sabedoria do Espírito Santo, por isso, Jesus soprou primeiro sobre os discípulos o Espírito Santo e depois os enviou em missão.  

O Espírito Santo acompanha a vida da Igreja até os dias de hoje, Ele abre os nossos olhos para reconhecer Jesus na Eucaristia a partir da Palavra que foi anunciada. A Palavra de Deus é viva e eficaz, e capaz de transformar a vida dos fiéis tornando-os mais santos. É preciso que todos os fiéis tenham acesso à Palavra de Deus: há muitas traduções da Bíblia que podem variar uma palavra ou outra, mas a Igreja nunca fugiu daquilo que está no original, e que vem do Grego, chamada de tradução dos Setenta.  

O documento trata ainda sobre não usar a Palavra de Deus de forma instrumental, ou seja, ela deve ser usada para o que de fato ela é designada: conduzir pessoas a Deus. A palavra de Deus deve visar a salvação do próximo e não a condenação. O Papa Francisco tem dito inúmeras vezes que não devemos julgar o próximo e nem nos sentirmos juízes dos outros, mas temos que, a partir da Palavra de Deus, anunciar a misericórdia e o perdão aos outros. Não podemos fazer uma leitura fundamentalista da Palavra de Deus, ou seja, interpretar de maneira equivocada o que ali está escrito, mas a partir da Palavra anunciar o amor de Deus aos outros.  

O documento reafirma ainda a importância de ler e meditar a Sagrada Escritura, sobretudo por parte dos bispos, padres, diáconos e religiosos. Além desses, os catequistas também devem meditar diariamente a Palavra, pois esses grupos se dedicam legitimamente ao ministério da Palavra e devem entregar-se assiduamente a leitura espiritual e ao estudo aprofundado das Escrituras. Dessa forma, para que possamos falar da Palavra de Deus para os outros, temos que ter o conhecimento daquilo que estamos falando.  

Nessa linha de pensamento, o que o documento quer dizer é que os bispos, sacerdotes e diáconos antes de proferirem a homilia ou a partilha da Palavra é necessário se preparar antes, ter o contato com as leituras que serão proclamadas, escrever se for preciso os pontos chaves, para que possa transmitir os conhecimentos que adquiriu com aquelas leituras. Do mesmo modo os catequistas, antes de passarem o conteúdo aos catequizandos, têm de se preparar antes, ter o contato com o tema que será apresentado e com a Palavra que será partilhada no dia, para que os catequizandos absorvam aquilo que será transmitido.  

A Palavra de Deus como um todo visa a Salvação do gênero humano, como observamos ao longo do Antigo Testamento, a história da salvação e aliança que Deus fez com o povo de Israel. Em Jesus, Deus sela uma nova e eterna aliança com a humanidade. O documento “Dei Verbum” tem muito ainda a ser estudado, e mesmo após cinquenta anos de sua publicação ele continua atual. A Palavra de Deus deve ter o seu lugar de destaque na vida da Igreja e na vida de cada batizado. Façamos diariamente a meditação da Palavra e transmitamos aquilo que de fato está contido nela. Ao participarmos da missa escutemos atentamente aquilo que a Palavra nos diz para podermos comungar da Eucaristia.  

Que o Espírito Santo nos ilumine e nos ajude a compreender todas as Palavras da Escritura e continue guiando a Igreja no caminho do bem. Amém.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF