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quinta-feira, 23 de outubro de 2025

A magnanimidade como virtude para o nosso tempo

A magnanimidade (You Tube)

A MAGNANIMIDADE COMO VIRTUDE PARA O NOSSO TEMPO

23/10/2025

Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal (RN)

Na Questão 129, da Secunda Secundae da Suma Teológica, Santo Tomás de Aquino trata da magnanimidade (magnanimitas, “grandeza de alma”), uma das expressões mais elevadas da virtude da fortaleza. Não se trata de vaidade nem de orgulho, mas da disposição interior de quem deseja realizar grandes obras por Deus e pelo bem comum, reconhecendo que tudo procede d’Ele. 

O magnânimo é aquele que, consciente dos dons recebidos, não os enterra, mas os faz frutificar. Sabe que foi criado para grandes realizações, não para buscar fama ou prestígio pessoal, mas para aspirar à plenitude do bem. Por isso, Santo Tomás ensina que o objeto da magnanimidade são as grandes honras: não as movidas pela vaidade, mas as que naturalmente se concedem a quem pratica o bem e realiza obras virtuosas. 

magnanimidade, para Santo Tomás, situa-se entre a fortaleza e os frutos do Espírito Santo. Ela é uma parte potencial da virtude da fortaleza. Enquanto esta torna firme o ânimo diante das dificuldades e perigos, a magnanimidade o eleva a buscar o bem mais alto, mesmo quando esse bem parece exigente ou distante. Se a fortaleza nos ajuda a resistir, a magnanimidade nos move a aspirar. Ela é o impulso positivo da alma que não se contenta com pouco. 

Por isso, ela se relaciona também aos frutos do Espírito Santo, especialmente à confiança (fidúcia) e à paz interior (securitas). A magnanimidade nasce de um coração confiante, não na própria força, mas na graça de Deus e conduz a uma alma serena, livre do medo e do desânimo. O magnânimo é firme, confiante e tranquilo, porque sabe em quem colocou sua esperança. 

Um ponto notável da doutrina de Santo Tomás é mostrar que a magnanimidade não se opõe à humildade. O orgulho exalta o eu; a magnanimidade exalta o dom de Deus. O humilde reconhece sua pequenez; o magnânimo reconhece a grandeza da graça que nele atua. São, portanto, virtudes complementares: a humildade nos impede de nos julgarmos maiores do que somos; a magnanimidade impede que nos tornemos menores do que Deus quer que sejamos. 

O próprio Cristo é o modelo supremo dessa harmonia: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29), e ao mesmo tempo, “Quem crê em mim fará as obras que eu faço, e as fará ainda maiores” (Jo 14,12). Nele se une a mansidão da humildade e a audácia da grandeza espiritual. 

Vivemos num tempo em que a mediocridade e o imediatismo parecem dominar o horizonte humano. Muitos contentam-se com o mínimo, com o que é fácil e rápido. Contra essa tendência, a magnanimidade é uma virtude profundamente atual: ela nos recorda que o ser humano foi criado para a grandeza, não a grandeza do poder, mas a grandeza do bem, da santidade, do serviço. 

magnanimidade nos convida a sonhar alto com Deus, a não temer os empreendimentos exigentes e a cultivar uma esperança ativa e perseverante. Num mundo que frequentemente confunde grandeza com vaidade, essa virtude devolve à alma cristã o verdadeiro sentido da missão: fazer o bem de modo grandioso, generoso, gratuito e confiante. 

Ser magnânimo é, em última análise, acreditar que Deus quer fazer grandes coisas em nós e através de nós. É viver com o coração dilatado, na esperança, na coragem e na confiança de que “o amor de Cristo nos impele” (2Cor 5,14).  

Em resumo, a magnanimidade, na perspectiva de Santo Tomás, caracteriza a alma nobre que não se contenta com o mínimo, mas busca o máximo da caridade, da justiça e da fé. É o coração que, iluminado pela fortaleza e animado pelos dons do Espírito, vive para algo maior que si mesmo. Em tempos de desânimo e fragmentação, recuperar essa grandeza de alma é um chamado a sermos, com simplicidade e coragem, grandes no amor. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF