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domingo, 9 de abril de 2023

Papa: Com Cristo renasce a esperança! Apressemo-nos a superar divisões e conflitos

Papa Francisco: Com Cristo renasce a esperança (Vatican Media)

As palavras de Francisco aos fiéis: "Sim, temos a certeza: verdadeiramente Cristo ressuscitou. Acreditamos em Vós, Senhor Jesus, acreditamos que convosco renasce a esperança, o caminho continua. Vós, Senhor da vida, encorajai os nossos caminhos e repeti, também a nós, como aos discípulos na noite de Páscoa: ‘A paz esteja convosco’.”

https://youtu.be/vmZKefncafc

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

O dia mais importante e belo da história: o dia em que Cristo ressuscitou!

O Papa formulou seus votos de Feliz Páscoa a todos os fiéis em sua mensagem Urbi et Orbi (a Roma e a todo o mundo) ao final da missa celebrada numa Praça São Pedro tapeçada de flores. A cerimônia teve início com a abertura do ícone do Santíssimo Salvador, sob o canto do Aleluia e prosseguiu com a Liturgia da Palavra, sem a homilia, e a Liturgia Eucarística.

Diante de cerca de 100 mil romanos e peregrinos, Francisco recordou o significado da Páscoa, isto é, passagem; passagem da morte à vida, do pecado à graça.

“Nele, Senhor do tempo e da história, quero, com o coração repleto de alegria, dizer a todos: feliz Páscoa!”

Que seja para cada um, sobretudo para os sofredores, uma passagem da tribulação à consolação. Afinal, não estamos sós: Jesus, o Vivente, está conosco para sempre. Alegrem-se a Igreja e o mundo, porque podemos “celebrar, por pura graça, o dia mais importante e belo da história”.

Cristo ressuscitou, ressuscitou verdadeiramente, e a humanidade acelera o passo porque vê a meta do seu percurso, o sentido do seu destino: Jesus Cristo. E é chamada a apressar-se ao encontro Dele, esperança do mundo.

Por isso, convidou o Papa, apressemo-nos também nós a superar os conflitos e as divisões, e a abrir os nossos corações aos mais necessitados. Apressemo-nos a percorrer sendas de paz e fraternidade. O caminho é longo e devemos suplicar ao Ressuscitado: “Ajudai-nos a correr ao vosso encontro!”.

A Praça São Pedro embelezada pelas flores (Vatican Media)

Haiti e Nicarágua

Francisco então nomeou os povos e países que mais precisam, neste momento, desta ajuda: são o “amado povo ucraniano”, os russos, sírios e turcos vítimas do terremoto. São ainda israelenses e palestinos e libaneses. No continente africano, anseiam pela paz de Cristo os tunisinos, etíopes, sul-sudaneses, congoleses, eritreus, nigerianos, malauianos, moçambicanos e burquineses. Na Ásia, o Papa reza pelos birmaneses e pelo martirizado povo rohingya. No continente americano, as preces de Francisco vão para o Haiti, “que há vários anos está sofrendo uma grave crise sociopolítica e humanitária”, e para a Nicarágua, que hoje celebra a Páscoa “em circunstâncias particulares”.

O Pontífice suplicou conforto para os refugiados, os deportados, os prisioneiros políticos e os migrantes, especialmente os mais vulneráveis, bem como todos aqueles que sofrem com a fome, a pobreza e os efeitos nocivos do narcotráfico, do tráfico de pessoas e de toda a forma de escravidão.

Francisco pede ao Senhor que inspire os responsáveis das nações, para que nenhum homem ou mulher seja discriminado e espezinhado na sua dignidade; para que, no pleno respeito dos direitos humanos e da democracia, se curem estas chagas sociais.

“Irmãos, irmãs, voltemos também nós a encontrar o gosto do caminho, aceleremos o pulsar da esperança, saboreemos a beleza do Céu! (...) Sim, temos a certeza: verdadeiramente Cristo ressuscitou. Acreditamos em Vós, Senhor Jesus, acreditamos que convosco renasce a esperança, o caminho continua. Vós, Senhor da vida, encorajai os nossos caminhos e repeti, também a nós, como aos discípulos na noite de Páscoa: ‘A paz esteja convosco’.”

O ícone do Santíssimo Salvador (Vatican Media)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A mística e a ascese no tempo pascal

Josh Applegate | Unsplash / #image_title
Por Francisco Borba Ribeiro Neto

Podemos nos perguntar: ascetismo e mística não estão intimamente ligados? Uma experiência mística não pressupõe uma prática ascética?

Nesta Semana Santa de 2023, circulou entre meus amigos, em nossas redes sociais, essa passagem de Dom Luigi Giussani, sacerdote italiano fundador do movimento Comunhão e Libertação: “Se alguém entrar na Quinta-feira Santa, Sexta-feira Santa, Sábado Santo, Páscoa, nestes quatro dias, sem olhar para o rosto de Cristo e nada mais, mas com a preocupação de seus pecados, da sua perfeição, de como deve meditar; acabará cansado, retomando seus dias como antes. Pelo contrário, olhar para o rosto de Cristo muda. Mas, para que Ele nos mude, é preciso encará-lo verdadeiramente, desejando o bem, desejando a Verdade: ‘Tudo sou capaz, Senhor, se estou contigo, tu és a minha força’. É um Tu que domina e não leis que devem ser respeitadas” (É possível viver assim? São Paulo: Cia Ilimitada, 2008).

Minha esposa e eu ficamos particularmente impactados pela comparação dessa passagem com algumas exortações que costumamos ouvir para que nos esforcemos para participar das celebrações da Semana Santa ou para sermos, a partir dessa Páscoa, mais comprometidos com as boas obras e com a luta por uma sociedade mais justa. As duas exortações, para a participação litúrgica e para o compromisso com o bem dos irmãos, são justíssimas, não estamos fazendo aqui nenhuma objeção a elas. Porém, a passagem de Dom Giussani abre uma outra janela, descortina um outro modo de olhar o mundo e viver a fé.

As práticas ascéticas e a experiência mística

Nesse período, em função do décimo aniversário do pontificado de Francisco, li uma declaração do Papa que talvez ajude a entender melhor o que gostaria de mostrar. Numa entrevista ao padre jesuíta Antonio Spadaro, ele comenta que existe, na Companhia de Jesus, uma corrente que sublinha o ascetismo, o silêncio e a penitência, mas que ele, Bergoglio, se identifica mais com uma outra, mais mística. Ora, podemos nos perguntar, ascetismo e mística não estão intimamente ligados? Uma experiência mística não pressupõe uma prática ascética?

De fato, as duas coisas estão intimamente ligadas, como a carroça e os bois. Mas fica muito mais difícil avançar se os bois, colocados atrás, “empurrarem” a carroça, ao invés de irem na frente, “puxando-a”. Existe uma deformação do ascetismo cristão que imagina que é a fidelidade às suas práticas que produz a experiência mística. Isso pode ser verdade num ascetismo estoico, de caráter disfarçadamente ateu, ou em algumas outras religiões. Mas, no cristianismo, é a própria experiência mística do encontro com Cristo que gera o desejo das práticas ascéticas, que se tornam respostas cheias de gratidão e de alegria Àquele que tanto nos amou primeiro.

O teólogo alemão Karl Rahner, no final do século passado, numa passagem famosa, declarou que os cristãos seriam “místicos” ou seriam “nada”. Rahner não tinha dúvidas sobre o significado de suas palavras: o cristianismo só pode sobreviver enquanto encontro e relação de amor pessoal entre Cristo e o fiel. A afirmação, contudo, se empobrece quando é interpretada simplesmente como condenação ao moralismo e ao formalismo que invadiram muitas vezes a mentalidade cristã moderna. Sem dúvida, a mística supera essa mentalidade redutiva – mas essa superação é uma decorrência da primazia do amor. Quem quer interpretar a mística apenas como negação do formalismo e do moralismo não avança, pois sua riqueza está no amor. E isso não é fácil de entender numa sociedade como a nossa, onde se fala muito no amor, mas se tem muita dificuldade em vivê-lo realmente.

A contemplação do Cristo sofredor

Fomos acostumados a uma cultura imagética que valoriza as representações do Cristo sofredor e dos santos em êxtases supostamente místicos, mas que a nossos olhos contemporâneos parecem mais maneirismos que estados contemplativos. Essas imagens são acompanhadas por práticas devocionais onde predomina a subjetividade dos fiéis e não a objetividade do amor de Deus. Frequentemente, não são nem consideradas práticas ascéticas, pois estão mais centradas na exploração das emoções da pessoa do que num real cultivo da contemplação e da oração.

A experiência mística cristã é o encontro entre duas subjetividades – a do fiel e a de Cristo, que se torna presente de forma misteriosa, mas real. Como toda experiência afetiva, é moldada pela sensibilidade e pela emotividade de cada um. Existem os mais devocionais, aos quais agradam as imagens e o ambiente barroco do catolicismo da Contrarreforma, existem os mais contemplativos, que preferem o estilo dos ícones orientais e a austeridade das primeiras basílicas cristãs. Cristo não deixa de ir ao encontro das pessoas, sejam quais forem seus temperamentos e suas preferências.

Contudo, nesse tempo pascal, pode ser perigosa uma contemplação do Cristo sofredor e de suas dores como catarse para nossos próprios sofrimentos ou motivação para o empenho moral – e não como ocasião para perceber o Seu amor por nós. Uma “estética do sofrimento” afasta frequentemente as pessoas da Igreja. Corresponde, muitas vezes, a um certo moralismo pelagiano, um desejo até arrogante de “estar à altura” do sacrifício de Cristo por nós (sobre esse tema, vale a pena ler Gaudete et Exsultate, do Papa Francisco, GE 47ss).

A justa contemplação mística do amor de Cristo por nós, ao invés disso, cria uma alegre gratidão, um desejo humilde de corresponder ao amor recebido. Não omite os sofrimentos de Cristo ou mesmo os nossos, mas permite que a misericórdia a tudo cubra e até mesmo as dores se tornem sinais de amor e beleza. Então, a participação na liturgia se torna verdadeiramente a bela celebração do Amor e o compromisso com os irmãos, particularmente com os que mais sofrem, se torna aquela conformação natural do coração do amante ao coração do Amado… E compreendemos melhor porque “seu fardo é leve e seu jugo, suave” (Mt 11, 28-30).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Reflexão para o Domingo da Ressurreição (A)

Evangelho do domingo (Vatican Media)

João vai relatar a autêntica ressurreição, a vitória de Jesus sobre as limitações humanas, sobre suas fragilidades, sobre a morte. Jesus jamais voltará a morrer. A morte nunca mais terá poder sobre ele, porque ele, a Vida, a destruiu.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

O Evangelho de São João nos diz que no primeiro dia da semana, Maria Madalena foi ao sepulcro de Jesus e o encontrou vazio. João faz questão de ressaltar que era de madrugada e ainda estava escuro. Podemos perceber que o evangelista ao registrar que o fato aconteceu no primeiro dia da semana, quer fazer alusão à nova criação. O que ele vai relatar é uma novidade radical, é a vida nova de um homem, não um fato como a denominada ressurreição de Lázaro, que volta à vida, mas continua submetido à necessidade de cuidar de sua saúde, de se alimentar e que voltará a morrer.

João vai relatar a autêntica ressurreição, a vitória de Jesus sobre as limitações humanas, sobre suas fragilidades, sobre a morte. Jesus jamais voltará a morrer. A morte nunca mais terá poder sobre ele, porque ele, a Vida, a destruiu.

Contudo, Maria Madalena, apesar de ter escutado várias vezes Jesus dizer que ressuscitaria, a dor da morte é tal que ela se esquece das palavras do Mestre.

Apesar do corpo de Jesus já ter sido ungido na sexta-feira por José de Arimatéia e por Nicodemos, ela não consegue ficar longe do corpo morto do Senhor. A escuridão enfatizada no texto é um símbolo do estado interior de Maria. Ela está com uma vida sem sentido, sem alegria. Seus grande libertador, seu grande amigo está morto. Ela vai ao sepulcro quando ainda está escuro, na natureza e no seu interior. Mas seu coração está iluminado pelo amor, por isso ela vai até ao sepulcro.

Ela o encontra vazio. Sente-se desapontada e mais desolada, perdida e impotente.

Maria Madalena busca o cadáver de Jesus. Ela esqueceu totalmente a promessa dele de que iria ressuscitar.

Ela olha para o sepulcro vazio e vê dois anjos, um na cabeceira e outro nos pés. O evangelista quer nos recordar os dois anjos que foram colocados, um à cabeceira e outro aos pés da arca da aliança. Jesus é a nova aliança. Por isso a aliança de Jesus Cristo é eterna, pois ele ressuscitou.

Mas Madalena, abalada pela dor não reconhece os sinais e só vê o sepulcro vazio. Somente após a segunda pergunta de Jesus, ao ouvi-lo pronunciar seu nome e deixar de olhar para o sepulcro e voltar-se para o lado contrário é que ela vê o ressuscitado.

Como Maria Madalena, também nós só veremos os sinais da ressurreição, quando levantarmos nossos olhos dos sinais de morte, e dirigirmos nosso coração para a VIDA. Enquanto estivermos afeiçoados àquilo que é egoísmo, ambição, ira, não perceberemos que a Vida está à nossa frente, e sofreremos as consequências da opção pelos atrativos mortais. Ao contrário, quando acreditarmos no poder de Deus e formos mais irmãos, adeptos da partilha e do serviço, perceberemos os sinais da Vida a todo momento, pois estaremos desde agora vivendo à luz de Deus.

Feliz Páscoa!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sábado, 8 de abril de 2023

Cardeal Orani: "O Sábado Santo é um dia voltado para o silêncio e para a oração

Sábado Santo, dia de grande silêncio (cnbb)

CARDEAL ORANI: “NO SÁBADO SANTO É A ÚLTIMA OPORTUNIDADE PARA FAZERMOS AQUELA MUDANÇA DE VIDA QUE A QUARESMA NOS PROPORCIONA”

Por Cardeal Dom Orani João Tempesta

Arcebispo de Rio de Janeiro (RJ)

A Igreja, nesse Sábado Santo, 8 de abril, se recolhe. É um dia voltado para o silêncio e para a oração, se preparando para a grande Vigília Pascal que acontece à noite. “Não é um silêncio de luto, pois acreditamos que o Senhor não está morto, Ele vive. Temos a certeza de que à noite celebraremos a ressurreição, mas é um silêncio orante e de respeito, pois sabemos que nesse dia o Senhor desceu ao seio da terra”, afirma o arcebispo do Rio de Janeiro, cardeal Orani João Tempesta.

Normalmente, no Sábado Santo, acontece a preparação da Igreja para a celebração da Vigília Pascal. Os grupos pastorais se organizam para ornamentar e limpar a Igreja.  Durante o Sábado Santo, sobretudo na parte da manhã, pode haver um momento de espiritualidade na Igreja.

Nesse Sábado Santo, pode-se fazer um jejum limitado, ou seja, evitando a carne vermelha, que pode ser substituída por carne de peixe. “Ainda estamos no espírito da dor pela morte incruenta de Jesus, por isso ainda podemos praticar o jejum. E, em algumas Igrejas, ainda acontece a confissão sacramental, por isso ainda poderemos praticar a penitência. No Sábado Santo, é a última oportunidade para fazermos aquela mudança de vida que a quaresma nos proporciona, para logo mais à noite celebrarmos de coração renovado a Páscoa”, afirma o cardeal.

Esse dia também é conhecido como Sábado de Aleluia, que vem da tradição na Igreja Católica de não dizer “Aleluia” nas missas durante a Quaresma. No fim do Sábado de Aleluia, finalmente se diz Aleluia, para anunciar o início da Páscoa.

“No Sábado Santo, os discípulos tinham ficado muito tristes, pois Jesus estava “morto”, eles não tinham compreendido aquilo que Jesus tinha dito, de que era necessário que o Filho do Homem sofresse tudo aquilo para nos salvar”, diz dom Orani

Segundo dom Orani, o Sábado Santo nos lembra que Jesus morreu de verdade, não foi uma farsa. “Jesus morreu, assim como todos nós um dia também teremos de morrer. Sua identificação com a humanidade foi completa, até na morte”, salientou.

O cardeal reitera que a morte de Jesus foi necessária para nos salvar e, depois ainda com a sua ressurreição, nos abrir um novo caminho, e nos indicar que a vida não termina aqui, mas continua ao lado de Deus. “Assim como Jesus morreu, mas depois ressuscitou, quem crê nele também morrerá, porém tem a promessa da ressurreição para a vida eterna. A morte não é o fim da história, mas o começo de uma nova”, explicou.

Oração e silêncio 

A oração e o silêncio nesse dia, segundo o cardeal Orani, ajudará a compreender esse mistério da paixão, morte e ressureição de Jesus. “O Espírito Santo que depois foi revelado aos discípulos e até hoje acompanha a vida da Igreja, nos impulsiona a todos os anos celebrar o mistério pascal de Cristo. A quaresma é um grande retiro espiritual de 40 dias, que a Igreja nos indica para nos preparar para a Páscoa, e o Sábado Santo como que coroa esse período”, diz.

Irmãos e irmãs, o Sábado Santo, com o jejum e com a oração silenciosa, expressa também nossa inquebrantável esperança na ressurreição final e na segunda vinda do Senhor. A terra, grávida de Cristo, está para dar à luz o Senhor ressuscitado, como primícias da nova criação.

Vigília Pascal

Em termos litúrgicos, o Sábado Santo vai até às 18h, onde a partir desse momento em algumas comunidades já se começa a celebrar a Solene Vigília Pascal. Pois, segundo as rúbricas e a liturgia, a solene Vigília Pascal deve-se celebrar ao anoitecer, pois o Senhor ressuscitou no sábado de madrugada.

“Portanto, irmãos e irmãs, nos preparemos nesse Sábado Santo por meio do jejum e da oração silenciosa para a grande Vigília Pascal que celebraremos logo mais à noite. Que tenhamos a certeza de que durante o dia, o Senhor está no sepulcro, mas à noite, Ele o deixa vazio. Lembrando que esse dia ainda não é momento de fazer festa, algum tipo de comemoração ou trabalho. O Sábado Santo ainda é dia de recolhimento e oração, aproveitemos para rezar pelo nosso país e pelo mundo, que tanto precisam de oração”, exorta dom Orani.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

No Sábado Santo, assim como Maria, saibamos silenciar

Papa Francisco em Vigília (Vatican Media)

Neste "grande silêncio" do dia, a Igreja reflete Cristo morto para celebrar a sua vitória sobre a morte. "O nosso silêncio tem pleno sentido em Jesus ressuscitado e ajuda a compor um itinerário de vida para produzir frutos à nossa história", diz Pe. Maicon Malacarne. E Ir. Grazielle Rigotti desafia: há quanto tempo "você não saboreia o silêncio diante de um mundo tão ensurdecedor e barulhento? Nossa Senhora sabia silenciar para escutar do coração o que não entendia".

Andressa Collet - Vatican News

A Vigília Pascal na Noite Santa, que conclui o tríduo e no Vaticano será presidida pelo Papa Francisco na Basílica de São Pedro com transmissão ao vivo - em português - pelos canais do Vatican News a partir das 19h30 na Itália (14h30 no horário de Brasília), é vivida por um dia de silêncio. No Sábado Santo, a Igreja medita e reflete Cristo morto para se chegar à noite e celebrar a vitória de Jesus sobre a morte. O padre Maicon André Malacarne, da diocese de Erexim/RS, desde 2021 cursando mestrado em Teologia Moral na Academia Alfonsiana, em Roma, acrescenta:

"O sábado, dentro da grande celebração do Tríduo Pascal, do centro do mistério da nossa fé, é o dia que nós estamos diante do sepulcro de Jesus. Estamos diante de um amor capaz de amar até o fim. Estamos diante de um amor capaz de amar até a cruz. Estar diante do sepulcro de Jesus crucificado é estar diante das grandes contradições que marcaram e que marcam a história da humanidade e que exige um empenho de transformação."

Saber silenciar como Maria

No dia em que a Igreja contempla o "repouso" de Cristo no túmulo, após o vitorioso combate da cruz, o papel da Virgem Maria é evocado por toda a sua fé e coração cheio de amor, num símbolo da dor pela morte de Jesus e a expectativa na ressureição. A Irmã Grazielle Rigotti da Silva também procura identificar o Sábado Santo com o silêncio e a esperança que vem de Maria, que também nos questiona o quanto temos nos colocado à prova, silenciando a nossa alma diante do mundo:

“Sábado é um dia que por vezes fica no meio do caminho. Entre a sexta e o domingo existe um vácuo, um espaço... Mas somos chamados neste dia a viver a espera, com aquela que é a mãe da Esperança: Nossa Senhora. De fato, o sábado não é um dia para ser esquecido, mas para ser saboreado. Quanto tempo faz que você não saboreia o silêncio diante de um mundo tão ensurdecedor e barulhento? Silêncio não necessariamente é vazio. Pode ser gestação, espera e encontro. Nossa Senhora sabia silenciar para escutar do coração o que não entendia. Ela nos ensina a silenciar.”

Neste Sábado Santo, de dor pela morte de Jesus e alegria da sua Ressureição, somos convidados a parar, no recolhimento e na meditação, e a nos unir à Virgem Mãe e à Igreja, que fica em silêncio: os sinos não tocam, as igrejas são despojadas e vazias. Um dia que nos ajuda a compreender como viver, em confiante expectativa, os “muitos dias” de silêncio que a vida apresenta ao longo da nossa existência. Um dia que chegou a ser definido como "o mais longo dos dias", um tempo de reflexão, que pode ser ampliado na vida de cada um. 

A Vigília Pascal, momento central do calendário litúrgico e considerada a mãe de todas as vigílias por anteceder a festa da Páscoa, inicia na noite de sábado, mas faz parte da liturgia da Páscoa da Ressurreição. É também o dia da "crise" da Palavra: os próprios Evangelhos não falam nada, pode-se somente imaginar que esse seja o tempo em que o corpo de Jesus permanece no sepulcro, enquanto os apóstolos, sendo um dia de repouso para os judeus, permanecem sem saber o que aconteceria a seguir.

Cultivar espaços de silêncio

Um Sábado Santo que, como já nos recordou o Papa Francisco (2021), foi vivido "no pranto e na perplexidade pelos primeiros discípulos, perturbados com a morte ignominiosa de Jesus. Enquanto o Verbo está em silêncio, enquanto a Vida está no túmulo, aqueles que tinham esperança dele são postos duramente à prova, sentem-se órfãos, talvez até órfãos de Deus”. E o Pe. Maicon Malacarne conclui:

"Por isso, o sábado é o convite ao 'grande silêncio'. Não um silêncio de desespero, mas um silêncio de fecundidade. A imagem da semente ajuda a compor essa fecundidade, esse silêncio fecundo. Se o grão de trigo não morre, não pode dar frutos, disse Jesus. A semente que é lançada à terra e que, no silêncio, na espera, de uma vida nova, cria essa expectativa. É esse silêncio, esse silêncio fecundo, que vai nos conduzindo para a grande Vigília Pascal. De fato, o Papa Francisco insiste que cada pessoa possa cultivar espaços de silêncio."

“O sábado é esse dia privilegiado de um silêncio fecundo, verdadeiramente cheio de esperança na vida nova. Silêncio que nos conduz à Vigília Pascal: a luz que vence a escuridão. A vida nova. Jesus ressuscitou. Jesus é vencedor. A semente deu frutos. O nosso silêncio, a nossa espera tem pleno sentido em Jesus ressuscitado e ajuda a compor um itinerário de vida, um projeto de vida que nos conduz a produzir muitos frutos para a nossa história, para a história da comunidade, para a história em que estamos inseridos.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 7 de abril de 2023

O cristianismo é um acontecimento

O cristianismo (Toda Matéria)
Arquivo 30Dias - 03/2005

O cristianismo é um acontecimento

Quando faleceu o cardeal Hamer em dezembro de 1996, padre Giussani escreveu no L’Osservatore Romano que era “mêmore do grande ensinamento recebido sobre a natureza comunial da Igreja e profundamente grato pelo sucessivo encontro pessoal cheio de verdadeira afeição eclesial”. Esta é mais uma razão para publicarmos novamente o texto escrito para o Il Sabato em 1993.

do cardeal Jean-Jérôme Hamer

A coisa que mais me impressiona é a tese central do livro Un avvenimento di vita cioè una storia (Um Acontecimento de Vida, isto é, uma História)de monsenhor Giussani: o cristianismo é um acontecimen­to. Um acontecimento que se traduz em um encontro, postula uma presença, realiza-se na “contemporaneida­de”. Essa idéia tem implicações importantes tanto no plano pedagógico como no plano teológico, como es­crevi em uma carta ao autor do livro.
A noção de acontecimento aplicada ao cristianismo não é comum no pensamento católico moderno. Ela foi empregada no pe­­­r­­í­o­­do entre-guerras pelo grande teó­logo alemão Karl Barth, na sua polêmica com a teologia liberal. Mas o acontecimento é uma coisa muito dife­rente para o protestante Barth. É como um relâmpago, uma iluminação que toca a vida e no instante seguinte se retira. Entra na existência humana como a agulha de uma máquina de costura perfura um tecido. Esse re­lâmpago pode se repetir muitas vezes, mas o resultado essencial não muda. Depois da luz, a escuridão sempre volta. É um transcendente que não se encarna, sobre o qual é difícil construir algo estável.
O acontecimento do qual monsenhor Giussani fala não é um re­lâmpago: funda uma história que permanece. É a Igreja. “O acontecimento - como todo acontecimento - ­é o início de algo que não existia antes: é a irrupção do novo que dá início a um processo novo” (cf. Un avvenimento di vita cioè una storia, p. 489). Fiquei im­pressionado ao ver que na capa do livro, o título destaca esse efeito: a palavra “História” é evidenciada em vermelho, com caracteres maiores.
Afirmar o acontecimento significa reconhecer o caráter radicalmente novo e soberano do cristianismo. Segundo os dicionários, acontecimento é um fato impor­tante, que marca um momento da história. Giussani não se limita a essa definição, mas desenvolve a idéia segundo a qual o acontecimento é um fato fundamentalmente novo. Assim, segue a linha de Charles Péguy: “não-previsível, não-previsto, não-conseqüência de fa­tores antecedentes” (p. 478). Portanto, é algo que sur­preende, que “irrompe” na história, inclusive na histó­ria pessoal de cada um.
A abordagem de monsenhor Giussani permite mostrar o sentido exato do pensamento da Igreja sobre a re­lação entre “espera” e “realização”, entre “profecia” e “cumprimento”, entre “lei antiga” e “lei nova”. Existe em cada um desses binômios uma continuidade real e uma descontinuidade radical.
Cristo é a resposta adequada aos mais profundos desejos do homem, mas a realização não é o desenvolvi­mento natural e progressivo da espera humana. A rea­lização não está para o desejo assim como a planta está para a semente. Não é uma evolução, um processo na­tural e linear. A espera recebe uma resposta que supera muito o pedido. A realização pode parecer paradoxal. Pensemos no messianismo comum das pessoas que vi­viam em torno de Jesus, inclusive dos discípulos do Senhor. A espera recebe uma resposta completamente imprevista. Ninguém previa um Messias que ressusci­taria dos mortos e entraria assim na glória. Jesus os preparou, dizendo que devia sofrer muito, mas essa idéia parece não ter entrado na consciência dos discípulos até o último momento. Os discípulos de Emaús dizem: “Nós esperávamos que fosse ele quem iria redi­mir Israel; mas faz três dias que todas essas coisas aconteceram” (Lucas 24,21).
A religiosidade natural também é uma situação de espera, em função de uma realização. Giussani, descre­vendo a amizade com alguns monges budistas, diz que o ponto mais alto do senso religioso natural é “uma es­pera dolorosa” (p. 40). Por isso, certas normas da reli­giosidade natural devem ser radicalmente superadas para serem realizadas no mistério de Cristo. É, mais uma vez, continuidade e descontinuidade.

O acontecimento do qual monsenhor Giussani fala não é um relâmpago: funda uma história que permanece. É a Igreja. “O acontecimento - como todo acontecimento - é o início de algo que não existia antes: é a irrupção do novo que dá início a um processo novo” (cf. Un avvenimento di vita cioè una storia, p. 489). Fiquei impressionado ao ver que na capa do livro, o título destaca esse efeito: a palavra “História” é evidenciada em vermelho, com caracteres maiores.

A meu ver, o primado do acontecimento em relação ao senso religioso é uma das novidades mais impor­tantes do pensamento de monsenhor Giussani neste livro. Nós vemos isso com clareza na entrevista concedi­da em 1987 ao teólogo Angelo Scola (por ocasião do Sí­nodo Mundial sobre os leigos), publicada no início do volume. Giussani responde sem hesitação à pergunta se a proposta pedagógica do movimento se baseia no senso religioso: “O centro da nossa proposta é o anúncio de um acontecimento que surpreende os homens da mesma forma como o anúncio dos anjos surpreendeu os pobres pastores de Belém, há dois mil anos. É um acontecimento real, que antecede qualquer considera­ção sobre o homem religioso ou não-religioso” (p. 38). É um tema decisivo.
A intuição de Giussani aprofunda também o binô­mio lei antiga-lei nova. A lei nova se realiza na graça. É a realização da lei antiga mas, de certa forma, a sua re­vogação. A realização completa e, ao mesmo tempo, transforma a espera. É uma idéia que monse­nhor Gius­ani desenvolve quando, na sua última conferência, publicada no livro, cita uma frase (considerada “admirável”) de João Paulo I: “O verdadeiro drama da Igreja que gosta de se considerar moderna é a tentativa de corrigir a maravilha do evento de Cristo com re­gras” (p. 481).
Aqui entra a polêmica antipelagiana de Giussani. Essa polêmica pertence à tradição da Igreja, de Agostinho a Tomás. Seria interessante, a esse respeito, reler e co­mentar os artigos de Santo Tomás sobre “por que o ho­mem precisa da graça”. A salvação não está em um esforço moral mas em um perdão. Se não fosse assim, não entenderíamos a insistência da teologia católica na gratuidade da graça, na necessidade dos sacramentos, na consciência do pecado (no início da missa, a Igreja nos convida a reconhecer os pecados, não só abstrata­mente, como era em algumas traduções discutíveis, mas que somos pecadores).
Por fim, alguém poderia dizer que o termo “diálogo”, que é central na idéia de atualização da Igreja pós-­conciliar, aparece raramente no livro, ao passo que a noção de “presença é abundante. Desvaloriza o mo­mento do dialogo? Não creio. O diálogo é importante em todos os níveis, a começar pelo nível político, porque acaba com a hostilidade e cria um clima de confiança. O cardeal Richelieu dizia: “Devemos sempre negociar”. No plano político, essa posição é justa e legítima. Mas o dialogo pressupõe a presença, ou seja, um “sujeito novo”. Caso contrário, arrefece e se torna um fim em si mesmo. O diálogo, na sua forma mais verda­deira, também é comunicação do acontecimento e instrumento de um encontro.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Meditação da Paixão de Cristo

A paixão de Cristo (Cléofas)

Meditação da Paixão de Cristo

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Os santos dizem que depois da santa Missa, a melhor prática espiritual é a meditação da Paixão de Cristo. Então, vamos meditar um pouco neste mistério de dor e de salvação. As ações de Cristo são “teândricas”, isto é, humanas, mas também divinas, e o tempo não as destrói; por isso, hoje, podemos contemplar de maneira atualizada a Sua dolorosa Paixão e beber a Redenção na sua fonte. Essa é uma meditação que eu procuro fazer sempre depois que rezo o Terço da Misericórdia, como Jesus pediu.

Compadeço-me, Senhor Jesus, da agonia mortal que o Senhor no Horto das Oliveiras naquela noite da quinta-feira santa. Sua alma “estava triste até a morte”, e o Senhor pediu aos discípulos que velassem com o Senhor, ao menos uma hora, mas eles estavam com sono e dormiram. Mesmo neste momento de angústia mortal o Senhor os educa: “Vigiai e orai, porque o espírito é forte, mas a carne é fraca”. Uma lição extraordinária para vencer a tentação e o pecado. Por essa angústia mortal Senhor, socorre-nos em todas as nossas angústias, tristezas, depressões, lutas, tentações e aflições.

Compadeço-me, Senhor, da consolação do vosso Anjo da Guarda neste momento de agonia mortal em que o sangue vazava pelos vasos capilares subcutâneas e jorravam por sua pele misturado com o suor gelado. Que este Sangue bendito Senhor caia sobre os nossos corpos e nossas almas e livre-nos de todo o mal.

Compadeço-me, Senhor da chegada de Judas com os soldados, armados até os dentes, para prender o Cordeiro manso de Deus. Compadeço-me pelo beijo traiçoeiro de Judas. Como doeu no Teu sagrado Coração Jesus! Aquele que o Senhor escolheu, educou, amou… levantou o calcanhar contra Vós, como tinha anunciado o profeta. Por essa traição Senhor, perdoa-nos todas as nossas traições, nossos pecados, infidelidades e ingratidões para com o Senhor.

Compadeço-me, Senhor, da Vossa prisão no Horto, e todos os mal tratos que o Senhor sofreu nas mãos dos soldados ali no Horto, nos caminhos, na casa de Anás, Caifás, Herodes, Pilatos, e na fortaleza Antônia onde os soldados o maltrataram. Por todos esses mal tratos Senhor, perdoai as nossas ofensas, de ontem e de hoje, e concede-nos a graça de Vos amar e servir com amor puro e reta intenção.

Compadeço-me, Senhor, da brutal e sanguinária flagelação na coluna, com 23 chicotes de três cordas, com pedacinhos de ossos nas pontas para rasgar as Vossas carnes, que ficaram expostas. Que dor, Senhor! Rasgaram o Vosso Corpo sagrado de alto a baixo, sem dó nem piedade. Todo o inferno se reuniu ali para destruí-lo. E o Senhor não abriu a boca para reclamar… Oh, Senhor, concede-nos essa força no sofrimento! Ajuda-nos a sofrer com fé e esperança, sabendo que nada se perde de toda dor unida à Sua dor.

Compadeço-me, Senhor, da sangrenta, dolorosa e humilhante coroação de espinhos. Dezenas de espinhos pontiagudos penetraram em Vossa Cabeça divina, arrancando sangue e dores lancinantes. Um Rei coroado de espinhos. Um Deus massacrado por nossos pecados. Um Deus zombado, cuspido, em cuja cabeça bateram com uma cana fazendo penetrar profundamente dos espinhos. Por essa coroação cruel, Senhor, perdoa os nossos pecados de soberba, inveja, maledicência, arrogância, prepotência, ira, orgulho e vaidade. E cura-nos Senhor de todas as nossas maldades espirituais.

Compadeço-me, Senhor, da condenação a morte por Pilatos, num julgamento covarde e iníquo. Obrigado por ter-lhe deixado claro que Vosso Reino não é deste mundo, mas que o Senhor é Rei de verdade! Por essa injustiça Senhor, concede-nos a graça da verdade, da justiça e da fidelidade a Vós em toda a nossa vida.

Compadeço-me, Senhor, da cruz pesada colocada sobre teus ombros já flagelados, levando-a pelo caminho do Calvário, completamente sem forças. Por esse mistério da iniquidade, Senhor, concede-nos a graça e a bênção de poder renunciar a nós mesmos, tomar a nossa cruz a cada dia e seguir atrás do Senhor (Lc 9,23). Sei que o Senhor transformou o sofrimento em matéria prima de nossa salvação, para lhe dar um sentido. Dá-nos a graça de unir todas as nossas dores às Vossas e assim divinizá-las.

Compadeço-me, Senhor, do encontro doloroso com Nossa Senhora das Dores. De fato, as sete Espadas de dor transpassaram o Seu materno coração. Por essas dores indizíveis, concede-nos a graça de Tê-la ao nosso lado em nossas lutas, aflições e sofrimentos, amparando-nos com sua materna presença e intercessão. Que Ela enxugue nossas lágrimas, segure nossas mãos e nos ajuda a caminhar até o fim. Que Ela nos ajude a como o Senhor, dizer “consumatum est!”. Tudo está consumado Pai, nas tuas mãos entrego meu espírito.

Compadeço-me Senhor da ajuda de Simão Cireneu, diante de Tua fraqueza absoluta em carregar a cruz até o Calvário. Por esse mistério Senhor, em que até o Senhor quis ser ajudado, nós também sejamos socorridos por um Cireneu quando não pudermos mais seguir com a cruz de cada dia. E que nós também, Senhor, tenhamos a sensibilidade e o amor de sermos Cireneus para nossos irmãos que sofrem a nosso lado.

Compadeço-me, Senhor, das santas mulheres de Jerusalém que te consolaram e que foram consoladas pelo Senhor. Certamente entre elas estavam Maria Sua Mãe, Maria de Cléofas, Maria Madalena, Salomé, e outras. Mesmo esmagado pelas dores, pela flagelação, pela coroa de espinhos, e pelo lenho da cruz nas costas, o Senhor ainda consolava, não aceitava a auto piedade que tanto nos atinge. Oh, Senhor, por esse mistério de amor, concede-nos a graça de consolar os outros que sofrem e que passam em nosso caminho, mesmo que a dor nos esmague.

Compadeço-me, Senhor, do gesto delicado e generoso de Verônica ao enxugar Teu divino rosto humano ensanguentado. Quisestes que a Tua face Sagrada ficasse gravada no seu lenço. Que esta mesma Face Senhor resplandeça sobre nós, ilumine nosso caminho, fortaleça nossos pés em nossa caminhada para Vós. Que Teu Rosto sagrado, Senhor, fique marcado em nossa alma toda vez que socorrermos ao Senhor mesmo que sofre em cada criatura. “Tudo o que fizerdes ao menos desses pequeninos é a Mim que o fazeis”.

Compadeço-me, Senhor, da Tua chegada ao Calvário. Brutalmente os soldados arrancaram suas vestes e o crucificaram: pregaram suas mãos e seus pés, e o levantaram no madeiro, pendurado por três pregos, em agonia asfixiante, por três horas, até a morte. Algo indizível, inenarrável, inefável, sofrimento igual nunca houve na face da terra. É o preço terrível de nossos pecados! Como eles Te massacraram Senhor! Ajuda-nos e a ter aversão a eles, a renunciá-los completamente; lavá-los no Teu Sangue preciosíssimo.

Compadeço-me, Senhor, das 7 Palavras que o Senhor pronunciou na Cruz, Seu Testamento final. “Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?” Compadeço, Senhor, desse abandono Terrível que experimentou no lugar de todos nós pecadores rompidos com Deus. “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem!”. Que misericórdia para com seus algozes! Por esse perdão o Centurião o reconheceu como verdadeiro “Filho de Deus”, na cruz. O perdão amolece o coração do pecador. “Ainda hoje estará comigo no Paraíso!”. Que alegria a do bom ladrão, que soube roubar o céu na hora da dor, e reconhecer a Tua divindade. Que graça é esta Senhor que ele mereceu? Certamente o Seu perdão! “Mulher, eis ai o Teu filho; filho, eis ai a Tua mãe”. Obrigado, Senhor, porque depois de nos ter dado tudo, nos deu o que ainda lhe restava aos pés da Cruz, Vossa Mãe santíssima, para ser minha Mãe. Mãe e guia espiritual para me mostrar o caminho do Céu. Mãe da Igreja! “Tenho sede!” Sei que essa sede é sede de almas, Senhor, pois não quisestes beber aquele vinagre que entorpece. Sei que a maior alegria que podemos te dar é trabalhar para salvar almas, cujo sangue o Senhor derramou com esta finalidade. Sei que o Pai não quer que o Senhor perca nenhum daqueles que Ele te deu. Nem a centésima ovelha pode ser abandonada. Dá-nos a graça, Senhor, de na força do Teu Espírito, buscarmos cada ovelha tresmalhada do Teu Rebanho. “Tudo está consumado!” Toda a obra foi cumprida! O cálice foi sorvido até a última gota. A vontade do Pai foi perfeitamente cumprida, Adão foi resgatado e com ele toda a humanidade. Descanse em Paz, Senhor. “Pai, nas Tuas mãos entrego meu espírito!” Pela contemplação de todos esses mistérios, Senhor, possamos também nós, cumprirmos a nossa missão até o fim segundo a Tua santa vontade. Tem misericórdia de nós, Senhor!

Compadeço-me do Teu corpo sagrado descido nos braços de Nossa Senhora das Dores; que sofrimento, que Espada de dor. Mas esta Mulher estava aos pés de Tua cruz, oferecendo-o por nós, “Stabat!” (De pé!), sem desmoronar! Na fé suportou o peso da cruz e a penetração da Espada da Dor. Ela é a grande Mulher, que atravessou do Gênesis ao Apocalipse.

Compadeço, por fim, Senhor, do Teu corpo sagrado, que não pode nem mesmo ser velado por Tua Mãe, colocado no sepulcro novo de José de Arimateia. Descanse em Paz divino Redentor! Desce com Tua alma à mansão dos mortos e vai levar a salvação aos justos que viveram antes de Vós. E Ressuscite triunfante, vencendo a morte, o pecado, o inferno e a dor.

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

Como os anjos consolaram Jesus no Horto das Oliveiras

© P Deliss / Godong
Por Loo Burnett

Mas Jesus, sendo Deus, precisava da intercessão dos anjos naquele momento de agonia?

Durante todo o tempo que Jesus viveu sabemos que esteve ladeado pelos santos anjos; da Anunciação à morte no lenho da Cruz, sobretudo na Ressurreição, quando Madalena os encontrou no sepulcro, e na Ascensão de Cristo. 

Os anjos consolaram Cristo no Horto das Oliveiras. Jesus, sendo Deus, não precisava da intercessão dos anjos naquele momento de agonia, pois sabemos que ele está acima de todas as criaturas temporais e espirituais. Os anjos assistiram Jesus participando de sua dor que consistiria em satisfazer à justiça divina uma expiação sem precedentes. A reparação seria total: pelos pecados e as consequências destes pecados cometidos pelo mundo inteiro.

A mística e beata Anna Catharina Emmerich nos conta no livro “Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus” o momento em que os anjos confortaram e também revelaram a Jesus tudo o que ele passaria no mistério de sua Paixão.  Minutos antes dos anjos se manifestarem, Satanás tentou Cristo como fizera no deserto, e se Deus permitiu que seu amado Filho passasse novamente por tal tentação, da mesma forma permitiria que seus anjos o fortalecessem. 

Quando Jesus retirou-se para orar ao fundo de uma gruta no Horto das Oliveiras, todos os pecados do mundo – dos menores aos mais perversos – foram visualizados enquanto Cristo meditava. Tomou sobre si horrorosas transgressões; o peso imenso de todas elas, assumindo o sacrifício reparador no lenho da Cruz. Satanás se apresentava embravecido cada vez que o Filho de Deus se encorajava a cumprir a derradeira missão. Este, é um dos primeiros momentos em que Anna Catharina Emmerich vivencia a ação consoladora dos santos anjos: 

Satanás, porém, que se movia no meio de todos os horrores, em figura terrível e com um riso furioso, enraivecia-se cada vez mais contra jesus […] “Que? Tomarás também isto sobre ti? Sofrerás castigo também sobre este crime? Como podes satisfazer por tudo isto?” 

Veio, porém, um estreito feixe de luz, da região onde o sol está entre as dez e onze horas, descendo sobre Jesus e nela vi surgir uma fileira de anjos, que lhe transmitiam força e ânimo”. 

Os anjos mostraram a Jesus, na dolorosa agonia do Getsêmani, a gravidade dos tormentos, as angústias e todo o sofrimento que padeceria. A aflição e a dor que invadiram a alma de Cristo foi aterrorizante ao extremo, de modo que seu corpo expeliu um suor sanguinolento. 

Enquanto a humanidade de Jesus sofria e tremia, sob esta terrível multidão de sofrimentos, notei um movimento de compaixão nos Anjos; houve uma pequena pausa: parecia-me que desejavam ardentemente consolá-lo e que apresentavam as súplicas diante do trono de Deus”. 

Encontramos no Evangelho de São Lucas, o episódio que narra o suor de sangue logo após a descida de um anjo, que igualmente consola Jesus. A mística Anna Catharina complementa, e especifica detalhadamente este anjo em supracitado:

No fim das visões da Paixão, Jesus cai por terra, como um moribundo; os Anjos e as visões da Paixão desapareceram; o suor de sangue brotava mais abundante; vi-O escoar-se através da veste amarela encostado ao corpo.  A mais profunda escuridão reinava na caverna. Vi então um Anjo descendo para junto de Jesus: era maior, mais distinto e mais semelhante ao homem do que os outros que eu vira antes. Estava vestido como um sacerdote, de uma longa veste flutuante, ornada de franjas e trazia na mão, diante de si, um pequeno vaso, da forma do cálice da última Ceia”.

Jesus era tão ciente da intervenção dos anjos em seu ministério, que após ser capturado declarou diante dos perseguidores: “Você acha que eu não posso pedir a meu Pai, e ele não colocaria imediatamente à minha disposição mais de doze legiões de anjos?” Mt 26,53-54.

Do propósito da encarnação e da vitória da vida sobre a morte, os anjos são as primeiras testemunhas, pois Cristo é o centro do mundo angélico.

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EMMERICH, Anna Catharina. Vida, Paixão e glorificação do cordeiro de Deus. São Paulo: Mir Editora, 2020, p.148.

EMMERICH, Anna Catharina. Vida, Paixão e glorificação do cordeiro de Deus. São Paulo: Mir Editora, 2020, p.153.

EMMERICH, Anna Catharina. Vida, Paixão e glorificação do cordeiro de Deus. São Paulo: Mir Editora, 2020, p.167.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

São Germano José

São Germano José | arquisp
07 de abril

São Germano José

Germano nasceu no ano 1150 em Colônia, na Alemanha, de uma família poderosa e abastada, que, ainda na sua infância, perdeu todas as suas posses e passou a viver na pobreza. Mas o que marcou mesmo os tempos de criança de Germano foram as aparições da Virgem Maria, que são contadas em muitas passagens de sua vida, fatos registrados pela Igreja e narrados pela tradição dos fiéis.

Esses registros não ocorreram só na sua juventude, mas durante toda a sua vida. Apesar da falência da família, graças aos próprios esforços ele estudou e se formou em ciências humanas, assim como, depois, conseguiu o que mais desejava: ingressar num convento para sua formação religiosa, que foi o da Ordem dos Premonstratenses.

Quanto às revelações, narra a tradição que, desde muito pequeno, Germano conversava horas e horas com Nossa Senhora.


Certa vez, teria trazido uma maçã para oferecer a ela e ela estendeu a mão para apanhar a fruta. Em outra ocasião, teria brincado com o Menino Jesus sob o olhar da Virgem Mãe, que lhe teria apontado uma pedra do piso da igreja, sob a qual Germano sempre acharia dinheiro para seus calçados e roupas, já que o pai não podia mais lhe oferecer nem o mínimo necessário para sobreviver. Mais velho, conta-se que, ao rezar diante do altar de Maria, uma estranha luz o cercava e ele entrava em êxtase contemplativo.

No fim da vida, ao visitar um convento de religiosas, vizinho ao seu, determinou o lugar onde queria ser enterrado. Era mais um aviso antecipado, pois ali morreu dias depois, durante uma missa, no dia 7 de abril de 1241. Foi enterrado onde desejava. Desde então, sua sepultura se tornou um local de peregrinação, onde os devotos agradeciam e obtinham graças por sua intercessão, até com a cura de doenças fatais, segundo a tradição dos fiéis. Entretanto, muito tempo depois, quando do seu traslado para o convento onde vivera e trabalhara, por ordem do bispo, descobriu-se que seu corpo ainda não tinha sinais de decomposição.

Germano José foi beatificado, em 1958, pelo papa Pio XII. Dois anos depois, o papa João XXIII aprovou seu culto litúrgico para o dia 7 de abril e autorizou que ao lado do seu nome fosse colocada a palavra santo. Em 1961, a igreja de Steinfeld, que guarda suas relíquias mortais, foi declarada basílica menor.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

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Não negue a sua cruz

Tortoon | Shutterstock / #image_title
Por Julia A. Borges

Se a humanidade bem aceita o homem Jesus, por que a dificuldade em acreditar em Cristo?

A história da humanidade não pode negar a existência de Jesus, e esse é um fato que perpassa o pensamento  de crentes e até mesmo daqueles que insistem em negar a existência de Deus.

O ser humano nascido há mais de 2 mil anos cujo nome era Jesus não parece ser algo tão contestável como muita gente ainda acredita. O que, talvez, possa gerar descrença está em outro fato: a vinda de Cristo, o Salvador.

O homem Jesus é tido como história, já o Cristo se encontra em outra esfera – é preciso ir além dos livros, além da lógica, além da ciência. É a fé que leva a crer na existência de Jesus, o Cristo.

Se a humanidade bem aceita o homem Jesus, por que a dificuldade em acreditar em Cristo? E a resposta revela justamente a não aceitação do peso que Jesus teve que carregar.

Refletir sobre essa questão é se deparar com a Cruz que nos leva a professar a fé que possuímos. 

Em tempos de quaresma, faz-se essencial a reflexão sobre a cruz. Enquanto o mundo tenta desviar ao máximo o carregar desse peso, o cristão deve sempre ter em mente que é através dela é que chegamos ao Céu. A alegria do demônio é perceber a fuga da humanidade de suas cruzes, haja vista o provérbio popular que já reitera a fuga eterna do Diabo com relação à Cruz.

A missão cristã está talhada nela e negá-la ou não assumí-la faz do cristão uma verdadeira fraude, caindo no grande erro de escolher aceitar o Jesus sem a Sua cruz. Ser católico, já de acordo com a etimologia do termo, é abraçar toda a fé, sem escolhas próprias ou sem atalhos. Ser católico não é buscar o Jesus dos milagres e esquecer o do martírio. Ser católico é ter a consciência que somente pela cruz é que chegaremos à verdadeira Páscoa.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF