Dário
Ramos - publicado em 11/07/25
Uma reflexão sobre matrimônio, divórcio e o princípio do
tempos (Cf. Mt 19,1-9)
Alguns fariseus colocaram diante de Jesus um questionamento
sobre o matrimônio: Se eles não poderiam repudiar suas mulheres, por que Moisés
teria permitido o divórcio? Jesus dá uma resposta que remete ao início de nossa
existência: “por causa da dureza do vosso coração, mas no princípio não
era assim”. (Cf. Mt 19,1-9)
Quase todo dia os sites de fofoca noticiam rompimentos de
namoros, noivados e casamentos entre celebridades. E foi notícia o divórcio de
um cantor e uma influencer, famosos por compartilhar a rotina da vida a dois em
suas redes sociais. O ‘ex-casal’ fez uma postagem para explicar o porquê da
separação, o que causou grande repercussão.
O objetivo não é falar da vida deles ou dos motivos pelos
quais eles podem ter se separado. Isso não cabe a ninguém, e poderia estar
assumindo uma postura de juiz se fosse comentar sobre a vida pessoal deles. Não
é o caso.
Me surpreendeu, no entanto, a reação dos fãs do casal, e
sobre isso desejo refletir. Por que nos choca tanto um divórcio se é
algo tão comum – no sentido de recorrente - em nosso cotidiano? Por
que muitos fãs chegaram a comentar que estavam desiludidos com o amor se a todo
o momento recebemos notícias de términos de relacionamentos? Cristo responde:
no princípio não era assim.
Deus criou o homem à sua imagem e semelhança. O papa João
Paulo II vem nos ensinar em sua obra que não só o homem sozinho é imagem e
semelhança de Deus, mas de forma especial o casal, a comunhão entre homem e
mulher -communio personarum-, por serem uma imagem daquilo que Deus é, ou seja,
uma comunhão de amor (Pai – Filho – Espírito Santo).
E não para por aí: a união do casal ainda nos fala sobre
aquilo que viveremos um dia no céu, a comunhão eterna com Deus. É claro que, o
pecado original e a inclinação que herdamos dele não nos permite ver plenamente
esta realidade (esta é a dureza dos nossos corações).
Cada vez que um casal se separa, portanto, não ficamos
desiludidos com o casal em si. O divórcio nos causa um impacto porque nos
comunica uma mentira: “não é possível viver uma comunhão de amor”. É fato que
não conseguimos vivê-la perfeitamente nesta terra. Mas o matrimônio, neste
sentido, não quer nos falar só sobre esta terra, quer nos apontar para o que
viveremos no céu, a eterna comunhão com Deus.
Ficamos frustrados porque, ao vermos um casal se separando,
a analogia que Deus encontrou para nos dizer que fomos feitos para Ele e
criados para amar acaba sendo violentada. A história que Deus deseja nos contar
por meio de cada casal é interrompida. E nossos corações vão se tornando mais
duros e passam a acreditar na mentira que nos é contada. As consequências?
Paramos de acreditar na união aqui na terra, e em seguida, na união com Deus no
céu.
Mas, não podemos nos esquecer de que é possível e que outros
já viveram a união da terra como meio para chegar à união do céu. É o caso de
Luís e Zélia Martin (os pais de Teresa de Lisieux e outras 4 religiosas), dos
pais de João Paulo II (o casal Wojtyla) cujo processo de beatificação está em
andamento e do casal italiano Luigi e Maria Beltrame - os primeiros a serem
beatificados juntos.
Todos esses encontraram no matrimônio um caminho que os
levou à comunhão eterna com Deus. A pequena trindade (eis aqui uma analogia) na
terra levou cada integrante destas famílias a experimentarem a comunhão com a
Trindade no céu.
O divórcio nos choca porque tenta nos convencer de que não
fomos criados para uma comunhão, nem nesta terra e nem no céu. A história
interrompida volta a ser contada a cada vez que alguém permite que Cristo
alcance com a sua redenção o coração duro e o encaminhe para os seus desígnios
de amor. Através destes o próprio Deus nos revela esta grande verdade: fomos
criados para nos unirmos a Ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário