A MAGNANIMIDADE COMO VIRTUDE PARA O NOSSO TEMPO
23/10/2025
Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)
Na Questão 129, da Secunda Secundae da Suma
Teológica, Santo Tomás de Aquino trata da magnanimidade (magnanimitas,
“grandeza de alma”), uma das expressões mais elevadas da virtude da fortaleza.
Não se trata de vaidade nem de orgulho, mas da disposição interior de quem
deseja realizar grandes obras por Deus e pelo bem comum, reconhecendo que tudo
procede d’Ele.
O magnânimo é aquele que, consciente dos dons recebidos, não
os enterra, mas os faz frutificar. Sabe que foi criado para grandes
realizações, não para buscar fama ou prestígio pessoal, mas para aspirar à
plenitude do bem. Por isso, Santo Tomás ensina que o objeto da magnanimidade
são as grandes honras: não as movidas pela vaidade, mas as que naturalmente se
concedem a quem pratica o bem e realiza obras virtuosas.
A magnanimidade, para Santo Tomás, situa-se
entre a fortaleza e os frutos do Espírito Santo. Ela é uma parte
potencial da virtude da fortaleza. Enquanto esta torna firme o ânimo
diante das dificuldades e perigos, a magnanimidade o eleva a buscar o bem mais
alto, mesmo quando esse bem parece exigente ou distante. Se a fortaleza nos
ajuda a resistir, a magnanimidade nos move a aspirar. Ela é o impulso positivo
da alma que não se contenta com pouco.
Por isso, ela se relaciona também aos frutos do Espírito
Santo, especialmente à confiança (fidúcia) e à paz interior (securitas).
A magnanimidade nasce de um coração confiante, não na própria força, mas na
graça de Deus e conduz a uma alma serena, livre do medo e do desânimo. O
magnânimo é firme, confiante e tranquilo, porque sabe em quem colocou sua
esperança.
Um ponto notável da doutrina de Santo Tomás é mostrar que a
magnanimidade não se opõe à humildade. O orgulho exalta o eu; a magnanimidade
exalta o dom de Deus. O humilde reconhece sua pequenez; o magnânimo reconhece a
grandeza da graça que nele atua. São, portanto, virtudes complementares: a
humildade nos impede de nos julgarmos maiores do que somos; a magnanimidade
impede que nos tornemos menores do que Deus quer que sejamos.
O próprio Cristo é o modelo supremo dessa harmonia:
“Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29), e ao mesmo
tempo, “Quem crê em mim fará as obras que eu faço, e as fará ainda maiores” (Jo
14,12). Nele se une a mansidão da humildade e a audácia da grandeza
espiritual.
Vivemos num tempo em que a mediocridade e o imediatismo
parecem dominar o horizonte humano. Muitos contentam-se com o mínimo, com o que
é fácil e rápido. Contra essa tendência, a magnanimidade é uma virtude
profundamente atual: ela nos recorda que o ser humano foi criado para a
grandeza, não a grandeza do poder, mas a grandeza do bem, da santidade, do
serviço.
A magnanimidade nos convida a sonhar alto
com Deus, a não temer os empreendimentos exigentes e a cultivar uma esperança
ativa e perseverante. Num mundo que frequentemente confunde grandeza com
vaidade, essa virtude devolve à alma cristã o verdadeiro sentido da missão:
fazer o bem de modo grandioso, generoso, gratuito e confiante.
Ser magnânimo é, em última análise, acreditar que Deus quer
fazer grandes coisas em nós e através de nós. É viver com o coração dilatado,
na esperança, na coragem e na confiança de que “o amor de Cristo nos impele”
(2Cor 5,14).
Em resumo, a magnanimidade, na perspectiva de
Santo Tomás, caracteriza a alma nobre que não se contenta com o mínimo, mas
busca o máximo da caridade, da justiça e da fé. É o coração que, iluminado pela
fortaleza e animado pelos dons do Espírito, vive para algo maior que si mesmo.
Em tempos de desânimo e fragmentação, recuperar essa grandeza de alma é um
chamado a sermos, com simplicidade e coragem, grandes no amor.
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