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sábado, 12 de julho de 2025

Almas de Oração (Parte 2/2)

Almas de Oração | Opus Dei

Almas de Oração

Assim como Jesus Cristo frequentemente se retirava sozinho para falar com seu Pai Deus, nós também precisamos de algum tempo diário dedicado a falar com Deus. Esses momentos de silêncio são onde nossa amizade com Jesus Cristo se desenvolve e cresce, por meio de conversas simples, nas quais abrimos nossas almas para Ele.

03/07/2025

O momento de ouvir Deus

É comum que, em algumas ocasiões, seja fácil perceber a presença de Deus, por exemplo, diante de uma experiência muito positiva ou em momentos de meditação. Em outros, será difícil “ouvir Deus”. O que fazer, então? Uma primeira questão é perguntar-nos por que nos custa ouvi-lo nesses momentos, pois é possível que – por inúmeras razões: agitação, acúmulo de tarefas, um certo descuido, etc. – nos falte a disposição adequada para interpelar o Senhor. Esse estado interior pode, inclusive, refletir-se nas relações com os demais, também com uma dificuldade para a escuta. Por isso, podemos perguntar-nos: Como procuro escutar de modo habitual as pessoas que estão ao meu redor? Será que pretendo ouvir Deus quando não sou muito capaz, agora mesmo, nem de ouvir as pessoas? Assim nos aconselha o Papa Leão: É importante que todos aprendamos cada vez mais a escutar, para entrar em diálogo. Em primeiro lugar, com o Senhor: escutar sempre a Palavra de Deus. Depois, também escutar os demais: saber construir pontes, saber escutar para não julgar, não fechar as portas, pensando que nós temos toda a verdade e que ninguém mais pode nos dizer nada[8]. Este é um bom caminho para acostumar nosso ouvido à escuta: evitar ficar fechados em nós mesmos e em nossas ideias, evitar ceder ao excessivo ruído interior pela hiperatividade em que vivemos, ou pela saturação de inputs que recebemos diariamente pelas redes sociais, a música, os jogos, etc. Neste sentido, se aspiramos a ter vida de oração, é necessário educar e treinar nossos sentidos externos e internos para despertá-los e para que nos levem à união com Deus. A isso também contribui o cultivar o silêncio interior com boas leituras (tanto de espiritualidade como literárias), contemplar a natureza, descobrir a beleza nas coisas pequenas, e não pretender encher todo o tempo de atividade. O Espírito Santo habita em nós e, por isso, necessitamos descobrir modos para que, no espaço interior de nossa alma, possamos receber suas inspirações e, portanto, ouvir a voz de Deus.

Suponhamos que já estamos colocando esses meios... Como podemos agora ouvir o que Deus quer nos dizer? Ainda que Ele fale como quer e quando quer, da nossa parte podemos recorrer a um recurso essencial: a Palavra de Deus! Esse é um modo privilegiado para conhecer a sua vontade. Recorrer ao testamento que Ele deixou em nosso nome por meio dos evangelistas é o principal ensinamento da Igreja, pois “o que é a Sagrada Escritura, senão uma carta de Deus onipotente à sua criatura?”[9]. Não há guia melhor para a oração e para a própria vida do que a Vida de Jesus Cristo. “Quando abrires o Santo Evangelho – aconselhava são Josemaria -, pensa que não só deves saber, mas viver o que ali se narra (...). Tudo, cada ponto que se relata, foi registrado, detalhe por detalhe, para que o encarnes nas circunstâncias concretas da tua existência. (...) Nesse Texto Santo, encontras a Vida de Jesus; mas, além disso, deves encontrar a tua própria vida”[10]. Se vamos à oração com desejo de cultivar nossa amizade com Jesus Cristo, nada nos ajudará tanto a conhecê-Lo e a tratá-Lo, a identificar-nos com Ele, como a leitura e meditação do Evangelho.

Logicamente, segundo o estado da nossa alma, será conveniente que variemos nosso modo de rezar se começa a se tornar difícil, monótono, quando nos custa mais usar a imaginação ou converter o ruído interior que talvez tenhamos numa parte da nossa oração. Às vezes, pode nos ajudar permanecer em atitude de adoração, agradecer por tantas coisas, ler algum artigo ou livro de espiritualidade sobre um tema que nos interessa, saborear alguma oração vocal como o Pai Nosso, pedir pelo que nos preocupa ou necessitamos, ou simplesmente estar a sós com quem sabemos que nos ama[11], olhando para o Sacrário – que Ele veja que O estamos procurando-, manifestando assim o quanto O amamos, e que não O abandonamos diante da primeira dificuldade. Em qualquer caso, o Senhor nos convida a não estagnar, a não nos conformar, pois deseja aumentar a intimidade conosco; por isso, a oração está chamada a ser algo vivo.

Precisamente na obra de São Rafael, contamos com um meio orientado a ensinar-nos a ser almas de oração: as meditações. Estes momentos de oração acompanhados pela pregação de um sacerdote, aos quais podemos recorrer semanalmente, podem guiar nossa oração pessoal, abrir-nos horizontes, ensinar-nos a entrar nas cenas do Evangelho, etc., ainda que nunca substituam o esforço que temos de colocar pessoalmente, pois a oração, afinal de contas, é de tu a Tu, no silêncio da nossa alma.

A oração, uma necessidade vital

No conjunto dos meios de formação que há na Obra, a oração pessoal é a chave para que tudo o que recebemos penetre em nossa alma: nela nos detemos para falar com o Senhor sobre o que ouvimos no círculo e aplicá-lo na nossa vida; ali preparamos nossas conversas de direção espiritual e voltamos para assumir como próprios os conselhos que nos deram; dela sai nosso desejo de corresponder ao Senhor, sendo mais generosos através das nossas contribuições econômicas, dando nosso tempo nas visitas aos pobres ou na catequese; ali se acende nosso desejo de fazer com que outras pessoas se aproximem d'Ele, etc.

Pouco a pouco, a oração se converte em uma necessidade vital, ao ser expressão da amizade com Jesus Cristo, até o ponto de notarmos que, quando a abandonamos, o resto não anda, pois na oração se renova a missão que o Senhor nos confia e, por isso, ela é o motor da nossa vida. Quando nos deixamos guiar por Ele, “ajuda-nos a crescer até nos tornarmos ‘carta de Cristo’ (cf. 2 Cor 3, 3) uns para os outros. E é exatamente assim: somos tanto mais capazes de anunciar o Evangelho, quanto mais nos deixamos conquistar e transformar por ele, permitindo que a força do Espírito nos purifique no íntimo, torne simples as nossas palavras, honestos e transparentes os nossos desejos, generosas as nossas ações”[12].


[8] Leão XIV, Homilia, 11-05-2025.

[9] Gregório Magno, Carta a Teodoro médico do Imperador, Ep. V, 46 (CCL 140, 339).

[10] São Josemaria, Forja, 754.

[11] Cfr. Santa Teresa de Jesus.

[12] Leão XIV, Homilia na Celebração Eucarística e tomada de posse da Cátedra Romana como Bispo de Roma, 25.05.2025.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/almas-de-oracao/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF