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sábado, 9 de março de 2024

Caridade não é um negócio

Fazer caridade não é só doar (Facebook)
Revista 30Dias - 06/1998

Caridade não é um negócio

Guerino Di Tora, sacerdote romano, chefe da Caritas na cidade do Papa, não gosta de estar sob os holofotes dos meios de comunicação de massa. Mas aqui ele concorda em falar sobre as suas preocupações e os seus planos para ajudar os mais pobres. E para o futuro esperamos uma Caritas o menos centralizada possível.

Entrevista com Guerino Di Tora por Davide Malacaria

«A minha nova paróquia serão os pobres de Roma». Monsenhor Guerino Di Tora assim o declarou quando foi chamado para dirigir a Caritas de Roma, em 21 de novembro de 1997, após 26 anos de sacerdócio, dos quais 23 passados ​​na paróquia de São Policarpo. Di Tora é romano, natural do popular bairro de Prenestino, e lembra como era uma vez “cada bairro era uma família e a solidariedade era o ar que respirávamos”. 


Pobreza em Roma. Qual iniciativa da Caritas você acha que é mais importante completar? 
GUERINO DI TORA: No novo ano, durante a missão municipal, faremos o monitoramento da pobreza, um trabalho essencial, visto que a pobreza é uma realidade em constante evolução. Quem poderia imaginar, até há poucos anos, que o fenómeno dos sem-abrigo se enraizaria no mundo jovem? E que a patologia do esgotamento nervoso passou de uma doença “intelectual” a uma praga generalizada mesmo entre as pessoas simples? E mais uma vez, que não foi o único desempregado que compareceu aos nossos centros de escuta, mas toda a família? Mas este trabalho de monitorização também é importante para melhor orientar as intervenções existentes. Por exemplo, vimos como as casas familiares para pacientes com SIDA são uma experiência lucrativa, porque os pacientes recuperam a confiança em si próprios. Mas agora são insuficientes, porque os doentes vivem mais e muitas pessoas em lista de espera, confiantes - infelizmente - numa rápida rotatividade, não conseguem aceder ao serviço. 

Com o que você mais se preocupa para o futuro da Caritas? 
DI TORA: Criar uma estrutura menos centralizada possível, conseguir estar presente em todas as paróquias e prefeituras de Roma. Além disso, procurem a máxima colaboração com todos os católicos que atuam socialmente. Uma colaboração que deve estender-se também às estruturas não católicas. Porque a atenção aos outros não tem cor. É uma sensibilidade humana que, ainda mais, um batizado sente em virtude do dom da graça de Deus. 

Lembro-me de um filme de Troisi, Os caminhos do Senhor estão consumados , no qual um paralítico é assistido por seu irmão. A certa altura o paciente se recupera e o irmão se desespera, dizendo “o que eu faço agora?”. Não existe o risco de que às vezes trabalhar arduamente pelo menos provável surja como cobertura para um vazio? 
DI TORA: É um perigo real. Nos nossos cursos de formação de operadores estamos particularmente atentos a este problema. Mas às vezes as situações podem favorecer o contrário, ou seja, reencontrar o sentido de equilíbrio: penso, por exemplo, em quem ajuda quem sofre de SIDA, tarefa que nos obriga a colocar-nos questões existenciais.

Roma acolhe o túmulo de São Lourenço, o diácono mártir tão querido pelo povo romano especialmente pelo seu amor aos pobres...
DI TORA: A atenção aos últimos é uma característica da Igreja de Roma, que continua ao longo da história. Quero recordar como Santo Inácio, já no século II, escreveu que Roma tem o primado da caridade. San Lorenzo foi uma grande testemunha disso, como San Filippo Neri e muitos outros. Mas é também a cidade do Papa. Por isso, além de cuidar dos pobres de Roma, a Caritas desta cidade deve ter um alcance universal. Temos também a tarefa de agir como uma consciência crítica quando a atenção aos pobres falha. E isso também acontece com as instituições civis, locais e nacionais, com as quais nos relacionamos e trabalhamos.

Nesta fase de transição política, o Estado-Providência está a ser reestruturado em Itália...
DI TORA: Nesta reestruturação devemos permanecer muito vigilantes, porque poderíamos facilmente perder o que ganhamos ao longo dos anos com as políticas sociais. Recordo-me do discurso do Cardeal Martini em Milão, no passado dia 8 de Dezembro, no qual denunciou que a atenção aos mais fracos já não tem referências de direita ou de esquerda. Nas escolhas políticas, tendemos agora a olhar mais para a economia do que para a solidariedade. À medida que o trabalho diminui, os pobres ficam mais pobres e os ricos mais ricos.

Fonte: https://www.30giorni.it/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF