Na missa por ocasião do Jubileu da Espiritualidade Mariana,
Leão XIV adverte para formas de culto que não nos ligam aos outros e anestesiam
o nosso coração: "Tenhamos cuidado com toda instrumentalização da fé, que
faz correr o risco de transformar os diferentes – muitas vezes os pobres – em
inimigos, em 'leprosos'".
Bianca Fraccalvieri - Vatican News
O Papa Leão presidiu à Santa Missa por ocasião do Jubileu da
Espiritualidade Mariana, com a participação de reitores e responsáveis de
santuários, membros de movimentos, confrarias e grupos marianos de oração. Na
Praça São Pedro, o Santo Padre se deteve diante da imagem original de Nossa
Senhora de Fátima, que excepcionalmente deixou o santuário mariano
português para estar presente também no Terço pela paz conduzido pelo Pontífice
na tarde de 11 de outubro.
A espiritualidade mariana tem Jesus como centro
A homilia do Pontífice foi inspirada numa frase
do apóstolo Paulo a Timóteo: "Tem sempre bem presente Jesus Cristo,
ressuscitado de entre os mortos e nascido da linhagem de David" (2 Tm 2,
8). "A espiritualidade mariana, que alimenta a nossa fé, tem Jesus como
centro", explicou o Papa.
“«Tem sempre bem presente Jesus Cristo»: só isso importa
e faz a diferença entre as espiritualidades humanas e o caminho de Deus.”
É preciso que o domingo nos faça cristãos, recomendou
o Santo Padre. Ou seja, que encha o nosso sentir e o nosso pensar com a memória
incandescente de Jesus, modificando a nossa convivência, a nossa habitação na
terra. Toda a espiritualidade cristã se desenvolve a partir deste fogo e
contribui para torná-lo mais vivo. Quanto menos títulos se possa ostentar, mais
claro aparece que o amor é gratuito. "Deus é puro dom, somente graça, mas
quantas vozes e convicções podem separar-nos ainda hoje desta verdade nua e
disruptiva!", observou.
"Irmãos e irmãs, a espiritualidade mariana está a
serviço do Evangelho, revelando a sua simplicidade. O afeto por Maria de Nazaré
torna-nos, com Ela, discípulos de Jesus, educa-nos a voltar para Ele, a meditar
e a relacionar os acontecimentos da vida nos quais o Ressuscitado ainda nos
visita e chama. (...) Ela compromete-nos a saciar os famintos, a exaltar os
humildes, a recordar a misericórdia de Deus e a confiar no poder do seu
braço."
Cuidado com a instrumentalização da fé
Com efeito, prosseguiu o Papa, os leprosos que no Evangelho
não voltam para agradecer nos lembram que a graça de Deus também pode vir até
nós e não encontrar resposta, pode curar-nos e não nos envolver.
"Tenhamos cuidado, portanto, com aquele subir ao templo
que não nos faz seguir Jesus. Existem formas de culto que não nos ligam
aos outros e anestesiam o nosso coração", advertiu Leão XIV. Deste
modo, não vivemos verdadeiros encontros com aqueles que Deus coloca no nosso
caminho; não participamos, como fez Maria, da mudança do mundo e na alegria
do Magnificat.
“Tenhamos cuidado com toda instrumentalização da fé, que
faz correr o risco de transformar os diferentes – muitas vezes os pobres – em
inimigos, em “leprosos” a evitar e rejeitar.”
O caminho de Maria é seguir Jesus
O Santo Padre reiterou: o caminho de Maria é seguir Jesus, e
o caminho de Jesus é dirigir-se a todos os seres humanos, especialmente aos
pobres, aos feridos, aos pecadores. Por isso, a autêntica
espiritualidade mariana torna atual na Igreja a ternura de Deus, a sua
maternidade. E citou um trecho da Exortação Apostólica Evangelii
gaudium do Papa Francisco, quando escreve que sempre que olhamos para
Maria, "voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do
afeto". O Pontífice então concluiu:
"Caríssimos, neste mundo que busca justiça e paz,
mantenhamos viva a espiritualidade cristã, a devoção popular aos acontecimentos
e aos lugares que, abençoados por Deus, mudaram para sempre a face da terra.
Façamos disso um motor de renovação e transformação, como pede o Jubileu, tempo
de conversão e restituição, de reavaliação e libertação. Que Maria Santíssima,
nossa esperança, interceda por nós e oriente-nos sempre e para sempre para
Jesus, o Senhor crucificado. Nele, há salvação para todos."
Ato de consagração
Ao final da missa, o Santo Padre aproximou-se da imagem
da Virgem de Fátima e consagrou o mundo ao Imaculado Coração de Maria. Eis a
oração proferida:
"Virgem Santa, Mãe de Cristo, nossa esperança, a tua
presença atenta neste ano de graça acompanha-nos, consola-nos e dá-nos, nas
noites da história, a certeza de que em Cristo o mal foi vencido e que todo o
homem é redimido pelo seu amor.
Discípula perfeita do Senhor, guardaste no coração todas as
coisas de Deus. Ensina-nos a escutar a Palavra e a compreendê-la interiormente,
para caminharmos seguros no caminho da santidade.
Ao teu Coração Imaculado confiamos o mundo inteiro e toda a
humanidade, especialmente os teus filhos atormentados pelo flagelo da guerra.
Advogada da graça, indica-nos o caminho da reconciliação e
do perdão. Não deixes de interceder por nós na alegria e na dor, e alcança-nos
o dom da paz que tanto imploramos.
Mãe da Igreja, acolhe-nos benignamente, para que sob o teu
manto possamos encontrar refúgio e ser socorridos pelo teu auxílio materno nas
provações da vida.
Contigo, Virgem Imaculada, manifestamos o Senhor,
reconhecendo em cada momento as grandes obras do seu amor.
Virgem Santa, Mãe Assunta ao Céu, Rainha da Paz, Senhora do
Coração Imaculado, roga por nós."
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