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quarta-feira, 8 de outubro de 2025

O Papa: não há história que não possa ser visitada pela esperança

Audiência Geral, 08/10/2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

Na catequese da Audiência Geral, Leão XIV se deteve na "humildade" de Jesus, um aspecto surpreendente de sua ressurreição. O Pontífice disse que a ressurreição de Cristo "é uma transformação silenciosa que dá significado a cada gesto humano". "Cada gesto realizado na gratidão e na comunhão antecipa o Reino de Deus", sublinhou.

https://youtu.be/FkqXHj8xIug

Mariangela Jaguraba - Vatican News

Na catequese da Audiência Geral, desta quarta-feira (08/10), realizada na Praça São Pedro, o Papa Leão XIV refletiu sobre "um aspecto surpreendente da Ressurreição de Cristo: a sua humildade".

Segundo os Evangelhos, "o Senhor ressuscitado não faz nada de espetacular para conquistar a fé dos seus discípulos. Não aparece rodeado de um exército de anjos, não realiza gestos dramáticos, não profere discursos solenes para revelar os segredos do universo", mas "se aproxima discretamente, como um viajante qualquer, como um faminto que pede para partilhar um pouco de pão".

Ressurreição, transformação silenciosa

Maria Madalena confunde Jesus "com um jardineiro. Os discípulos de Emaús consideram-no um forasteiro. Pedro e os outros pescadores consideram-no apenas mais um transeunte". "Nós teríamos esperado efeitos especiais, sinais de poder, provas contundentes. Mas o Senhor não procura isso: Ele prefere a linguagem da proximidade, da normalidade, da mesa partilhada", frisou o Papa.

“Irmãos e irmãs, há aqui uma mensagem preciosa: a Ressurreição não é uma reviravolta dramática, é uma transformação silenciosa que dá significado a cada gesto humano. Jesus ressuscitado come um pedaço de peixe diante dos seus discípulos: não é um pormenor marginal, é a confirmação de que o nosso corpo, a nossa história, as nossas relações não são uma embalagem a ser descartada. Estão destinados à plenitude da vida. ”

Portanto, "ressurreição não significa tornarmo-nos espíritos evanescentes, mas entrar numa comunhão mais profunda com Deus e com os nossos irmãos e irmãs, numa humanidade transfigurada pelo amor", disse ainda o Papa.

A dor não é a negação da promessa

“Na Páscoa de Cristo, tudo se pode tornar graça. Até as coisas mais comuns: comer, trabalhar, esperar, cuidar da casa, ajudar um amigo. A Ressurreição não tira a vida ao tempo e ao esforço, mas muda o seu sentido e o seu “sabor”. Cada gesto realizado na gratidão e na comunhão antecipa o Reino de Deus.”

Segundo o Papa, "existe um obstáculo, no entanto, que muitas vezes nos impede de reconhecer esta presença de Cristo na nossa vida quotidiana: a pretensão de que a alegria deve ser isenta de feridas. Os discípulos de Emaús caminham tristes porque esperavam um final diferente, um Messias que não conhecesse a cruz. Mesmo sabendo que o túmulo estava vazio, não conseguem sorrir. Mas Jesus está ao lado deles e, pacientemente, os ajuda a compreender que a dor não é a negação da promessa, mas o caminho pelo qual Deus manifestou a medida do seu amor".

Nenhuma queda é definitiva

Quando eles "se sentam à mesa com Ele e partem o pão, os seus olhos se abrem, e percebem que os seus corações já estavam ardendo, mesmo sem saber. Esta é a maior surpresa: descobrir que, sob as cinzas da desilusão e do cansaço, há sempre uma brasa viva, à espera de ser reacendida".

“Irmãos e irmãs, a ressurreição de Cristo nos ensina que nenhuma história é tão marcada pela desilusão ou pelo pecado que não possa ser visitada pela esperança. Nenhuma queda é definitiva, nenhuma noite é eterna, nenhuma ferida está destinada a permanecer aberta para sempre. Por mais distantes, perdidos ou indignos que nos sintamos, não há distância que possa extinguir a força infalível do amor de Deus.”

Leão XIV disse ainda que "por vezes, pensamos que o Senhor nos vem visitar apenas nos momentos de meditação ou de fervor espiritual, quando nos sentimos dispostos, quando as nossas vidas parecem ordenadas e luminosas".

“No entanto, o Ressuscitado aproxima-se precisamente nos lugares mais sombrios: nos nossos fracassos, nas relações desgastadas, nas fadigas quotidianas que nos pesam, nas dúvidas que nos desanimam. Nada do que somos, nenhum fragmento da nossa existência lhe é estranho.”

O Senhor está vivo, caminha conosco

"Hoje, o Senhor ressuscitado está ao lado de cada um de nós, enquanto percorremos os nossos próprios caminhos – o do trabalho e o do compromisso, mas também o do sofrimento e o da solidão – e, com infinita delicadeza, pede-nos que deixemos aquecer os nossos corações. Não se impõe em voz alta, não exige reconhecimento imediato. Aguarda pacientemente o momento em que os nossos olhos se abrirão para vislumbrar o seu rosto amigo, capaz de transformar a desilusão em expectativa confiante, a tristeza em gratidão, a resignação em esperança", disse ainda o Papa, convidando a pedir a Deus "a graça de reconhecer a sua presença humilde e discreta, de não esperar uma vida sem provações, de descobrir que cada dor, se habitada pelo amor, pode tornar-se lugar de comunhão".

“Assim como os discípulos de Emaús, nós também voltamos para casa com o coração ardendo de alegria. Uma alegria simples, que não apaga as feridas, mas as ilumina. Uma alegria que nasce da certeza de que o Senhor está vivo, caminha conosco e nos dá a cada momento a possibilidade de recomeçar.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

CIÊNCIA: O livro da Natureza, quase um “antigo testamento” (Parte 2/2)

Riccardo Giacconi no Laboratório Nacional de Brookhaven, Upton (NY) | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 11/12 - 2002

O livro da Natureza, quase um “antigo testamento”

O Bispo de Civitavecchia entrevista um jovem astrofísico sobre o Prêmio Nobel de Física concedido a Riccardo Giacconi.

por Girolamo Grillo

Então, de onde vêm esses raios X descobertos pelo nosso ganhador do Prêmio Nobel?

Eles são emitidos principalmente por objetos compactos, como remanescentes estelares que sobreviveram à fase final da vida de uma estrela devido ao esgotamento de seu combustível nuclear: pulsares (estrelas de nêutrons), restos de estrelas com massa várias vezes maior que a do Sol; e buracos negros, restos de estrelas mais massivas, até 50 vezes maiores que a do Sol.

Não é fácil ver pulsares, e é completamente impossível ver diretamente buracos negros, que não podem emitir luz: sua atração gravitacional é tal que nem mesmo a luz consegue escapar deles. A primeira evidência da existência de buracos negros foi, portanto, obtida pela observação da matéria caindo nesses poços cósmicos "vorazes". Caindo em grande velocidade, esse material é enormemente aquecido por uma série de processos que essencialmente convertem energia gravitacional em radiação de altíssima energia (até raios X), um processo que certamente está entre os mais eficientes do universo, cem vezes mais eficiente do que a fusão nuclear estelar.

Algo semelhante acontece no caso de um par de estrelas muito próximas, uma das quais é muito compacta — como um pulsar — ​​que atrai gravitacionalmente a matéria da outra.

Portanto, não há ninguém que não perceba a importância de seus insights...

Para entender o enorme significado do trabalho de Giacconi, basta considerar o fato de que o céu, visto em raios X, é diferente do céu que vemos à noite, que é o céu visto através da luz óptica. Se nossos olhos percebessem raios X e não luz óptica, de fato, veríamos um céu diferente, irreconhecível, com objetos muito brilhantes onde não os esperaríamos e luzes muito fracas — ou nenhuma — onde estamos acostumados a ver as estrelas mais brilhantes.

A mera ideia da descoberta de um "outro céu" certamente faz com que todos entendam o significado do resultado. Quem não é astrônomo provavelmente pode achar estranha a ideia de um céu noturno com uma aparência completamente diferente...

Existem também "outros céus" observáveis ​​em outras faixas de luz, no infravermelho, nas micro-ondas ou nos raios gama... Todos campos de estudo, quero destacar, nos quais a contribuição da ciência italiana é importante.

É claro que se trata de uma personalidade excepcional.

Sua estatura é evidente quando se considera que ele foi escolhido para liderar o projeto Hubble. Estamos falando de alguém considerado pela comunidade científica como a melhor escolha possível no mundo para liderar o projeto mais ambicioso do momento. Eles também o consideraram o melhor quando o nomearam chefe da AUI (Associated Universities Inc.), a organização que supervisiona os principais observatórios norte-americanos: Giacconi está agora entre os desenvolvedores do novo grande projeto ALMA para observações de rádio.

Ouvi falar dele pela primeira vez quando era chefe do Hubble e imediatamente tive a sensação de que era um dos maiores cientistas vivos. Como se tudo isso não bastasse, também fiquei impressionado com a amplitude de seus interesses culturais. Um verdadeiro homem renascentista, como ele gosta de se autodenominar. Um homem que personifica o melhor da cultura italiana em todos os sentidos da palavra e, infelizmente, teve que trazê-la para fora da Itália para que ela se desenvolvesse plenamente.

Que reflexões lhe vêm à mente considerando a emigração forçada de Giacconi? A Itália não está mais à altura do bem que pode produzir?

Felizmente, Giacconi manteve contato com a pesquisa italiana, embora certamente não na medida em que seria útil. Altamente respeitado nos círculos das Universidades de Milão e La Sapienza, em Roma, para citar duas, ele foi recentemente cofundador do ICRA (Centro Internacional de Astrofísica Relativística) em Pescara. Ele seria um enorme recurso para a ciência italiana, se as condições fossem adequadas.

Estas são considerações expressas nos últimos dias por vozes muito mais qualificadas do que a minha, pelo próprio Giacconi. Marconi emigrou após suas primeiras descobertas, Fermi o fez no meio de sua carreira científica... Outros grandes nomes de outras áreas estão agora trabalhando no exterior, como Faggin, inventor do microchip. Outros, após anos de pesquisa em contato com os maiores cientistas do mundo, retornaram ou estão tentando fazê-lo, talvez aceitando alguns sacrifícios. Mas a situação não é cor-de-rosa, e isso já é verdade há algum tempo.

É preciso dizer que, na Itália e na Europa, o enorme impulso dado à ciência pelo financiamento militar, como é o caso dos EUA, não ocorreu e não poderia ter ocorrido; que, no exterior, a privatização das universidades, que administram os fundos, ajuda e, se bem feita, pode ajudar aqui também; e que a transferência de tecnologia, ou "spin-offs", a aplicação de resultados de pesquisas ao mundo empresarial, também é de grande ajuda.

Nesta última área, por exemplo, o governo parece estar demonstrando bastante sensibilidade; em relação a outras decisões decorrentes dos tempos difíceis atuais — situações que, acredito, também refletem as falhas de governos anteriores (e até mesmo de oposições) —, limitar-me-ei a dizer que muitos na área as veem de forma bastante negativa.

No entanto, em comparação com outros países europeus, temos mais jovens saindo das universidades cheios de problemas. As pessoas se formam (é preciso dizer que nossos programas são excelentes) levando, em média, mais tempo para concluir seus estudos (veremos se a reforma dos cursos de três anos trará resultados positivos). Depois da formatura, as perspectivas são poucas e pode-se perder um tempo ainda mais precioso; muitas vezes, as oportunidades nunca aparecem, e é preciso emigrar para países mais astutos, que, portanto, aproveitam os esforços do sistema italiano para formar acadêmicos dignos. É precisamente o caso de Giacconi, "formado" em alto nível por universidades italianas. Uma pura e simples doação de recursos humanos a outros países em áreas estrategicamente cruciais. E o próprio Giacconi, no final, viu-se cercado nos Estados Unidos por outros italianos dignos, que jocosamente se autodenominavam "garibaldianos".

Pelo que ele me conta, transparece um desejo pessoal indisfarçável. O quê?

O de poder pesquisar, à minha maneira. Não é uma vida fácil, mas oferece satisfações difíceis de explicar. Para os mais capazes entre nós, é simplesmente uma questão de continuar a fazer o que mais gostamos na vida. Talvez este seja o segredo para se manter motivado e enfrentar bem uma disciplina bastante rigorosa. Mas já vi muitos dos meus colegas saírem por falta de oportunidades no nosso país.

Sair não seria um problema; o problema é que há demasiados investigadores italianos no estrangeiro que não regressam e, em vez de um intercâmbio que enriqueça a todos, corremos o risco, em última análise, de uma perda de capacidade, planeamento e competitividade do sistema italiano.

Tem alguma esperança de que alguém na Itália note a existência de tantos jovens como você que aspiram a ingressar na área da investigação em astrofísica?

Espero continuar neste caminho com dignidade e não desistirei facilmente. Se fosse para o estrangeiro, tentaria regressar. Afinal, de todos os pontos da superfície da Terra, a distância até ao céu é mais ou menos a mesma...

Mas a investigação é realmente uma busca para toda a vida e um desafio fascinante. É como abrir um livro maravilhoso – diria talvez Galileu –, O Livro da Natureza , escrito pelo próprio Deus em termos matemáticos como se fosse um “antigo testamento”, e olhar para contemplar, cheio de admiração e ânsia de conhecer, a lógica profunda da criação.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Por que a mão dos seres humanos é especial — e o maior desafio para robôs 'perfeitos' (Parte 2/2)

Até mesmo os braços robóticos mais avançados têm dificuldade de igualar a destreza e a adaptabilidade das mãos humanas (Crédito: Getty Images)

Por que a mão dos seres humanos é especial — e o maior desafio para robôs 'perfeitos'

Autor: Claudia Baxter

De BBC Future

27 janeiro 2025

A ascensão dos robôs

Há muito tempo, os roboticistas sonham com autômatos com destreza antropomórfica suficientemente boa para realizar tarefas indesejáveis, perigosas ou repetitivas.

Rustam Stolkin, professor de robótica da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, lidera um projeto para desenvolver robôs controlados por inteligência artificial altamente hábeis, capazes de lidar com resíduos nucleares do setor de energia, por exemplo. Embora esse trabalho normalmente use robôs controlados remotamente, Stolkin está desenvolvendo robôs autônomos guiados por visão que podem ir a locais onde é muito perigoso para os seres humanos se aventurarem.

Talvez o exemplo mais conhecido de um androide do mundo real seja o robô humanoide Atlas, da Boston Dynamics, que cativou o mundo em 2013 com suas capacidades atléticas. A versão mais recente do Atlas foi revelada no fim de 2024, e combina visão computacional com uma forma de inteligência artificial conhecida como aprendizado por reforço, na qual o feedback ajuda os sistemas de IA a se tornarem melhores no que fazem. De acordo com a Boston Dynamics, isso permite que o robô execute tarefas complexas, como empacotar ou organizar objetos nas prateleiras.

Mas as habilidades necessárias para realizar muitas das tarefas em setores liderados por seres humanos, nos quais robôs como o Atlas poderiam se destacar, como manufatura, construção e saúde, representam um desafio especial, de acordo com Du.

"Isso acontece porque a maioria das ações motoras manuais nesses setores exige não apenas movimentos precisos, mas também respostas adaptativas a variáveis imprevisíveis, como formas irregulares de objetos, texturas variadas e condições ambientais dinâmicas", diz ele.

Du e seus colegas estão trabalhando em robôs de construção altamente habilidosos que usam inteligência artificial integrada para aprender habilidades motoras por meio da interação com o mundo real.

Atualmente, a maioria dos robôs é treinada para tarefas específicas, uma de cada vez, o que significa que eles têm dificuldade para se adaptar a situações novas ou imprevisíveis. Isso limita suas aplicações. Mas Du argumenta que isso está mudando.

"Avanços recentes sugerem que os robôs podem, em algum momento, aprender habilidades versáteis e adaptáveis que permitam a eles lidar com uma variedade de tarefas sem treinamento específico prévio", ele afirma.

A Tesla também deu ao seu próprio robô humanoide Optimus uma nova mão no fim de 2024. A empresa divulgou um vídeo do robô pegando uma bola de tênis em pleno ar. Mas ele foi teleoperado por controle remoto manual — em vez de ser autônomo, de acordo com os engenheiros por trás dele. A mão tem 25 eixos de movimento, segundo eles.

Mas enquanto alguns inovadores tentaram recriar mãos e braços humanos em forma de máquina, outros optaram por abordagens muito diferentes em relação à destreza. A empresa de robótica Dogtooth Technologies, com base em Cambridge, criou robôs de colheita de frutas macias, com braços altamente hábeis e pinças de precisão capazes de colher e embalar frutas delicadas, como morangos e framboesas, na mesma velocidade que os trabalhadores humanos.

O cofundador e CEO da Dogtooth Technologies, Duncan Robertson, teve a ideia dos robôs colhedores de frutas enquanto estava deitado em uma praia no Marrocos. Com experiência em aprendizado de máquina (machine learning) e visão computacional, Robertson queria aplicar suas habilidades para ajudar a limpar o lixo na praia, criando um robô de baixo custo que pudesse identificar, classificar e remover detritos. Quando voltou para casa, ele aplicou a mesma lógica ao cultivo de frutas macias.

Os robôs que ele desenvolveu junto à equipe da Dogtooth usam modelos de aprendizado de máquina para implementar algumas das habilidades que nós, seres humanos, possuímos instintivamente. Cada um dos dois braços do robô possui duas câmeras coloridas, muito parecidas com olhos, que permitem identificar o grau de amadurecimento das frutas e determinar a profundidade de cada uma das frutas-alvo a partir de seu "efetor" final, ou dispositivo de preensão.

Os robôs mapeiam a dispersão e a disposição das frutas maduras no pé e transformam isso em uma sequência de ações, com um planejamento preciso da rota necessária para guiar o braço do colhedor até o caule da fruta para fazer um corte.

Cada um dos braços do robô da Dogtooth tem sete eixos de movimento, o mesmo que o braço humano, o que significa que esses apêndices podem manobrar bem o suficiente para encontrar o ângulo ideal para alcançar cada fruta sem danificar as outras que ainda estão no pé. O dispositivo de preensão agarra, então, suavemente a fruta pelo caule, passando-a para uma câmara de inspeção antes de colocá-la cuidadosamente em uma caixinha para distribuição. Outro sistema de colheita de morangos, criado pela Octinion, usa garras flexíveis para agarrar a fruta enquanto a transfere do pé para a cesta.

Milhares de receptores de toque e terminações nervosas ajudam nossas mãos a distinguir entre diferentes texturas e a ajustar a pegada de acordo com o atrito (Crédito: Getty Images)

Embora muitos de nós saibamos instintivamente quanta força é necessária para manusear um morango sem esmagá-lo, foram necessárias décadas de pesquisa e desenvolvimento para que os robôs alcançassem a mesma destreza. Robertson faz questão de enfatizar que os robôs da sua empresa não substituem os trabalhadores humanos, mas que podem ajudar a solucionar a escassez de mão de obra enfrentada em muitas áreas do setor agrícola, permitindo que pessoas e máquinas façam a colheita juntas.

Robôs capazes de lidar com algumas das tarefas mais delicadas atualmente executadas por seres humanos poderiam proporcionar um importante impulso a vários setores industriais, observa Pulkit Agrawal, professor do departamento de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos EUA.

"Somente no setor de manufatura dos EUA, algumas estimativas preveem [uma] escassez de mais de 2 milhões de trabalhadores", diz Agrawal, que está desenvolvendo máquinas capazes de manipular objetos.

"Seja em aplicações industriais, busca e salvamento, exploração espacial ou para ajudar a população idosa, o impacto da robótica alimentada por inteligência artificial vai ser transformador — muito mais do que o ChatGPT, na minha opinião."

No entanto, ao longo de um dia, as mãos humanas realizam milhares de tarefas diferentes, se adaptando para lidar com uma variedade de formas, tamanhos e materiais diferentes. E a robótica ainda tem um longo caminho pela frente para competir com isso. Um teste recente de uma mão robótica usando componentes de código aberto que custam menos de US$ 5 mil descobriu que ela poderia ser treinada para reorientar objetos no ar. Porém, quando confrontado com um objeto desafiador — um pato de borracha de brinquedo — o robô se atrapalhou, e deixou o pato de borracha cair em cerca de 56% das vezes.

Próteses que preveem

Mas, talvez, a aplicação definitiva da destreza robótica seja nas próteses —substituindo uma mão humana perdida em decorrência de um acidente ou doença, por exemplo. As pioneiras próteses mioelétricas de mão e braço que Sarah de Lagarde recebeu dão algumas dicas do que pode ser possível no futuro.

Uma colaboração entre várias empresas de software e hardware, seu braço usa reconhecimento de padrão mioelétrico, ou decodificação de intenção neurológica, que é uma forma de aprendizado de máquina que permite que sua mão aprenda seus movimentos e faça previsões com base em comportamentos anteriores. Isso significa que De Lagarde é capaz de mover a mão de forma mais instintiva.

"Uma peça de hardware integrada na prótese do braço de Sarah registra os sinais musculares na superfície de sua pele quando ela visualiza um movimento específico", diz Blair Lock, CEO da Coapt, desenvolvedora do algoritmo de inteligência artificial que impulsiona os movimentos do braço de De Lagarde. Esse hardware decodifica esses sinais musculares para adivinhar que ação De Lagarde pretende fazer com a mão.

"O modelo de reconhecimento de padrões pode detectar a intensidade de determinada ação, a velocidade e a intensidade. Ele é capaz de executar os comandos em menos de 25 milissegundos", acrescenta Lock.

De Lagarde compara o processo ao uso de um controle de videogame, no qual você pressiona uma sequência de botões para solicitar uma resposta específica do seu avatar na tela. No início, ela achava difícil realizar multitarefas, pois todos os seus pensamentos se concentravam em contrair a sequência certa de fibras musculares no ombro. Mas, por fim, os algoritmos de inteligência artificial se tornaram hábeis em prever suas intenções, o que significa que agora ela pode realizar multitarefas com muito mais facilidade.

"Posso instruí-la a ter um toque muito leve para que eu possa pegar um ovo sem esmagá-lo", diz De Lagarde.

"Mas, ao mesmo tempo, posso intensificar a pegada e torná-la muito mais forte para que eu possa realmente esmagar uma lata de Coca-Cola."

A inteligência artificial também está integrada ao aplicativo acoplado ao braço, que faz sugestões sobre como usar o braço de forma mais otimizada, com base no uso anterior. Embora seja uma grande melhoria, a prótese nunca será tão boa quanto o braço original de De Lagarde, diz ela. Ela é pesada, fica suada nos meses de verão e precisa ser carregada uma vez por dia. Além disso, ainda tem alguns obstáculos a superar em termos de funcionalidade.

Os mecanismos de feedback háptico da prótese ainda são bastante rudimentares, e De Lagarde depende principalmente da visão para manusear objetos. Periodicamente, ela se esquece de que está segurando algo e solta a pegada, deixando cair no chão.

A destreza robótica pode ser aplicada nas próteses (Crédito: Getty Images)

As mãos humanas, em comparação, usam as redes de receptores de toque em nossos dedos e palmas para sentir onde algo está, determinar a força com que precisamos agarrar para pegar um objeto, e perceber se o atrito começa a mudar.

A inteligência artificial integrada está claramente levando a robôs e próteses cada vez mais hábeis. Por enquanto, no entanto, está claro que a tecnologia ainda tem um caminho a percorrer antes de se equiparar ou superar completamente o incrível design do corpo humano. De acordo com Agrawal, os desafios permanecem no hardware robótico físico e no software.

"Embora tenhamos feito avanços significativos nos últimos anos, e a destreza semelhante à humana pareça viável, estamos a pelo menos cinco anos de distância, se não mais", diz ele.

Mesmo com o aprimoramento da destreza, há outros aspectos a serem considerados, observa Du.

"A segurança é fundamental", diz ele.

"Isso abrange tanto a segurança física, garantindo que os sistemas robóticos possam operar sem causar danos aos colegas de trabalho humanos, quanto a segurança do sistema, envolvendo proteções robustas contra falhas e redundâncias nos algoritmos de inteligência artificial para evitar mau funcionamento ou ações não intencionais."

Du também cita considerações éticas, como o impacto sobre os empregos.

Para De Lagarde, as melhorias na destreza das mãos robóticas trouxeram de volta habilidades que ela achava ter perdido — tarefas simples, como servir um copo de água e dar um abraço nos filhos com os dois braços.

Quando pergunto a De Lagarde onde ela gostaria de ver a tecnologia no futuro, ela imagina um futuro em que a ampliação robótica do corpo não se limite apenas àqueles com diferenças nos membros ou deficiência, mas possa ajudar idosos a permanecerem ativos em seus últimos anos de vida, por exemplo.

Embora ela não tenha escolhido ser uma embaixadora da inteligência artificial integrada, a disposição de De Lagarde em adotar a tecnologia também oferece um vislumbre do que pode ser possível.

Leia a íntegra desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/ce8y137mz3xo

terça-feira, 7 de outubro de 2025

A mensagem de Nossa Senhora de Fátima sobre o poder do rosário

Nossa Senhora de Fátima | Imagem ilustrativa. Crédito: Pixabay.

Por Redação central*

7 de out de 2025 às 02:00

Desde a primeira de suas aparições em 13 de maio de 1917, Nossa Senhora de Fátima revelou em sua mensagem aos três pastorinhos o poder do rosário.

Naquela ocasião, Lúcia perguntou se ela e Jacinta iriam ao céu e a Virgem confirmou que sim, mas quando perguntou por Francisco, a Mãe de Deus respondeu: “Também irá, mas tem que rezar antes muitos rosários”.

A Virgem de Fátima, naquela ocasião, abriu suas mãos e comunicou aos três uma luz divina muito intensa. As crianças caíram de joelhos e adoraram a Santíssima Trindade e o Santíssimo Sacramento. Depois, a Virgem assinalou: “Rezem o Rosário todos os dias para alcançar a paz no mundo e o fim da guerra”.

Na segunda aparição, a Virgem Maria apareceu depois que eles rezaram o Santo Rosário. E na terceira ocasião, Nossa Senhora lhes disse: “Quando rezarem o Rosário, digam depois de cada mistério: ‘Meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno, levai as almas todas para o céu, especialmente as mais necessitadas’”.

Para a quarta aparição, muitos já sabiam das aparições da Virgem aos pastorinhos. Então, Jacinta perguntou à Mãe de Deus o que queria que se fizesse com o dinheiro que as pessoas deixavam na Cova de Iria. A Virgem lhes indicou que o dinheiro era para a Festa de Nossa Senhora do Rosário e que o restante era para uma capela que se devia construir.

Mais adiante, tomando um aspecto muito triste, a Virgem lhes manifestou: “Rezem, rezem muito e façam sacrifícios pelos pecadores, porque muitas almas vão ao inferno por não ter quem se sacrifique e reze por elas”.

Ao chegar o dia da quinta aparição, as crianças conseguiram chegar à Cova de Iria com dificuldade, devido às milhares de pessoas que lhes pediam que apresentassem suas necessidades para Nossa Senhora. Os pastorinhos rezaram o Rosário com as pessoas e a Virgem, ao aparecer-lhes, incentivou novamente as crianças a continuar rezando o Santo Rosário para alcançar o fim da guerra.

Na última aparição, antes de produzir o famoso milagre do sol, no qual o astro pareceu se desprender do céu e cair sobre a multidão, a Mãe de Deus pediu que fizessem naquele lugar uma capela em sua honra e apresentou-se como a “Senhora do Rosário”.

Posteriormente, tomando um aspecto mais triste, disse: “Que não se ofenda mais a Deus Nosso Senhor, que já é muito ofendido”. Isto aconteceu em 13 de outubro de 1917.

*A Agência Católica de Informação - ACI Digital, faz parte das agências de notícias do Grupo ACI, um dos maiores geradores de conteúdo noticioso católico em cinco idiomas e que, desde junho de 2014, pertence à família EWTN Global Catholic Network, a maior rede de televisão católica do mundo, fundada em 1981 por Madre Angélica em Irondale, Alabama (EUA), e que atinge mais de 85 milhões de lares em 110 países e 16 territórios.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/49838/a-mensagem-de-nossa-senhora-de-fatima-sobre-o-poder-do-rosario

Leão XIV: esperar é escolher, quem não escolhe se desespera

Audiência Jubilar 4 de outubro 2025 - Papa Leão XIV (Vatican News)

Na catequese da Audiência Jubilar deste sábado, 04 de outubro, Leão XIV ressaltou que o "Jubileu é um tempo de esperança concreta". Recordou Clara de Assis que escolheu "a pobreza de Jesus" e disse que "os jovens gostam de pessoas que escolheram e sofreram as consequências de suas escolhas". "Assim como naquele tempo, hoje também é preciso escolher. Clara escolheu, e isso nos dá uma grande esperança", sublinhou.

https://youtu.be/XBWhYDz2MTk

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Papa Leão XIV presidiu, neste sábado (04/10), na Praça São Pedro, a Audiência Jubilar por ocasião do Jubileu do Mundo Missionário e do Jubileu dos Migrantes que se realizam neste fim de semana, 4 e 5 de outubro.

"Queridos amigos, vocês vieram como peregrinos de esperança, e o Jubileu é um tempo de esperança concreta, em que o nosso coração pode encontrar perdão e misericórdia, para que tudo possa recomeçar", disse o Pontífice no início de sua catequese.

“O Jubileu também abre para a esperança de uma distribuição diferente das riquezas, para a possibilidade de que a Terra seja todos, porque na realidade não é assim. Este ano, devemos escolher a quem servir: à justiça ou à injustiça, a Deus ou ao dinheiro.”

Esperar é escolher

"Esperar é escolher", disse o Papa Leão. "Isso significa pelo menos duas coisas. A mais evidente é que o mundo muda se nós mudarmosÉ por isso que fazemos a peregrinação, é uma escolha. Passamos pela Porta Santa para entrar num tempo novo", ressaltou.

"O segundo significado é mais profundo e sutil: esperar é escolher, porque quem não escolhe se desespera", frisou o Pontífice.

“Uma das consequências mais comuns da tristeza espiritual, ou seja, da acídia, é não escolher nada. Quem a experimenta é tomado por uma preguiça interior que é pior que a morte. Esperar, no entanto, é escolher.”

Clara de Assis soube escolher

A seguir, o Papa recordou "uma mulher que, com a graça de Deus, soube escolher. Uma jovem corajosa e contracorrente: Clara de Assis". Leão XIV manifestou alegria de falar sobre Clara de Assis no dia da festa de São Francisco. "Sabemos que Francisco, ao escolher a pobreza evangélica, teve que romper com a família", frisou Papa, recordando que "a escolha de Clara foi ainda mais impressionante: uma jovem que queria ser como Francisco, que queria viver, como mulher, livre como aqueles irmãos".

De acordo com Leão XIV, "Clara entendeu o que o Evangelho exige. Mas mesmo numa cidade que se considera cristã, o Evangelho levado a sério pode parecer uma revolução. Assim como naquele tempo, hoje também é preciso escolher! Clara escolheu, e isso nos dá uma grande esperança".

“Vemos duas consequências de sua coragem em seguir esse desejo: a primeira é que muitas outras jovens daquele território encontraram a mesma coragem e escolheram a pobreza de Jesus, a vida das Bem-Aventuranças; a segunda consequência é que essa escolha não foi passageira, mas perdura no tempo, até nós. A escolha de Clara inspirou escolhas vocacionais em todo o mundo e continua inspirando até hoje.”

A Igreja é jovem e atrai os jovens

O Papa recordou as palavras de Jesus que diz: "Não se pode servir a dois senhores". "Por isso, a Igreja é jovem e atrai os jovens. Clara de Assis nos lembra que o Evangelho atrai os jovens", disse ainda Leão, ressaltando que "continua sendo assim, pois os jovens gostam de pessoas que escolheram e sofreram as consequências de suas escolhas". "Isso faz com que outros queiram escolher. É uma imitação santa: não nos tornamos "fotocópias", mas cada pessoa — quando escolhe o Evangelho — escolhe a si mesma. Perde-se e encontra-se. A experiência mostra: é assim que acontece", destacou.

Por fim, o Papa convidou "a rezar pelos jovens, rezar para sermos uma Igreja que não serve ao dinheiro ou a si mesma, mas ao Reino de Deus e à sua justiça. Uma Igreja que, como Santa Clara, tem a coragem de habitar a cidade de forma diferente".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

CIÊNCIA: O livro da Natureza, quase um “antigo testamento” (Parte 1/2)

Riccardo Giacconi no Laboratório Nacional de Brookhaven, Upton (NY) | 30Giorni.

Arquivo 30Dias nº 11/12 - 2002

O livro da Natureza, quase um “antigo testamento”

O Bispo de Civitavecchia entrevista um jovem astrofísico sobre o Prêmio Nobel de Física concedido a Riccardo Giacconi.

por Girolamo Grillo

Fiz algumas perguntas a um jovem astrofísico que conheço para saber mais sobre as boas notícias sobre o Prêmio Nobel do Professor Riccardo Giacconi. 

Algum comentário introdutório? 

Fiquei emocionado com a notícia. Riccardo Giacconi é, na minha opinião, um dos poucos verdadeiros gigantes da ciência mundial hoje. 

Alguma notícia sobre sua carreira, embora já tenhamos lido (e acrescento: com grande prazer, em meio a tantas notícias desagradáveis)? 

Ele foi aluno de Beppo Occhialini e voltou sua atenção para o estudo dos raios cósmicos com outro gênio, Bruno Rossi (dois alunos de Enrico Persico, o amigo de colégio com quem Fermi vagava por Roma em busca de livros usados). Todos são cientistas brilhantes e, ao mesmo tempo, grandes mestres do rigor e do método científico que educaram outros cientistas brilhantes. Em 1962, juntamente com Rossi, Gursky e Paolini, ele escreveu o artigo seminal relatando a descoberta da primeira fonte de raios X fora do sistema solar. Nesse ínterim, ele já havia se mudado para os Estados Unidos, para trabalhar na empresa privada ASE (American Science and Engineering), onde obteve financiamento governamental para conduzir suas pesquisas espaciais e construir o foguete Acrobec, com o qual fez suas primeiras observações. Em 1963, propôs o estudo de um satélite dedicado à astrofísica de raios X, o satélite "Uhuru" (liberdade em suaíli), lançado em 1970 da base de San Marco, no Quênia, administrado pela Universidade de Roma. Os resultados do satélite foram excepcionais. Giacconi imediatamente começou a estudar o primeiro observatório espacial de raios X, o "Einstein", que seria lançado em 1978. Em 1973, Giacconi e vários membros de seu grupo foram chamados à Universidade Harvard para fundar a seção de "Astrofísica de Altas Energias".

Em 1981, aceitou o cargo de diretor do Instituto do Telescópio Espacial, ingressando assim na astronomia e na astrofísica óptica espacial, demonstrando uma versatilidade incomum em uma era de grande especialização. Quando um defeito de fabricação foi descoberto no espelho do telescópio Hubble, Giacconi assumiu novamente o comando com sua mão firme característica e organizou, em uma corrida contra o tempo, a missão que conseguiu repará-lo em órbita. Em 1992, foi nomeado Diretor-Geral do Observatório Europeu do Sul (ESO). O projeto envolvia o maior observatório terrestre, o Very Large Telescope (VLT), um conjunto de quatro telescópios de 8 metros que podiam ser usados ​​individualmente ou em conjunto (como um interferômetro, com maior sensibilidade). 

Em suma, um grande cientista no sentido da pesquisa pura e um grande organizador do trabalho de seus colegas, como um cientista moderno deve ser, à maneira de Fermi. Por qual descoberta ele recebeu o Prêmio Nobel?

Ele teria merecido o prêmio por vários sucessos ou por toda a sua carreira excepcional; especificamente, ele venceu por ter fundado o novo campo da astrofísica de raios X quase do zero com seu trabalho em 1962 (exatamente 40 anos atrás).

O fato de haver objetos no céu que também emitem raios X está longe de ser trivial. As estrelas, durante a longa e calma fase da fusão nuclear do hidrogênio (dois átomos de hidrogênio se unem para formar um átomo maior, liberando energia), podem ser consideradas corpos com temperaturas entre 3.000 e 50.000 graus (para o Sol, por exemplo, em torno de 5.700 graus); um corpo a essa temperatura (aproximadamente a mesma do filamento de uma lâmpada) emite muita luz óptica e muito pouca luz de raios X. Os processos que causam a presença desta última são, portanto, diferentes.

Você pode me explicar de forma simples o que são raios X?

A luz é uma onda de energia, e a quantidade de energia varia dependendo do comprimento de onda, essencialmente no caso da luz "colorida". Tanto a luz visível quanto, digamos, os raios X e as ondas de rádio são ondas eletromagnéticas, mas de energias diferentes. Nossos olhos são sensíveis a apenas uma parte da luz, a chamada "faixa óptica". As cores da íris, do vermelho ao violeta (mas a variação é contínua; o termo "sete cores" é usado apenas por conveniência), são, na verdade, ondas de energias ligeiramente diferentes, mais baixas no vermelho e mais altas no violeta.

Outras "cores" existem em energias mais baixas que o vermelho e mais altas que o violeta. Para entender, é como se a íris se estendesse além do vermelho e do violeta com outras cores que o olho não consegue ver. Em energias mais altas na faixa óptica, além do violeta, encontramos o ultravioleta (o nome não é coincidência), depois os raios X (geralmente divididos em raios "suaves", os menos energéticos, e raios "duros"), e depois os raios gama. Em energias mais baixas que o vermelho, encontramos primeiro o infravermelho, depois as micro-ondas e, finalmente, as ondas de rádio.

A luz mais energética penetra facilmente na matéria, de modo que os raios X podem atravessar parcialmente o corpo humano, daí os raios X.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Por que a mão dos seres humanos é especial — e o maior desafio para robôs 'perfeitos' (Parte 1/2)

Nossas mãos realizam milhares de tarefas complexas todos os dias — será que a inteligência artificial pode ajudar os robôs a se equiparar a elas? (Crédito: Getty Images)

Por que a mão dos seres humanos é especial — e o maior desafio para robôs 'perfeitos'

Autor: Claudia Baxter

De BBC Future

27 janeiro 2025

A mão humana é uma das partes do corpo mais surpreendentemente sofisticadas e fisiologicamente intrincadas. Ela tem mais de 30 músculos, 27 articulações e uma rede de ligamentos e tendões que proporcionam 27 eixos de movimento. Há mais de 17 mil receptores de toque e terminações nervosas somente na palma da mão. Esses recursos permitem que nossas mãos executem uma variedade impressionante de tarefas altamente complexas por meio de uma ampla gama de movimentos diferentes.

Mas não é preciso dizer nada disso a Sarah de Lagarde.

Em agosto de 2022, ela estava no topo do mundo. Tinha acabado de escalar o Monte Kilimanjaro com o marido, e estava em excelente forma. Mas apenas um mês depois, ela se viu deitada em um leito de hospital, com ferimentos terríveis.

Ao voltar para casa depois do trabalho, De Lagarde escorregou e caiu entre um vagão do metrô e a plataforma na estação High Barnet, em Londres. Esmagada pelo trem que partia e por outro que entrava na estação, ela perdeu o braço direito abaixo do ombro, e parte da perna direita.

Após o longo processo de recuperação, o NHS, serviço público de saúde britânico, ofereceu a ela uma prótese de braço, mas ela proporcionava pouco em termos de movimento normal da mão. Em vez disso, parecia priorizar a forma, em detrimento da funcionalidade.

"Não se parece com um braço de verdade", diz ela.

"Meus filhos acharam assustador."

A prótese apresentava apenas uma única articulação no cotovelo, enquanto a mão em si era uma massa estática na extremidade. Durante nove meses, ela lutou para realizar as tarefas diárias, até que foi oferecido a ela algo transformador: um braço biônico movido a bateria que utiliza inteligência artificial (IA) para prever os movimentos que ela deseja, detectando minúsculos sinais elétricos de seus músculos.

"Toda vez que faço um movimento, ela aprende", explica De Lagarde.

"A máquina aprende a reconhecer os padrões e, por fim, transforma em inteligência artificial generativa, quando começa a prever qual será meu próximo movimento."

Até mesmo pegar algo tão simples como uma caneta, e movê-la por nossos dedos até adotar uma posição para escrever envolve uma integração perfeita entre o corpo e o cérebro. As tarefas manuais que realizamos sem pensar exigem uma combinação refinada de controle motor e feedback sensorial — desde abrir uma porta até tocar piano.

Com esse nível de complexidade, não é de se admirar que as tentativas de igualar a versatilidade e a destreza das mãos humanas tenham sido evitadas por profissionais médicos e engenheiros durante séculos. Desde a rudimentar mão de ferro com mola de um cavaleiro alemão do século 16 até a primeira mão robótica do mundo com feedback sensorial criada na Iugoslávia na década de 1960, nada chegou perto de se equiparar às habilidades naturais da mão humana. Até agora.

Os avanços na inteligência artificial estão dando início a uma geração de máquinas que estão chegando perto de corresponder à destreza humana. Próteses inteligentes, como a que De Lagarde recebeu, podem antecipar e refinar os movimentos.

Os robôs de colheita de frutas macias são capazes de colher um morango em um campo e colocá-lo delicadamente em uma caixinha com outras frutas sem amassá-las. Os robôs guiados por visão conseguem até mesmo extrair cuidadosamente resíduos nucleares de reatores. Mas será que eles podem realmente competir com as incríveis capacidades da mão humana?

Inteligência artificial integrada

Recentemente, dei à luz minha primeira filha. Poucos instantes após chegar ao mundo, sua pequena mão envolveu suavemente o dedo indicador do meu companheiro. Incapaz de focar o olhar em algo que esteja a mais do que alguns centímetros à sua frente, seus movimentos de mão e braço são limitados, em geral, a reflexos involuntários que permitem que ela segure um objeto quando ele é colocado na sua palma da mão. Essa é uma ilustração adorável da sensibilidade da nossa destreza, mesmo em nossos primeiros momentos de vida — e sugere o quanto ela melhora à medida que crescemos.

Nos próximos meses, a visão da minha filha vai avançar o suficiente para dar a ela percepção de profundidade, enquanto o córtex motor de seu cérebro vai se desenvolver, oferecendo maior controle sobre seus membros. Suas pegadas involuntárias vão dar lugar a ações de agarrar mais deliberadas, com suas mãos enviando sinais de volta ao cérebro, permitindo que ela faça ajustes finos no movimento à medida que sente e explora o mundo ao seu redor. Serão necessários vários anos de esforço determinado, tentativas, erros e brincadeiras para que minha filha atinja o nível de destreza manual que os adultos possuem.

E, assim como um bebê que aprende a usar as mãos, os robôs habilidosos que utilizam inteligência artificial integrada seguem um roteiro semelhante. Esses robôs devem coexistir com seres humanos em um ambiente e aprender a realizar tarefas físicas com base na experiência anterior. Eles reagem ao ambiente e ajustam seus movimentos em resposta a essas interações. A tentativa e o erro desempenham um papel importante nesse processo.

"A IA tradicional lida com informações, enquanto a IA integrada percebe, entende e reage ao mundo físico", diz Eric Jing Du, professor de engenharia civil da Universidade da Flórida, nos EUA.

"Essencialmente, ela oferece aos robôs a capacidade de 'ver' e 'sentir' o ambiente ao seu redor, permitindo que eles realizem ações de maneira semelhante à humana."

Mas essa tecnologia ainda está engatinhando. Os sistemas sensoriais humanos são tão complexos, e nossas habilidades perceptivas tão hábeis, que reproduzir a destreza no mesmo nível da mão humana continua sendo um grande desafio.

"Os sistemas sensoriais humanos podem detectar pequenas mudanças e se adaptar rapidamente às mudanças nas tarefas e nos ambientes", acrescenta Du.

"Eles integram vários inputs sensoriais, como visão, tato e temperatura. Atualmente, os robôs não têm esse nível de percepção sensorial integrada."

A mão humana é surpreendentemente sofisticada e fisiologicamente intrincada (Crédito: Getty Images)

Mas o nível de sofisticação está aumentando rapidamente. Veja o robô DEX-EE. Desenvolvido pela Shadow Robot Company em colaboração com o Google DeepMind, é uma mão robótica com três dedos que usa drivers do tipo tendão para obter 12 eixos de movimento. A equipe por trás do DEX-EE, projetado para "pesquisa de manipulação hábil", espera demonstrar como as interações físicas contribuem para o aprendizado e o desenvolvimento da inteligência generalizada.

Cada um de seus três dedos contém sensores na ponta do dedo, que fornecem dados tridimensionais em tempo real sobre o ambiente, além de informações sobre sua posição, força e inércia. O dispositivo pode manusear e manipular objetos delicados, incluindo ovos e balões inflados, sem danificá-los. Ele aprendeu até mesmo a apertar as mãos — algo que exige que reaja à interferência de forças externas e situações imprevisíveis. No momento, o DEX-EE é apenas uma ferramenta de pesquisa, e não para ser usado em situações reais de trabalho em que poderia interagir com seres humanos.

Mas entender como realizar essas funções vai ser essencial à medida que os robôs se tornarem cada vez mais presentes ao lado das pessoas, tanto no trabalho quanto em casa. Com que força, por exemplo, um robô deve segurar um paciente idoso ao colocá-lo em uma cama?

Um projeto de pesquisa do Instituto Fraunhofer IFF em Magdeburg, na Alemanha, configurou um robô simples para "socar" repetidamente voluntários humanos no braço, num total de 19 mil vezes, para ajudar seus algoritmos a aprender a diferença entre uma força potencialmente dolorosa e uma confortável. Mas alguns robôs habilidosos já estão começando a aparecer no mundo real.

Leia a íntegra desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/ce8y137mz3xo

Papa, em oração, pede união entre as religiões em um mundo ferido por conflitos

O vídeo do Papa (Vatican News)

No vídeo de intenção de oração de outubro, Leão XIV pede para rezarmos juntos "para que os crentes de diferentes tradições religiosas trabalhem juntos para defender e promover a paz, a justiça e a fraternidade humana". As religiões precisam ser "fermento de unidade em um mundo fragmentado", marcado por tantos conflitos e polarizações, diz Leão XIV ao convidar os que creem a buscar o que nos une e justamente no mês em que se celebra o aniversário de 60 anos do documento conciliar Nostra aetate.

https://youtu.be/TsnelqJNY7Y

Andressa Collet - Vatican News

“Rezemos para que as pessoas de diferentes tradições religiosas trabalhem juntas para defender e promover a paz, a justiça e a fraternidade humana.”

Assim começa Leão XIV na mensagem em vídeo com a intenção de oração para outubro que o Pontífice confia à Igreja Católica através da Rede Mundial de Oração do Papa. As religiões, continua ele, não devem ser usadas como “arma ou muro”, mas precisam ser vividas como “ponte e profecia”, sendo "fermento de unidade em um mundo fragmentado". Em um tempo marcado por tantos conflitos e polarizações, Leão XIV convida todos os que creem a buscar o que nos une e justamente no mês em que se celebra o aniversário de 60 anos do documento conciliar Nostra aetate.

A proposta do vídeo, que traz uma oração lida pelo Papa, também nasce em uma época em que a religião, tantas vezes, é usada pela lógica da contraposição. E o Leão XIV, ao contrário, convida a redescobri-la como ponte de fraternidade e força de reconciliação. O sentido profundo da oração é que a colaboração entre os que creem não se esgota em uma tarefa apenas de teólogos e expertos, mas se nutre no compromisso concreto e diário que diz respeito a cada um de nós.

Vários exemplos concretos são contados no vídeo, através das imagens, que entrelaçam momentos “do alto” e iniciativas “de baixo”. De um lado, o desenrolar histórico do caminho inter-religioso: o encontro histórico promovido por João Paulo II em Assis, em 1986; a visita de Bento XVI à Sinagoga de Roma, em 2010; a assinatura do Documento sobre a Fraternidade Humana em Abu Dhabi, em 2019, no pontificado do Papa Francisco; até aos mais recentes encontros ecumênicos do Papa Leão XIV, no Vaticano. De outro lado, porém, a intenção de oração deste mês recorda que o diálogo inter-religioso não se esgota nos encontros entre líderes: as imagens do vídeo lançam luz às experiências promovidas seja em nível local ou em âmbito eclesial, como o encontro inter-religioso organizado em Singapura, em abril deste ano, pela Cáritas e a arquidiocese, por ocasião da Jornada da Terra, ou como o evento “One Human Family” promovido pelo Movimento Focolares entre maio e junho de 2024. São dois sinais recentes e concretos de um diálogo que promove proximidade, fidelidade e cooperação cotidiana.

Nostra aetate, 60 anos de frutos

Essa intenção de oração está no horizonte das celebrações do aniversário de 60 anos da Nostra aetate, a declaração do Concílio Vaticano II que transformou o relacionamento da Igreja católica com as demais religiões, abrindo caminhos de diálogo, respeito e colaboração. Há dez anos, no aniversário de 50 anos do documento, o Papa Francisco destacou a sua atualidade, recordando que a via do diálogo requer conhecimento, respeito e estima recíprocas, e que o mundo olha aos que creem pedindo respostas eficazes para a paz, a fome, a pobreza, as crises ambientais e a violência, sobretudo aquela praticada em nome da religião. Naquele contexto, o Papa realçou também que os que creem não têm “receita” para todos os problemas, mas possuem uma grande reserva: a oração, que é o tesouro ao qual recorremos conforme as respectivas tradições.

A oração de Leão XIV no vídeo de outubro

Senhor Jesus,
Tu, que na diversidade és um só
e olhas com amor para cada pessoa,
ajuda-nos a nos reconhecermos como irmãos e irmãs,
chamados a viver, rezar, trabalhar e sonhar juntos.

Vivemos em um mundo cheio de beleza,
mas também ferido por profundas divisões.
Às vezes, as religiões, em vez de nos unirem,
tornam-se causa de confronto.

Dá-nos o teu Espírito para purificar os nossos corações,
para que possamos reconhecer o que nos une
e, a partir daí, aprender novamente a escutar
e a colaborar sem destruir.

Que os exemplos concretos de paz,
justiça e fraternidade nas religiões
nos inspirem a acreditar que é possível viver
e trabalhar juntos, para além das nossas diferenças.

Que as religiões não sejam usadas como armas ou muros,
mas vividas como pontes e profecia:
tornando possível o sonho do bem comum,
acompanhando a vida, sustentando a esperança
e sendo fermento da unidade em um mundo fragmentado.

Amém.

Um compromisso contínuo

“A temática do diálogo interreligioso está presente de modo significativo e recorrente nas intenções de oração dos Papas”, lembra o Pe. Cristóbal Fones, diretor internacional da Rede Mundial de Oração do Papa, recordando que “isso aconteceu muitas vezes, nos anos precedentes, durante o mês de janeiro, coincidindo com a Jornada Mundial da Paz. Em 2016, por exemplo, se rezou para que  ‘o  diálogo sincero entre homens e mulheres das diferentes religiões produza frutos de paz e de justiça’; em 2020, ‘para que os cristãos, os que seguem outras religiões e as pessoas de boa vontade promovam a paz e a justiça no mundo’; em 2021, ‘para que o Senhor nos dê a graça de viver em plena fraternidade com os irmãos e as irmãs de outras religiões, rezando uns pelos outros, abertos a todos’. A intenção de outubro de 2025 se insere também neste percurso, o testemunho de um caminho – o do diálogo – que está presente no coração dos Pontífices”.

“Os encontros entre líderes das várias religiões – continua Pe. Fones – dão sempre Ibope, como é justo que seja, por que dão esperança num momento em que a tentação do confronto arrisca comprometer a necessidade do encontro. Mas a oração lida neste mês pelo Papa Leão XIV nos diz que a colaboração se constrói também quando não dá Ibope, ou seja na vida vivida todos os dias: conhecer-se e respeitar-se,  aprender uns dos outros, rezar juntos pela humanidade, defender e promover a paz nos lugares em que vivemos. São estilos de vida cotidiana que todos podemos escolher: buscar o que nos une e trabalhar pelo bem comum, juntamente com irmãos e irmãs que professam uma fé diferente. Assim os que creem se tornam artesãos de paz e de fraternidade”.

Recordamos finalmente que, no contexto do Ano Santo 2025, o Vídeo do Papa adquire uma importância particular, porque nos faz conhecer as intenções de oração que o Santo Padre carrega no seu coração. Para obter a graça da indulgência jubilar, você poderá rezar por estas intenções.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Casamento: compromisso que não pode se apoiar nestas 6 más razões

PeopleImages I Shutterstock

Mathilde de Robien - publicado em 06/10/25

Angústia da solidão, gravidez inesperada, medo de magoar… O matrimônio é um compromisso total, de todo o ser e para toda a vida, e não pode se apoiar em más razões. Isso leva cedo ou tarde à decepção.

Existem inúmeras boas razões para se casar: o desejo recíproco, a vontade de formar uma família, a promessa de ter um companheiro nos momentos de alegria e um apoio nos momentos de dor, o desejo de fazer o outro feliz, a possibilidade de dar, por meio do sacramento do matrimônio, um lugar a Cristo no coração do casal… Mas há também más razões que convém identificar antes de embarcar nessa grande aventura. Pois desse discernimento depende a alegria da vida conjugal.

Adélaïde e Michel Sion, animadores das sessões de preparação para o matrimônio “Construir a casa sobre a rocha”, enumeram algumas dessas más razões em seu livro Doar-se para toda a vida! (Le Laurier). São questões a se colocar a sós, no segredo da alma, quando se inicia uma relação amorosa em vista do matrimônio.

1 - MEDO DE MAGOAR

Esse sentimento pode parecer louvável à primeira vista, mas não tem o peso suficiente diante do compromisso que o matrimônio exige. Não se casa para agradar ao noivo ou à família. A dor causada será muito maior se um divórcio ocorrer anos depois. Se não nos sentimos prontos para amar o outro tal como ele é por toda a vida, é necessário superar a apreensão e romper o noivado, por mais difícil que seja. O desafio é grande demais para se engajar apenas pela metade.

2 - MEDO DE PERMANECER SOLTEIRO

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Os anos passam e o celibato continua dolorosamente… “O medo de permanecer sozinho pode levar alguém a casar-se com a primeira pessoa encontrada, sem discernimento suficiente”, constatam Adélaïde e Michel Sion. Não é bom que o homem esteja só, mas também não se casa apenas para evitar a solidão. “Uma forma de se preparar para o matrimônio é já aprender a viver feliz consigo mesmo”, aconselham os autores.

3 - VONTADE DE SE AFIRMAR OU DE SE EMANCIPAR

Às vezes há quem queira casar-se apenas para sair de casa, escapar de pais autoritários ou com quem não se dá bem. Também pode ser uma forma de provar ao entorno que se é digno de ser amado. Outra má razão é querer casar-se antes de irmãos ou irmãs mais novos. Todas essas motivações geram discernimento apressado, marcado por razões que não se sustentam no tempo.

4 - GRAVIDEZ INESPERADA

Por medo do escândalo ou pelo desejo de oferecer pais unidos a um filho que chegou antes do previsto, alguns casais se casam sem discernimento totalmente livre. “É melhor esperar o nascimento do bebê para tomar uma decisão refletida, no silêncio e na serenidade: o bebê, por si só, não faz o casamento”, afirmam Adélaïde e Michel Sion.

5 - CASAR-SE POR PIEDADE

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Como um verdadeiro “cão São Bernardo”, sempre pronto a ajudar os outros, alguém pode sentir vontade de se casar para “salvar” o outro, ou ao menos ajudá-lo. Mas isso é uma má concepção do matrimônio. “Ainda que a compaixão seja um sentimento muito nobre, tal casamento está fadado ao fracasso, tanto como união conjugal quanto como obra de caridade”, dizem os animadores.

6 - REMÉDIO PARA PROBLEMAS PSICOLÓGICOS

Algumas pessoas com dificuldades psicoafetivas (depressão, bipolaridade, esquizofrenia…) podem pensar que o matrimônio será, por si só, um remédio. Para Adélaïde e Michel Sion, isso é uma ilusão. “O que elas devem considerar, ao contrário, é a grave injustiça que podem cometer em relação ao parceiro, que ignora a situação real”, sublinham.

Em certos casos, quando a doença não é escondida e o cônjuge está ciente, podem nascer belas histórias de amor. Mas quando a doença é ocultada de forma intencional, para enganar o outro, trata-se de dolo. Ora, um matrimônio contraído com dolo é nulo segundo a lei civil e a lei da Igreja.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/10/06/casamento-compromisso-que-nao-pode-se-apoiar-nestas-6-mas-razoes/

A fé que toca o coração

O justo viverá pela fé (Grupo Ruah)

A FÉ QUE TOCA O CORAÇÃO

03/10/2025

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

Os apóstolos pedem com simplicidade que lhes aumente a fé, em Lc 17,5. Um pedido que nasceu no contexto de uma exigência concreta. Jesus acabava de falar sobre escândalos e sobre perdoar repetidas vezes no mesmo dia. Eles percebem que, sem um dom do alto, não conseguiriam viver esse compasso da misericórdia. 

A resposta do Senhor desloca o eixo. Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis à amoreira de raízes profundas que se arranque e se plante no mar, e ela obedecerá.  

O acento não recai sobre uma medida maior, mas sobre a vida contida naquele mínimo. O grão é pequeno, porém vivo, a fé também. Não é um esforço psicológico que inflamos com a vontade, mas virtude que Deus infunde para nos ligar a Ele e tornar possível muitas coisas. 

Jesus, como usual, usa imagens que falam à memória do povo. A amoreira é árvore de vida longa e raízes tenazes, plantá-la no mar é algo que ninguém consegue. É uma imagem que toca aquilo que mais nos amarra por dentro: rancores antigos, amarguras que dominam a alma, estruturas de pecado e de costume. É nesse ponto que o ensino sobre a fé encontra o pedido dos apóstolos. Para perdoar setenta vezes, para não devolver na mesma moeda, para começar de novo com o irmão que fere, é preciso um princípio de vida que não nasce de nós. 

A fé é esse princípio. Vem de Deus, volta a Deus e, no caminho, dá ao nosso agir uma perseverança que excede o cálculo. 

O texto de Lucas sugere ainda outra ligação. Logo depois do grão de mostarda, Jesus conta a pequena parábola do servo que cumpre o seu trabalho e, ao final, diz apenas que fez o seu serviço. Há quem leia este texto com dureza, mas eu o vejo como uma pedagogia da vida espiritual. A fé não forja pessoas que exigem bônus, forma discípulos que, por estarem unidos ao Senhor, perseveram. A virtude teologal da fé dá ao coração luz para crer, mas também forma para perseverança. Ela opera escondida, como semente em terra boa. Sustenta gestos repetidos, discretos e custosos. Ensina a atravessar dias longos com caridade persistente. É aqui que a Escritura conversa com a literatura e que Victor Hugo se aproxima do Evangelho. 

Em Os Miseráveis, a vida de Jean Valjean é tocada pela graça quando o bispo Myriel lhe oferece pão, abrigo e lhe olhou com fé para selar o perdão. O condenado de alma endurecida aprendeu a respirar de novo. O bem, porém, não lhe chega como facilidade. Vem como tarefa diária.  

Depois do encontro com alguém que redirecionou o seu peso interior, Valjean persevera quando decide tornar-se Monsieur Madeleine e criar trabalho para outros. Persevera quando se inclina sobre Fantine e carrega os custos das escolhas malfeitas de toda uma cidade. Persevera quando resgata Cosette e, depois, quando a protege do olhar severo da lei. Persevera quando desce o esgoto de Paris com o corpo de Marius nos braços. Nada disso é espetáculo. É mais como o grão de mostarda que, no íntimo, empurra as raízes para baixo para subir em busca de luz. 

Hugo constrói em Valjean um retrato moral que a teologia reconhece. A graça operante de Deus o alcança e a graça cooperante sustenta as suas decisões seguintes. Fé e caridade entram em regime de aliança. A fé vê e confia. A caridade age e se entrega. Um homem comum, ferido por dentro, passa a insistir no bem quando ninguém o vê e quando tudo parecia perdido. 

Javert, sua antítese, representa a rigidez da letra que não se converte. Valjean encarna a paciência do justo que aprendeu com a misericórdia a fazer justiça de outro modo. Não se trata de opor justiça e misericórdia, mas de mostrar como a fé teologal ordena o coração para Deus e, ao fazê-lo, dá ao justo um horizonte que a norma sozinha não alcança.  

A exegese de Lucas ajuda a compreender por que o romance nos comove. Quando os apóstolos pedem aumento de fé, usam um verbo que exprime adição. Jesus devolve um grão, não um monte. Indica que o essencial não é medir, mas viver. O grão guarda um dinamismo que não se fabrica. A semente não se convence a germinar por decreto, ela recebe e, recebendo, responde. Assim é a fé. Deus a dá, nós a acolhemos e, acolhendo, descobrimos que é possível recomeçar, suportar, entregar, perdoar. 

A amoreira que parecia impossível de arrancar começa a ceder. 

A parábola da amoreira plantada no mar ganha então um rosto. Um homem, num mundo duro, escolhe não odiar quem o perseguiu. Escolhe abrigar uma criança. Escolhe calar o que traria louros fáceis. Escolhe caminhar na noite segurando o peso de outro corpo. Ninguém aplaude nos becos de Paris. Mas Deus vê e fortalece. Essa persistência não é teimosia moral. É a peça interior de uma vida visitada por Deus. É aquilo que a Igreja chama virtude teologal. Vem de Deus. Aponta para Deus. Suporta tudo porque participa da fidelidade de Deus. 

Talvez seja essa a lição mais urgente de Lucas. Pedir fé é confessar que não podemos por nós mesmos. Receber a fé é aprender que Deus faz crescer o que semeia. Perseverar na fé é descobrir que o bem não se sustenta apenas com argumentos. Sustenta-se com uma vida unida ao Senhor, mesmo quando falhamos e a noite pesa. No romance, a cidade muda devagar ao redor de Valjean. No Evangelho, o mundo muda devagar ao redor de quem perdoa de novo. O mar permanece mar. Mas, aqui e ali, árvores antigas começam a surgir. 

No fim, a fé como virtude teologal nos devolve uma verdade simples e alta. O que nos faz permanecer não é o tamanho da nossa força, é a vida de Deus em nós. O grão é pequeno, o seu impulso, não. Quando essa vida toca um indivíduo, ele não se limita a evitar o mal, mas aprende a fazer o bem com paciência. Aprende a recomeçar, aprende a não cansar de perdoar. É assim que a amoreira se levanta das entranhas da terra e vai repousar nas mãos de Deus. É assim que a cidade dos homens ganha frestas de luz. É assim que a fé cumpre sua promessa. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF